sexta-feira, 11 de janeiro de 2019




NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Alves, Luís António de Sousa, nasceu a 7 de janeiro de 1971, na Maiorga e vive em Alcobaça.
-Desde sempre que me preocupei em ter atividades extraprofissionais, porque acho que são fundamentais para o meu equilíbrio mental além de me enriquecerem a vários níveis.
Existem três coisas que desde sempre lhe despertaram muito interesse, verdadeiras paixões, e que acabaram por o conduzir nas atividades extraprofissionais, livros, música e a bicicleta. Em relação à música, estudei e toquei trombone na Sociedade Filarmónica Maiorguense, onde anos mais tarde também fui diretor. No dia em que saí a tocar com a farda da SFM pela primeira vez, senti-me feliz, orgulhoso e a pessoa mais importante do mundo. Dentro da centenária instituição havia músicos que, também eles, eram verdadeiras instituições. Homens como o Ti Ramiro alfaiate, “Joaquim” Sereno, Fragata, Zé Bruno, Mário “Veneno” e tantos, tantos outros. Sem esquecer uma pessoa importantíssima para mim, o maestro José Manuel Cunha. Homens que encaravam o espirito filarmónico como ninguém. Eram dedicados, apaixonados e sempre prontos para a festa. E se esta fosse regada com bom tinto melhor ainda.
As saídas da Banda ocupavam dias inteiros, o que levava os músicos a ter de almoçar no recinto da festa ou em casa dos festeiros, o que por vezes era um perigo. Fazer uma procissão a seguir a um almoço bem regado, era por vezes uma aventura divertida. Para nós, os mais novos, era também a oportunidade de podermos beber gasosa ou laranjada à vontade, sem termos os pais a chamar a atenção. Estou a escrever estas linhas e a lembrar-me do dia em que andávamos a acompanhar um peditório pelas ruas da Maiorga e a certa altura virámos todos à direita. Todos não. O Ti Mário “Veneno”, 1º trompa, seguiu em frente. Imaginam a risada que foi ver o senhor a tocar trompa, rua abaixo sozinho. Não posso garantir, mas aquela hora, julgo que a culpa não foi só do tinto. É importante e justo salientar que estes homens eram excelentes músicos e contribuíram para uma época de ouro da SFM.
Orgulha-se de fazer parte da história do rock alcobacense, como baixista da banda Epá Não Sei, que tocou na 1ª. sessão do 1º. Concurso de Música Moderna do Bar Ben, sem que na altura houvesse noção que estava a participar ativamente no início de algo importante. Refiro-me obviamente ao Bar Ben e ao movimento musical que muito deu que falar a nível nacional. Durante esta aventura foram os verdadeiros reis do rock, pelo menos lá da rua, o que  deu para conhecer muita gente, aprender e contactar com parte de um mundo novo.
Histórias engraçadas ficaram algumas. 
Tirando aquelas que eram engraçadas só para nós e que não se podem contar aqui, recordo uma vez que fomos tocar a um bar em Salir do Porto, 9 de junho de 1990, e no fim da noite, o dono veio ter connosco e diz-nos que não nos ia pagar o cachet combinado. E agora? Olhámos uns para os outros, insistimos, mas ele estava decidido a não nos pagar, porque não tinha realizado dinheiro suficiente durante a noite. Depois de alguma exaltação, afinal eramos rocker´s, desmontámos tudo e viemos embora. Não sem antes aproveitar uma das cláusulas do acordo. Bar aberto para os músicos. Tempos depois viemos a saber que esse bar tinha desaparecido em consequência de um incêndio. Fizemos uma festa, mas garanto que os EPÁ NÃO SEI não tiveram nada a ver com o incêndio.
EPÁ NÃO SEI foram parar à prisão. Este foi o título de uma notícia no jornal O Alcoa. Não, não teve qualquer ligação ao incêndio do bar mas, de fato, foram para a prisão. Fomos dar um concerto à Prisão-Escola de Leiria a convite da Paróquia de Alcobaça. Foi uma experiência única e marcante. Recordo o dia em que fomos falar com o Capelão da prisão para combinar as coisas. Tudo combinado, local do concerto visitado e o senhor convida-nos para irmos ao café. Nós, envergonhados e armados sei lá em quê, começámos a pedir, um café, um sumo, uma água e quando chegou a vez do Capelão, nem hesitou. Para mim é uma caneca que está um calor do caraças”. Nós olhámos uns para os outros e claro, alterámos o pedido. Uma caneca para cada um. Afinal eramos rocker´s e estava um calor do caraças.
Muitos anos depois, estudou gaita-de-foles durante três anos no Centro Galego, de Lisboa.
A bicicleta, é e será o seu objeto preferido. No dia em que nasceu já havia uma bicicleta lá por casa à espera, graças à paixão pelo ciclismo de um tio-avô que muito carinhosamente o tratava por Luís Ocaña, nome de um grande ciclista espanhol de outros tempos. Ando de bicicleta e espero fazê-lo até que as pernas me doam. 
Aproveitou a paixão para conhecer Portugal de uma ponta a outra, contactando com lugares e pessoas, como só a bicicleta permite. Procura pedalar em locais onde nunca esteve, percorrer cantinhos impossíveis de alcançar de carro. De todas as travessias que fez em Portugal destaca a Grande Rota das Aldeias Históricas  e uma viagem de 6 dias na zona de Montalegre, que lhe permitiu conhecer um Portugal onde os ponteiros do relógio não mandam e a riqueza das pessoas é medida pelo número de cabeças de gado.
Em 2007 percorreu a Via de la Plata, em Espanha durante 15 dias, onde descobriu o que era ter frio e fome, sem esquecer o encontro com um touro bravo,  na Estremadura Espanhola. Entre ambos, havia uma cancela que tinha que abrir para seguir viagem. Tivemos cerca de 40 minutos a olhar um para o outro. Ganhei. Ele foi embora e eu pude prosseguir viagem na minha bicicleta.
No ano seguinte, percorreu o Parque Nacional da Serra Nevada durante seis dias e conseguiu ir ao cume de bicicleta. Mas, o seu ponto alto como cicloturista deu-se em 2005 quando percorreu pela primeira vez o Caminho Francês de Santiago. Depois voltou à cidade do Apostolo várias vezes de bicicleta e, em 2014 a pé.
Em 2016, preparou-se para ir a Marrocos, explorar a zona das Gargantas do Atlas e Jbel Saghro, de bicicleta. Em cima da bicicleta tenho muitas histórias e boas recordações. Em cima da bicicleta consigo rir e chorar. Sou feliz.
O gosto pelos livros apareceu-lhe na primária, com o juntar das primeiras letras. Ao longo da vida leu muitos livros. Não sei o preferido. Com a leitura, a escrita aparece com alguma naturalidade. A primeira experiência surgiu em 2005, quando escreveu um diário de bolso no Caminho Francês de Santiago. A partir daí, foi escrevendo e arrumando as folhas na gaveta. Em 2013 apresentou, na Biblioteca de Alcobaça, o seu primeiro livro de mini contos, intitulado CURTAS com margem de progressão.
Tirou alguns textos da gaveta e participou em concursos literários dos mais variados géneros, sendo desde 2012 premiado em alguns.
Confesso que os concursos nunca foram uma motivação, mas apenas uma maneira de partilhar alguns dos textos arrumados. As minhas motivações são as minhas paixões.

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