terça-feira, 4 de abril de 2017

A I REPÚBLICA EM ALCOBAÇA


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(II)


AS SEQUELAS
SUMÁRIO:
(1).A Acalmação. As Chapeladas. Um Duelo à Pistola-(2).Felicitações a D. Manuel II e Reintegração da Vereação-(3).Festas, Romarias e um Par de Bandarilhas-(4).A Luta Armada vs. Combate Político-(5).A Companhia de Fiação e Tecidos de Alcobaça-(6).Paiva Couceiro e o Prior de Turquel. A Mãe Soberana-(7).A República em Portugal e Espanha.

-5-A COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECIDOS DE ALCOBAÇA-
A Companhia de Fiação e Tecidos de Alcobaça era a única unidade empresarial de peso na região, e a sua Direção, com destaque para o tempo de Fernando Alípio de

Carneiro e Sá (1905/1947), possuía notável sentido social e manifestava simpatia para com a República.
Este era muito respeitado e estimado pelos trabalhadores com quem mantinha uma relação forte que determinou o sucesso da empresa e moldou o ambiente laboral.
Fernando Sá chegou a Alcobaça em agosto de 1899, para tomar posse do cargo de diretor da Fiação e Tecidos, em substituição de Francisco Casimiro de Magalhães Cruz, que se encontrava a exercer interinamente o cargo, o qual regressou ao Porto, onde era diretor da respetiva Companhia.
A Companhia Fiação e Tecidos de Alcobaça estabeleceu a sua unidade de produção na Fervença (Alcobaça) em 1874 e aí funcionou ininterruptamente até 1998. Durante mais de 120 anos esta unidade industrial esteve indiscutivelmente ligada à vila de Alcobaça quer como empregador, quer como gerador de riqueza, quer como símbolo de desenvolvimento socioeconómico, constituindo-se como motor de progresso para toda a vila. Durante muitos anos a Fábrica era visita obrigatória para pessoas ilustres que pretendiam conhecer o concelho e o seu desenvolvimento (…). É sob a direção de Fernando Alípio de Carneiro e Sá que a Fábrica vive todo o contexto de duas guerras mundiais, do advento da 1ª República, do início do Estado Novo, é escutando ou lendo as suas palavras que muitos se informam sobre a República e os seus ideais, é ele a personagem escolhida para explicar a Alcobaça a chegada de uma nova moeda, o escudo (…). É sob a sua gestão que a vila e a Fábrica enveredam finalmente por caminhos iluminados a luz elétrica (…).
Se 1912 foi classificado como um bom ano, já 1913 foi marcado com o rótulo de crise e 1914 considerado como o ano mais difícil, desde a sua tomada de posse da Direção.
Estes problemas estiveram relacionados com a importação de algodão e carvão: Na incerteza da obtenção a tempo da nossa principal matéria-prima, algodão em rama, cujos preços foram imediatamente agravados pela baixa das taxas cambiais, tomamos a resolução, bem a nosso pesar, de reduzir a laboração da Fábrica a três dias por semana de 7 de agosto a 22 do mesmo e a 4 dias desde 24 do referido mês a 7 de novembro, prosseguindo daí por diante a sua completa laboração. O pessoal compreendeu a situação e aceitou-a, tanto mais que acreditava e respeitava a Direção na procura de dias melhores.
Não se encontrou referência a movimentos reivindicativos, nomeadamente de tipo grevista, entre os cerca de 700 operários.
Os empregados e operários da Fiação e Tecidos celebravam com diversos festejos o 1º. de maio, para o que se constituía uma comissão, que não descansava na organização (que se realizavam em local sobranceiro à Fábrica), e normalmente com o concurso das Filarmónicas da Maiorga (de que alguns faziam parte) ou da Vestiaria. Para além das diversões para o pessoal, deslocavam-se ao evento muitos curiosos alcobacenses para partilharem o momento com essa grande família de
trabalhadores, em plena e alegre convivência, num dia votado ao descanso e ao folguedo.
Fernando Sá conseguiu conferir à fábrica e seu pessoal, um pouco de ar de bairro que os marcou enquanto esteve à sua frente. Eram inúmeras as mulheres, tantas quanto os homens, o que era pouco vulgar ainda no País pouco industrial.
Não haveria nenhuma família de Alcobaça que não tivesse alguém a trabalhar na Fiação e Tecidos. Famílias inteiras ali trabalhavam, pais e filhos, para lá transportavam a solidariedade, as alegrias e tristezas, as festas e entretimentos. Nas festas do pessoal, especialmente no Natal e 1º. de maio, e no quotidiano estabeleciam-se namoros e noivados, filhos eram planeados, criava-se uma rede que conferia cumplicidade e segurança, os colegas eram os vizinhos e familiares a quem não havia receio de entregar as chaves da casa, as colegas tomavam conta de filhos de outra se necessário, as crianças por vezes saíam da creche para serem perigosamente mimadas por uma correnteza de mulheres, presas aos teares de onde não deveriam desviar a atenção.
A fábrica, afinal, era a identidade no dizer de Idalina Maria, que nunca lá trabalhou, mas frequentou a creche como neta e filha de casais de operários da Fiação e Tecidos.
-6-PAIVA COUCEIRO E O PRIOR DE TURQUEL.
A MÃE SOBERANA-
Alguns conservadores convenceram-se de que o anticatolicismo e o exclusivismo político da República tinham criado espaço para derrubar o novo regime, como foi o caso do ex-Governador de Angola, o Cap. Paiva Couceiro, um dos poucos que, em outubro de 1910, combateram os republicanos em Lisboa.
A partir da Galiza, entrou no País por duas vezes, da primeira em 3 de outubro de 1911 e da segunda em 6 de julho de 1912. Na primeira, atravessou a fronteira, ocupou a povoação de Vinhais, proclamou a Monarquia mas, atacado por forças republicanas, com pessoal mal armado e municiado, não pode resistir e retrocedeu para a Galiza.
José Pereira dos Santos nasceu a 1 de dezembro de 1876, em Malhou (freguesia ao tempo pertencente a Santarém, depois a Alcanena, até ser extinta em 2013, no âmbito da reforma administrativa, tendo sido agregada às freguesias de Louriceira e Espinheiro da qual é sede, para formar a freguesia denominada União das Freguesias de Malhou, Louriceira e Espinheiro), filho de Francisco Pereira dos Santos e de Maria da Conceição, tendo ingressado em 1891 no Seminário de Santarém. A 26 de março de 1898 recebeu, na igreja de S. Vicente de Fora, a prima tonsura e os quatro graus das ordens menores. Em 1901, assumiu funções na igreja de Nossa Senhora da Conceição, Turquel, ficando aí colado a 3 de junho de 1907.

O Pe José Pereira dos Santos faleceu a 5 de novembro de 1959 em Lisboa sem nunca ter abdicado das suas convicções políticas.
O Prior de Turquel, deslocou-se ao Porto para apoiar Paiva Couceiro. Regressado à paróquia, do respetivo púlpito, fez veementes apelos à revolta contra a República, o que lhe valeu que, a pedido do Centro Republicano, fosse preso por uma força militarizada do Quartel composta por 6 homens e encarcerado na cadeia comarcã, ao lado de presos de direito comum. Paga a fiança por um amigo (alegadamente não tinha meios para isso), voltou à paróquia onde prosseguiu com os incitamentos. José Ferreira Chumbo, um turquelense com estabelecimento de porta aberta em Lisboa, fez um enérgico protesto, contra a permanência do Pe. Pereira dos Santos, repudiando a estranha impunidade e benevolência que vinha gozando, solicitando a sua expulsão por inadaptação à nova ordem.
Na segunda vez, os monárquicos passaram a fronteira em três pontos distintos do Minho e de Trás-os-Montes. A coluna da Paiva Couceiro rumou a Chaves, onde ocorreram os combates mais violentos e se fizeram numerosos prisioneiros monárquicos.
Depois destes mal sucedidos ataques, os monárquicos ainda se envolveram noutras conspirações, contribuindo para aumentar a instabilidade política. Esperava suscitar uma insurreição geral, mas constatou apenas a indiferença apática dos monárquicos.
O Exército manteve-se fiel à República enquanto proliferaram grupos armados de defesa da república, bandos chefiados por revolucionários profissionais, sediados nos cafés da baixa lisboeta, e disponíveis para fazer o trabalho sujo de intimidar, calar ou liquidar os reais ou supostos inimigos do novo regime.
O Pe. José Pereira dos Santos, conhecia a existência da festividade que se realizava em Loulé, no Domingo de Páscoa, em honra da Nossa Senhora da Piedade/Mãe Soberana, e que era considerada uma das maiores manifestações do culto mariano no País. Pelo menos a maior do sul. Mas não conhecia a sua origem muitíssimo antiga e que remonta ao século XVI.
Nesses anos conturbados da I República, as ruas de Loulé ainda ficavam pejadas de gente, sobretudo algarvios, mas também alentejanos e mesmo alguns espanhóis de Ayamonte.
A procissão começava a formar-se. Ouvia-se a banda, o povo agitava-se, os homens do andor avançavam pausadamente como compete.
Lançavam o grito: Viva a Mãe Soberana!
E o povo respondia fervorosamente: Viva!

Afastavam-se os cavaletes que sustentavam a imagem de duzentos e muitos quilos, assente nos ombros de oito fortes rapazes, sem o menor estremecimento.
Nada havia aqui, em termos de conotação política, mas o Pe. Pereira dos Santos que nunca foi ao Algarve, entrou em contacto com o Prior de Loulé (que conheceu em Lisboa), com o objetivo de tentar implantar em Turquel aquele festividade, como forma de contrariar a política anticlerical da República.
O Governo Provisório, gozou de amplos poderes até à abertura da Assembleia Constituinte, em 19 de junho de 1911.
Nesse momento, o Presidente do Governo Provisório, Teófilo Braga, transmitiu à Assembleia Constituinte os poderes que lhe haviam sido conferidos a 5 de Outubro de 1910. A Assembleia Constituinte aprovou por aclamação a proposta apresentada ao Congresso pelo seu Presidente, Anselmo Braamcamp Freire: A Assembleia Nacional Constituinte confirma, até ulterior deliberação, as funções do Poder Executivo ao Governo Provisório da República.
Dois meses mais tarde, com a aprovação da Constituição e a eleição do primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga (24 de agosto), o Governo Provisório apresentou a demissão.
Começava em Portugal a acidentada I República, que ao invés de optar por pequenas mudanças que melhorassem a concreta qualidade de vida dos portugueses, foi no sentido das transformações radicais numa montanha, que não mexia quase nada, nem empurrada.
-7-A REPÚBLICA EM PORTUGAL E EM ESPANHA-
A I República Portuguesa pouco teve de comum com a I República em Espanha, produto de uma série de revoluções de cariz liberal que, todavia, custaram muito sangue, esforços e vidas.
Era uma República que, em 1873, se simbolizava numa mulher forte, de longos cabelos, pintada com o vermelho da aurora e do sangue, usava barrete frígio, por quem se morria romanticamente. A notícia da proclamação da República em Espanha, alvoroçou as pessoas ávidas de derrube do trono português, que aspiravam um Futuro com letra maiúscula, aliado a temas tão caros como Justiça, Liberdade e Direito e outros que tinham sido meramente teorizados e de repente resplandeciam em certezas que haveria de cumprir. A República Espanhola foi torturada, pois levantaram-se contra ela todas as reações, mas os maiores inimigos foram os seus militantes que se digladiaram ferozmente, ainda que animados de boas intenções, de idealismo, sem vislumbrarem o perigo. Ao lado deste quadro, os generais, os palacianos, os banqueiros, os latifundiários, o clero, os poderes amortecidos, esperavam o final da luta dos republicanos entre si. Nos pronunciamentos, apareciam sempre militares imponentes nas fardas, tilintando

esporas e espadas, muito aclamados. Numa Espanha galante e varonil, nada agradava mais às mulheres que um garboso soldado.
Soldado que não ame é bom para a sotaina.
Enquanto em Espanha, houve eleições três meses depois da queda da Monarquia, a República Portuguesa demorou oito meses (maio de 1911), para eleger a Assembleia Constituinte.
Entretanto, o Governo Provisório eliminou os poderes independentes, substituiu as vereações municipais por comissões administrativas, intimidou a magistratura (puniu com a transferência para as colónias os quatro magistrados da Relação de Lisboa que, convidados a pronunciar João Franco, decidiram em sentido contrário) e permitiu que militantes republicanos impedissem a publicação de jornais não afetos.
As colónias, Joias da República, continuaram a ser governadas por delegados da metrópole, na maioria militares, afetos ao PRP, e não por locais, como acontecia nas colónias inglesas. A autonomia consistiu apenas numa autonomia do alto-comissário, mantendo-se a população politicamente marginalizada. Para os nativos, o Código de Trabalho, de outubro de 1914, prolongou o regime de trabalho forçado de 1899, não muito longe da abolida escravatura, com grande escândalo internacional.

Santiago Ponce, teve um primo madrileno, ativo militante republicano, assumidamente anticlerical (apesar de antigo seminarista em Santiago de Compostela e com ordens menores), com quem se encontrou uma vez. 

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