Fleming de Oliveira
segunda-feira, 18 de março de 2024
quarta-feira, 13 de março de 2024
A GREIE A TERRA DicionátioHistórico e Biográfico dos Tempos de Brasa (1974-1975)
Nos cinquenta anos do 25 de abri de 1974,
intentei uma visão de momentos que o contextualizaram, o precederam e o
seguiram.
O livro que se apresenta, uma síntese sobre
o período compreendido entre 25abr1974 e 25nov1975, contém a pretensão de ser
legível e inteligível, sem constituir aborrecimento para o leitor, e evocar
Alcobaça e a região (ainda que em prejuízo dos grandes centros populacionais)
como exemplo do movimento social e político que lhes esteve associado,
explorando as motivações dos autores a atores. Para tal desenvolvi um trabalho
de reconstituição de fatores que estiveram na sua origem, tanto a partir de
fontes escritas, como da memória oral, sem esquecer a minha. Foram rastreados
os processos de construção da militância, notando o seu carácter essencialmente
popular e rural, mas também o modo como a exigência do ideal se cruzou com a
moralidade e a intimidade. Para além das entrevistas efetuadas há anos e aqui
reutilizadas, recolhi novos depoimentos. Dar voz aos intervenientes, sem
descriminação consciente, foi um dos objetivos, contrastando com a bibliografia
e o discurso oficiais.
A parcialidade e subjetividade que rodeiam
este trabalho podem ser imputadas pela crítica. Nesta temática, não existe
imparcialidade, nem neutralidade ou escolhas objetivas, incolores ou asséticas,
pois cada autor é movido por questões existenciais, identitárias, pela
emotividade que rodeia o episódio vivido e contado e pela forma como se insere
no seu percurso de vida. A presente intervenção, em suma, não é inócua, nem
passiva, a seleção das questões, a condução para as diferentes temáticas, com
menor ou maior habilidade, empatia e competência determinam o resultado que se
apresenta e que, interpretado e vivido por outro, teria certamente resultados
diferentes dos meus. Trabalhar com pessoas falecidas não diminuiu a
responsabilidade, pelo contrário. A fonte oral, permite uma apreensão calorosa
do que significava, muto especialmente no Norte/Centro de Portugal do último
quartel do século XX, ser lavrador,
proprietário, profissional liberal e outras categorias ocupacionais, cuja
correspondência com as atuais, não se consegue estabelecer facilmente. A
História não pode ser apenas o que conta uma pessoa, é o resultado do confronto
de diferentes opiniões. A instrumentalização em prol de causas específicas, é
negativa para a ciência que é a História. Não é de esperar que o historiador
dos tempos do PREC ou o de hoje, ainda que seja o mesmo, utilize idêntica
linguagem ou assuma os mesmos conceitos.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
EVOCANDO O 16 de MARÇO de 1974 (Caldas da Rainha)
EVOCANDO O 16 de MARÇO de 1974
(Caldas da Rainha)
FLeming de OLiveira
Fala-se fundamentalmente, com toda a razão
e destaque, nos 50 anos do 25 de abril de 1974.
Embora
muitíssimo menos relevante, é de assinalar os 50 anos do “levantamento”
(abortado) de Caldas da Rainha, ocorrido a 16 de Março de 1974.
Por
essa altura, encontrava-me na Guiné quase a terminar a comissão de serviço,
este incidente teve ali forte impacto e deu esperanças para em breve mudanças
significativas no “regime” e no evoluir
da questão colonial.
Provavelmente
para alguns leitores, este incidente encontra-se esquecido, ofuscado, pois
cerca de um mês depois ocorreu e com sucesso s revolução de que nos louvamos.
Alguns
“ultra” do Estado Novo
consideraram-no como “insurreição de
opereta.” Marcelo Caetano, numa “Conversa em Família”(RTP 28mar1974),
qualificou-o como “um triste episódio
militar que a irreflexão e talvez a ingenuidade de alguns oficiais que
lamentavelmente produziu há dias”.
O “levantamento” de Caldas da Rainha é, todavia,
apontado por alguns autores como o catalisador que aglutinou o oficialato em
torno do MFA, o fio condutor para a
adesão de quase todas as unidades militares à Revolução de Abril.
Na madrugada
de 16 de março de 1974, uma coluna de cerca de duas centenas de militares
comandada pelo Major Armando Ramos saiu do Regimento de Infantaria 5, de Caldas
da Rainha, e tomou a estrada rumo a Lisboa. O objetivo era derrubar o governo de
Caetano, para o que esperava o apoio de outras forças militares, nomeadamente
de Lamego, Mafra e Vendas Novas.
A marcha prosseguiu até às portas da
capital, quando houve conhecimento que nenhuma daquelas unidades tinha iniciado
movimentação. Perante este cenário, foi decidido abortar o golpe e regressar ao
quartel. Perto do Rio Trancão, pelas 6h30, a
coluna foi mandada regressar. Em Lisboa, a PIDE tinha sabido da saída e havia
montado um forte dispositivo militar de resistência à entrada.
Depois de chegarem a Caldas, os
insurgentes/revoltosos foram cercados por forças fiéis ao “regime”, vindas de
Leiria e de Santarém. Pelas 17 horas, após várias horas de negociações, os
surgentes/revoltosos renderam-se. Detidos foram levados para a Trafaria, enquanto
alguns elementos do Regimento foram transferidos para outras unidades
militares. Chegava ao fim a insurreição que ficou conhecida como “levantamento”
ou “intentona das Caldas”.
O “Gazeta das Caldas” (edição de 20
de Março) na melhor ortodoxia, registou que “politicamente importa afirmar aos que, no ultramar e no estrangeiro
lerem estas linhas sendo portugueses, que nada, absolutamente nada aconteceu.
Não suponham os nossos filhos e irmãos que asseguram a perenidade de Portugal,
que afirmam a presença lusíada além-mar e que sustentam os combates de
supressão do terrorismo, haver algo mudado na retaguarda. Esta é uma rocha em
que podem sentir firme apoio”.
Gonçalves Sapinho contou-me, por
alturas de 2011, que havia de sua parte uma ligação especial a dois capitães e sobretudo
ao Maj. Serrano, 2º. Comandante da Unidade, de cuja casa era visita, o que lhe
permitiu perceber que este participava em reuniões do futuro MFA, em Óbidos,
embora isso nunca lhe tenha sido dito expressamente.
“Falávamos de muita coisa, com à vontade,
como reivindicações, greves, democracia e o 2º Comandante num jantar em sua
casa, com três convidados que não identifico, questionou-nos sobre a
possibilidade de ser desencadeada uma Greve de Zelo, o grau de adesão e a
utilidade. Convergimos sobre a “certeza” que tal greve não tinha hipóteses de
sucesso. Estas e outras situações, mostravam o “lirismo” de alguns oficiais”.
A
16mar1974, sexta-feira fria de nevoeiro, quando
Gonçalves Sapinho se levantou, tomou conhecimento do movimento da coluna de
militares do RI5 rumo a Lisboa que saíra “por
volta das 4horas, liguei para casa do
Major, 2º. Comandante, para saber o ponto da situação. Atendeu-me a esposa, que
me disse que o Major meteu baixa nesse dia, que não tinha participado, alegando
que era pai de três filhos”.
Isto
é, o Major Serrano “borregou”,
rematou Sapinho na sua típica terminologia beirã.
De acordo com comunicados e notas oficiosas, a 17mar1974 “Reina a Ordem em todo o País”.
Embora
não tivessem conversado com detalhe sobre a situação político-militar após o 16
de Março, Gonçalves Sapinho ainda lhe disse que era de opinião “que isto já tinha ido longe demais, e que
era inevitável que acontecesse alguma coisa ainda”.
No
dia 26 de abril, apareceram os primeiros militares saneados, e entre eles
encontrava-se o 2º Comandante do RI5.
Otelo Saraiva de Carvalho ao “Gazeta
de Caldas” (edição de 23mar2007), declarou que o “16 de março foi para mim um acontecimento de grande importância,
independentemente de ter nascido de uma ação militar desorganizada e
aventureira. A verdade é que essa ação acabou por constituir um ensaio de
grande utilidade para elaborar o plano de ações para o 25 de Abril. Como
“assisti” na rotunda da Encarnação, em Lisboa, à montagem do aparato bélico que
esperava a coluna que vinha das Caldas, pude ficar a saber com que unidades não
podíamos contar, quais as que havia necessidade de controlar e de que forma se
organizavam as unidades militares e os órgãos militarizados. A missão para o 25
de Abril era muito concreta ao contrário do 16 de Março, que apenas serviu como
balão de ensaio. O acontecimento em si foi uma derrota que não merece grande
comemoração, mas para os que participaram ativamente naquele dia é um marco
histórico”.
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
O alvorecer de abril
O alvorecer de abril
Cecília Franco Miguel
Naquela madrugada ao despertar,
Os capitães unidos por um objetivo,
A ditadura, conseguiram desmoronar,
Em busca de paz e futuro merecido.
No campo, na cidade, rua, ou lugar,
A voz do povo, cantou libertação,
Cravos na mão e corações a palpitar,
Em busca de saúde, paz, educação. I
gualdade e justiça foram reivindicadas,
A liberdade, um direito conseguido,
Depois de sacrifícios e lutas travadas,
O alicerce da nossa sociedade foi erguido.
Cinquenta anos depois, a revolução ressoa,
A memória da luta, jamais será apagada,
Nos versos do tempo, a história ecoa,
Hoje, o povo recorda e celebra a jornada.
Que o futuro seja construído com amor,
Em cada dia haja um novo amanhecer,
A esperança seja sempre o esplendor,
E que os cravos continuem a florescer.
domingo, 25 de fevereiro de 2024
IGUALDADE… ENTRE O QUE É IGUAL
IGUALDADE…
ENTRE O QUE É IGUAL
FLeming de OLiveira
Os
direitos fundamentais são princípios básicos, reconhecidos pelo Direito
português, europeu e internacional, com vista à defesa dos valores e interesses
mais relevantes que assistem a pessoas singulares e coletivas,
independentemente da sua nacionalidade, sem exclusão dos apátridas.
O Estado Português, 50 anos depois do 25 de abril, tem a absoluta
obrigação de respeitar os direitos fundamentais, de tomar medidas para os
concretizar, seja através de leis, práticas administrativas e o exercício do
poder judicial. Estão obrigadas a respeitá-los tanto as entidades privadas como
as públicas, tanto os indivíduos quanto as pessoas coletivas.
À luz da nossa Constituição (1976), existem duas grandes categorias
de direitos fundamentais; os “direitos, liberdades e garantias”, e os “direitos
e deveres económicos, sociais e culturais”.
No respeitante aos primeiros, destacam-se o direito à
liberdade, à segurança, à integridade física e moral, à propriedade privada, à
participação política, à liberdade de expressão, à participação na
administração da justiça, que correspondem ao núcleo fundamental da vivência
numa sociedade democrática e de direito. Os direitos económicos, sociais e
culturais, como por exemplo, o direito ao trabalho, à habitação, à segurança
social, ao ambiente, enfim à qualidade de vida, são por vezes, de aplicação
diferida.
Porquê? Dependem da alegada ocorrência de condições sociais,
económicas ou políticas, sendo que a sua não concretização não atribui ao
cidadão, em princípio, o poder de obrigar o Estado ou terceiros a agir, nem lhe
confere o direito de ser efetivamente indemnizado por essa falta.
O princípio da igualdade, consagrado
na nossa CRP é estruturante do Estado de Direito e implica que se dê tratamento
igual ao que for essencialmente igual, e que se trate diferentemente o que for
essencialmente diferente. Os Portugueses, hoje em dia, protestam muito,
seguramente com razão, invocando o direito/dever a serem tratados com justiça e
sem descriminações. São os agricultores, os agentes de autoridade, os utentes e
servidores do Serviço Nacional e Saúde, os professores e tantos mais que este espaço
seria pequeno para os referir.
Na verdade, o princípio da igualdade, entendido como
limite objetivo da discricionariedade (legislativa e/ou governativa), não veda
a adoção de medidas que estabeleçam distinções. Todavia, proíbe as que que
estabeleçam desigualdades de tratamento materialmente não fundadas ou sem fundamentação
razoável, objetiva e racional. O princípio da igualdade, enquanto princípio
vinculativo, traduz-se numa ideia geral de proibição do arbítrio, da
discricionariedade.
A CRP, ao submeter os actos do poder legislativo e
executivo à observância do princípio da igualdade, pode implicar a proibição de
sistemas legais internamente incongruentes, integrantes de soluções normativas
entre si, desarmónicas ou incoerentes. O carácter incongruente das escolhas do
legislador e/ou governante, no entanto repercute-se na conformação desigual de
situações jurídico-subjetivas, sem que para a aferição da desigualdade seja achada
uma determinada razão. Em termos de constitucionalidade, setor onde nunca foi
propriamente especialista, mas por força da atividade profissional tive de
estudar, cumpre desde logo assegurar que, os normativos se mostrem racionais
pelo conteúdo, impeçam disciplinas jurídicas que diferenciem pessoas e
situações que mereçam tratamento igual ou, dito inversamente, que igualizem
pessoas e situações que mereçam tratamento diferente. Só quando se concluir que
a diferença, ou a igualização, entre pessoas e situações que o regime legal
estabeleceu não é justificada por motivo que se afigure compreensível face “a
ratio” que ele pretendeu prosseguir, é que se pode censurar, por falta de razoabilidade,
as escolhas do legislador ou do governante. Fora destas circunstâncias, e,
nomeadamente, sempre que estiver em causa a mera verificação de uma menor
racionalidade/razoabilidade ou congruência de um sistema, que se não repercuta
no trato diverso de posições jurídico-subjetivas, não se podem emitir juízos
definitivos. Nem através do princípio da igualdade, nem através do princípio
mais vasto do Estado de Direito, o qual em última análise sustenta a ideia de
igualdade perante a lei e através da lei, se pode garantir que sejam
congruentes (ou não) as escolhas do legislador ou/e do governante.
O que os princípios proíbem inequivocamente, é a
subsistência de regimes legais que impliquem para as pessoas, diversidade de
tratamento não fundado em motivos razoáveis. Sei bem que é mais difícil
assegurar a bondade destas asserções, que a sua concretização.
Uma animosa manifestante que não
recusa a rua, disse-me recentemente sem acrimónia, mas com ostensiva condescendência,
que falo como um doutor da velha “Escola de Coimbra”, que tudo isto é teoria,
que careço de competência ou habilidade para governar (o que não refuto), que a
sua a contestação, é equacionadas em termos realistas e imediatos, pois vida há
só uma, e as oportunidades não se repetem.
Caros leitores, peço que me ajudem a responder-lhe
de forma consistente e, eventualmente, voltar aqui com considerações mais
práticas e percetíveis.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
EVOCANDO ARTUR JORGE E ALGUNS FACTOS DA “BRIOSA”
EVOCANDO ARTUR JORGE
E
ALGUNS FACTOS DA “BRIOSA”
FLeming
de OLiveira
Embora não seja um grande aficionado do futebol, fiquei
incomodado com o falecimento (embora não imprevisto), aos 78 anos de Artur
Jorge (Braga de Melo Teixeira). Tal como eu nascido no Porto, e quase da mesma idade,
brincamos jogando bola de trapos, saltando ao eixo ou lançando o peão.
Como jogador
de futebol a sério, foi avançado e começou a carreira no FC Porto, antes de
rumar à Académica de Coimbra, onde estudou na década de 1960 e com quem privei
regularmente, embora ele fosse aluno na Faculdade Letras. Ao tempo os jogadores
da AAC eram estudantes, na maioria universitários. Encontrávamo-nos no Café Mandarim
(na Praça da República) e por vezes nos copos, no que era comedido por natureza
e razões desportivas, muitas vezes com a companhia do Toni.
Foi na
Académica que começou a afirmar-se como um dos melhores avançados do campeonato
(creio que aí o seu estatuto era semi profissional), o que confirmou como
profissional no Benfica, onde jogava o Eusébio, somando golos e troféus. Quando o Benfica jogava em
Coimbra, Artur Jorge era recebido com carinho, sem azedume e, raramente, com
assobios.
Quando
arrumou as chuteiras, iniciou a carreira de treinador no Belenenses, depois no
Portimonense, antes de assumir, com Pinto da Costa na presidência, o comando
técnico do FC Porto. Em 1986/1987 viveu o momento alto da carreira, ao
conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus em Viena de Áustria, com um
memorável triunfo por 2-1 sobre o Bayern, de Munique e o golo de calcanhar do
Madjer.
Rumou depois
a França, para orientar um Paris Saint-Germain, menos conhecido do que
atualmente. E guiou os parisienses à conquista da Taça de França e, depois, ao
que ao tempo foi o segundo título de sempre como campeões francês. Por essa
altura, em virtude do sucesso, já muitos lhe tinham dado o cognome de Rei Artur.
A partir
daqui só nos encontramos uma ou duas vezes, sendo a última em 2004 em
Gelsenirchen, por acaso e à entrada do estádio.
O falecimento de Artur Jorge leva-me a trazer algumas
evocações.
No dia 25 de Junho, de 1939 a Académica conseguiu a maior
conquista desportiva da sua História (até então), ao ganhar a primeira Taça de
Portugal, competição que substituiu o denominado Campeonato de Portugal. Depois
de eliminar o Covilhã, o Académico do Porto e o Sporting, a Académica teve pela
frente, no jogo decisivo, o Benfica. Perante cerca de 30 mil espectadores, no
Campo das Salésias, a Académica venceu os lisboetas por 4-3. Os festejos
duraram dias e Coimbra recebeu em êxtase os seus heróis. Foi nesta altura que
se tornou famoso o grito de vitória dos adeptos da Académica: “São
horas de emalar a trouxa/ Boa noite, Tia Maria./ Que a Briosa ganhava a Taça,/
Obrigado! Já cá se sabia!”.[
No
verão de 1961 um jogador da Académica protagonizou a primeira grande
transferência de um futebolista português para o estrangeiro. Jorge Humberto, estudante de Medicina,
transferiu-se para o poderoso e famoso Inter de Milão.
No campeonato de 1966 /1967 a Briosa terminou na segunda
posição atrás do Benfica, naquele que foi um intenso duelo e que durou até
final e acompanhei de perto. Três pontos separaram as duas equipas no final do
campeonato, que coroou Artur Jorge como
segundo melhor marcador da competição, apenas ultrapassado por Eusébio.
Em 1969, a Académica atingiu a final
da Taça de Portugal. O jogo decorria com superioridade da Académica que chegou
a estar em vantagem, mas o Benfica deu a volta ao resultado no prolongamento. O
encontro entre a Académica e o Benfica foi muito mais que um jogo de futebol. A
final da Taça de 1969 foi seguramente a mais politizada de todas que se
disputaram. A crise estudantil de 1969 estava ao rubro, a Académica estava
solidária com os estudantes e a Direção Geral da AAC aproveitou o jogo para dar
visibilidade às suas reivindicações. Foi a primeira vez que a final da Taça não
teve transmissão televisiva e nem o Presidente da
República, nem
o Ministro da Educação marcaram presença.
A 25 de maio de 2012, após um jejum de 73 anos, a Académica conquistou
a sua segunda Taça de Portugal com vitória frente ao
Sporting.
A
Associação Académica de Coimbra,
que atualmente joga na terceira divisão do futebol português, é herdeira da
Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra,
o que lhe vale o epíteto de "equipa dos estudantes", já que até à
década de 1970 a grande maioria dos jogadores eram universitários, como referi.
É hoje, na prática, um clube
independente em relação à casa-mãe, que de resto mantém uma secção amadora de
futebol que disputa as distritais, bem como modalidades, como basquetebol,
rugby, canoagem, natação, voleibol, ténis, ou andebol.
Como as equipas da casa-mãe, é
designada normalmente apenas como "Académica",
e carinhosamente de "Briosa",
alcunha que advém da entrega com que normalmente se batiam as suas equipas de
estudantes.
Um dos acontecimentos
mais importantes na década de 1920 foi o nascimento do símbolo que a Associação
Académica de Coimbra/AAC adotaria de forma definitiva. Após tentativas que não
foram do agrado, a Académica decidiu utilizar um novo símbolo, que contemplava
as iniciais “AAC”, numa partida
com o Sporting e cujo objetivo era “vingar” a derrota na final do Campeonato de
Portugal. Contudo, a Académica seria derrotada e as “culpas” foram atribuídas ao
novo emblema que, por isso, foi ostracizado. Na época 1927-1928, o estudante de
Medicina, Fernando Ferreira Pimentel, a pedido do dirigente Armando Sampaio,
desenhou o atual símbolo, que passou a ser usado e se mantém.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Rui Rasquilho – narrativa curricular parcial-
Rui Rasquilho
– narrativa curricular parcial-
Esta
coisa dos currículos faz parte da curiosidade de quem tem o desejo,
evidentemente legítimo, de saber quem somos. Trata-se de saber da nossa
carreira, do nosso percurso.
Mas
como currículo, no dicionário, também pode ser ‘caminho’, ‘atalho’ ou até
‘desvio na estrada’, aqui está a estrada!
Não
vou seguir a cronologia habitual, porque ela se processa num quadro árido.
Escolhi acontecimentos, alguns com datas, outros sem elas, uma narrativa
necessariamente incompleta, aliás até podia ser outra.
As
reflexões com que termino fazem parte do meu olhar sobre o lado sombrio da
estrada.
Como
muitos, depois de nascer batizaram-me. A curiosidade deste acontecimento é a de
ter sido diretor, entre 2005 e 2008, do Mosteiro de Alcobaça, o mesmo onde na
Sala dos Reis me derramaram a água benta dizendo chamar-me Rui. Esta situação
aconteceu, segundo a minha mãe, num dia de sol, a 4 de julho de 1945, quatro
meses e um dia depois de haver visto a luz em Lisboa na Maternidade Alfredo da
Costa. Abria-se a estrada literalmente falando. Teve graça coincidir o batizado
e a reforma no mosteiro que foi de Cister. Imparáveis coincidências.
Posto
isto, a vida deslizou, na escola, no liceu e no começo da universidade. Nunca
no mesmo sítio. Estava a cumprir o serviço militar obrigatório quando o Salazar
cai da cadeira, e aí casei-me. Foi no dia 14 de setembro de 1968 com a Maria
Manuel, a Manezinho como carinhosamente lhe chamava o meu pai e eu Né, em
Lisboa após cinco anos de namorico. Com 17anos fui presidente do Interact Club.
Hoje sou sócio honorário do Rotary Club de Alcobaça.
O
nosso filho nasceu no Uíge, em zona de guerra. Tem hoje 52 anos e fez na
barriga da mãe milhares de quilómetros, num louco passeio de carro entre o
norte de Angola e o centro de Moçambique, quase sempre por asfalto, de Carmona,
no Uíge, até à beira do Zambeze, em Tete. O regresso foi feito por outras
estradas, descndo pelo Parque Nacional da Gorongosa.
O
Deserto da Namíbia, o Cabo da Boa Esperança, as Quedas Vitória, a Swazilândia,
as explorações de diamantes em Kimberley foram referências num bárbaro mundo
onde o apartheid sul-africano nos tolheu a paisagem. Tal como em Moçambique,
embora aí fosse mais subtil.
Em
1971 a guerra colonial ficara para trás, voltámos a Portugal, terminámos, eu e
a Né, os cursos interrompidos pela guerra, eu História e ela Farmácia. Deu-se o
25 de Abril, e a partir daí tudo se passou mais velozmente, avançámos então
pela estrada da docência.
O
património associativo, a ADEPA 1978 e o VIII centenário do mosteiro
cisterciense de Alcobaça, o primeiro Congresso Internacional para a Defesa do
Património foram o desafio seguinte. Em 1979 o primeiro livro, obviamente sobre
o Mosteiro e o seu território. Logo depois a construção dos primeiros cursos
sobre o Património Cultural, na Faculdade de Letras, para professores do ensino
secundário. Dos que o fizeram morreram todos, só falto eu. Mas estou seguro de
que lá chegarei saudável.
Hoje
há ensino universitário nesta área em todo o país.
Em
Fevereiro de 1980 iniciou-se, sob a minha presidência, a Campanha Nacional da
Defesa do Património. Eu, o Pedro Canavarro e o Jorge Custódio a corrermos o
país, a reunir com as autarquias, a conversar e entregar documentação
internacional. Sob o lema “O Património é a memória de um povo, proteja-o”,
podia ler-se nos jardins dos municípios.
Viajámos,
acho que milhares de quilómetros, no Mercedes 240d que acabara de herdar por
morte do meu sogro, médico e antigo presidente da Câmara de Porto de Mós, um
liberal antes do tempo.
No
segundo canal passou em vários episódios o programa “Património, o que é?”.
Está disponível no site da RTP. Também neste ano fui Deputado Municipal de
Alcobaça, liderando aí o grupo do PS.
A
Faculdade de Pedagogia da Universidade de Lisboa fora criada na década
anterior. Se tem durado a comissão instaladora, eu e o Adragão, linguista da
FLUC, teríamos ido para os EUA doutorar-nos em Educação. A realizar-se tal
facto, a minha narrativa curricular era outra. O presidente, o Prof. Quadrado,
já nos deixou, tal como o Dr. Adragão. O Eng. Lopes da Silva, outro dos três
vogais, está de boa saúde. Professor catedrático do IST, andou depois da
campanha a semear universidades país além.
No
final de oitenta, surge a XVII Exposição do Conselho da Europa, os
Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento. Fui Comissário Técnico
para a imprensa e escolas. Milhares de alunos, até ao encerramento em 1983,
vieram de todo o país. Hoje muitos já são avós com estrada própria. Tenho um
amigo em Alcobaça que foi guia desses jovens, o Dr. Jorge Prata, professor do
Agrupamento de Escolas de Cister.
No
final, o Presidente Ramalho Eanes condecorou cinco comissários, liderados pelo
Dr. Pedro Canavarro, coadjuvado pelo Dr. João Bettencourt. Coube-me a Ordem de Benemerência
no grau de Comendador.
Em
29 de Março de 1983, fui membro fundador e Presidente da Mesa da
Assembleia-Geral da Comissão Nacional Portuguesa do ICOMOS, organismo
consultivo da UNESCO para o Património Mundial Cultural.
Depois
de 1984, terminada a XVII, vou trabalhar, eu e a Maria Manuel, em Marrocos e no
Brasil durante quase vinte anos, nas embaixadas de Rabat e Brasília. O Rui
filho frequentou a escola americana e depois, no Minnesota, o Macalester
College, onde se licenciou em Ciências Políticas e Antropologia. Em 1995 já
estávamos no Brasil, onde comecei a escrever sobretudo poesia e a publicar
versos. As conferências intensificaram-se.
Representar
o país como Adido, primeiro em Marrocos, e Conselheiro Cultural, depois em
Brasília, foi uma responsabilidade esplêndida. Participar na organização de
espetáculos de Música, Teatro, Cinema, colóquios de escritores, congressos,
bolsas de estudo, e colaborar em projetos de cooperação internacional foi muito
estimulante. Um mundo de contactos com colegas estrangeiros, portugueses da
diáspora e autoridades locais foi um exercício funcional e uma gratificante
experiência sem fim.
Começámos
a vida no exterior em Marrocos, num país árabe. Fui Adido Cultural junto da
embaixada em Rabat, e lembro o Embaixador Lopes Vieira, já no fim de carreira,
que nos tratou como filhos e nos proporcionou uma bela integração no espaço
diplomático. As universidades foram o campo fértil de trabalho.
Eu
e a minha “ajudante”, Maria Manuel, montámos exposições em praticamente todas
as Faculdades de Letras das universidades marroquinas. Normalmente, expúnhamos
os preciosos painéis da Comissão dos Descobrimentos e depois eu falava para
auditórios cheios sobre a Pátria marítima.
Um
dia, em Oujda, cidade na fronteira com a Argélia, após falar de Portugal nos
séculos XV e XVI no Magrebe, fui convidado por um grupo integrista de
estudantes para me converter ao Islão, por via de se ouvir o meu respeito pelo
“outro”. Lá me safei, e a Maria Manuel continuou de cabelo ao vento.
Mário
Soares, em visita a Marrocos, era membro da Academia Real, fez-me Oficial do
Infante D. Henrique em 1990. A Gulbenkian restaurou a Torre de Arzila e o Mário
Soares, o José Blanco e o Ministro da Cultura marroquino, Benaissa, lá
estiveram a participar na inauguração dos trabalhos. Escrevi então um texto
memória alusivo ao acontecimento, meteu-se o papel num canudo metálico que foi
selado na muralha e esqueci-me de guardar uma cópia! Daqui a uns séculos
veremos o que foi escrito. Ainda em Rabat, o rei Mohamed V concedeu-me em 1993
o Ouissam Alaouita no grau de Comendador.
No
âmbito das relações bilaterais foi muito importante a criação, em Maio de 1994,
do Gabinete de Salvaguarda do Património em Mazagão, tendo Portugal contribuído
generosamente para o seu equipamento. Eu e o arqueólogo Cláudio Torres tivemos
intervenção direta.
Escrevi
muitos artigos, participei de muita atividade de aproximação cultural, chegando
a ajudar na preparação, em Lisboa, da Semana Cultural de Marrocos em Portugal,
a pedido de Rabat, situação rara e reconfortante.
Em
2002 voltámos para Portugal vindos do Brasil, e o Rui, que estava em Timor,
regressou em data próxima. Acabámos a casa de Aljubarrota, os meus pais
morreram, os dela já haviam cumprido o seu tempo também.
No
regresso do Brasil demos mais umas aulas, a nossa profissão de origem era o
Ensino. Eu ainda fui três anos Diretor do Mosteiro de Alcobaça onde continuei a
lutar pelo meu projeto, que começara em 1978, de conservação integrada do
Claustro do Rachadouro do mosteiro. No jantar de despedida, que decorreu na
Sala dos Monges, o Município atribuiu-me a sua Medalha de Homenagem.
A
19 de Novembro de 2022 abre o Hotel Montebelo no mosteiro, o meu sonho
permanente de quatro décadas e o cumprimento de um desejo “profissional”. O
Marcelo Presidente, o seu colega Nyusi, de Moçambique, um representante de
António Costa e umas centenas de pessoas festejaram com um jantar na antiga
sala da Biblioteca. Claro que eu estive lá. Era só o que faltava não estar. O
atual Cardeal, Américo Aguiar, abençoou a obra.
Continuei
a escrever livros, sobre Cister e de poesia, a fazer conferências, e continuo a
festejar a reforma há 18 anos. Dou aulas na Universidade Sénior de Alcobaça,
sou vogal do Museu do Vinho de Alcobaça e fui presidente do Conselho Geral da
Escola Secundária Inês de Castro, primeiro, e, depois, do Agrupamento de
Escolas de Cister. Daqui a um ano completo 80 anos de “vida airada”, e a Né
menos um.
A
propósito de viagens, lembro mais duas. Em Marrocos, no início da década de 90,
descemos de Tanger para Rabat no lento comboio real. Acompanhávamos Mário
Soares que vinha a Marrocos para participar na reunião da Academia Real. A
convite do príncipe herdeiro, atual Mohamed VI, almoçámos durante a viagem,
numa mesa longa e conversadora. Participaram o encarregado de negócios da
embaixada, Rui Félix Alves, e a mulher, dois conselheiros do palácio, o Dr.
Mário Soares e obviamente o anfitrião. Se participou mais alguém, não me
recordo, mas a viagem foi bem interessante.
Outra
viagem, inesperada e insólita, foi também com Mário Soares, que foi ao Brasil
para receber o grau Honoris Causa, dessa vez em Manaus. Viajámos eu, na
qualidade de conselheiro cultural, a Maria Helena Neves, número dois da
delegação da União Europeia em Brasília, e, claro está, o Dr. Soares.
Viajámos
no Boeing presidencial que ia ao norte cumprir horas de treino. Fernando
Henrique ofereceu transporte ao seu amigo Mário e aí fomos os três e a
tripulação. Durante quase três horas voámos no grande palácio voador conversando
e bebendo sumos – no avião do presidente não há álcool – até à cidade das
seringueiras.
A
cerimónia académica realizou-se no Teatro da Paz, em Manaus na Amazónia. Teatro
de Ópera luxuoso construído no meio da floresta, no século XIX, pelos abastados
produtores de borracha. Regressámos a Brasília num vulgar voo comercial três ou
quatro dias depois.
Durão
Barroso transferiu-me para o Brasil, onde nasceu a nossa neta Catarina, em
2000. Por isso, em 1994, atravessámos o Atlântico a caminho de outro posto. Fui
Conselheiro Cultural junto da embaixada em Brasília até 2003.
Aí
o Instituto Camões nomeou-me Diretor para o Brasil. As instalações são de alta
qualidade. Um auditório polivalente com piano de cauda, salas de exposições e
um espaço de convívio, o Café Camões, que criei com paixão. Nunca nos faltou
público, nem nos colóquios, nem nas mostras, nem nas conferências, nem nos
lançamentos de livros e serões de poesia.
Durante
quase uma década percorri o Brasil trabalhando quer nas universidades quer
junto das importantes associações culturais portuguesas, muitas delas tendo-me
titulado Sócio Honorário, cujos diplomas guardo com orgulho. Refira-se que
alguns deles são de grande beleza gráfica.
O
ponto mais alto dos meus quase dez anos no Brasil foram as Comemorações dos 500
anos da Viagem de Cabral, nas quais fui o representante do Governo Português.
Falando de tempo, a minha neta Catarina nasceu a 9 de Maio de 2000.
Os
espectáculos animados sobre o Padre António Vieira, que chegaram a Portugal,
foram um êxito. O jesuíta padre Aleixo lia uma conferência sobre Vieira e eu,
com a voz de português, e o embaixador Lauro Moreira, com a voz de brasileiro,
habitualmente colocados em púlpitos frontais, líamos excertos dos sermões,
incidindo alguns deles sobre a vergonha da escravatura de índios e negros.
A
convite de autoridades académicas argentinas, Universidade do Nordeste, falei,
pasme-se, para mais de mil professores no Domo de Resistência no Chaco. Falei,
em castelhano, cerca de uma hora sobre o Ensino em Portugal após o 25 de Abril,
com tradução feita pelo meu colega da Embaixada Argentina em Brasília.
Já
em Lisboa, em 2003, fui condecorado pelo Governo Brasileiro de Lula com a Ordem
de Mérito Educativo do Brasil no grau de Grande Oficial. As insígnias foram--me
entregues na Embaixada em Lisboa pelo Ministro da Educação do Brasil. Vários
estados e organizações atribuíram-me láureas e condecorações. Refiro apenas as
comendas da Ordem de Mérito Cultural do Distrito Federal e a de Mérito de
Brasília. Também vários Clubes Rotários brasileiros me distinguiram.
Ingressei
no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal como Sócio Efectivo –
cadeira n.º 16 – e Correspondente do Instituto Geográfico e Genealógico de
Sorocaba, do Instituto Geográfico e Histórico de Salvador, e ainda da Academia
Brasileira de Ciências, Artes e Letras de São Paulo. Nessa época abri a
delegação do ICA em São Paulo em colaboração com a Casa de Portugal.
“O
senhor Conselheiro quer tomar um cafezinho?” Eu tomava, mas não via como na
pequena avioneta poderia fazê-lo. Voávamos sobre o Pantanal por convite do
Governador do Estado, um território lindíssimo e imenso. “Eu tomava...” Então
não é que aterrámos numa pequena unidade hoteleira para a nossa bica?
A
viagem de ida terminou em Bonito. O Prefeito levou-nos a almoçar no restaurante
de um jovem casal de Cascais, acabado de chegar para mudança de vida. À noite
fiz uma conferência no espaço português da cidade de Campo Grande, sobre as
nossas andanças no mar no século XVI.
No
quadro das Comemorações da Viagem de Cabral falei, para além do Brasil, em
universidades canadianas, argentinas e chilenas.
Para
currículo ilustrado já chega.
Está-se
bem em Aljubarrota no meio do nosso pinhal de árvores mansas, a produzir
pinhões ainda este ano. Entretanto, espero nos próximos dez anos continuar a
dar aulas na USALCOA, Universidade Sénior de Alcobaça. A Catarina e o marido,
Diogo, que vivem em Londres, visitam-nos todos os anos.
Pensei
vários dias em ficar por aqui mas, e embora saiba que para nada serve, quero
lembrar três grandes conflitos em curso. O Sudão, Gaza e a Ucrânia. Virão mais,
é a nossa forma. Precisamos desesperadamente dos mortos para dar sentido à
vida.
Nota: A 3 de Dezembro há
notícia de milhares de mortos no sul de Gaza. Os russos estão a recuperar
território, os mortos atingem números impensáveis no Sudão, além da guerra é a
fome que trucida o povo.
Para
terminar este alinhavo de vida não resisto a citar uma reflexão do general
William Sherman, que a 19 de Junho de 1879, na Academia Militar do Michigan,
dizia: “Estou cansado e farto da guerra. A glória da guerra não é senão uma
quimera. A guerra é o inferno.”