segunda-feira, 12 de março de 2018

Bonito ou Feio




BONITO OU FEIO?

FLeming de OLiveira



Se é loira, deve ser “burra”. Se é bonita, chegou ao topo da carreira na “horizontal”. Se o tipo tem músculos, é fútil por dedicar tantas horas ao ginásio.
Sim, os atributos físicos, ainda que belos, podem jogar contra quem os possui, tornando-os alvo de reprovação social, de crítica com intenção de humilhar e denegrir, sem esquecer o ciúme ou a inveja maligna.
A beleza é um atributo bem cotado socialmente, mas também pode fechar portas. De facto, ser bonito é um ativo precioso, mas pode acarretar efeitos danosos, não ser a pessoa levada totalmente a sério ou ficar dependente desse atributo. O facto de uma pessoa ser atraente pode transmitir a noção de que tem mais poder sobre o espaço à volta, fazendo com que os outros sintam que não podem competir ou se aproximar dela.  
Parece impossível imaginar, afinal, que bonito pode ser algo negativo, a ponto de prejudicar aspetos da vida.
Beleza e a inteligência não são incompatíveis, mas sem sofismas todos são naturalmente atraídos pelo belo, e quem se aproxima do “ideal dominante” tem mais força social.
Por isso, a indústria da beleza é florescente, a obsessão pela beleza remonta a tempos imemoriais, facilitando a vida aos menos dotados ou penalizados pelo decurso da vida.
Paradoxalmente, embora no antigamente, uma figura esbelta podia ser um estorvo, particularmente em profissões em que os requisitos técnicos da função estão na primeira linha. Uma figura atraente, captava a atenção pública, mas recebia avaliações menos favoráveis que os outros colegas.
Quando, há mais de 40 anos, comecei a trabalhar nos tribunais, dizia-se (???), “machistamente” que a beleza era capaz de exercer o seu fascínio. Réus bonitos tinham probabilidades de obter penas mais leves ou até serem absolvidos. Da mesma forma, se o indivíduo que entrou com o processo for mais atraente, é é possível que a balança da Justiça tende a pender para ele, fazendo com que ganhe o caso e consiga indemnizações maiores.
Resultado de imagem para bonito ou feioSeja como for, nunca o pude atestar.
Os tempos evoluíram, há menos tolerância para manobras sexistas, que tendem a acabar mal, como referi num apontamento aqui publicado, há pouco tempo. A democratização de costumes e o mediatismo, permitem que seja normal, homens e mulheres, fazerem valer a imagem. Não era de todo estranho, noutro tempo repito, uma mulher no início da carreira, se vestir como se fosse mais velha para ser levada a sério. Hoje não sendo assim, o preconceito e machismo ainda levem mulheres a camuflar atributos físicos, para não serem importunadas.
Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. É um ditado que assenta como uma luva quando se aborda um atributo tão poderoso e perturbador.
Ser bonito pode ajudar, mas não é passaporte carimbado para a felicidade.
Sim, meus Amigos. Existem vantagens em ser feio. Quase nulas? Talvez. Vantagens? Não muitas.
Se você, assim como eu, possui uma beleza exótica, ou até mesmo se não a tiver, somos considerados feios. E o pior não é isso, mas sim que isso entrou na nossa cabeça ao ponto de quando olhamos ao espelho, perguntamos: Meu Deus, por que eu sou tão feio assim?
As desvantagens de ser feio todo mundo conhece, e são tantas que os feios deveriam ser protegidos como classe, assim como minorias raciais ou pessoas com deficiência!!!

A maioria de nós, embora tenha dificuldade em o assumir publicamente, prefere comprar a vendedores com melhor aparência, ouvir advogados mais bonitos, votar em políticos mais esbeltos, aprender com professores mais elegantes. Não, não é uma questão de de recusar em contratar o feio, mas enquanto trabalhadores, clientes, somos responsáveis por esses efeitos.
Assim, sugiro (academicamente) que deveríamos ajudar as pessoas de aparência simples, alargando as leis que protegem minoras e, criando programas de ação afirmativa para os feios.
Isso soa claramente impossível, fantasioso, provocatório sem dúvida, pois pressuporia que classificássemos “legalmente” alguém como “pouco atraente”, para não dizer “horroroso”, embora as pessoas possam ser comprovadamente feias.
Buscar a “igualdade” significa tratar todos por igual, negros, feios, bonitos, albinos, carecas, e leis para proteger uns ou outros é assumir a não discriminação.
De fato, os feios não devem sofrer preconceito, mas seria uma lei a solução para o combater?