sexta-feira, 4 de janeiro de 2019


CAPÍTULO II

UM BERÇO NO CANHÃO/NAZARÉ
 






  Pelas 6 ou 7 horas desse domingo, 20 de maio de 1945, quem estava na zona da praia da Nazaré e não eram poucas as pessoas, concretamente pescadores e famílias, assistiu com espanto e temor um evento, que durante anos perdurou na sua memória e na coletiva da   terra.
  Estavam a chegar alguns barcos da faina e, de imediato, formava-se um aglomerado de gente à volta dele. Ao longe, quem não se apercebesse, julgaria até que alguém se afogou ou se sentiu mal.    Mas além disto, o que se passou?
  A 30 de Abril de 1945, o governo nazi, perante a iminência da capitulação, deu ordem para se proceder ao autoafundamento da frota de submarinos[1].
  Mas, para desorientação dos respetivos comandantes, a 4 de maio veio uma contraordem. 
  Entre os dias 2 e 6 de maio, 21 submarinos foram afundados pela aviação aliada enquanto tentavam alcançar as costas norueguesas. Em 8 de maio, o Primeiro Lord do Almirantado Brendan Bracken, informou que, para se render, os U-Boat tinham de vir à superfície, denunciar a sua localização, navegar com uma bandeira negra. Essa imposição implicava na prática uma confissão de pirataria.  Dos 231 U-Boat no Báltico e no Mar do Norte, mais de 87% estavam nas proximidades de um dos 17 pontos de construção ou abrigo de submarinos, e dois terços (155) nas seguintes 6 localizações: Gelting Bay (43), Kiel (39), Travemünde (32), Wilhelmshaven (21), Flensburg (10) e Hamburgo (10). 
  Os alemães tinham, pois, fundado receio de serem tratados como piratas.
  O UB-963 saíra de Trondheim em 23 de abril de 1945 com missão de largar minas no Canal da Mancha[2].
  No início de maio, ao emergir no mar da Irlanda, a tripulação apurou que a Alemanha se rendera, e a Guerra terminara na Europa [3].
  O (Capitão-Tenente) Oberleutnant zur See Rolf Werner Wentz, comandante do U-963 (veja-se a sua foto à frente, embora como civil), também recebeu a ordem de rendição e de entrega voluntária (já não de autoafundamento do submarino) num porto Aliado. No seu Código de Honra militar, o Comandante do U-963, embora não propriamente nazi, não conhecia o significado de palavras como rendição e entrega.
  Werner Wentz, conhecia bem o Código de Honra e viu-o com mágoa inúmeras vezes desrespeitado. Mas nesse momento teria de fazer uma transigência. Segundo este Código, os marinheiros em combate celebravam vitórias, não mortes, e que há uma voz que fala mais alto que o gatilho, a da honra e da defesa intransigente dos seus homens. Esta atitude, podia, noutro contexto, levá-lo a um pelotão de fuzilamento. Werner Wentz e seus homens sobreviveram à Guerra, tendo alguns deles voltado à Nazaré em romagem. 

  Regressar à base era impensável, tal como rumar para a América do Sul e daí continuar a luta[4].
  Os que possuíam um passado altamente comprometido com o regime nazi viram a sua vida em risco, extremamente complicada e perigosa, principalmente cientistas, ex-soldados, técnicos militares e quadros políticos. Alguns elementos desses grupos, preferiram fugir ao invés de enfrentar o tribunal e serem muito provavelmente condenados. Porém, não foram os únicos a deixar o país. Devido à insegurança jurídica e política e em função da fome e destruição provocadas pela guerra, após 1945 muitos alemães que não faziam parte dos grupos citados acima, também deram o adeus à Alemanha.
  Um dos países que mais recebeu os foragidos, foi a Argentina durante o governo de Perón.  A Argentina manteve-se neutral por quase todo o conflito, somente cortando relações diplomáticas com a Alemanha devido às pressões do governo inglês e norte-americano, em janeiro de 1944. Posteriormente, em 1945, declarou guerra à Alemanha. 
  Em 1945, com o final do conflito e a derrota da Alemanha, os eventuais planos do III Reich para a América Latina não saíram do papel. Mas nem por isso, as relações da Argentina com os nazis terminaram. Em 1946, Perón foi eleito presidente da Argentina, e com ele, iniciou-se uma grande campanha de imigração para atrair cientistas, técnicos, engenheiros, instrutores militares especialistas em aviões e armamento. O objetivo de Perón era transformar o país em uma superpotência na América Latina, e para isso queria contar com as tecnologias desenvolvidas pelos nazis no setor bélico e industrial.
  Perón chegou a admitir a sua admiração pelo fascismo, e nos anos de 1970, ainda criticava o Julgamento de Nuremberga, que definia como uma infâmia.
  Foram duas as principais rotas utilizadas pelos criminosos de guerra para chegar à Argentina: a Rota dos Conventos e a Conexão Suíça.
  Segundo especialistas o maior número de refugiados que logrou chegar à Argentina utilizou a Rota dos Conventos, que contava com a ajuda do Vaticano que tinha medo do avanço comunista na Europa. Perón confiou essa rota ao sacerdote José Clemente Silva, que tinha como missão organizar o embarque de 4 milhões de europeus para a Argentina, à razão de 30 mil por mês, com a finalidade de potenciar a revolução econômica e social que Perón havia concebido para seu país.
  A outra rota utilizada para chegar à Argentina, ficou conhecida como a Conexão Suíça. Em Berna, foi estabelecido um centro de operações de resgate desses foragidos, e de lá eram traçadas as rotas de escape a partir da Alemanha ocupada pelos aliados.
 Nesse contexto, criminosos de guerra, fugiram para a Argentina com passaportes e documentos falsos, e todo esse sistema ajudava-os a saírem da Europa sem serem percebidos, encontrando nas terras argentinas e depois pelo resto da América do Sul uma nova Heimat. Estima-se que cerca de 100 mil nazis fugiram da Europa para a Argentina entre 1945 a 1955, e entre eles vários criminosos de guerra que usufruíram um happy retirement /aposentadoria feliz.
  O fato de que vários gravemente envolvidos com o nazismo, pelo menos alguns mais conhecidos após o término da guerra devido às suas atividades relacionadas, principalmente, com o holocausto, como Adolf Eichmann e Josef Mengele, terem escapado do Tribunal de Nuremberga e se refugiado em terras latino-americanas, deu o mote à aparição das mais fantásticas e fantasiosas versões sobre suas pretensas atividades secretas com vista à formação do IV Reich no continente.
  Aproar em Inglaterra ou França, não era uma boa ideia. Os Ingleses, Franceses ou Norte-Americanos não seriam nada amigáveis ou tolerantes com os Alemães
 
  Porque não em Espanha?
  Na Cantábria, e mesmo na Galiza, guerrilheiros comunistas que haviam combatido Franco, não estavam ainda controlados, pelo que a tripulação corria o risco de cair nas suas mãos Os maquis espanhóis eram guerrilheiros exilados na França após a Guerra Civil Espanhola que continuaram a lutar contra o Estado espanhol até o início dos anos de 1960, realizando sabotagens, assaltos (para ajudar a financiar atividades de guerrilha), ocupações da Embaixada da Espanha na França e assassinatos de franquistas, além de contribuir para a luta contra a Alemanha nazi e o regime de Vichy na França durante a II Guerra. 
  O auge da guerrilha ocorreu entre 1945 e 1947.
  Em 1948 Estaline deixou expresso o desejo de terminar com a guerrilha comunista em Espanha. A partir desse ano intensificou-se a repressão franquista, que gradualmente foi eliminando os diversos grupos. Mas a dissolução da guerrilha não se deu apenas à ofensiva da Guarda Civil, mas também ao desinteresse do Partido Comunista de Espanha em continuar a luta, especialmente com Santiago Carrillo. Muitos de seus membros foram mortos ou presos, o que neste caso também significava a morte, outros escaparam para a França ou Marrocos[5].

 

  E, naturalmente, Portugal!
  Portugal era terra honrada e pátria de valentes e heroicos marinheiros.  
  Apesar das muitas privações e de anos de receio perante o espectro da intervenção alemã, os portugueses chegaram a 1945, incólumes na sua integridade física/territorial, pois, apesar da invasão japonesa em Timor, nenhum outro território sob soberania nacional foi atacado ou invadido, nem se perderam cidades e populações, sob dilúvios de bombas[6].
 
  Na II Guerra, o nosso País manteve canais de comunicação entre potências em conflito, não se incompatibilizou formal ou definitivamente com a Alemanha, não cedeu no que era essencial, como a soberania, e condescendeu no acessório. Quando o desfecho da Guerra ainda não era totalmente seguro (1943), o governo português fez o alinhamento com os Aliados. A cedência de facilidades nos Açores, foi fator decisivo para o resultado da Batalha do Atlântico[7] em que os submarinos alemães, haviam tido papel de destaque.
  A neutralidade colaborante portuguesa beneficiou o País, em contraste com aquilo que se passara durante a I Guerra, onde o interesse de uma minoria política ansiosa de reconhecimento internacional, precipitou Portugal no desastre económico-social[8].
   
  O Oberleutnant zur See Wentz não acatou assim as ordens, e ao invés, rumou a Portugal, tendo demorado 8 dias a percorrer os 4500km que separam o mar da Irlanda da costa da Nazaré. Após chegarem, 3 tripulantes foram a terra num bote de borracha contactar com as autoridades marítimas, informando-as que o submarino iria ser afundado, que já estava com água aberta, e pedir para os tripulantes serem recolhidos. Uma embarcação da Capitania do Porto da Nazaré foi ao encontro do submarino, resgatou os tripulantes.
  Esta versão consta fundamentalmente do escrito de José Soares (já falecido), do depoimento prestado por Maria Mateus Amaro (veja-se a sua foto à frente) ao jornal Região de Leiria e à SIC, de Otílio Murranga (à SIC e conforme sua foto à frente), bem como do que  a mim foi contado, por Altino do Couto Ribeiro e José Ferreira Tempero (pessoas fidedignas e meus amigos) que, embora a nada tendo assistido, várias vezes a ouviram contar a nazarenos então muito temerosos do que poderia acontecer com a presença daquele vaso de guerra, que fazia parte dos submergíveis que durante o conflito levaram a morte a milhares de marinheiros Aliados, bem como de alguns nazarenos que trabalhavam na marinha mercante estrangeira.
   O Estado Novo, ao não suspender a campanha do bacalhau durante a II Guerra, tomou uma decisão temerária.
 O regime criou a ideia de uma frota de paz, destinada a manter-se em laboração em tempo de guerra. Nunca os bacalhoeiros portugueses pescaram tanto como neste período. O Estado-Maior Naval advertiu, porém, que a zona de pesca dos navios portugueses, em particular a rota da Terra Nova, coincidia em larga medida com a rota da guerra submarina. Logo, seria muito perigoso manter a frota em laboração como aliás se comprovou com o afundamento do Maria da Glória. A notícia só foi conhecida dos portugueses no dia 24 de julho de 1942, quase dois meses após a tragédia. Num texto empolgado, O Século escreveu que é mais um brutal atentado cometido em circunstâncias de flagrante deslealdade contra a navegação de um país que através das agitações desonradas da hora presente tem sabido manter o rigor de uma situação de neutralidade absoluta e reconhecida por todos os contendores. O Diário de Notícias titulou que A nação inteira repele mais este atentado à nossa honra e neutralidade. Cinco dias depois, o Século publicou com destaque na primeira página um texto apologético dos pescadores e da faina marítima intitulado As Lágrimas de Ílhavo. Três meses depois, o Delães estava de regresso a Lisboa após 79 dias de pesca na Gronelândia. Vinha com os porões a abarrotar com 9500 quintais (950 toneladas). Às 9 horas da manhã do dia 11 de agosto de 1942 foi atingido em cheio. Os 54 tripulantes abandonaram o barco e, debaixo de fogo, acondicionaram-se em 10 dóris. O submarino alemão U-94 acabou por se afastar sem provocar baixas humanas e a tripulação foi recolhida no dia seguinte pelo bacalhoeiro Labrador, também de regresso a Lisboa [9].
  De acordo com o registo da Capitania do Porto da Nazaré, o submarino alemão, afundou-se a cerca de 500m a S/SW do Farol da Nazaré[10], a uma profundidade aproximada de 100 braças.
  Depois de a tripulação alemã (rapazes loiros de olhos azuis que impressionaram o mulherio da Nazaré), ter afundado o submarino, que apitou 3 vezes como num estertor, formou em frente à Capitania, fez uma salva de tiros, e entregando-se às autoridades portuguesas, foi enviada em duas camionetes para o Forte de Peniche.
  Os tripulantes, temporariamente alojados na Forte de Peniche[11] acabaram por ser transferidos para cativeiro em solo britânico, tendo regressado à Alemanha, ao que apurei em inícios de maio de 1948.
  Consultei os Registos de Entradas e Saídas da Prisão do Forte de Peniche, aliás muito completos, mas não encontrei referência à passagem de estes militares alemães, talvez por não serem presos políticos ou de delito comum.  
  No final da guerra, sete milhões e meio de soldados alemães estavam nas mãos dos Aliados Ocidentais, cinco milhões dos quais foram libertados ao fim de um ano. Cerca de um milhão e meio desapareceu na Rússia soviética e nos países de Leste. Na sua maioria nunca regressaram a casa.
    Elementos da tripulação, ao que consta também o Oberleutnant zur See Rolf W. Wentz, deslocaram-se algumas vezes como referi, ao miradouro do Sítio para homenagear os camaradas caídos em combate e os que, entretanto, desapareceram, lançando ao mar coroas de flores.
  A vida marinha acabou por tomar conta dos destroços da máquina de guerra.
  De acordo com pescadores e mergulhadores que frequentam a zona, são comuns os peixes, alguns de grande tamanho, que se refugiaram no casco do submarino e fazem dele o esconderijo. São mesmo vulgares fanecas que não se afastam à passagem dos mergulhadores, bem como polvos.
  O big waver ridder, Garrett McNamara, e muito do público que, nos últimos tempos, tem afluído à zona do Forte S. Miguel-Sítio para ver as grandes ondas e na esperança de ver batido o recorde de maior onda do mundo surfada, desconhecem provavelmente que, mesmo na borda do Canhão da Nazaré repousa o UB-963 [12].

  Este era um submergível, mas não propriamente um submarino. Apenas na segunda metade do século XX apareceram os verdadeiros submarinos, com o advento da era nuclear.
  Até aí, estas embarcações eram navios que se movimentavam mais depressa à superfície da água e que, em caso de ataque, podiam submergir e manter-se por um período de tempo curto.
  O U-963 foi construído nos estaleiros Blohm & Voss/Hamburgo, onde também fora construído em 1937, o Albert Leo Schlageter, navio que, hoje, conhecemos como Navio-escola Sagres[13].
  Tive acesso a dados interessantes relativos a este submergível, o que é tanto mais curioso, pois que não desempenhou ação relevante em teatro de operações[14].
 
  Decorria o mês de fevereiro de 1943, quando o jovem Karl Boddenberg (nasc. a 23 de maio de 1914 em Osenau-Odenthal e faleceu a 25 de outubro de 1970) recebeu o UB-963. Tinha acabado de ter a notícia de que iria ser pai e quando desceu às entranhas de aço da máquina de guerra que iria comandar nos meses seguintes levava, debaixo do braço, algumas tábuas.
  Ao fim de 67 dias de trabalho na sua cama estreita e acanhada, Boddenberg mostrou orgulhosamente à tripulação um berço de madeira, destinado ao filho. A partir daí, o Uboat ficou conhecido pelo Berço.
  Sob o comando do Oberleutnant zur See Rolf-Werner Wentz, foi retirado o tradicional emblema da Kriegsmarine e pintado um novo, com um berço, em fundo branco[15]. A família Boddenberg guardou o berço original onde, segundo reza a história da família, dormiram posteriormente mais de 60 bebés.
  Assim se explica parte da mensagem em alemão do último comandante da embarcação quando já idoso soube na Alemanha que, em 2004 os destroços iriam ser explorados no fundo do mar da Nazaré. Não o acordem por favor. Deixem-no dormir no Berço [16].
 
Os bancos de pesca do Noroeste do Atlântico, frequentados pela frota bacalhoeira portuguesa, situavam-se nos locais por onde passavam os comboios navais aliados que abasteciam a Grã-Bretanha, e se começavam a concentrar as tropas aliadas com vista a uma invasão do continente europeu, e a Rússia.
  Os navios da pesca do bacalhau movimentavam-se no sítio ideal para observar e reportar o tráfego naval aliado. A neutralidade portuguesa fornecia o melhor disfarce para a ação dos agentes do Eixo. E o Gil Eanes, em particular, proporcionava cobertura diplomática, já que se tratava de um navio de bandeira.
  A documentação consultada mostra que entre maio e agosto de 1942, os serviços de informações britânicos reportaram pelo menos cinco casos altamente suspeitos por parte da frota portuguesa. Antes do final da campanha, em outubro, o comportamento das embarcações portuguesas suscitou as maiores desconfianças aos investigadores da contraespionagem britânica, que intercetando praticamente todas as comunicações radiotelegráficas dos nazis, recolheram indícios relevantes, dos 47 navios, que largaram com pompa e direito a cerimónia pública em maio daquele ano, uma dúzia transportava agentes nazis a bordo.
  A propaganda do Estado Novo, referente a este setor, assentava em dois vetores principais.
  Para consumo interno, criou o mito do pescador-marinheiro, na tentativa de estabelecer uma relação direta entre os navegadores das descobertas e os heróis da pesca do bacalhau. 
  No plano externo, era a tomada uma opção de grande impacto visual com a criação da chamada frota branca. Para acentuar a sua condição neutral, os barcos portugueses da pesca do bacalhau eram pintados integralmente de branco, colocavam bem visível a bandeira nacional e navegavam em comboio, não obstante os inconvenientes e prejuízos associados a uma opção em tudo contrária ao bom desempenho de cada um dos navios.
  Os barcos do bacalhau passaram a partir de Lisboa após a celebração de uma missa campal nos Jerónimos, seguida de bênção das embarcações. Era um ritual transformado em celebração da campanha do bacalhau, destinado a envolver toda a nação. A ação foi definida, por Álvaro Garrido, professor universitário e historiador, com uma intencionalidade política de produzir e encenar um ritual nacionalista com uma coreografia claramente fascista e ao mesmo tempo clerical.
  Era tudo tão rigoroso que nenhum navio de pesca à linha podia deixar de participar na cerimónia da bênção. Na cerimónia de 1941 Salazar proferiu o discurso em que afirmou: Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.
  Consumada a bênção, partiam os navios para a dura faina, pintados de branco.
  Haverá na história da frota branca muito material para a ficção e lamentando-se que apenas Bernardo Santareno, que foi médico na frota, tenha escrito sobre o que alguns consideram a maior aventura marítima portuguesa depois dos Descobrimentos.
  Mas aquela não foi a única preocupação que os Aliados mantinham em relação à frota portuguesa, num ano em que a campanha submarina germânica no Atlântico esteve quase a por a Grã-Bretanha de joelhos. Em Londres, acreditava-se que os bacalhoeiros portugueses abasteciam os submersíveis alemães com combustível que iam buscar a portos aliados, nomeadamente no Canadá e na Terra Nova. Contudo da troca de correspondência entre o Almirantado Britânico, os serviços de segurança dos portos do Atlântico Ocidental e a contraespionagem aliada, depreende-se que nunca foi possível provar essa suspeita, muito embora se tenha admitido que um ou outro capitão germanófilo possa ter fornecido víveres aos submarinos nazis.
  Com provas ou sem elas, o certo é que os alemães usaram e abusaram da frota portuguesa. Durante os interrogatórios a que foi sujeito no Processo de Nurenberga, Walter Schellenberg, o último chefe da espionagem de Hitler, disse que navios de pesca portugueses foram usados para desembarcar espiões no continente americano [17].
 
  Oito juízes, representantes dos quatro países vencedores da guerra, compuseram o Tribunal de Nuremberga. O presidente do Tribunal era britânico, mas coube aos americanos o papel mais importante na preparação do processo. Os países neutros não tiveram nenhuma participação.
  Juristas têm levantado a questão da apreciação das violações dos direitos fundamentais através de um tribunal ad hoc, um tribunal de exceção, sem a escolha de advogados pelos réus. Segundo os mesmos, um tribunal de exceção não poderia punir com pena capital, mas somente com prisão, entre outras formas de responsabilização. Todavia, em Nuremberga, os vencedores ditaram as regras e o funcionamento do tribunal, mesmo em detrimento dos direitos fundamentais dos réus, como o princípio do juízo natural conhecidos dos ingleses desde a Magna Carta, de 1215.
    Este tribunal serviu de base para a criação do Tribunal Penal Internacional, com sede na Haia/Holanda.

  O Alm. Henrique Tenreiro durante a II Guerra foi investigado em Portugal, pelos serviços britânicos de contraespionagem.
  Não há, porém, provas cabais que relacionem Tenreiro diretamente com os serviços secretos alemães. Mas, segundo diz Álvaro Garrido, biógrafo de Tenreiro, existem indícios fortes de que prestou serviços ao Estado nazi e ao esforço de guerra alemão.
  Com efeito, este oficial, ajudante de campo do Ministro da Marinha, era conotado com a ala radical do Estado Novo, e parece ter dado cobertura a vários casos de espionagem a bordo dos bacalhoeiros. Na sua qualidade de patrão das pescas, tinha oficiosamente a última palavra a dizer na contratação dos oficiais das embarcações pesqueiras, pelo que dificilmente terá ignorado o que se passava[18].
  Em 1943, Salazar cedeu às pressões britânicas para desmantelar as redes germânicas. Acabaram, assim, os anos de impunidade. Muitos portugueses que colaboravam com os alemães foram presos e vários alemães receberam ordem de expulsão do país.
  O jornalista da SIC, Aurélio Faria tomou conhecimento em 1988 da existência dos destroços do U 963 no mar da Nazaré e decidiu investigar.
  Entretanto, o Instituto Hidrográfico da Marinha/I.H.M. com auxílio de um sonar de varrimento lateral, detetou destroços num local próximo do Canhão da Nazaré, cujas dimensões da sombra acústica correspondiam às de um submarino como o UB 963. Aurélio Faria e Jorge Ramalho[19] avançaram para a realização de uma reportagem, no seguimento de um projeto desenvolvido pela Universidade Autónoma de Lisboa (U.A.L.), em parceria com a Universidade de Connecticut, a Ocean Technology Foundation e o I.H.M. Em junho de 2004, realizou-se uma operação de localização do U-Boat, na qual foram empregues meios invulgares em Portugal, como um minissubmarino, com capacidade para recolher e analisar vestígios arqueológicos, até 500 metros de profundidade.
  A história do afundamento deste submarino perdurou no tempo, ainda que baseada em dúvidas e boatos.
 
  O que é que estaria, realmente, dentro do submarino?
  Especula-se sobre o que estaria a bordo do U-963, que segredos militares haviam, para o comandante, não o querer entregar aos Aliados e, na Nazaré, não ter permitido que a embarcação tivesse aportado no porto, para retirar a tripulação, antes de o afundar.
  Sabe-se que outros U-Boat foram ao fundo, no final da II Guerra, quando ainda carregavam tecnologia e materiais radioativos destinados ao esforço de guerra do Japão.
  Isto sem falar nos equipamentos que permitiam a encriptação das comunicações de e para o submarino, como as máquinas Enigma, que, sem os alemães saberem, tinham, há muito, sido capturadas por polacos e ingleses[20].
  O resultado da investigação foi a confirmação do local de afundamento de um dos quatro submarinos naufragados na costa nacional, Matosinhos, Figueira da Foz[21] e Ilha do Pico. O local de um outro afundamento no Mar dos Açores, embora mais ou menos conhecido nunca foi devidamente procurado. Seria sempre um cemitério de guerra, pois que se perdeu toda a tripulação.
  Aurélio Faria admitiu que o U-963, pode ter sido afundado ainda com os torpedos, o que à luz das Convenções de Guerra era um crime.
  A zona onde o arrastão de pesca Mar Salgado encontrou uma bomba no dia 27 de janeiro de 2017 é a mesma onde se verificou o afundamento do UB-963. O engenho, que tinha entre 1,50 e 1,60 metros de comprimento, foi identificado como sendo uma bomba de aeronave do tipo MK82 que tinha no interior mais de 200 quilos de H6, um tipo de explosivo equivalente a 600 quilos de TNT /trinitrotolueno.
  A bomba foi afundada a 20 metros de profundidade e realizada a contra detonação por uma equipa de mergulhadores do Destacamento de Mergulhadores Sapadores, que tem entre as suas áreas de atuação reconhecer e inativar engenhos explosivos convencionais ou improvisados, na área de responsabilidade da Marinha e em áreas de conflito. A operação de desmantelamento foi preparada em terra e contou com a colaboração do arrastão que encontrou o engenho, e à tarde o transportou de volta ao largo da Nazaré, auxiliando com gruas a colocação da bomba no mar. A deslocação do arrastão foi acompanhada por lanchas da Polícia Marítima e da Estação Salva-Vidas da Nazaré e a detonação foi efetuada numa área com um perímetro de segurança de mil metros.







[1] Em 1939, a Alemanha tinha apenas três dezenas de submarinos, mas preparava-se para rapidamente fabricar muitos mais. As consequências foram, não obstante, dramáticas para os Aliados com muitos navios, cargueiros e não só, afundados, pelos malditos submarinos alemães.
  Considerava-se que o serviço num U-Boat era uma condenação à morte, pois mais de 80% dos que saíam para a caça, não voltavam. Mas não faltaram voluntários, pois era um serviço de prestígio, reservado a uma elite de militares.
    A morte de Adolf Hitler ocorreu em 30 de abril de 1945, por suicídio com arma de fogo e a ingestão de uma cápsula de cianeto

[2] Em alemão, Unterseeboot, literalmente barco submarino é termo que decorre de a Marinha da Alemanha dar nome aos seus submarinos, com uma letra U seguido de um número.
  Normalmente, é empregado na língua inglesa para designar qualquer um dos submarinos alemães da I e II Guerras. Em alemão, este termo é usado para designar qualquer submarino.

[3] Na Ásia continuou a guerra até à rendição do Japão, após o lançamento de duas bombas atómicas. Nos dias 6 e 9 de agosto, os Estados Unidos lançaram ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki, respetivamente. Em 8 de agosto, a União Soviética declarou Guerra ao Japão e iniciou a invasão da Manchúria derrotando rapidamente o Exército Imperial japonês que ocupava a Manchúria e a Coreia.
  Em 28 de agosto, começou formalmente a ocupação do Japão pelo Comandante Supremo das Forças Aliadas. A cerimónia oficial de rendição aconteceu no dia 2 de setembro, quando oficiais do Japão representando o Imperador assinaram a ata de rendição do Japão ao Gen. Richard K. Sutherland, a bordo do USS Missouri.

[4] Aonde, aliás, já havia muitos alemães.
  Após a II Guerra, os países aliados, Inglaterra, EUA, União Soviética e França, formaram um tribunal internacional com a finalidade de julgar os crimes de guerra, que ficou conhecido como o Tribunal de Nuremberga, como se lerá adiante.

[5]     Dados colhidos in Maquis -guerrillero antifranco.
[6] A invasão de Timor aconteceu a 19 de fevereiro de 1942 e, apesar de terem reconhecido que a administração do território continuava a ser portuguesa, os japoneses só abandonaram a ilha após o fim da guerra. Pelo meio aprisionaram os elementos portugueses envolvidos na administração e nas forças militares, aterrorizaram a população local e mataram milhares de pessoas.
  Pouco antes da chegada dos japoneses a ilha fora ocupada por forças holandesas e australianas.
  Portugal e os aliados tinham estabelecido um acordo de cooperação que previa o envio de tropas aliadas caso os japoneses tentassem entrar pelo território. Essa ajuda estava, no entanto, sujeita a um pedido formal de ajuda, que nunca aconteceu. Apesar dos protestos do governador local as forças japonesas invadiram Timor. Para compensar a falta de elementos naquele território, Portugal anunciou o envio de tropas com o objetivo de substituir os aliados, mas estas não chegaram a tempo, porque, entretanto, os japoneses desembarcaram em Díli.
Os japoneses dizimaram cerca de dez por cento da população e deixaram memórias sombrias entre os timorenses.
[7] Conforme decorre da Revista Visão e da investigação efetuada por esta em arquivos britânicos, alemães, Torre do Tombo e Arquivo Histórico da Marinha, a frota bacalhoeira portuguesa (o pão do mar, como lhe chamavam os ideólogos do regime), era muito apetecível para a espionagem naval alemã pelo facto dos bancos de pesca se encontrarem na rota dos comboios de navios de mercadorias e de tropas que atravessavam o Atlântico entre os EUA e a Grã-Bretanha e a Rússia.
  Em plena Batalha do Atlântico, os alemães usaram a cobertura da neutralidade portuguesa para monitorizar o tráfego marítimo e colocar as suas alcateias submarinas no encalço das embarcações aliadas.
  Só em junho de 1942, foram afundados 173 navios aliados no que foi considerada como idade de ouro e época de caça americana. Entre janeiro e agosto, das investidas alemãs, envolvendo apenas 22 submarinos, resultou a perda de 609 navios aliados, o equivalente a mais de 3 milhões de toneladas em certa medida, com a ajuda (pelo menos tácita) da frota bacalhoeira nacional, também suspeita de abastecer os alemães em alto mar, se não com combustível, pelo menos com víveres e água.
  O navio almirante dessa frota o Gil Eanes, cedido, em fevereiro, pela Armada ao Grémio dos Armadores de Pesca do Bacalhau, foi um navio de bandeira, naquelas águas, onde fazia um vaivém entre os bacalhoeiros (na sua maioria veleiros), abastecendo-os e apoiando-os com cuidados médicos. Gozava, assim, de uma liberdade total no Atlântico Norte, que lhe permitiu fazer escalas em diversos portos aliados, como Hallifax-Canadá, Nova Iorque e Newport News-EUA, este último quase encostado à base aérea naval de Norfolk, a maior do hemisfério ocidental.
[8] Fleming de Oliveira, in No Tempo de Reis, Republicanos & Outros.
[9] Expresso-17.06.2017 in Cobaias de Salazar.
[10] Na continuação do Promontório do Sítio e separado dele por escassos metros, encontra-se um rochedo de forma trapezoidal, grande e escarpado, a Pedra do Guilhim.

[11] No início do século XX, o Forte de Peniche (Fortaleza de S. Francisco) foi utilizado como abrigo para os bóeres que se refugiaram em Moçambique após a vitória inglesa na África do Sul.
  À época da I Guerra, nela estiveram detidos alemães e austríacos, convertendo-se, durante o Estado Novo, em prisão política de segurança máxima.
  A tripulação do U-963 passou pelo Forte até ser entregue aos Britânicos.
  No Registo Geral de Presos do Forte de Peniche não se encontra qualquer referência a estes alemães, o que de certo modo se compreende por não serem presos políticos. A Drª Raquel Janeirinho, que fez parte da equipe que elaborou esse Registo (aliás muito bem feito e completo), informou-me que até desconhecia a ocorrência. Encontrando-se em maio de 1945 o Forte de Peniche na dependência da P.V.D.E., antecessora da PIDE, admite que o Registo exista no Fundo Documental da PIDE, guardado na Torre do Tombo. A PIDE foi criada pelo Decreto-Lei n.º 35 046 de 22 de outubro de 1945 em substituição da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado- sendo considerada como um organismo autónomo da Polícia Judiciária e apresentada como seguindo o modelo da Scotland Yard, mas foi de facto o prolongamento da PVDE, criada com a consultoria dos fascistas italianos e da Gestapo alemã e continuaria, sob o nome de Direção-Geral de Segurança /DGS, depois de 1969 (Marcelo Caetano) e até ao 25 de Abril. 
  No Registo Geral de Presos do Forte de Peniche, encontrei, obviamente, o nome de Álvaro Barreirinhas Cunhal. Também encontrei os Registos de Artur Faria Borda (comerciante, natural de Alcobaça, detido entre 22 de janeiro de 1950 e 3 de fevereiro de 1952, para averiguações) e Gilberto de Magalhães Coutinho (empregado de comércio, natural de Alcobaça, detido entre 22 de janeiro de 1950 e 3 de junho de 1953, para averiguações).
 
[12] O Canhão da Nazaré, é um desfiladeiro submarino de origem tectónica situado ao largo da costa da Nazaré, relacionado com a falha da Nazaré-Pombal, começa a definir-se a cerca de 500 metros da costa. Considerado o maior da Europa, separa a costa da Península Ibérica na direção este-oeste desde a plataforma continental, numa extensão de cerca de 211 km, começando a uma profundidade de 50 metros até à planície abissal Ibérica, onde atinge profundidades na ordem dos 5 000 metros.
  O Canhão de Nazaré funciona como um polarizador de ondulações. As ondas conseguem viajar a uma velocidade muito maior pela falha geológica, chegando na costa praticamente sem dissipação de energia. A Praia do Norte/Nazaré, apresenta ondas significativamente maiores do que o restante da costa portuguesa por conta do Canhão de Nazaré.
[13] O NRP Sagres é o principal Navio-escola da Marinha Portuguesa.
  O atual Sagres é o terceiro navio com esse nome a desempenhar funções de instrução náutica na Marinha Portuguesa, sendo por isso, também conhecido por Sagres III. É o navio mais conhecido desta componente das nossas Forças Armadas, identificado pelas suas velas ostentando a Cruz da Ordem de Cristo.
   No final da II Guerra, foi capturado pelas forças dos EUA, sendo vendido à Marinha do Brasil em 1948. No Brasil foi batizado de Guanabara, servindo como navio-escola até 1961, data em que foi adquirido por Portugal para ser usado em substituição do Sagres II (ex-Rickmer Rickmers). O navio recebeu o mesmo nome do antecessor, entrando ao serviço da Marinha Portuguesa, em 8 de fevereiro de 1962.
[14] O U-963 do tipo VIIC, foi lançado ao mar em 30 de dezembro de 1942 e saiu pela primeira vez em missão a 17 de fevereiro de 1943.   Deslocava 769 toneladas (superfície) e 871 toneladas (submerso), tinha 67,1m de comprimento, atingia 17,7 nós (32,8 km/h-superfície) e 7,6 nós (14,1 km/h-submerso), a autonomia com motores diesel era de 500 milhas (15 742 km) / 10 nós (18,5 km/h-superfície) e 80 milhas (148,2 km) / 4,0 nós (7,4 km/h-submerso), atingia a profundidade máxima de 220 m. Dispunha de lança torpedos 4/1 (tubos de popa/tubos de convés), 14 torpedos, Canhão de 88 mm, 250 tiros, Canhão antiaéreo de 20 mm, 4 380 tiros. A tripulação era de 46 homens.
  Os seus comandantes foram o Oblt. Karl Boddenberg de 17 de fevereiro de 1943 a dezembro de 1944, o Oblt. Werner Müller de 13 de agosto de 1944 a 21 de agosto de 1944 e o Oblt. Rolf-Werner Wentz de dezembro de 1944 a 20 de maio de 1945 (data do afundamento na Nazaré).
  O U-963 integrava a 11.ª Unterseebootsflottille, da Kriegsmarine, baseada em Bergen, Noruega. Entre outubro de 1943 e 20 de maio de 1945, o U-963 fez nove patrulhas no Atlântico, Golfo da Biscaia e Mar Báltico, mas nunca afundou um navio inimigo.
  Dados recolhidos da List of all U-boat Commanders e Lista de submarinos de maior sucesso da Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial.
[15] Os U-Boat eram uma força de elite e para melhor se distinguir das outras unidades da Kriegsmarine, decoravam o casco com uma insígnia personalizada, de certo modo como acontecia com os aviões da Luftwaffe.
  Assim muitos U-Boat foram decorados com emblemas, não oficiais, pintados de ambos os lados do casco e na proa. Estas insígnias também foram utilizadas na parte esquerda da boina do uniforme da tripulaçãbo, até serem proibidas por questões de segurança.
[16] Rolf-Werner Wentz pertencia a uma tradicional família de Lübeck, sem intervenção política (pró ou antinazi) ou antecedentes na Marinha, que se dedicava ao comércio. A sua vida militar encontra-se bem documentada. Faleceu a 27 de julho de 2012 e nasceu a 1 janeiro de 1920, em Lübeck.  Entrou para a Krigsmarine em 16 de setembro de 1939, como Oficial Candidato e cumpriu o respetivo percurso. Foi designado Aspirante de Mar em 1 de fevereiro de 1940, Alferes de Mar em 1 de julho de 1940 e Tenente de Mar em 1 de março de 1942.
  Depois da Guerra, Rolf-Werner Wentz, casado e, entretanto, pai de filhos, dedicou-se à atividade comercial, cujo estabelecimento familiar recuperou com dificuldade ao fim de alguns anos. Segundo consta, este militar brioso terá ficado para sempre com o trauma da sua capitulação e autoafundamento do submarino, embora não fosse um fervoroso nazi. Era um bom alemão e talvez um fraco nazi.
  Num país onde tudo estava para ser reconstruído, também o dinheiro havia perdido o valor. O comércio funcionou durante algum tempo com base na troca de produtos ou serviços, sem fazer uso de moeda.
  Em 20 de junho de 1948, entrou em vigor a reforma monetária na Alemanha. A nova moeda, marco alemão, foi distribuída nos guichês onde se apanhavam as senhas para adquirir alimentos.
    Entulho foi o que restou das metrópoles alemãs como Lübeck, depois do final da II Guerra. A reconstrução foi trabalho para as mulheres e crianças, pois os homens que sobreviveram à guerra ainda não haviam retornado para casa. Dos 20 milhões de alemães enviados às frentes de batalha, mais da metade encontravam-se em campos de prisioneiros em maio de 1945. Os alemães que resistiram à guerra foram confrontados com a luta pela sobrevivência. O principal problema era a fome. O inverno rigoroso de 1946 para 1947 levou a crises no abastecimento de combustível (carvão) e, consequentemente de alimentos.
  NOTA: Dados recolhidos da List of all U-boat Commanders e Lista de submarinos de maior sucesso da Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial, bem como em Alemanha Reconstruída.
  Dados recolhidos na imprensa portuguesa da época.
[17]Os Processos de Nuremberga foram uma série de doze julgamentos por crimes de guerra contra os chefes sobreviventes da Alemanha Nazi.
[18] Henrique Ernesto Serra dos Santos Tenreiro mais conhecido por Almirante Henrique Tenreiro, foi um militar da Armada Portuguesa, onde atingiu o posto de contra-almirante, que se distinguiu como dirigente da Junta Central das Casas de Pescadores, onde era delegado do Governo junto dos organismos das pescas.
Foi uma das figuras mais relevantes e controversas do regime do Estado Novo, como apoiante. Após o 25 de Abril, e depois de um complexo processo de investigação a alegadas irregularidades financeiras, de que resultou ilibado, exilou-se no Brasil, onde faleceu.
[19] Aurélio Faria nasceu na Madeira e quem vê a SIC conhece este nome e a voz com sotaque. Em 28 anos de jornalismo televisivo, correu Mundo, fez reportagens nos Himalaias, no Afeganistão e na Líbia.
  Jorge Ramalho é jornalista da SIC.
 
  Informação SIC.
[20] Enigma é o nome por que ficou conhecida a máquina de criptografia, utilizada pelos alemães, tanto para criptografar como para descriptar códigos de guerra, usada a partir dos anos de 1920. O código foi, no entanto, decifrado, e a informação contida nas mensagens que não protegeu é geralmente tida como responsável pelo fim da II Guerra, pelo menos um ano antes do que seria de prever.
  Leia-se com muito interesse in National Geographic (Edição Especial) História Secreta da Segunda Guerra Mundial.
[21] Não encontrei referências concretas sobre este incidente, apenas várias e muito imprecisas notas. Pessoas mais idosas com quem conversei, não tem ideia do incidente.
  A Biblioteca e o Arquivo Municipal da Figueira da Foz, bem como o jornal que ao tempo se publicava, não fazem menção a este afundamento.

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