sexta-feira, 21 de maio de 2010

Em busca do Santo Graal, O Graal de Valência, José de Arimateia, Adolf Hitler e a Lança Sgrada. O Graal passou (mesmo) por Alcobaça

O Cálice, com que o Papa Bento XVI celebrou Missa na sua visita a Valência em Julho de 2006 é, segundo uma tradição muito antiga, o que Jesus utilizou na Última Ceia. Segundo as Escrituras, Jesus e seus Discípulos celebraram a Última Ceia, na Quinta Feira, dia anterior à Paixão e morte do Senhor. Na Ceia Pascal, Jesus instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio, e segundo o costume dos judeus terão sido utilizados, então, os melhores utensílios que houvesse. O Cálice deveria ser digno da missão que lhe era destinada.

Não há conhecimento preciso do itinerário do Cálice nos primeiros anos, após 33 d.c. Só chegou a lenda. Saiu um dia, como veremos, das Catacumbas de Roma, após dois seus possuidores terem morrido, um degolado e outro na fogueira. Será autêntica esta versão/versão?

Não falta quem recuse valor à relíquia e, neste caso concreto, com o argumento que ao longo da história surgiram em lugares bem dispersos, vários cálices que se reclamam de igual procedência, a Última Ceia. Muita gente tem Fé no valor, não tanto da relíquia em si, mas em Cristo ressuscitado. Ademais, será bem legítimo admitir que após o Pentecostes, os Apóstolos tenham feito os possíveis, para salvaguardar como grandes tesouros, as relíquias associadas à Paixão do Senhor.

Em 1437, chegou a Valência, como recompensa à cidade por parte de Afonso IV, O Magnânimo, pela ajuda prestada, na conquista de Nápoles. Aqui temos dados concretos.

O Papa Bento XVI, esteve em Julho de 2006 em Valência-Espanha, numa curta, mas talvez, num das mais importantes deslocações que, até então, efectuou ao estrangeiro, nessa qualidade. Parece-me que merece ser-lhe dado o devido destaque, dado o contexto em que se inseriu, o 5º Encontro Internacional das Famílias, organizado pelo PP (Partido Popular) e por grupos religiosos como o Opus Dei. O que se passa em Espanha, interessa-me bastante, tendo em conta os ventos que de lá sopram.

Na cerimónia que marcou o encerramento do 5º Encontro das Famílias, o próximo será apenas daqui a três anos no México, o Papa Bento XVI voltou a destacar os valores do casamento cristão, muito concretamente a união indissolúvel, entre um homem e uma mulher.

Como fora previamente anunciado, o Primeiro Ministro Zapatero, não esteve presente na celebração da Eucaristia, cabendo a representação do Estado à Família Real, no que foi considerado uma afronta, sem precedentes, na história das visitas papais. Quando fomos à Nicarágua, Daniel Ortega (Presidente) foi à missa. Em Varsóvia, durante o período comunista, Jaruzelski (Presidente e Chefe de Governo pró-soviético) fez o mesmo. Até em Cuba, Fidel não se esquivou à missa, comentou o porta-voz do Vaticano, que teme que o exemplo espanhol seja seguido por outros governos, nomeadamente europeus. Segundo os analistas espanhóis, Zapatero terá querido manifestar, de forma bem clara, a intenção de não aceitar intromissões, sejam elas seculares ou religiosas, na sua política social. O Papa evitou referências explícitas ao governo socialista, presidido por um ateu assumido, qual besta negra para as instituições eclesiásticas, que adoptou medidas que o Vaticano tem criticado, por alegadamente secularizarem a sociedade, atentarem contra valores fundamentais, convidando os fiéis a resistir-lhes, em suma, por as considerar ameaçadoras e desrespeitosas para com a instituição familiar. O Presidente do Conselho Pontifício para a Família, um cardeal colombiano, considerou que, está em curso um enfraquecimento da Família, que se pode traduzir num eclipse de Deus.

Destaco na Espanha, sob o Governo Zapatero, a profunda e rápida revolução na legislação e nos costumes, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a possibilidade adopção de crianças por casais homossexuais, a liberalização do divórcio e do aborto, a exclusão do ensino religioso como disciplina obrigatória no ensino público, o corte das subvenções do Estado à Igreja. Tudo isto se insere, segundo o Vaticano, na linha de uma cultura que valoriza a liberdade individual do indivíduo, enquanto sujeito autónomo, como se ele se bastasse a si próprio, uma via que conduz à organização da vida social unicamente a partir de desejos subjectivos, sem referência a uma verdade objectiva prévia, como a dignidade de todo o ser humano, seus direitos e deveres.

Qual é a alternativa? Segundo Bento XVI, a maravilhosa realidade da Família, de acordo com os preceitos cristãos, assenta nos valores do casamento entre homem e mulher, no direito e dever inalienáveis de transmitirem aos filhos um património de experiências, entre as quais a Fé em Deus. É por isso que reconhecer e apoiar esta instituição, é um dos serviços mais importantes que podemos prestar para o bem comum e para o verdadeiro desenvolvimento dos homens e da sociedade. É a maior garantia para assegurar a dignidade, igualdade e verdadeira libertação da pessoa humana.

Com Zapatero a evitar declarações sobre a visita de Bento XVI, acabou por ser o Rei Juan Carlos I a comentá-la, destacando o papel da família, como núcleo essencial da vida. Por sua vez, Bento XVI rejeitou o entendimento que a sua deslocação tivesse uma eminente conotação política, pois prefere fazer luz sobre os aspectos positivos, a centrar-se nos negativos.

Mas, voltemos à questão do Santo Cálice, do Graal.

O conceito mais popular e menos elaborado do Graal, consiste no cálice que Jesus teria usado na Última Ceia e José de Arimateia recolhido o Seu sangue, escorrido da chaga aberta pelo centurião Gaius Cassinus Longinus (mais tarde S. Longino ou S. Longuinho, como é popularmente conhecido na Igreja Católica), durante a crucificação. O sangue fora recolhido quando José de Arimateia preparava o corpo para o sepultar condignamente, após o ter recebido de Pilatos.

Ao chegarem a Jesus, vendo-o já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água (JO 19:34-35). Um soldado tomou uma lança e furou-lhe o lado e saiu sangue e água. Novamente Jesus clamou em voz e entregou o seu fôlego. E eis que a cortina do Templo se rasgou em duas do alto a baixo, a terra tremeu e as rochas se fenderam (Mateus 27:49/51).

Esta lança, A Lança Sagrada, que com este nome passou à História, era um temível gládio, cruel e letal artefacto bélico romano, concebido de modo a causar severas lesões e graves hemorragias. A partir de então foi cobiçada como troféu, desde logo pelos romanos, graças aos seus poderes alegadamente divinos, sendo um dos objectos mais interessantes e máximos da história do cristianismo. Rezam as tradições antigas que quem a possuísse tornar-se-ia senhor do mundo, invencível, dotado de poderes sem limite.

O costume existente na Roma antiga (ano 36 d.c.), fazia com que os crucificados, criminosos de delitos comuns, pois que como cidadãos de pleno direito que não eram, estavam sujeitos à pena capital, tivessem os pés quebrados a fim de facilitar a sua retirada da cruz. Os relatos bíblicos referem que, no caso de Jesus, os pés já se encontravam soltos, pelo que um dos soldados, em vez de lhe quebrar os pés, perfurou o corpo trespassando o tórax com uma lança entre a quarta e a quinta costela. O líquido, sangue e água, terá respingado do corpo na sua vista, curando-o de uma grave doença ocular, possivelmente cataratas. Mais tarde, esse soldado, outrora quase cego, converteu-se arrependido do seu acto insano e cruel, abandonou o exército, transformou-se num monge e, segundo a tradição, foi pela Cesareia e Capadócia. Acabou preso, torturado, com os dentes arrancados e a língua cortada. Há poucos relatos sobre a vida de S. Longinus, mas um pode ser encontrado como tendo sido o soldado que perfurou Jesus com uma lança (JO 19:34). Longinus, provavelmente pelo facto de o nome ser derivado do grego e significar lança. Experiências recentes, demonstraram que dificilmente o corpo de um adulto se mantém seguro por pregos, que são insuficientes para suster o peso. Daí, tem-se a ideia que Jesus foi em primeiro lugar atado pelos braços com cordas e depois as mãos e pulsos pregados. Na arte litúrgica, S. Longinus é representado como um soldado com lança apontada aos olhos ou ainda de abraços abertos, segurando uma lança. Herodes, O Grande, Rei da Judeia (37 a.c./4 d.c), é referido como um dos seus primeiros proprietários. Em 570 d.c., registos dizem que ela terá estado em exposição na Basílica de Monte Sião, em Jerusalém, juntamente com a Coroa de Espinhos. Pelo seu carácter sagrado, os cruzados assumiram como missão recuperar o tesouro, levando-o para Roma.

O incidente do soldado Longinus foi registado por S. João como prova de que na morte de Cristo, haviam sido cumpridas velhas profecias, já do Antigo Testamento pois, nenhum dos seus ossos será quebrado e verão que o trespassam.

Existe outra variante sobre o papel de Gaius Casssius na crucificação de Jesus. Fora afastado do serviço activo por causa de cataratas nos olhos. Enviado a Jerusalém, ali ficou como observador dos movimentos políticos e religiosos da Palestina e, durante cerca de dois anos, acompanhou Jesus de perto e até ao fim na sua actividade messiânica. Ao seguir o processo de condenação e execução onde era acusado de minar a autoridade de Roma, impressionou-se com a Sua dignidade ao suportar o martírio. Os sacerdotes judeus defendiam que era necessário mutilar o corpo, para desmentir a proclamada condição de Messias, pois uma vez que, de acordo com as Antigas Escrituras, os Seus ossos não seriam quebrados. Gaius Cassius, impressionado com o tétrico espectáculo e com a grandeza de Jesus, decidiu impedir a mutilação. Assim, esporeou o cavalo rumo à cruz e trespassou o tórax do crucificado, procedimento, aliás, costumeiro entre os soldados romanos quando se queriam assegurar que o inimigo, ferido no campo de batalha, estava morto. Não se sabe Gaius Cassius tomou a lança da mão do comandante romano que a usava em nome de Herodes ou se utilizou a sua própria lança. Seja como for, esta lenda também vingou e corre paralela à outra.

Muito, mais ou menos romanceadamente, se poderia ainda escrever sobre a Lança Sagrada. Na primeira Cruzada, em 1097, quando os cruzados sitiavam Antioquia, no norte da Síria, foram surpreendidos pelos homens do sultão de Mossul. Com fome e mal armados, os cruzados pareciam destinados ao fracasso, quando Raimond, de Toulouse, recebeu um pobre padre provençal, de nome Pedro Bartolomeu, que disse que o Apóstolo André lhe tinha aparecido em sonhos e revelara que uma relíquia capaz de trazer a vitória aos cruzados, a lança que trespassara Jesus na cruz, se encontrava enterrada numa igreja da cidade. Raimond seguiu o padre e mandou doze dos seus homens escavar o solo, enquanto os demais esperavam no exterior. Quase ao fim da tarde, foi o próprio Pedro Bartolomeu quem descobriu a Lança Sagrada e a entregou aos cruzados. A partir deste momento, na posse da relíquia, os cruzados tornaram-se invencíveis e tomaram a cidade de Antioquia que sitiavam. Através dos tempos a Lança Sagrada despertou a cobiça e a ambição de muitas personalidades históricas. O Papa Inocêncio VIII, foi detentor da Lança Sagrada, desconhecendo-se a razão de ela um dia ter saído do Vaticano, vindo a cair nas mãos de governantes, guerreiros e soberanos (pelo menos uns 45) e leigos. Frederico Barba Roxa tela-à tido em seu poder.

Segundo e sempre de acordo com a lenda, os que a possuíram ao longo de quase dois mil anos, vieram a ter um fim trágico ou misterioso. Consta que durante a Revolução Francesa, terá saído da Biblioteca Nacional de Paris, tendo Napoleão desenvolvido esforços para se apoderar dela. O Kaiser Guilherme, da Prússia, também se apoderou da Lança Sagrada. De mão em mão, de tragédia em tragédia, a Lança de Longinus chegou à posse dos Habsburgos, na Áustria, até ser guardada no Hofsburg Treasure Museum, de Viena. A tradição mágica da Lança Sagrada continuou a propagar-se e a chegar ao interesse e conhecimento de outros.

Richard Wagner era um dos compositores preferidos de A. Hitler. A sua música épica, promovia, segundo o entendimento de certas correntes, as bases de uma nova sociedade e influenciou a acção do Partido Nacional Socialista. A ópera Parsifal desenvolveu o tema da Lança Sagrada, despertando a partir daí a atenção do então jovem A. Hitler, ao tempo cerca de vinte anos. Sabe-se que este fez visitas ao Museu Hofsburg, em Viena, e se deteve fascinado diante da vitrina daquele símbolo sagrado, materialmente não mais que um rústico pedaço de metal. E veio a deixar escrito que eu percebi imediatamente que este era um momento importante da minha vida. Fiquei, silenciosamente a contemplá-la durante alguns minutos, alheio a tudo o que se passava à volta. Ela pareceu-me conter um significado secreto e profundo que fugiu à minha compreensão, um significado que senti no íntimo do meu ser, que ainda não podia trazer à tona do inconsciente. Senti como se a tivesse já segurado nas mãos há séculos atrás e que, uma vez, a reclamei como talismã de poder e mantive o destino do mundo nas minhas mãos. Que espécie de loucura era essa que invadiu a minha mente e cresceu como um tumor no peito?

Não tardou muito que Hitler conquistasse o poder.

Relembrando as visitas que Hitler fez em Viena de Áustria, à Lança Sagrada, o Dr. Walter Stein escreveu que naquela ocasião em que primeiro ficámos de um lado para outro em frente da Lança do Destino, pareceu-me que Hitler se encontrava em transe tão profundo que se assemelhava a um tipo de catarse e a um total eclipse do seu subconsciente.

Referindo-se a esses acontecimentos, Hitler declarou mais tarde numa entrevista que vagueei como um sonâmbulo por onde a Providência me conduziu.

Heinrich Himmler, um dos mentores espirituais do nazismo, era um interessado e estudioso das Ciências Ocultas. Por sua vez, Hitler que mantinha interesse por artefactos e relíquias religiosas, ainda que de origem judaica, não demorou a ambicionar a posse da Lança Sagrada. Aquando da anexação (Ansclhuss) da Áustria, em Abril de 1938, determinou o seu confisco ao Museu de Viena, enviando-a para a Alemanha, como era prática nas pilhagens de obras de arte ordenadas especialomente em proveito de Göring, indústrias e produtos dos territórios ocupados, no que era considerado natural muito concretamente se se tratasse da União Soviética. Como aconteceu com todos os outros conquistadores, detentores da Lança Sagrada, o poder de Hitler um dia findou, as tropas Aliadas tomaram Berlim e ele suicidou-se, antes de ser capturado. H. Himmler, algo tempo antes, havia decidido que a Lança Sagrada precisava de medidas especiais de protecção, um abrigo alternativo numa Alemanha a ficar em ruínas. Fez publicamente anunciar a remoção (aliás do que seria apenas uma réplica), conjuntamente com outras peças, para um ponto não identificado, enquanto que a verdadeira Lança Sagrada iria para um novo esconderijo, a salvo dos inimigos do Reich. Um oficial nazi que participou na operação, ao fazer a relação das peças que deveriam ser removidas, consignou a Lança de Mauritius (o nome oficial da peça). Havia entre as peças históricas do Reich, uma relíquia com um nome parecido, a Espada de Mauritius, que pertenceu a Mauritius, comandante da Legião Tebana que com ela nas mãos, morreu martirizado por ordem do imperador romano Maximiano, ao recusar-se a adorar deuses pagãos. Em solidariedade com o chefe, os seus 6666 legionários também se recusaram a abjurar, ajoelharam-se e ofereceram o pescoço à espada. Maximiano decidiu-se pelo massacre dos homens, como oferenda aos deuses. A mais valorosa legião romana do seu tempo, foi deste modo sacrificada numa chacina sem igual no mundo antigo. Foi esta a peça transportada para outro local, e não a Lança de Longinus. Na confusão que grassava na derrocada alemã, ninguém deu pelo sucedido e o oficial alemão, autor do engano, um tal Willi Liebel, suicidou-se antes do colapso do Reich. Nuremberga onde isto ocorreu, era um monte de ruínas. O Gen. George S. Paton, providenciou a apreensão da verdadeira Lança Sagrada, essa sim, que se encontrava guardada zelosamente num secretíssimo santuário subterrâneo na zona de Nuremberga, descoberto por mero acaso por um soldado americano que viu um túnel que conduzia a duas enormes portas de aço, com mecanismo estilo casa-forte bancária. Este abrigo deveria ser defendido, segundo instruções precisas, até à última gota de sangue. Às 14h10m, do dia 30 de Abril de 1945, dia em que Hitler se suicidou no bunker da Chanceleria do Reich, a verdadeira Lança de Longinus passou para as mãos do Exército Americano. A partir daí, os EUA tornaram-se os seus guardiães e depressa se converteram numa superpotência, com poderes nucleares. A saga parecia repetir-se, mas o Gen. Eisenhower. em 1946, fez com que a Lança Sagrada e as jóias da Casa Real dos Habsburgs voltassem ao local de origem, o Museu de Hofsburg, aonde permanece desde então ao abrigo de delírios de loucos ou megalómanos. Assim, segundo a lenda, só uma vez foi milagreira, concedendo o dom a quem tão impiedosamente, há cerca de 2000, anos a empunhou!

Estudando, hoje em dia, a história esotérica do nazismo, parece poder concluir-se que A. Hitler e alguns dos seus principais companheiros desempenharam um papel, não irrelevante, na estratégia geral da implantação do Reino das Trevas, num trabalho com a marca do Anticristo. Antes da invasão e anexação da Áustria, em 1938, Hitler veio outras vezes ao Hofsburg Museum e pesquisou fontes sobre o assunto. Envolveu-se em teorias profundas, teve ao que se diz revelações que o marcaram, incendiaram a sua imaginação e desataram os sonhos e comportamentos mais fantásticos. Aquelas visitas, foram o sinal documentado da missão de Hitler e o indício que teria poderes de médium no seio de uma equipa espiritual trevosa, empenhada em implantar na Terra uma Nova Ordem. Hitler escreveu mais tarde que a Providência encarregou-me da missão de reunir os povos germânicos, devolver a minha Pátria ao Reich Alemão. Acreditei e acredito nessa missão. Vivi por ela e creio que cumpri.

Tudo terá começado, com o impacto da visão da Lança no Museu. Daí em diante, Hitler aprofundou o estudo daquilo que pudesse estar relacionado com o fascinante dilema. Sim, Hitler estudou o assunto, mas não se limitou à teoria. Passou à prática, convencido da sua missão transcendental, refinando os instrumentos e recursos para a levar a cabo. Essas pesquisas levaram-no ao exame da lenda do Santo Graal, de que R. Wagner foi um intérprete e de que se serviu, como referi, para o enredo de Parsifal. Este compositor complexo, de acordo com certas interpretações, transpôs para a música um objectivo mediúnico, cegar as almas por meio da perversão sexual e privá-las da visão espiritual, de modo a não poderem ser conduzidas pelas hierarquias celestiais.

Hitler acreditava também na reincarnação de Tibério, um dos mais sinistros e devassos imperadores romanos. Conta-se que tentou adquirir a Alex Munthe, autor do Livro do S. Michel, a casa do mesmo nome em Capri, que terá sido o último reduto de Tibério, que ali morreu assassinado. O Dr. Munthe recusou a venda porque ele mesmo acreditava ter sido anteriormente o próprio Tibério. Não posso entrar na discussão do mérito de tais histórias, mas estas teorias ou especulações permitem aquilatar do interesse de homens poderosos pelos segredos e mistérios de Leis Divinas, para depois as poderem defraudar.

A lenda não se resume a estes factos (bíblicos) e, assim, muitas são as teorias sobre a origem do nome Graal. A Igreja Romana não confere ao Cálice, mais que um valor simbólico e defende que o Graal não vai além da literatura medieval, sem prejuízo de reconhecer a existência histórica de certas personagens. E embora tenha também dado apoio a milagres, nunca deu especial cobertura a esta lenda, aliás profusamente desenvolvida de forma escrita e pictórica. Nas representações de José de Arimateia, nos vitrais medievais, ele aparece a segurar não um cálice, mas dois frascos. Alguns artistas, fizeram de ágata o cálice, tal como o que se encontra na Catedral de Valência e com que iniciei este tema.

Ao iniciarmos a demanda do Cálice Sagrado, o Santo Graal, será impossível deixar de fora as versões das lendas e obras medievais de meados dos séculos XI e XII. Tal como na Bíblia, os factos relatados encontram-se em linguagem figurada, para não dizer cifrada, seja por ausência de conhecimentos científicos dos autores ou pela necessidade de ocultar ou relatar factos de determinada feição. Não é possível neste sector deixar de ter em conta a literatura da Idade Média, os seus contos e trovas. A origem da palavra Graal é duvidosa, como quase tudo o que lhe está conexo, mas isso não lhe retira o interesse. Muitos associam-na a gradalis (cálice). Outros insistem que não há dúvida (?) quanto ao seu significado ser um prato ou platter trazido à mesa, durante uma refeição.

Com o brilho refulgente das pedras ou coisas sobrenaturais, o Graal aparece na literatura quer nas mãos de um anjo, quer sozinho, por conta própria. Todavia vê-lo, estava reservado a cavaleiros impolutos e castos.

Corria o Verão do ano de 258 e a perseguição decretada contra os cristãos pelo Imperador Romano Valeriano, prosseguia muito acirrada e sangrenta. Nem sequer as catacumbas eram refúgio seguro para os perseguidos. O Papa Sisto II, chamou Lourenço para lhe confiar a guarda de um tesouro sagrado, a mais importante relíquia que a comunidade cristã de Roma possuía. Tinha o pressentimento de que o seu fim estava próximo, como aliás aconteceu, porque apesar de ter conseguido iludir algumas vezes os seus perseguidores, o cerco estreitava-se cada vez mais.

Sisto II, era provavelmente originário da Grécia e foi um Papa relevante, embora apenas durante um ano (257-258), tendo sido morto durante as perseguições do Imperador Valeriano. Sisto II tentou reatar as relações entre a Santa Sé e o bispado de Cartago, no norte de África. O culto dos cristãos em Roma passou à clandestinidade. Sisto II, mais tarde S. Sisto, após ter sido eleito Pontífice, e seus companheiros foram surpreendidos no decurso de uma cerimónia no cemitério da Via Apia (Roma). Presos, sem que abjurassem a fé, vieram a ser martirizados. O mesmo veio a acontecer ao bispo de Cartago, S. Ciprião (Cipriano), em 14 de Setembro de 258, acusado por Roma que viveste longamente de modo sacrílego, chamaste muitos à tua seita criminosa e te fizeste inimigo dos deuses romanos e de seus sagrados rituais. Os piedosos e santíssimos Imperadores Valeriano e Galieno Augustos e Valeriano nobilíssimo César, não conseguiram reconduzir-te à observância de suas cerimónias religiosas. E, por isso, a partir do momento em que te tornaste autor e instigador dos piores crimes, serás exemplo para os que associaste às tuas acções criminosas. Com o teu sangue será sancionado o respeito às leis. Ditas estas palavras, foi lido o decreto imperial, escrito numa tabuinha, segundo o qual ordeno Cipriano, que sejas punido com a decapitação.

A Igreja de Cartago mandara eclesiásticos a Roma para colherem notícias sobre o decreto de perseguição do Imperador Valeriano. Retornaram, levando a notícia do martírio de Sisto II, que ficou registada como, comunico-vos que Sisto padeceu o martírio com quatro diáconos em 16 de Agosto, enquanto se encontrava no cemitério, Catacumbas de São Calisto.

Com todo o sigilo, Sisto entregou a Lourenço um cálice feito em ágata cornalina vermelha escuro, indicando-lhe que o pusesse a salvo, de qualquer intruso ou infiel. Sisto explicou-lhe que, de acordo com a tradição dos Bispos de Roma, seus antecessores, este era o cálice que Jesus tinha utilizado na Última Ceia. O Cálice terá sido inicialmente confiado a S. Pedro, que o teve em Antioquia e depois levou para Roma. Segundo a mesma tradição, S. Pedro e os Papas seguintes, guardaram o Cálice como um tesouro especial, que utilizavam na celebração da Missa. O Cálice era um poderoso testemunho de Fé na Igreja primitiva, os sucessores de Pedro, iam recebendo o precioso sangue do Senhor, sinal da união em Cristo.

Os receios do Pontífice viram-se realizados dias depois. Surpreendido por um grupo de soldados romanos, Sisto II foi degolado, sem dó, nem piedade.

Mas a relíquia estava já a bom recato, porque Lourenço aproveitando a viagem a Hispania de dois soldados cristãos, lhes pediu para a entregar, até virem melhores dias, à guarda de seus pais, Orencio e Paciência, que viviam em Loreto, pequena localidade nos arredores de Huesca, no Levante Ibérico.

Lourenço teve de actuar com astúcia porque também se encontrava em perigo. Aliás veio a ser detido e martirizado de forma cruel. Negando-se a renunciar à sua Fé, foi levado à fogueira, como um animal. Nos dias que se seguiram ao martírio, correu em Roma o rumor de nunca ter perdido o sentido de humor, mesmo em tão capital transe. Alguns, afirmaram que chegou a pedir que o virassem, já que estava bastante queimado, apenas num dos lados do corpo!!!

A viagem dos soldados até à Hispania decorreu no meio de sobressaltos, mas eles cumpriram a missão que Lourenço lhes confiara. O vaso sagrado permaneceu em Huesca durante quatro séculos e meio, até que uma nova ameaça impôs a sua transferência para lugar mais seguro. À cidade de Huesca chegavam notícias alarmantes. Grupos de infiéis, provenientes do norte de África, que haviam penetrado na Península pelas Colunas de Hércules, avançavam rapidamente em direcção ao norte.

Ao Bispo Adalberto chegou a informação, proveniente de Caesar Augusta (posteriormente Saragoça), que os caminhos para Huesca estavam abertos aos muçulmanos. O Ebro passou a correr tinto de sangue, após a feroz resistência oferecida pela guarnição visigoda da cidade de Huesca, antes de cair nas mãos do inimigo.

O Bispo, decidiu abandonar a cidade e pôr a salvo a relíquia. Dirigiu-se para as montanhas do norte, considerando que uma gruta naquelas terras longínquas, poderia ser o melhor local para a guardar.

Numa manhã do Inverno, do ano de 713, Adalberto abandonou Huesca. Procurou, com afinco, um esconderijo numa gruta da montanha ou que o cálice ficasse à guarda de pessoas piedosas, que o conservassem e não esquecessem a sua memória. Após dúvidas e reservas, Adalberto acabou por confiar o cálice a um eremita chamado Juan Atares, que habitava uma gruta no Monte Pano. A escolha de Adalberto revelou-se tanto mais acertada, quanto é certo que com o decorrer do tempo, a gruta veio a transformar-se num importante cenóbio beneditino, o Mosteiro de San Juan de la Peña, sito nos Pirinéus. Por esta altura, começaram a propagar-se pela Europa as muitas lendas sobre o cálice da Última Ceia, escondido por uns monges nas montanhas. As mais famosas situavam a relíquia em Inglaterra, no ocidente de França ou no norte de Espanha. Estas são regiões próximas do Mosteiro de San Juan de la Peña. O Mosteiro adquiriu importância pois, à medida que os cristãos iam fazendo recuar os muçulmanos, o tesouro ficava protegido. A prosperidade da comunidade de San Juan de la Peña levou a que um dos Abades encarregasse um renomado ourives de trabalhar o cálice e lhe conferir a forma que hoje tem. O artista efectuou um magnífico trabalho, com inspiração no artesanato muçulmano, e deixou para a posteridade gravada com a sua letra para o que a ilumina.

Assim, ali ficou o Graal. No verão de 1399, um cavaleiro exausto chegou ao Mosteiro de San Juan de la Peña. Trazia instruções muito precisas de Martin, o Humano, para entregar pessoalmente ao D. Abade, e elas eram explosivas. O monarca, ávido da relíquia, reclamava o Graal para si e para o facultar ao culto popular em lugar menos agreste. Deveria ser levado para Saragoça, a capital do reino.

Esta pretensão não foi bem aceite pelos frades beneditinos, mas o que acabou por prevalecer foram os desígnios do soberano. Um mês depois, a 26 de Setembro de 1399, o Graal chegava a Saragoça. O texto mais antigo que se conhece sobre o Cálice, é o respeitante a sua entrega ao Rei, e descreve bem o que se encontra em Valência. Na cidade, as opiniões dividiram-se acerca do lugar aonde deveria ser depositada e exposta a relíquia. Uns, entenderam que o local apropriado era a Capela Real. Esta era, a opinião maioritária entre o clero. No seio da nobreza, entendia-se que o local mais seguro, era o Palácio Real. Neste conflito de opiniões e vontades, prevaleceu a vontade do monarca, pelo que o Graal ficou guardado na Capela da Aljafaria. Para aplacar a consciência, Martin, O Humano, coagido pelo sector mais radical do clero saragoçano, permitiu que, em determinadas datas do ano, a relíquia fosse exposta na Sé, ao culto popular. A partir daqui a sua trajectória está bem documentada, se bem que antes dele, nada se encontra que se lhe refira.

Quando o monarca se transferiu com a corte para Barcelona, levou consigo a tão valiosa e apreciada relíquia. O Graal havia despertado a devoção dos saragoçanos e as suas veementes reclamações acompanharam a saída do rei. Mas estas e os prantos não demoveram o monarca, que entendia ter pleno direito a manter consigo a relíquia. Com o falecimento de Martin, o Graal apareceu no inventário dos seus bens. Barcelona acabou por não ser o destino final do Cálice.

Afonso V, o Magnânimo, deu continuidade a uma política expansionista pelo Mediterrâneo, o que não era de todo original, na perspectiva da corte de Aragão. O Reino de Nápoles era o seu grande objectivo, mas a empresa necessitava de importantes recursos financeiros para equipar a frota e as tropas. O Rei pediu e recebeu generosas contribuições de Valência, através de um empréstimo do Conselho Valenciano e do Cabido da Sé.

Em Março de 1437, Afonso V, como forma de retribuição às instituições de Valência, fez-lhes a entrega de algumas relíquias que possuía, entre as quais esta, o Santo Graal. Na cidade, passou a correr todo o tipo de boatos, uns que o rei dera a relíquia em pagamento de serviços, outros que tal fora um mero gesto generosidade. Enquanto isto, os valencianos iam acorrendo à Catedral, para confirmar se a relíquia ali estava guardada. Pouco lhes importava, no fundo, se no gesto do Rei, houvera pagamento ou generosidade. A verdade é que no dia 18 de Março de 1437, véspera do dia de S. José, ela estava lá e desde então nunca mais saiu do coração e da devoção dos valencianos.

Trezentos anos mais tarde, um acontecimento terrível ocorreu na Catedral de Valência, em plena Semana Santa. Era o dia 3 de Abril de 1744, decorriam aos rituais litúrgicos, quando o Arcebispo D. Vicente Frigola Brizuela, deixou cair o cálice, que se partiu. Isto foi entendido como uma catástrofe. O Arcebispo de Valência, recomposto da emoção, recolheu os bocados, mandou chamar o melhor ourives da cidade, que tranquilizou os ânimos, e assim sem perder tempo, deu início a um magnífico trabalho de restauro, que permitiu um concorrido e soleníssimo Te Deum para que todos os valencianos pudessem contemplar a relíquia no tradicional esplendor.

Sessenta e cinco anos depois os responsáveis da Catedral valenciana, tomaram uma decisão drástica, no seguimento das notícias que chegavam, os Franceses não respeitavam nem a religião, nem as relíquias. Quem chegava a cidade relatava os saques, as violações e os sacrilégios praticados pelos invasores napoleónicos, pelo que na véspera do dia de S. José, de 1809, o Graal foi levado para Alicante.

Nos anos seguintes, viveria ainda um périplo que incluiu as Baleares. Quatro anos e tal o Cálice esteve fora de Valência, até que em Setembro de 1813 com os franceses atravessando os Pirinéus a toda a velocidade em direcção ao norte, regressou à Catedral do Turia.

No inventário efectuado após o regresso, ficou anotado ser La caixa de plata que contien el Santo Cáliz de la Cena.

Em 1916, por iniciativa do Cabido ocorreu nova mudança, embora sem ultrapassar os muros da Catedral. Foi levado da Capela das Relíquias para a antiga Sala do Capítulo, que passou desde então a ser conhecida como a Capela do Santo Cálice.

Vinte anos depois, a Espanha assolada pela Guerra Civil, viveu episódios de grande violência em Valência, cuja Catedral foi incendiada e saqueada. O Graal correndo perigo, teve que ser retirado. Uma mulher, chamada Sabina Suey, recolheu-o entre as roupas e ocultou-o em casa até ao termo da guerra, só então voltando à Catedral.

Ao longo dos séculos, três papas, agora quatro, estiveram ligados ao Graal de Valência, dois deles pela lenda ou tradição.

Sisto II, que o entregou a Lourenço (mais tarde S. Lourenço) e que lhe havia sido transmitido desde Pedro e sucessores.

Bento XIII, diz-se que influenciou os monges do Mosteiro de San Juan de la Pena, para que aceitassem o pedido/ confisco de Martin.

João Paulo II, em 8 de Novembro de 1982, aquando da sua visita a Valência, teve-o nas mãos durante a missa campal que celebrou. Pessoas que assistiram de perto à celebração, contam que notaram a expressão de satisfação do Papa ao consagrar no Cálice o precioso sangue. O professor universitário e historiador madrileno Antuñano Álea, que se tem interessado muito por este assunto, entende que um dos momentos mais importantes da história do Cálice foi a visita do João Paulo II e a sua utilização na missa campal. A história do Santo Cálice prosseguirá seu curso, tal como a da Igreja, mas o gesto de João Paulo II ao consagrar nele o Sangue do Senhor, pode significar a valorização e introdução da relíquia no terceiro milénio.

O papa Bento XVI, também celebrou com o Graal, aquando da sua visita deste ano.

O Cálice pode ser visto na Catedral de Valência, onde se guarda num relicário de ouro. A Missa é celebrada às 9h,30m e depois os peregrinos podem aproximar-se e venerá-lo. Para os crentes o mais importante é o seu valor como ícone sagrado, não tanto como uma imagem piedosa ou a representação de um motivo religioso, mas como meio para a contemplação espiritual, a meditação, a oração. Longe de conter propriedades mágicas, o ícone é sagrado, porque evoca o mistério da redenção, de uma forma espiritual e ao mesmo tempo real, estabelecendo a comunhão entre quem o contempla e esse mistério.

Histórica ou romanescamente falando, muitos cálices disputam a honra de terem sido utilizados por Jesus, na Última Ceia.

Os mais importantes e conhecidos são:

1)-O Graal de Jerusalém:

Uma tradição que remonta ao sec. VII, assegura que um peregrino anglo saxão o viu na Igreja do Santo Sepulcro.

2)-O Graal de Génova:

Chamado Sacro Catino, teria sido levado para a Catedral de S. Lourenço, pelos cruzados, no século XII. Como?

Em 1101, um exército franco, comandado pelo Rei Balduíno I, conquistou Cesareia, cidade situada na costa do Mediterrâneo e fundada por Herodes, que assim a denominou em homenagem ao Imperador César Augusto.

Esta tornou-se sede de bispado e além dos francos, nela também se vieram a radicar cristãos orientais e muçulmanos.

Os genoveses encontraram na cidade um vaso esmeraldino e declararam estarem perante o Santo Graal. Ele foi levado para Génova e colocado na Catedral de S. Lourenço.

Cesareia foi depois conquistada por Saladino em 1187, após curto cerco, retomando aos cristãos em 1191 por Ricardo Coração de Leão, que expulsou os muçulmanos.

Numa janela da Catedral de Bourges num vitral, o Papa Sisto II entrega o cálice a S. Lourenço.

Mas sobre o Sacro Catino existe uma outra interessante versão, não de todo coincidente. Em 1101, os genoveses encontraram um prato verde, esmeralda, chamado Sacro Catino, que depois trouxeram para casa, como despojo pela conquista de Cesareia. Uma crónica genovesa do séc. XVI, que se encontra na Biblioteca de Berna, conta que esse prato fora chamado de Santo Graal, e que foi o utilizado por Jesus na Última Ceia. Para outros, era o prato que o Rei Artur utilizava nas suas refeições. Dizia-se ainda que o prato provinha do Templo de Jerusalém. Napoleão apoderou-se dele e levou-o para a Notre Dame, de Paris, aonde se encontraria a Coroa de Espinhos. Exames posteriores demonstraram, porém, que era de esmalte e não de esmeralda.

3)-O Graal de Antioquia:

Cálice de dois litros, também reclama essa honra, mas diz-se que seria demasiado grande para passar de mão em mão, na Última Ceia.

S. Jerónimo diz que havia duas taças, sendo uma de prata, para o vinho e outra de pedra, para o pão.

4)-O Graal Inglês:

José de Arimateia, pediu o corpo de Jesus a Pilatos, a lança que o feriu, bem como o cálice onde recolheu o sangue. Encontra-se em Glastonbury, Inglaterra, que desde então é chamada capital britânica do Graal, aonde passou a estar associado às lendas arturianas, e estariam enterrados o Rei Artur e sua esposa.

José de Arimateia, tido por fundador da Igreja em Inglaterra, ficou assim conhecido por ser de Arimateia, cidade da Judeia. Homem rico, bom e justo, era membro do Sinédrio, o colégio (associação) composto pelos mais altos e prestigiados magistrados, que votou a morte de Jesus, mas não ele. Era amigo de Jesus, mas manteve essa relação escondida, e o proprietário do sepulcro em que Este foi sepultado, a cerca de 50 metros do local da crucificação. Atribui-se a José de Arimateia, o lençol de linho em que Jesus foi envolto, conhecido como o Santo Sudário. Mas isso é outra história, não menos interessante, que teve uma evolução recente, que referirei como parêntesis.

(Foi considerada esta relíquia, peça em linho puro com 4,36m por 1,10m, como sendo a fotografia do corpo de Jesus. O aparecimento destes tipo de testemunhos insere-se frequentemente numa história de fraudes, mais que lendas. Mas o Santo Sudário ainda permanece como um enigma. O primeiro registo da sua existência remonta a 1356, em França, para onde teria sido trazido pelos cruzados. Guardado na Catedral de Turim, ao longo dos anos, com registos desde 14 de Setembro de 1578, tem mantido significativas e interessantes manchas de sangue humano, tipo AB, acastanhadas. A grande estupefacção, aconteceu no século XIX, quando a relíquia foi fotografada e os negativos revelaram os contornos de um corpo inteiro de homem, eventualmente crucificado dadas as marcas de flagelo, coincidindo com muitos pormenores evangélicos. Provou-se que as imagens inscritas não eram pintadas. Alguns anos depois, testes de carbono 14, revelaram que a peça se limitava ao século XIV, tudo apontando portanto para uma boa falsificação medieval. Mas a história não se queda por aqui. Há cerca de um ano (2005) um reputado cientista americano refutou as datações obtidas pelo rádio carbono, assegurando terem então sido feitas num remendo do lençol. A peça, segundo esse perito americano, teria mesmo cerca de 2000 anos. Mas se é assim permanece a pergunta e o enigma. Como é que as imagens de um corpo crucificado ficaram impressas num pano que o envolveu a duraram cerca de vinte séculos? Esta questão continua a opor crentes, a não crentes, tendo certos círculos do Vaticano defendido que a Igreja não tem competência específica sobre este tipo de questões. A passagem e a mensagem de Jesus continuam a apaixonar teólogos e historiadores que, além do mais, bem gostariam de saber qual foi a sua cara).

Voltando atrás. Conjuntamente com Nicodemus, José de Arimateia promoveu a retirada do corpo de Jesus da cruz. Quando o lavaram, as feridas sangraram e este lembrou-se que as gotas deveriam ser guardadas e bem guardadas. De acordo com alguns escritores, pesquisadores e novelistas como o medieval Robert de Boron, Arimateia ficou na posse do Santo Cálice da Última Ceia, levando-o para a Europa. Depois desse episódio, depósito de Jesus na sepultura, José de Arimateia não voltou mais a ser referido nos textos evangélicos.

5)-O Graal dos Templários:

Durante duzentos anos os Templários acumularam doações e relíquias, até que Filipe, o Belo, Rei de França, os expulsou sob a acusação de bruxaria.

Depois de expulsos de França, os Templários refugiaram-se em Portugal com a cobertura de D. Dinis e fundaram a Ordem de Cristo, com sede em Tomar.

No Código da Vinci, Dan Brown ignora Portugal apesar de os guardiões do Graal, os Templários, terem no nosso País um dos seus grandes Conventos, e de terem vindo para cá quando foram obrigados a fugir da Terra Santa. Segundo Vítor Manuel Adrião, o nosso País foi ponto de passagem e paragem do Santo Graal, sendo certo e sabido que a tradição refere que S. Bernardo Claraval mandou recolher nas galerias do Templo de Salomão um objecto sagrado que mandou trazer para a Europa. E quando o Conde D. Henrique o convidou para o Mosteiro de Stª Maria de Alcobaça, o Santo Graal veio para cá.

Segundo este autor, são vários os momentos que fundamentam a tese que Portugal poderá ter sido porto do Graal. No documento de doação de Tomar, aos Templários, há um sinal rodado, um selo oficial, onde se pode ler Porto do Graal. Ou seja, Portugal, como porto do Graal, tem sentido.

A Ordem dos Templários, militar e religiosa, foi fundada em 1118, em Jerusalém por nove cavaleiros para proteger os peregrinos que iam aos locais sagrados conquistados e em poder dos Cruzados. Também foi conhecida como a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão. Reza a lenda que os primeiros cavaleiros, se instalaram no antigo Templo de Salomão e aí encontraram documentos e tesouros que os tornaram muito poderosos. Diz-se que também ficaram com a tutela do Graal.

Sobre a relação dos Cavaleiros Templários com o Graal voltaremos a falar adiante.

6)-O Graal de França:

Protegido pelas lojas maçónicas, encontra-se na Igreja de Sainte Marie de La Mer, perto de Arles.

7)-O Graal da Patagónia:

Encontra-se numa cidade subterrânea da Patagónia, Argentina, na meseta de Somuncurá, protegido por um imenso escudo de rocha basáltica.

Não se esqueça a lenda que teria sido Maria Madalena, a única mulher presente na crucificação, além de Maria, quem teria ficado guardiã do cálice e o levado para França, onde passou o resto dos seus dias. Embora haja uma lenda mais forte que refere que foi em Éfeso que Maria passou os seus últimos dias, antes de subir ao Céu, local onde esteve Bento XVI quando visitou este a Turquia, tal como aconteceu com a Aninhas e comigo, há anos.

Sobre José de Arimateia existem variadíssimas lendas, com destaque como vimos para a obra de Robert de Baron (1190), José de Arimateia.

J. de Arimateia, como vimos começou a compreender e a amar Jesus, mas manteve essa relação escondida, com medo dos judeus. Após a crucificação, pediu a P. Pilatos que lhe desse o corpo de Jesus. Tendo este atendido, ainda lhe deu o recipiente com que Jesus fizera a oferenda na Última Ceia. Depois, Arimateia tirou o corpo de Jesus da cruz com a ajuda de Nicodemus. Quando lhe lavaram as feridas, começaram elas a sangrar, pelo que Arimateia lembrou-se do vaso e pensou guardar nele as gotas. Sepultou Jesus e levou o vaso para sua casa. Os judeus, muito preocupados com o desaparecimento do corpo de Jesus, acabaram por prender Arimateia de modo a não mais ser encontrado, levando-o para uma cela sem janelas e luz, onde todos os dias aparecia uma pomba, deixando-lhe uma hóstia, como alimento. Assim sobreviveu. Jesus apareceu-lhe na prisão e então Arimateia confessou, finalmente, a sua devoção por Ele, e pediu perdão por estar na companhia dos que desejaram a sua morte. Jesus consolou-o:

- Deixei que ficasses com eles por saber que irias prestar-Me grandes tarefas, que os Meus discípulos não lograriam. Tu fizeste-o por compaixão. Tu amaste-Me secretamente, tal como Eu a ti e o nosso amor se revelará a todos, para prejuízo dos infiéis, pois tu guardarás o sinal da minha morte, hei-lo aqui.

Jesus mostrou e entregou-lhe então o Graal:

- Ele será teu e o guardará assim como todos a quem o entregares. Mas os guardiães devem ser três e estes serão em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estes três serão uma e a mesma coisa, um único Deus. Nisso deves crer.

Recebido o Graal, Jesus disse a Arimateia:

- Estás a guardar o sangue de três pessoas da única divindade que flui das feridas do Filho encarnado. Que se sujeitou à morte para salvar a alma dos pecadores. Sabes o que ganhas com isto? Que nunca mais será feito um sacrifício e quem souber isso será o mais amado do mundo, e a companhia dos que souberem do facto e que escreverem livros sobre o assunto será a mais procurada do que as outras pessoas.

José de Arimateia quis saber a razão de receber tão grande responsabilidade, que não pedira, nem merecia. Segundo Baron, Jesus disse-lhe:

- Tiraste-Me da cruz e colocaste-Me no túmulo, depois que estive na cela na Casa de Simão disse-lhe que seria tudo como aconteceu à Mesa. Futuramente erguerão mesas para Me sacrificar. A mesa significa o pão o vinho e os recipientes o túmulo. Este cálice é onde o Meu corpo será consagrado na forma de uma hóstia. A patena que colocaram representa a tampa com que fechaste o túmulo, e o pano que porão por cima, o linho que envolveu o corpo. Deste modo, até ao final do mundo, será conhecido o significado do teu feito.

Seguindo ainda de perto Baron, in José de Arimateia, Jesus revelou-lhe mais factos, que não poderão ser contados, inserindo-se aqui algum do mistério desconhecido da Grande Cerimónia do Graal.

Nestas, como outras lendas que veremos, intercala-se a do Santo Sudário, de Verónica, pelo qual Vespasiano foi curado da lepra. Por agradecimento da graça, Tito e Vespasiano foram a Jerusalém vingar a morte do Profeta. Falaram com Pilatos que ainda mantinha Arimateia preso, e da morte de Jesus. Arimateia veio a ser libertado e Vespasiano foi baptizado.

Certa vez perante a falta de colheitas, Arimateia pediu ao Graal para lhe dar conselhos sobre a forma de resolver o problema. O Graal disse-lhe que deveriam ser eliminados da comunidade todos os culpados. De seguida, o seu cunhado deveria ir até ao rio e trazer o primeiro peixe que pescasse, estender um pano sobre a mesa e por o Graal ao seu lado. Depois disso senta-te no teu lugar, como estava na Ceia. Brons sentar-se-à à tua direita, verás que ele se afastará de ti, de modo a haver um lugar vago entre ti e ele. Esse lugar representa o lugar de Judas. Ninguém preencherá esse lugar até que o Filho de Enygenius e Brons tome o teu lugar.

Quando o povo foi chamado à mesa, parte sentou-se, mas muitos não conseguiram achar lugar. Estavam todos ocupados, só havia um lugar vazio, o assento de Judas Escariotes, que passou a ser conhecido como A Cadeira Perigosa. Os que se sentaram à mesa aperceberam-se da doçura que o Graal emanava. Um deles, Pedro, perguntou aos que se encontravam de pé se não sentiam nada de especial. Eles responderam negativamente, mas foi impossível aproximarem-se. Pedro então disse:

- Isso mostra que um pecado causou a carestia que estamos passando.

Assim, José de Arimateia identificou os pecadores:

- Por meio do Graal somos separados, porque ele não tolera pecadores junto de si.

Após isto, o grupo separou-se, ficando os bons e os puros à mesa, para o culto que se passou a chamar Culto do Graal. Um dos excluídos de nome Moys, ainda tentou sentar-se à mesa, no lugar vago. Sem sucesso, pois o chão abriu-se e engoliu-o. Esta era a Cadeira Perigosa. Arimateia ajoelhou-se diante do Graal e interrogou-o:

- José, José, o sinal que de que te falei e agora se tornou verdade, eu disse-te que o lugar deveria ficar vago, até que o terceiro homem da tua estirpe, o filho de Brons e Enygeus o ocupe.

Brons e Enygenius tiveram doze filhos, que quando cresceram foram conduzidos à presença de José de Arimateia que aconselhado pelo Graal escolheu Alain de Grois, o mais novo. Arimateia mostrou o Graal, e comunicou-lhe que um dia nasceria um herdeiro ao qual teria de entregar o Graal.

O recipiente ainda anunciou que Pedro deveria ir ao Vale de Avalon esperar o filho de Alain. Alain partiu com um grupo para evangelizar terras estranhas, tendo Pedro permanecido para colher ensinamentos sobre o Graal e ser testemunha da transferência para Brons, porque ele deveria ser o futuro Guardião do Graal. Arimateia comunicou-lhas as palavras sagradas contendo o Segredo do Graal. -A partir de agora deves guardá-lo e por razão nenhuma desprezá-lo. Toda a vergonha sobre ele sairá cara e terás de pagá-la.

Mas o Graal ainda continuou:

- Todos os que o ouvirem falar, o chamarão de Rico Pescador, devido ao peixe que apanhou. Assim, as pessoas deverão ir para o oeste. Quando o “Rico Pescador” tiver recebido o Graal, deverá esperar o filho de seu filho para lhe transmitir e recomendar ao Graal. E quando chegar o tempo em que possa aceitar o significado da Trindade, será realizado entre vós. E tu, porém José, te despedirás do mundo e entrarás na alegria eterna.

As palavras secretas forem assentes por José de Arimateia num papel que depois mostrou ao Rico Pescador. Brons ainda ficou alguns dias com José e quando se despediu, este disse-lhe:

- Sabes bem o que levas contigo e em que companhia andas, ninguém sabe como tu. Vai, pois ficarei feliz conforme ordem do meu Salvador.

Assim se separaram. O Rico Pescador foi para a Britânia. José de Arimateia, nesta versão, por ordem do Senhor foi para a terra onde nasceu e lá ficou até ao fim dos seus dias.

Segundo os contos de Baron, o Graal terá passado sucessivamente pelas seguintes pessoas:

-1)-Judas, que entrega Jesus aos judeus;

-2)-Jesus, que o utiliza na Última Ceia;

-3)-Pôncio Pilatos, que o entrega a José de Arimateia;

-4)-José de Arimateia, que recolheu o sangue das feridas de Jesus;

-5)-Brons, o Rico Pescador, cunhado (genro?) de Arimateia, que deveria partir para a Bretanha;

-6)-Percival (Parsifal), filho de Alain de Grois e neto de Brons.

Foi escolhido para ser o guardião do Graal.

Noutra versão, José de Arimateia teria sido também o primeiro guardião do Graal. O segundo teria sido o seu cunhado (genro?) Brons.

Algumas seitas defendem que o ciclo do Graal não está fechado, enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta poderá encontrar-se na Demanda do Santo Graal, de autor desconhecido, que coloca Galahad, como o único entre os cavaleiros, merecedor dessa honra.

Um outro parêntesis. Toda a gente sabe, que Pôncio Pilatos, lavou as mãos, depois de nada fazer para salvar Jesus. O significado e a alegoria deste gesto, tem percorrido os milénios. Todavia para esse acto, há todavia uma resposta que a tradição cristã não lhe veio a reconhecer e é bem simples. Por Lei (e costume), os magistrados romanos lavavam as mãos no final de cada julgamento. Sendo assim, o gesto de Pôncio Pilatos, não teria tido nenhum peso especial, pois que apenas dava por findo o julgamento de Jesus.

Outras lendas, contam porém que José de Arimateia, sua irmã e cunhado (genro?), rumaram para actual Inglaterra, onde fundou a primeira igreja cristã, em Glastonbury, ficando associado à do Graal e que lá ficou até aos seus últimos dias. Outras dizem que deixou o cálice em França.

É notória a relação entre as lendas sobre José de Arimateia e os contos arturianos, com destaque para os elementos que os integram, como a Mesa Redonda, as Doze Pessoas (doze apóstolos?), Avalon, Glastonbury, onde estariam sepultados o Rei Artur e sua mulher.

A seguinte lenda, é tida como herética pela Igreja Romana, pois segundo se sabe, Jesus nunca saiu da Palestina. Porém, há que assegure que fez peregrinações tanto ao Tibete, como ao continente europeu, alcançando a Bretanha. Conta-se assim que, durante a Sua estadia na Cornualha, recebeu em dádiva um cálice de um druida, recém convertido, tendo ficado a ter por ele um carinho muito especial. Após a crucificação, José de Arimateia, quis levá-lo santificado pelo sangue de Jesus ao seu antigo dono, o druida Merlin, que passou a ser o elo de ligação entre a religião celta e o cristianismo.

A história do Graal porém é bem diferente, de acordo com o alemão Wolfram Von Eschenbach (1200 d.c), que um dia Hitler e os teóricos do nazismo estudaram, aquele quase contemporâneo de Baron. Em Parzifal, Eschenbach coloca o Graal nas mãos dos Templários. Aqui o Graal, não é propriamente uma taça, mas uma esmeralda verde, que trazia consigo o desejo do Paraíso, uma pedra de luz, trazida do Céu pelos anjos. Este autor confere ao Graal, uma estreita ligação e dependência com forças cósmicas, sendo a pedra chamada Lapis ex Coelis, isto é, Pedra Caída do Céu ou Pedra do Senhor. Vem daqui a referência à esmeralda na testa de Lúcifer, o seu terceiro olho. Quando Lúcifer, o Anjo da Luz, se revoltou contra Deus e desceu aos mundos subterrâneos, a esmeralda partiu-se e a sua visão, desde então, ficou deformada. Lúcifer comandou um terço dos anjos na sua rebelião, mas foi derrotado. Um dos três pedaços da pedra, ficou na testa, o que ocasionou uma visão alterada, a única coisa que lhe restou. Outro pedaço ficou em poder dos anjos que não se revoltaram e foi por eles trazido para a Terra. Mais tarde, o Santo Graal veio a ser escavado nesse pedaço de esmeralda, e por alguns autores passou a ser comparado o Graal-Pedra, à Pedra Filosofal, o grande objectivo dos alquimistas que transmutava o metal inferior em ouro, homens comuns em reis, iniciados em adeptos e a própria matéria, nisto e muito sinteticamente, consiste a essência da alquimia, a transmutação e a elaboração do Elixir da Longa Vida, uma panaceia universal que prolongaria vida indefinidamente. O trabalho de laboratório dos alquimistas, na busca da pedra filosofal, era a metáfora para um trabalho espiritual. Neste sentido, a transmutação dos metais inferiores no ouro, seria a transformação de si próprio, de um estádio inferior para um espiritualmente superior. A busca pela PedraFilosofal é, em certa medida a busca pelo Santo Graal. O alemão Eschenbach tem os Templários como modelo de fiéis depositários do Graal, a Esmeralda-cálice, com poderes inimagináveis.

Mas com Eschenbach, numa história que se enquadra bem no contexto da Idade Média, perpassa ainda uma fantasiosa ordem de cavalaria feminina na qual Esclarmunda, virgem guerreira, traz o Graal, precedida por 25 outras mulheres segurando tochas, facas de prata e uma mesa talhada em esmeralda.

Na cultura islâmica, desempenha um importante papel uma pedra chamada Hajar el Aswad, considerada sagrada que é objecto de culto em Meca.

A palavra Graal, etimologicamente, provém ao que parece do latim tardio, gradalis, que, por sua vez, deriva do latim clássico, crater, ou seja, vaso. A representação do Graal pode ser encarada de diversas maneiras como vimos, como um livro contendo mistérios esotéricos da vida, da morte ou a sapiência (cátedra) do tempo, ou mais materialmente uma taça, ainda que contendo todo o conhecimento do Homem. O Cálice do Graal, obtido a partir de uma grande esmeralda verde trabalhada, seria enfim o símbolo do Saber.

Durante milhares de anos, os povos inventaram histórias extraordinárias, a propósito de minerais e pedras preciosas. Daí decorre o grande número de lendas que envolvem a magia, a astrologia ou principalmente a alquimia. O Santo Graal, segundo uma das suas versões como vimos, era uma taça de esmeralda. Note-se que a Bola de Cristal, onde os videntes prevêem o futuro, é feita de quartzo.

Na linha de lendas antigas, certos minerais tornavam os seus possuidores, imunes ao veneno. Acreditava-se que algumas gemas acalmavam a febre, curavam a ressaca, tornavam invisíveis e invencíveis os guerreiros. Os alquimistas acreditavam que podiam transmutar metais comuns em ouro, embora não se contivesse fundamentalmente nisto a essência da alquimia. Uma descoberta recente, parece confirmar a tese de um Graal possuidor de uma realidade, abarcando a um só tempo, os planos espiritual e material, servindo o segundo como suporte ao primeiro. Segundo fontes precisas e confidenciais, das quais não nos é possível revelar a origem, os astronautas americanos da expedição APOLO XIV, teriam descoberto na Lua, amostras da pedra verde. A análise em laboratório, revelou estranhas propriedades entre as quais de provocar, graças a certas emissões de neutrões, um mini campo antigravitacional.

As mesmas pedras verdes, chamadas popularmente de Pedras da Lua ou Pedras das Feiticeiras são encontradas também na Escócia, nas highlands e serviam, para as feiticeiras se deslocarem pelo ar. Amostras dessas pedras verdes estariam incrustadas em alicerces de algumas catedrais medievais. A Catedral de Colónia terá desfrutado dessa peculiaridade, beneficiando de protecção aquando dos bombardeamentos Aliados que destruíram cerca de 75% da cidade, entre 1944-1945. O campo de força nela existente, desviou a trajectória das bombas dos Aliados, que não a danificaram totalmente, e veio a permitir a sua reconstrução.

Nos livros de cavalaria medievais, entende-se vulgarmente o Graal como o recipiente ou o cálice que Jesus usou para consagrar o vinho, transformando-o no seu sangue na Última Ceia e que José de Arimateia utilizou para recolher o sangue que jorrou em consequência de o centurião romano Longinus o ter perfurado, depois da crucificação. José de Arimateia foi a casa de Pilatos pedir o corpo de Jesus para lhe dar sepultura adequada. Porém, antes de se deslocar a casa do Procurador Romano, José foi ao local onde Jesus comera com os Apóstolos e ali a escudela honde o filho de Deos comera com os apostollos (…) e depois que joseph teve a escudela foi muy ledo e levou-a para sua casa. Antes de sepultar o corpo, José foi a casa buscar a escudela e colheo en ella tanto daquelle sangue quanto elle mais pode e depois tornou-o a guardar em sua casa. Por este sangue mostrou Deos depois muitas vertudes em terra de promissão e em outras muitas terras (cfr. ainda O LJA, que chegou a Portugal no século XVI, pelo menos numa versão conhecida, mas que se admite ter sido traduzido no século XIII).

Após sepultar o corpo, José de Arimateia, tal como receava, foi perseguido pelos judeus que o consideraram um traidor. Preso, foi abandonado no cárcere numa cela sem janelas e luz, de modo a não mais ser encontrado. Após a ressurreição de Jesus, os guardas decidiram deixar de lhe dar comida. Mas Jesus não o abandonou e trouxe-lhe por companhia e por conforto a santa escudela que elle guardara em casa com todo o sangue que lhe colher (cfr. de novo O Livro de José de Arimateia). Graças a esse sangue (na outra versão foi graças à pomba), José de Arimateia sobreviveu à prisão. De acordo com essa lenda, José foi a mando de Jesus pregar a Fé em seu nome, mas antes de partir teve de construir uma arca pequena para a Santa Escudela, que levou para as Ilhas Britânicas, aonde veio a fundar a primeira igreja cristã e uma comunidade para a guardar e que mais tarde se vincularia aos Templários.

É provável que esta lenda, que se perde na noite dos tempos, tenha até tido origem no País de Gales. Mas à primeira vista parece ser também possível identificar esta arca com a Arca da Aliança que, no Antigo Testamento, transportava as Tábuas dos Dez Mandamentos e conduzia o povo eleito. Pensei com cuidado nesta comparação, que não subscrevo de todo, por se me afigurar a algo forçado, salvo no sentido de que ambas quererem representar a Lei a seguir pelo Povo de Deus. Há assim em suma quem defenda que esta relíquia para os cristãos, nada tem a ver com o Cristianismo, inspirando-se em fontes antigas, latinizadas, dispondo de uma eloquência bíblica e criando uma atmosfera maravilhosa, a que não falta a expectativa do fim do mundo e o prémio aos nobres guerreiros. Com a saga de Parsifal, ligada ao Rei Artur e aos Cavaleiros da Távola Redonda, a menção de Avalon (mítica ilha das maceeiras, na Cornualha, onde vivem os heróis e deuses celtas), a lenda enriqueceu-se e difundiu-se. Os Cavaleiros da Távola Redonda decidem partir em sua busca e o único que o obtém é Galaaz (Galahad), porque era o melhor de todos e conservava a sua virgindade. O Graal estava ao alcance de todos os cavaleiros, mas só aquele o alcançou.

Transportando para a história do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, onde nasce o mito da taça sagrada, encontra-se o rei a agonizar e a ver o progressivo declínio do seu reino. Numa visão mística, o rei acredita que só o Graal o pode salvar e ao seu reino, pelo que manda os seus cavaleiros à procura do Cálice. É a partir daqui que se desenvolvem as muitas e variadas histórias à volta deste tema. A água é tema recorrente em toda a saga do Rei Artur. Na água é que a vida começa, seja tanto física, como espiritualmente, tendo o próprio rei sido concebido ao som das marés. Nos muitos acontecimentos em que interveio, a água desempenhou sempre um papel relevante e salvador da Bretanha. Sabendo que tinha chegado a sua hora, Artur pediu a Bedivere que o levasse para a praia, onde três fadas o aguardavam com uma barca.

O Graal, converteu-se numa pedra preciosa que, guardada por certo tempo e por anjos, foi confiada à custodia dos Cavaleiros da Ordem do Santo Graal e do seu chefe o Rei do Graal. Todos os anos na Sexta Feira Santa, uma pomba desce dos céus e depois de depositar uma hóstia consagrada sobre a pedra, renova a sua virtude e força misteriosa que comunica uma perpétua juventude, capaz de saciar qualquer desejo de comer ou beber. De vez em quando, inscrições na pedra revelam os nomes dos que foram chamados à Bem Aventurança Eterna na cidade de Graal, em Montsalvage.

O Graal-Taça é tido como episódio místico, o Graal-Pedra como matéria do conhecimento e o Graal-Livro a própria tradição, a mensagem escrita. Em todos os casos, o Graal tem poderes associados à sua lenda como curativos, comunicação com Deus, invisibilidade para o mal, imortalidade e habilidade para chamar os merecedores.

O Graal, como vemos, contém mistério, segredo, aventura e um prémio para todos, mesmo que só uns poucos o achem. A sua abordagem pode ser feita de várias maneiras, de acordo com as fontes utilizadas.

No meu caso, relevo o fascínio pelo mistério e as histórias recolhidas pelos contistas medievais. A sua Demanda tem-me revelado factos desconhecidos, obscuros e deslumbrantes de épocas remotas, mas não só. Apesar de este tema me empolgar jovialmente, diria mesmo, tenho para mim que a Busca deverá ser céptica, e criteriosa. Acredito no Graal, não na forma como o vimos em filmes ou em romances de ficção. Não acredito no Graal, seja o de Valência ou outro, como peça arqueológica, ainda que de muita importância, tanta que por ela se poderia dar a vida, mas como uma filosofia de vida, tal como alguns muito ilustres pensadores o já desenvolveram. Aceito o Graal, não como Cálice, mas como filosofia, pelo que se um dia alguém o vier a descobrir, nem por isso me interessaria mais por ele. Defendo que a Glória, radica em Jesus e não em utensílios em que terá tocado ou usado. Que Jesus tivesse utilizado um cálice de valor na Última Ceia, é só por si altamente improvável, por muito que isso decorresse dos costumes dos judeus.

Uma relíquia é, na generalidade dos casos, um membro decepado de algum santo, como a mão, um dedo ou mesmo um osso. Como Cristo ressuscitou e voltou ao Céu, relíquia poderá ser aquilo que Ele usou ou tocou. A Coluna onde foi açoitado, a Cruz onde foi pregado, a Lança de Longinus, os Pregos (os pregos originais da crucificação foram uma das relíquias mais populares da Idade Média, tendo chegado a coexistir 700 exemplares objecto de veneração, com destaque para a relíquia encontrada pela Imperatriz Helena, de Bizâncio, que foi fundida para fazer um estribo para o filho, Constantino I) e a Coroa de Espinhos, tudo até poderia (poderá) ser catalogado e registado, pois são do conhecimento público. E o Graal, que foi escondido dos historiadores e trovadores, até à Idade Média? A importância do Graal está na possibilidade de demonstrar a Fé em Deus e em certos valores do Cristianismo. Dito de outro modo: O Graal representa e não é!

As histórias do Graal são belas, bem arquitectadas em geral, com começo, meio e fim. Mas como acreditar em algo que nos remete para uma lenda? O Rei Artur é um mito, embora haja quem tenha a certeza de ter encontrado o seu túmulo em Glastongury. Merlin é outro mito, tal como Avalon (devo ir ao Vale de Avalon curar a minha grave ferida, diz o Rei Artur). Por isso tudo indica que o Graal em sentido material, é um mito. Muito bonito e interessante, independentemente até de se saber se existe ou não, ou se José de Arimateia foi o seu guardião. Creio ser correcto dizer que todas as obras (medievais) que citam a existência do Santo Graal, são a origem das teorias que existem. Nesse sentido, parece-me difícil, se não mesmo impossível, classificar as teorias sobre o Graal como meros contos, podendo-se outrossim dizer que as obras literárias (medievais) são as teorias escritas da sua existência.

A Europa é o chão dos nossos antepassados de muitas gerações, terra antiga que pisamos, cujo ar respiramos, bebemos as suas águas, comungamos, com os seus sentidos, no que é memória e presente. As suas cidades estão cobertas por séculos de poeira, acumulada com sangue, música, artes e fé, e foram fundadas por homens sobre ruínas doutras, onde os cristãos vieram mais tarde erigir as suas catedrais. Templos sobre templos, sobre outros templos, camadas de ruínas carcomidas orgulhosas do seu passado.

A catedral europeia é por definição um templo cristão, mas tanto ou mais do que isso, uma obra de arte, uma peça gigantesca que nos toca por todos os sentidos, nas suas paredes salpicadas de detalhes incrustados, peças que nos contam histórias de mais ou menos virtude ou indulgências. Andando entre as casas baixas da cidade velha europeia, pelas suas ruas sinuosas e empedradas, destaca-se sempre ao longe a torre da catedral, como um dedo apontando ao céu, e as suas torres tocando as nuvens. Ao perto, o portal com a sua rosácea que ilumina a nave, parece construído para ser utilizado por gigantes, gente mais grande que qualquer um de nós. Da torre brada o sino, uma nota forte que se espalha à volta. A Catedral é o relógio que, da torre, regula a hora de acordar, de almoçar e de dormir. Chegado em frente a uma catedral, e já vi muitas, olho sempre para cima e mais acima num ritmo visual lento e paciente, até parecer que a nuca me toca as costas.

Em Coimbra falávamos muito da cátedra e dos catedráticos. Mas o que é uma catedral se não uma sede de cátedra, um trono catedralício, a cadeira de um bispo coroado que ali transubstancia o pão e o vinho, no decurso do sacrifício da Missa?

Cada catedral guarda normalmente uma relíquia de santo, remanescente da sua existência e passagem física pela terra. Em Bolonha, encontram-se os cadáveres de cinco crianças assassinadas a mando de Herodes, a taça com que Jesus foi baptizado por S. João Baptista, as sandálias de Jesus e até uns restos de maná do deserto, que Moisés não consumiu na totalidade. Em Chartres, existe guardada, a camisa com que Maria deu à luz o Menino Jesus. Em Colónia, existem os corpos dos três Reis Magos (Melchior, Baltazar e Gaspar), aonde faltam três dedos, emprestados a uma outra catedral. Em Pisa, chegou a estar guardada a Coroa de Espinhos, mas acabou por ser dada de penhor a um banco. Na Quaresma, em Notre Dame, de Paris, é exposta à veneração pública a Coroa de Espinhos, aonde também terá estado a Lança Sagrada. A Coroa de Espinhos permaneceu nos primeiros séculos na Basílica de Monte Sião, em Jerusalém, tendo sido levada para Constantinopla, no início do século XI. Em 1238, Balduíno de Courtenay, Imperador de Constantinopla, que passava por grandes dificuldades financeiras, deu-a de penhor a um banco, para garantia do pagamento de dívidas. S. Luís, Rei de França, pagou os débitos do Imperador de Constantinopla, adquiriu a relíquia, levou-a para Paris e mandou construir a Sainte Chapel, essa lindíssima igreja em estilo gótico ao lado do Palácio da Justiça. Mas em 1789, com a Revolução Francesa em plena fúria anticristã, destruições, mutilações de imagens, queimas de objectos sagrados e de culto, a relíquia foi resgatada e colocada em lugar seguro, entregue ao cuidado da Catedral de Notre Dame. Em Florença existem cabelos da Virgem Maria e uns frasquinhos de leite igual (com a mesma origem) ao que amamentou o Menino. Em Pazzi, no Convento de Santa Maria Madalena, havia restos de feno da manjedoura de Belém. Génova manteve o prato sobre o qual Salomé recebeu a cabeça de S. João Baptista.

Muitas catedrais e igrejas, por esta Europa, têm cravos que pregaram Jesus à cruz (hoje em dia são trinta e encontram-se nas dioceses de Roma, Veneza, Aachen, Madrid, Nuremberga e Praga, entre outras) pedaços de madeira da cruz e da coroa de espinhos.

Já falei antes de Helena, mãe de Constantino I, zelosa seguidora do cristianismo. Foi septuagenária para Jerusalém em 326, tendo fundado algumas igrejas sobre lugares importantes relacionados com a vida e morte de Jesus. Foi ela que descobriu a gruta aonde Jesus terá sido sepultado, sobre a qual mandou construir uma basílica (não é a actual Igreja do Santo Sepulcro que remonta apenas ao século XII). Segundo a lenda em 3 de Maio de 326, Helena no interior da gruta descobriu a Cruz. De acordo ainda com a lenda, foram encontradas 3 cruzes. Para se apurar qual delas tinha suportado Jesus, Helena mandou vir um morto e pousou-o em duas delas. Nada aconteceu. Ao tocar na restante, o homem ressuscitou, pelo que Helena mandou a Constantino pedaços dessa a verdadeira cruz e pregos para o proteger dos perigos que o rodeavam. Constantino encerrou um pedaço da cruz numa estátua de si próprio e com os pregos mandou fazer um elmo. Em meados do século IV, fragmentos da Cruz foram mandados como relíquias para igrejas de todo o mundo romano

Qual é a veneração devida às relíquias?

Seja qual for o valor a dar a estas relíquias, note-se por exemplo a impossibilidade de tantos pregos, explica-se por haver relíquias de segundo grau onde em vez de se tratar dos pregos verdadeiros, há os que são a subdivisão dos originais.

O Concílio de Trento não definiu. As autoridades modernas declaram que as relíquias são valiosas promessas que animam a confiança e a comunhão na intercessão dos santos junto de Deus, ainda que lhes deva ser dada um honra relativa e inferior, sendo memoriais destes.

Entendida por alguns como expressão do fanatismo e barbarismo medievais, em contraponto de outros como a vitória da civilização (Ocidental) sobre o Oriente bárbaro, a disputa da Palestina não pode ser escrita por nenhuma dessas teses redutoras. Bem sabemos que os cristãos, desde logo os cruzados, foram capazes de promover massacres sangrentos entre árabes, judeus, turcos e até mesmo contra cristãos ortodoxos. Mas também não esquecemos que os Árabes Muçulmanos, não eram um povo ignorante como supunham, por desconhecimento, muitos europeus da época. Veja-se o que havia em Sevilha e especialmente em Granada.

Não causa estranheza que o Graal fosse reputado como detentor de poderes curativos e miraculosos. Os cristãos medievais veneravam relíquias, porque esperavam que os protegessem da má sorte ou curassem de uma enfermidade. Sendo o Graal uma relíquia tão importante (talvez mesmo a mais importante), seria incongruente que ela não demonstrasse os seus poderes a quem, de bom coração, os solicitasse. A cura da lepra é um tema que vamos encontrar num romance famoso, quando a irmã de Percival morre ao dar todo o seu sangue a uma dama gafa. O poder do Graal decorre do objecto em si, mas no precioso sangue que continha.

Mas a demanda do Graal não foi apenas uma saga medieval. A sua ideia perdurou até aos nossos dias.

Durante a II Guerra, tropas nazis vasculharam, com afinco, áreas de terreno à volta da montanha de Montesegur, nos Pirinéus franceses. Muitos acreditavam que algures se encontrava o Santo Graal, uma relíquia que a tradição cátara local considerou como sua, durante muitos séculos. Na manhã de 16 de Março de 1944, estando a França ocupada pelos nazis e a divisão SS Das Reich, a descansar em Toulouse, após o esforço da frente russa, um grupo de civis subiu à montanha para celebrar um histórico e sangrento acontecimento, ocorrido precisamente nesse mesmo dia, mas no ano de 1244, quando os hereges Cátaros, decidiram imolar-se.

Saiba-se que as tropas do Papa Inocêncio IV, realizaram um assédio de nove meses a Montesegur e ao seu Castelo, tendo os Cátaros sitiados, conseguido resistir graças à orografia do lugar. Os sitiantes queriam levá-los a abjurar de uma Fé que defendia o contacto directo do homem com Deus, não reconhecia o Papa e praticava um ascetismo, alegadamente tido pelos ortodoxos como recheado de costumes pagãos. Historicamente, os gnósticos, onde os cátaros se inseriam mais tarde, tiveram especial relevância nos primeiros três ou quatro séculos, depois de Cristo. Eles mesmos não se consideravam gnósticos, pois eram sabedores do significado oculto da palavra. Ao contrário dos seus detractores, os gnósticos não formavam uma religião, não eram arrogantes ou fanáticos, mas compartilhavam uma atitude comum para com a vida, fundamentada no coração, como diz o Evangelho de Filipe. Já passaram cerca de 17 séculos desde que os gnósticos fizeram história, foram perseguidos, mortos e esquecidos, objecto de uma das mais implacáveis e longas perseguições como religiosas como hereges, de que há registos.

A lenda assegura que na noite anterior, quatro sitiados se deslocaram no meio das trevas até à face mais abrupta do monte. Levavam consigo o tesouro que tinha mantido intacta a moral da comunidade. Uma vez cruzadas as linhas inimigas, acenderam uma fogueira indicando aos sitiados que o tesouro, o Santo Graal, estava a salvo. Ao amanhecer, os hereges com a maior tranquilidade, atiraram-se para uma pira, deixando a inexpugnável fortaleza, o Castelo de Montsegur, livre às tropas papais.

Voltando um pouco atrás. O grupo que em Março de 1944 subiu à montanha, estava interessado em recuperar a tradição cátara, pelo que pediu permissão aos nazis para pernoitar em Montsegur, de modo celebrar condignamente o aniversário da tragédia. Mas os alemães não concederam autorização, dado considerarem a montanha como solo alemão, sobre o qual o III Reich tinha direitos históricos. Todavia, o grupo arriscando a vida, subiu ao alto da montanha, aproveitando os alvores do dia. Mas o que viu deixou estupefactos os seus componentes. Um avião alemão com a cruz suástica, que estava a aproximar-se, deu umas voltas, e depois subiu os ares como para efectuar uma acrobacia aérea. Todavia, antes de desaparecer em direcção a Toulouse, ziguezagueou fazendo uma enorme cruz cátara. Que significava aquilo? Os nazis também queriam homenagear nesse dia os cátaros mártires? Este voo estranho deu que pensar. Disse-se mais tarde que a bordo viajava Alfred Rosemberg, tido no III Reich como perito em questões esotéricas, que há vários anos andava em demanda do Graal. Rosembeg foi também considerado um profeta do Anticristo. No dia anterior, o célebre oficial alemão, Otto Skorzeny esteve na zona, fazendo pesquisas no terreno. Possivelmente nunca se saberá que ordens levava esse herói de Hitler, que resgatou Mussolini da prisão, um ano antes, numa espectacular missão, com planadores. Em 1943, Mussolini fora detido por ordem do rei de Itália e aprisionado. Numa operação notável, um comando alemão, chefiado por Skorzeny, libertou o Duce que foi reposto no poder, à cabeça da República Social Italiana, supostamente herdeira, representante, do fascismo primitivo, agora de maior pendor socializante. Mas na prática, era a Alemanha que ditava o que a RSI podia ou não fazer. O fuzilamento do Duce e de Clara Petacci, a sua amante, às mãos dos partiggiani, a posterior exibição dos corpos, para gáudio da multidão de Milão, são o ponto final da tragédia italiana, que a fuga de Mussolini não evitou. Skorzeny não foi o primeiro nazi a fazer buscas na zona, pois havia sido precedido por um jovem de nome Otto Rahn que chegou a Montsegur no verão de 1931, passando três meses a explorar a área circundante, no seu dédalo de grutas. Regressou a Alemanha para escrever um livro, bem recebido pelos intelectuais do regime, A Cruzada contra o Graal (1933). Rahn concluiu que Montsegur, era o Montsalvat que o escritor alemão von Eschembach, considerava no século XIII, como o local da guarda do Santo Graal. Também assegurou que o Graal era mais um Livro (gradal, em occitano) que um Vaso (grasale, também em occitano). Segundo ele, os cátaros guardaram a relíquia até à queda de Montsegur. O Livro, o Graal, era feito em tábuas de pedra ou de madeira, escrito em caracteres rúnicos, trazidas pelos visigodos, após o saque de Roma. O Graal havia chegado a Roma depois da conquista de Jerusalém e da destruição do Templo de Salomão, pelo general romano Tito, no ano 70 (d.c.). Sobre Tito e a destruição do Templo de Salomão, há uma outra lenda interessante para contar aqui, como parêntesis. Tito arrasou o Templo de Salomão e pilhou os tesouros lá existentes, entre os quais a Menorah original, o candelabro de sete braços, que terá resistido a saques anteriores ao de Tito, como o de Nabucodonosor em 587 a.c. e que no capítulo XXV de Livro do Exodus é descrito como um lampadário de ouro puro. Segundo a mesma fonte bíblica, Moisés contactou pela primeira vez com a Menorah aquando do encontro com Jeová, no Monte Sinai, o que a transformou numa das maiores referências do judaísmo, tão importante como seria a Arca de Noé. A Menorah que veio para Roma onde foi apresentada como troféu de guerra, tal como as trombetas de prata do Templo, a Mesa de Salomão, terá vindo cair mais tarde em poder do Vaticano, até se perder num armazém, ou nas águas do rio Tibre, aonde caiu conjuntamente com a Mesa (áurea) de Salomão, noutra versão.

Voltando atrás. Porque razão se interessavam tanto os nazis esotéricos por um tesouro de origem judaica?A resposta, a ser obtida, será sempre duvidosa. Alguns estudiosos do ocultismo acreditam que Hitler respeitava uma religião que havia conservado intactas tradições com mais de 3000 anos. Para historiadores, como Michel Bertrand e Jean Angelini, Hitler preparava-se para fundar, se possível, uma nova religião, mas necessitava de bases para a sustentar, tendo para isso contratado os serviços de Otto Rahn, para procurar e recuperar o Graal.

Em 1937, sete anos antes do misterioso voo acima referido, Otto Rahn regressou à zona pirinaica para prosseguir as suas investigações. O seu livro sobre o Graal e um ensaio intitulado A Corte de Lúcifer na Europa (1936), foram obras que circularam, de mão em mão, nos círculos próximos do Führer, tentando fazer germinar a semente de uma profecia. De qualquer modo, a Sociedade dos Demandantes do Graal, fundada por Alfred Rosemberg, proclamou que eles seriam chamados a cumprir a promessa occitana, formulada após a queda de Montsegur, ou seja, a recuperação do Graal escondido. Terá sido por essa razão que o avião nazi desenhou uma cruz sobre Montsegur, no dia do 700º. aniversário do massacre?

Otto Rahn permaneceu, naquele zona pirinaica durante vários meses, sem obter resultados concretos e apreciáveis. Desconhece-se o que aconteceu quando Rahn teve de admitir o seu fracasso perante o Führer. Uma breve nota, publicada no jornal do Partido Nazi, em Maio de 1939, deu conta que Rahn morreu vítima de uma tempestade de neve, nos Alpes Suíços. Porém, a sua morte, deu lugar a especulações, visto o corpo nunca ter sido encontrado. Henrich Himmler, deslocou-se a 23 de Outubro, de 1940, ao santuário de Montserrat, perto de Barcelona, demandando pelo Graal. Os nazis persistiam em querer apurar se era este, afinal, o Monsalvat dos contos medievais germânicos. Mas os monges de Montserrat não lhe souberam responder.

Rahn desapareceu sem deixar rasto. Skorzeny faleceu muito velho, em Madrid no ano de 1975, sem revelar o que foi procurar aos Pirinéus franceses, em 1944. E Rosemberg, um dos maiores espoliadores de obras de arte durante o III Reich, foi julgado e condenado à morte no Tribunal de Nuremberga. E estes factos caíram no esquecimento.

Haverá algum poder mágico ligado aos chamados talismãs? Por indicação do meu amigo Carlos M.P., entrei em tempos na leitura de Allan Kardec, que para isso fui consultar para este estudo. Para Kardec, não há palavras sacramentais, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha acção sobre os Espíritos, porquanto estes são atraídos pelo pensamento e não por coisas materiais. Mas não pode aquele, com ou sem razão, que confia na virtude de um talismã, atrair um Espírito, por efeito dessa mesma confiança, visto que o que actua é o pensamento, não indo o talismã além de um sinal que apenas auxilia a concentração?

Numa outra perspectiva, eventualmente menos especulativa, convém saber que os objectos metálicos guardam ao longo dos anos, mesmo milénios, propriedades magnéticas que preservam a sua história, as quais podem ser estudadas e classificadas, no quadro da psicometria. Mediuns psicómetros, dizem-se aptos a rever, por vezes com nitidez, acontecimentos que ocorreram em volta da peça de metal, magnetizada pelos acontecimentos de que foi testemunha. Voltando ao Santo Graal ou à Lança de Longinus e como explicaria Kardec, não será a peça em si que move os acontecimentos, é o pensamento do homem que se concentra nela e a quer a todo o preço, a fazer valer o poder que se lhe atribui.

D. MIGUEL I, OS LIVROS PROIBIDOS DA BIBLIOTECA DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA E FREI FORTUNATO DE S. BOAVENTURA

Ao tomarem a defesa dos absolutistas, os monges de Alcobaça foram atingidos irremediavelmente pela queda de D. Miguel, em 1833. O medo fez fugir os monges, o edifício conventual foi assaltado e pilhado pela populaça enfurecida e descontrolada, conseguindo-se salvar a custo livros e manuscritos para a Torre do Tombo e Biblioteca Nacional.

Foi na Colecção de Manuscritos do Fundo Geral da Biblioteca Nacional de Lisboa, que José da Cunha Saraiva encontrou a Relação Da Vinda De El-Rey O Sr. D. Miguel A Este Real Mosteiro De Alcobaça, em 8 de Agosto de 1830. Trata-se da última visita real efectuada a Alcobaça antes da extinção das ordens religiosas, aliás na tradição antiga dos monarcas portugueses.

No dia 5 de Agosto de 1830, D. Miguel empreendeu a partir de Mafra uma visita de vários dias à Região do Oeste, muito concretamente aos Coutos de Alcobaça, estes um dos lugares simbólicos da aliança entre a Monarquia e a Igreja. Não se conhece qual foi, ao certo, a razão desta visita a Alcobaça. Parece que o Rei terá dito ao Abade Geral da Congregação de Cister que gostaria de visitar o Mosteiro, tendo decidido, talvez em Julho de 1830, que aí se deslocaria nos princípios de Agosto. É possível que o gosto de viajar, adquirido ou reforçado durante a sua estadia na Áustria, o tenha impelido a ir a Alcobaça. Pode ter sido um acto de mera devoção, por parte de um Rei alegadamente religioso. Mas também não é de afastar que tenha tido o interesse de conhecer ao vivo a história do País. Concretamente no dia 8 de Agosto, o Rei e a sua comitiva partiram de Caldas da Rainha para Alcobaça (aliás depois de terem estado em S. Martinho do Porto) onde visitaram o Mosteiro e pernoitaram. No dia seguinte, saíram em direcção à Nazaré, com paragens em Aljubarrota, Batalha e Marinha Grande, sendo que, no dia 10 tomaram o caminho de volta a Caldas da Rainha. No Domingo, dia 8 de Agosto, entre as 13 e as 14 horas, o Rei chegou a Alcobaça a cavalo, na companhia dos Marqueses de Belas e Tancos. A restante comitiva, que tinha partido antes, já se encontrava à sua espera. Em Alcobaça, as ruas estavam decoradas com belos cobertores de damasco e outras sedas, enquanto se ouvia o repicar dos sinos, estralejar dos foguetes e os vivas da populaça que se tinha juntado para ver o soberano. Quem recebeu D. Miguel, com muitas honrarias, que não com fausto que o Mosteiro já o não tinha, foi o Abade Geral, toda a Comunidade, o Juiz de Fora, o Corregedor da Comarca, o Provedor e Frei Fortunato de S. Boaventura. Debaixo do pálio, D. Miguel beijou a cruz, recebeu água benta e incenso e, ao som do Te Deum Laudamus, dirigiu-se ao altar-mor para abertura do sacrário e Tantum Ergo. Frei Fortunato de S. Boaventura, foi personagem intelectualmente notável, mas assumidamente controversa. Filho de um livreiro de Alcobaça, aqui nasceu em 1777 e veio a professar em 25 de Agosto de 1795. Estudante de Teologia em Coimbra, combateu valorosamente Junot e a primeira Invasão Francesa com as armas e a pena, que bem manejava. Cronista-Mor da Ordem de Cister, concluiu a obra iniciada por Frei Manuel dos Santos. Quando D. Miguel regressou de Viena de Áustria, onde estivera exilado pela primeira vez, Frei Fortunato notabilizou-se pela sua acção na defesa do absolutismo, através de exaltantes a apaixonados sermões de púlpito e textos panfletários. Depois do termo da guerra civil, com o triunfo das armas liberais, D. Miguel vai de novo para o exílio e Frei Fortunato para Itália, aonde faleceu em Rei obra Os Historiógrafos de Alcobaça, Frei Fortunato de S. Boaventura desceu da torre de marfim do saber puro à praça pública, onde se batem paixões, interesses e cousas de cotio. Frei Fortunato foi ainda o autor de uma contundente Ilustração Pastoral Aos Seus Diocesanos Sobre A Obediência Que Devem Ao Mui Alto E Poderoso Sr. D. Miguel I. Camilo Castelo Branco também opinou sobre Frei Fortunato, colocando na boca de O Remexido, in A Brasileira de Prazins, a afirmação que com uns tantos mais como aquele, a causa de D. Miguel seria necessariamente vitoriosa...

O guia de D. Miguel, na visita que fez ao Mosteiro de Alcobaça, levou-o à Casa dos Túmulos, ao Claustro, à Sala do Capítulo, ao Refeitório, aos Caldeiros de Aljubarrota e à Livraria e Cartório, a jóia mais estimável, onde vio com curiosidade os mano screptos e Biblias, que m.m. gostou de ver, e no quarto dos poribidos mostrandolhe od. o P. e Mestre de Pavia, e dizendo lhe que era a nossa ruina e que na Alemanha estavão proibidos também ca hade suceder o m.mo. Talvez melhor que alguém, Frei Fortunato de S. Boaventura conhecia o que havia na Livraria e Cartório do Mosteiro pois levou a cabo o inventário denominado Commentariorum de Alcobacensi Manuscriptorum Bibliotheca Libri Tres. Espalhados nas estantes, D. Miguel viu ornados ainda com bons quadros de pinturas e figuras de alabastro, os livros de Alcobaça que documentavam sete séculos de copistas e estudo, alguns a que só doutos e sábios dão valor, pois é como uma vinha onde nem todos sabem vindimar, seara para a qual os obreiros são poucos. Para Frei Fortunato, existiam justamente no cartório livros interditos a bábaros sórdidos, os hunos de todo o sempre que se aquecem ao lume das fogueiras de livros, a mãos profanas sobre os Livros Dourados e a ferros que poderia arrombar o Caixão das Três Chaves. D. Miguel na sua visita ainda examinou, de perto, a espada que se dizia ter servido a D. Afonso IV, na Batalha do Salado.

Escrevendo in Mosteiro de Alcobaça, em 1885, Manuel Vieira Natividade refere também que ao lado esquerdo da livraria, fazendo a frente para leste, existem uns quartos bastante espaçosos que eram destinados a encerrar os livros proibidos, os livros dos grandes pensadores, que só monges velhos e de reconhecido fervor religioso era permitido ver, porque por certo se não deixariam arrastar pelas doutrinas dos novos filósofos. Após esta demorada visita, o Rei jantou no seu quarto e dirigiu-se à janela da hospedaria do Mosteiro, donde durante cerca de 2 horas assistiu aos festejos organizados pelas autoridades civis no terreiro em frente. E foram tantos os vivas e foguetes e demonstrações de alegria (…) e El rei estava tão satisfeito como bem amostrava, que mandou chamar o Corregedor e Juiz de Fora e mandou soltar todos os presos, que não tivessem parte .

A maior parte desta viagem real à Região do Oeste português nesse Agosto de 1830, decorreu nos coutos de Alcobaça, que continuavam a ser palco de conflitos acesos entre os frades e os aldeões, por razão do pagamento dos direitos senhoriais. O Marquês de Fronteira, recorda nas suas memórias que, em 1824 os rendeiros dos frades se tinham rebelado, largando fogo às medas de trigo que pertenciam à comunidade e que o Abade Geral do Mosteiro se vira obrigado a chamar a tropa que estava em Leiria. No caso de Aljubarrota, o conflito traduzia-se na questão dos limites da doação de D. Afonso Henriques e arrastava-se desde os finais da Idade Média. Terá sido depois do jantar, durante uma conversa havida na varanda do seu quarto, que a questão foi apresentada ao Rei. O Esmoler-Mor, Frei António da Silva que fora Abade Geral dos Coutos de Alcobaça, durante o vintismo, aproveitou a ocasião para dizer ao Rei que nessa época os povos dos coutos, principalmente os de Aljubarrota, aproveitando-se da rebelião que as Cortes causaram, tinham arruinado o Arco Memória, onde fez voto o Sr. D. Afonso I, e que pedia a S.M. o mandasse reedificar. Ora, independentemente da data da sua construção, o Arco da Memória assinalava o limite norte dos Coutos e era o símbolo material dos poderes senhoriais do Mosteiro, cuja contestação o Abade circunscrevia ao período liberal. D. Miguel terá concordado com a sugestão, propondo que no Arco a reconstruir, se fizesse uma inscrição que o ligaria física e simbolicamente através daquele lugar da memória nacional, a Afonso Henriques: El Rei D. Afonso I o mandou fazer e D. Miguel I reedificar. Veja-se a este propósito a obra de referência, D. Miguel, da autoria de Maria Alexandra Lousada e Maria de Fátima Sá e Melo Ferreira, ed. Círculo de Leitores.

Não se pode dizer que o republicano Manuel Vieira Natividade, fosse um defensor a todo o custo da acção dos Monges de Alcobaça ou do papel das Ordens Religiosas em Portugal, nos séculos XVII, XVIII e XIX. Mas não foi o seu detractor.

Natividade nasceu a 20 de Abril de 1860, no Casal do Rei, freguesia Nossa Senhora dos Prazeres de Aljubarrota. Manuel Vieira Natividade, farmacêutico, por volta de 1885, foi o iniciador em Alcobaça das compotas de frutas, mas principalmente um estudioso. Arqueólogo, etnógrafo, folclorista, investigador e escritor fértil, estudou Alcobaça e sua Região com carinho e amor deixando uma obra valiosa e extensa que não pode deixar de ser consultada por quem queira, sobre certos aspectos, estudar muita coisa sobre a Região de Alcobaça. Na sua residência organizou um interessante Museu Arqueológico, que há muitos anos aguarda ser aberto ao público, possuindo boas colecções de objectos do período neolítico, da idade do Bronze, do Ferro e do período Romano. Foi este museu organizado durante anos de árduas explorações subterrâneas nas diversas grutas e algares do Concelho e Alcobaça.

Não admira que tenha escrito, a propósito de Alcobaça que o espírito humano quando, como naquele meio, recebia educação supersticiosa e vivia respirando essa atmosfera impregnada de teocracias e preconceitos, bem raras vezes se deixava arrastar pelos princípios verdadeiramente científicos. É o que geralmente acontecia com os frades de Alcobaça. O noviço recebia uma educação tal que deveria compreender como dever a cega obediência à Ordem, aceitar todos os mistérios, todas as teorias mais ou menos absurdas como dogmas que se aceitam e não se discutem. Geralmente sucedia assim e aos mais inteligentes e ousados, a esses buscava-se o melhor meio de os dominar lisonjeando-lhes a vaidade ou fazendo com que eles não pudessem expor os factos como na realidade deviam fazer. O primeiro facto acha-se demonstrado num dos últimos talentos que o Mosteiro conheceu:-Frei Manuel de Figueiredo a quem fizeram cronista da Ordem, Geral, e não sabemos quantos empregos mais. O último acto em Frei Manuel dos Santos, a quem proibiram a publicação da segunda parte de Alcobaça Ilustrada a pretexto de que cheio de amargo fel dizia cousas que não eram honrosas para a Ordem, segundo nos afiança um outro cronista, Frei Fortunato de S. Boaventura.

Frei Fortunato de S. Boaventura, como cronista cisterciense, era seguramente menos crítico, mais tolerante, para a sua Ordem. Na História Cronológica e Crítica da Real Abadia de Alcobaça, escreveu como que em contraponto de Natividade que seria infinito se quisesse recensear os bens que estes benfeitores da Humanidade trouxeram aos seus semelhantes, em o ponto de lhes serem os mais úteis e até indispensáveis aos seus serviços.

Afinal, que segredos terríveis eram esses, quais tesouros que os livros continham, só acessíveis a uns quantos monges de maior confiança? Quais as palavras escritas que podiam incomodar muita gente?

A comunidade cisterciense de Alcobaça vivia com mais simplicidade do que somos frequentemente levados a supor. A tónica da sua espiritualidade era dada pelos textos tradicionais. Porém, os textos da sua Livraria eram variados. Acompanhavam, actualizadamente, os momentos da cultura ocidental e compreendiam tanto os testemunhos da vida intelectual escolarizada, como os de outras franjas menos assumidas, mas não menos válidas do pensamento. Se fosse possível inventariar a antiga Livraria chegaríamos muito provavelmente à conclusão de que, entre muitos mais, havia textos menos habituais entre os de uso comunitário a que correspondia um interesse não mais que secundário. Em jeito de conclusão adiantada, constatámos que os monges alcobacenses não se assumiram como transmissores desses textos ou ideias. A existência de uns livros proibidos, não é uma lenda interessante entre as muitas em que foi pródigo o Mosteiro. O conteúdo deles não o conseguimos apurar, pois que nem a Relação Da Vinda... nem Natividade ou Frei Fortunato, adiantaram grande coisa nesse sentido. Podemos admitir que abordavam os mais variados assuntos, que iam desde os de natureza teológica, filosófica ou das próprias ciências naturais.

Ao longo dos tempos criou-se a ideia, porventura com algum fundamento que, no seu conjunto, os monges de Alcobaça eram néscios e boçais, constituíam uma plêiade verdadeiramente reaccionária, vendo no progresso social, científico, técnico ou meramente filosófico, uma corrida em direcção ao abismo. Mas não é rigorosamente assim. Refiram-se os relevantes exemplos dos autores da Crónica de Cister e da Monarquia Lusitana.

Frei Bernardo de Brito, na Crónica de Cister, defendeu no início do sec. XVI a tese de que os destinos de Portugal e da Ordem estão intimamente ligados por desígnio divino e até por laços de sangue entre Bernardo de Claraval e o Conde D. Henrique.

Na Monarquia Lusitana, o mesmo Frei Bernardo de Brito, partindo da identidade étnica e territorial de Portugal com a Lusitânia, descreveu a corografia e a história desta, até Afonso Henriques. A narrativa decorre, é certo, plena de reflexões moralistas, maravilhosa e mágica como nos romances de cavalaria.

Devemo-nos admirar?

As falsificações de Frei Bernardo de Brito devem entender-se no quadro da ideia de garantir ao País, então sob a dominação filipina, um prestígio antigo e brilhante e o direito à sua autonomia. Frei Bernardo de Brito, afastando-se da crónica palaciana, teve de procurar outras fontes, nem que para isso inventasse autores ou documentos.

O seu continuador na Monarquia Lusitana, Frei António Brandão teve uma preocupação porventura mais séria, socorrendo-se para o efeito de arquivos e cartórios espalhados pelo País e discutindo versões postas de há muito a correr com foros de verdade, sem prescindir ainda assim de preocupações apologéticas que deformam muitas interpretações e os factos. Seja como for, e tendo em nota o respectivo contexto político-temporal, a Alcobaça e à sua Ordem de Cister, pertencem a glória de ter sido as autoras, pela pena de Frei António Brandão, Cronista-Mor do Reino, da falsificação das Actas das Cortes de Lamego de 1641, guardadas no Cartório do Mosteiro, e que foram o suporte da Lei Fundamental, que vigorou em Portugal por quase 200 anos.

Já na Restauração, Frei Francisco Brandão, ainda na Monarquia Lusitana cedeu de novo à reflexão menos criteriosa, embora sem os arrojados voos de Frei Bernardo de Brito.

Mais tarde, em princípios do Sec. XVIII, a Frei Manuel dos Santos ficou a dever-se a Alcobaça Ilustrada, dando este século ainda a conhecer três reputados historiadores alcobacenses, agora com a preparação da Academia Real de História, que são Frei Manuel da Rocha, Frei Manuel de Figueiredo e finalmente Frei Fortunato de S. Boaventura. Frei Manuel dos Santos também teve as suas fraquezas, como historiador. D. Pedro I, morreu em Estremós, no dia 17 de Janeiro de 1367, tendo no seu testamento reafirmado que queria ser sepultado no Mosteiro de Alcobaça, aonde o aguardava o túmulo ao lado do de Inês. Até aqui não há novidade. Acontece que, segundo nos contou Frei Manuel dos Santos, in Alcobaça Ilustrada, foi posto o cadáver de D. Pedro no cruzeiro da igreja, enquanto se lhe oficiavam os funerais e descoberto o rosto, conforme o uso daqueles tempos, quando no fim da missa do primeiro dia notaram os presentes que se movia o corpo do defunto. Admiraram-se e acharam que o corpo estava vivo, e aqui foi o pasmar e o assombro de todos; mas como o corpo tinha o rosto e as mãos descobertas, poude falar no mesmo ser em que estava o redivino príncipe, sem outro movimento ou inquietação espantosa. Chamou pelo Abade e falou-lhe poucas palavras e se confessou, com maravilhoso socego; depois declarou como o Senhor lhe fizera tão notável mercê, que via necessária para a sua salvação pelos merecimentos do glorioso apóstolo S. Bartolomeu, de que ele rei fora, em extremo, devoto na vida. E dito isto, deu outra vez a alma nas mãos de de Deus.

Admito que esta estória, teve como justificação o sentimento de dívida que a Congregação de Alcobaça, possuia para com D. Pedro I. D. Afonso IV, após um prolongado e desagradável litígio com Alcobaça, chamou a si um conjunto importante de seis vilas dos coutos, como Aljubarrota, Coz, Pederneira, Alvorninha, Turquel e Salir de Matos, que os monges detinham proveitosamente, por doação de reis anteriores. Após a morte de D. Afonso IV, D. Pedro restituiu aos monges estas vilas.

Seriam os frades de Alcobaça a excepção? Há estudiosos insuspeitos que posicionam a Congregação de Alcobaça, contra a corrente dos ventos da história. Se pensarmos bem, era Roma quem fornecia o exemplo, decretando o Papa quando necessário ou conveniente para o bem da Igreja ou a glória de Deus por meio de Bulas, Indulgências Plenárias e outras benesses espirituais. E que na guerra não se podiam usar armas demasiadamente eficazes ou mortíferas, que era pavoroso o que se guardava nas pastas dos sábios ou na mente dos filósofos mais independentes, pois um dos riscos da investigação seria poder demonstrar que, afinal, Deus não existe. Ateavam-se as fogueiras purificadores da Inquisição para castigar os hereges que duvidavam que o Sol girava em volta da Terra. Não, não devia haver grande entusiasmo diante da perspectiva de haver coisas à espera de investigação. A questão aqui suscitada recolhida dos textos citados, não era nova, nem original. Nem acabou com a extinção da Congregação de Cister de Alcobaça. Numa rapidíssima digressão histórica, recorda-se que a conservação dos segredos foi um dos primeiros objectivos das sociedades secretas.

Os sacerdotes do antigo Egipto, guardavam zelosamente os hieroglifos e as leis da geometria espacial.

Os alquimistas da Idade Média, procuravam sigilosa e pouco romanticamente, no fim do seu trabalhosobre a matéria, uma espécie de transformação na própria pessoa, o acesso a um estado de consciência superior.

Na sua conhecida obra O Mistério das Catedrais, Fulcanelli visa demonstrar que as grandes construções Idade Média são, antes que mais, livros de pedra que ensinam a ciência alquímica e contêm a mesma verdade positiva e um fundo científico idêntico ao das pirâmides do Egipto, dos templos da Grécia, das catacumbas de Roma e das basílicas bizantinas.

Ainda hoje, com tendência para se acentuar, nos grandes centros de investigação, os cientistas iniciados usam distintivos indicando o seu grau de saber e a sua responsabilidade.

Apresentamos uma vez este assunto, a um conhecido estudioso de Alcobaça, que não recordava concretamente os dois textos invocados. Mas justificou o quarto dos proibidos com o paralelismo que os grandes segredos não podem ficar à guarda da polícia, já que tem de ser inter-pares que se há-de obter a sua segurança, imune à cobiça dos políticos ou dos militares. Os monges de Alcobaça, no seu contexto histórico não foram nem progressistas românticos, nem liberais. E jamais transmitiram aos vindouros a ideia de terem em si um grupo escolhido, reunindo homens moral ou intelectualmente avançados, transmutados pela intensidade dos seus conhecimentos, dispostos a proteger as suas descobertas ou o saber, contra os poderes (des)organizados, a curiosidade ou a cupidez. Os monges que habitaram o nosso Mosteiro, não pretenderam arrogar-se à ideia de divulgar esses conhecimentos no momento adequados, possuidores de uma ciência calma e consistente, mas se possível e muito pragmaticamente, de os sepultar sob toneladas de cimento ou no fundo dos oceanos, à falta de poder morrer com eles.

Após a II Guerra, e com o advento da era nuclear, a ideia da conservação de segredos revelou-se de novo como motivo de preocupação e de uma maneira assás curiosa. Alguns pensadores estimáveis do lado dos Aliados, afundados em angústias e não entrando nos pressupostos da Guerra-Fria, defenderam a proposição de que sendo a ciência e a técnica capazes de destruir a Humanidade, a idolatria do progresso e da liberdade pura, eram condenáveis em absoluto.

O Homem chegou ao termo das suas possibilidades, na curiosa síntese de alguns escritores de ficção científica. Assim, teria de se proceder à codificação das conquistas da investigação e da natureza e proibir, total ou parcialmente o seu progresso futuro.

Como? Através de um Conselho de Nações ou mesmo de um Conselho de Sábios. A ideia é, argumente-se, utópica ou ingénua, mas não foi reputada de reaccionária. O seu proclamado objectivo era não retroceder na inteligência mas defende-la de uma utilização prejudicial. O segredo não era uma preocupação restrita aos monges de Alcobaça. Quem não sabe não fala, pode-se argumentar em termos redutores. Mas não só. A posse ou o conhecimento de determinados factos impõe por vezes que o segredo não seja tanto o resultado da vontade daquele que o guarda, mas da sua própria natureza. Encontraríamos aqui, quem sabe, uma explicação benévola, tão benévola quanto se pode dizer que o segredo existe no inconsciente colectivo da espécie humana.O escritor em liberdade incomoda com frequência como sabemos. Contra ele sempre existiram censuras, úteis ao senhor de Santa Comba, bem como aos defensores do realismo socialista. O escritor ergue-se em liberdade contra o obscurantismo, revolve, agita, não tem certezas adquiridas, não vive agarrado à estabilidade ou ao medo.

Bernard Shaw, numa das suas peças, traz César à boca de cena. A Biblioteca de Alexandria, a maior do mundo antigo, com os seus milhares de volumes, encontra-se inexoravelmente a arder. Nada a pode já salvar. Uma das personagens diz que é a memória da Humanidade que está a desaparecer. Responde César, com a prepotência de alguns poderosos, deixa-a queimar, é uma memória plena de infâmia.

Com a morte de D. José e a queda do Marquês de Pombal, ensaiou-se ainda uma profunda reorganização da Ordem de Cister em Portugal.

Bem mais eficaz que o terramoto, foi o movimento contra a Igreja e as Ordens Religiosas desencadeado pelo Marquês que determinou a extinção, pelo País além, de dez mosteiros cistercienses, em 17 de Dezembro de 1775. A verdade é que no período que se irá prolongar até 1834, houve um esforço, pelo menos preocupação, com a revitalização da Ordem de Cister, tanto no aspecto disciplinar e espiritual como no material ou cultural.

Mas os tempos avançavam mais rapidamente que as reformas necessárias. As ideias libertárias da Revolução Francesa tinham chegado e eram conhecidas dos mosteiros cistercienses. Depois, veio a guerra civil entre liberais e miguelistas, em que alguns religiosos pegaram em armas, o que não propiciou ambiente favorável a que os esforços em curso frutificassem.

E quando foram extintos os mosteiros, a Ordem de Cister acabou mesmo e de vez em Portugal. Ficou apenas a sua memória, em breve demasiadamente difusa. Permanecem ainda hoje, sobre a questão da extinção das Ordens Religiosas algumas dúvidas interessantes. Como acabou a Ordem de Cister em Alcobaça? Como e quando ocorre o êxodo dos monges? Segundo M. Vieira Natividade, in O Mosteiro de Alcobaça os frades depois de várias sortidas, abandonaram em 13 de Outubro de 1834 definitivamente o Mosteiro, isto é, antes mesmo do levantamento liberal. Mas Ramalho Ortigão, in As Farpas, conta de forma diferente, finalmente tendo rebentado em Alcobaça um pronunciamento liberal, em 16 de Outubro de 1833, os frades descamparam definitivamente. Cremos que quando os monges saíram do Mosteiro, ainda era rei D. Miguel, embora com D. Pedro já no Porto e o Duque da Terceira em Lisboa. Quando passou por Alcobaça o exército realista, a retirada sobre Santarém abriu aos Marechais (da Rainha), as portas para a população ocupar e saquear o Mosteiro. De tanta grandeza, esplendor e glória, que ficou nesta Babilónia de Alcobaça, onde tudo era farto e gigantesco? O espaço da antiga Livraria, após a extinção das Ordens Religiosas, teve variados usos, nada reaccionários ou progressistas, desde Hospital, Quartel, Casa de Espectáculos, Sala de Convívio e Trabalho do Asilo de Mendicidade de Lisboa. Quando uma pequena fracção do Exército Português comandada pelo Marquês de Saldanha entrou pela segunda vez nesta vila de Alcobaça trouxe consigo numerosos feridos e mais doentes que recolheu no Hospital Civil e na Sala da Livraria do extinto Mosteiro de S. Bernardo.P. Zagalo, in História da Misericórdia de Alcobaça, escreveu por sua vez sobre este mesmo assunto que na Revolta dos Marechais, após a batalha do Chão da Feira perto da actual Cruz da Légua realizada a 28 de Agosto de 1837, os feridos vieram para Alcobaça e foram tratados na sala da Livraria e no Hospital de Misericórdia de Alcobaça. O então Marquez de Saldanha mandou chamar a Mesa da Misericórdia e incumbiu-a de tratar dos feridos que estavam na livraria (…).Mais tarde, a C. A. da Misericórdia e Hospital de Alcobaça, foram encarregados pela autoridade administrativa, da Administração do Hospital Militar erecto na Livraria do extinto Mosteiro, depois da acção que teve lugar junto aos Carvalhos, no dia 28 de Agosto de 1837 (…). De facto o hospitalzinho da Rua do Castelo ampliara-se muito, ao intalar-se na Livraria do Mosteiro, saqueada e a arruinar-se em progressão assustadora com os míseros herdeiros dos monges bibliotecários (…).

Sem se entrar em campos muito polémicos, pode-se afirmar com alguma segurança que a Igreja Romana nunca foi verdadeiramente uma instituição democrática, pelo menos no sentido vulgar e ocidental de estrutura político-ideológica. Nesse como como o poderiam ser os Monges de Alcobaça? Com Constantino e Teodósio, transformou-se o cristianismo na religião oficial do Estado e assim a Igreja numa instituição de poder, hierarquizada e poderosa.

Parece que Jesus é menos congregador que a Hierarquia, e a Fé encontra-se mais direccionada ao dogma que à pessoa de Jesus, o Salvador. Sempre se falou da necessidade de diálogo da Igreja com o Mundo. Dito assim será que a Igreja não faz parte do nosso Mundo? Mas admitindo sem condescender que o faz, não se esqueçam afastamentos comprometedores. Até à década de sessenta do século XX!!! manteve-se o Index, a relação de obras/livros cuja leitura estava vedada aos cristãos/católicos. Nesse Index figuraram pessoas tão eminentes da história, ciência, literatura, direito, como Copérnico, Galileu cientistas, Descartes, Pascal, Espinosa, Kant, Rosseau, Voltaire, Comte, filósofos, Diderot e D’Alembert Enciclopedistas, Grotius Jurista, Vítor Hugo, Balzac, Flaubert, Zola, D´Anunzio a nata da moderna literatura europeia ou mais recentemente Sartre, Simone de Beauvoir, Unamuno ou Gide. Mesmo, com o fim anunciado do Index, a censura manteve-se a teólogos, como Leonardo Boff e Hans Kung. As dificuldades da Igreja são e serão enormes tanto numa perspectiva doutrinal como meramente organizacional. A igreja tem dificuldade em aceitar a dúvida e a argumentar. Do ponto de vista doutrinal, alguns espíritos ainda se admiram que o padre Teilhard de Chardin, que tentou conciliar a fé com uma concepção evolutiva do mundo, continue a merecer algumas reservas. Como se pode invocar num quadro de evolução, a visão tradicional de um Adão e Eva e o pecado original? Dois seres semiconscientes, poderão ter cometido um pecado/crime, na origem de todo o MAL do mundo? Democracia? Ao princípio basilar da democracia, a Igreja contrapõe uma monarquia plenipotenciária e absoluta.