segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 

 

VALEU A PENA

 

LEONEL FADIGAS

 

 

Há uns tempos atrás um amigo meu perguntou-me se o 25 de abril tinha valido a pena. Respondi-lhe, então, que, para mim, que já tenho idade para ter memória, tinha valido a pena. E não apenas para mim e a minha geração, mas essencialmente, para as gerações mais novas, para os que já tendo nascido depois da revolução, podem hoje viver numa sociedade, aberta, com melhores condições de vida, mais educação, mais saúde, mais esperança de vida, mais oportunidades de realização pessoal. Sem terem de suportar um regime autocrático, castrador, bafiento e que oferecia, à maior parte dos jovens, a certeza de um serviço militar que os conduzia à guerra em África. As mulheres essas, viviam com menos direitos que os homens, menos oportunidades de trabalho, carregando sacrifícios que a moral e os costumes lhes impunham. As professoras e as enfermeiras, por exemplo, necessitavam da autorização do governo para se casarem e da autorização dos maridos para ter passaporte e sair do país. Muitas delas, no entanto, saíram do país, clandestinamente, com os maridos, ou para se lhes juntarem, para conseguir ter, com muito sacrifício e trabalho, para lá dos Pirenéus, a vida digna que Portugal lhes negava.

Quase 50 anos depois do 25 de abril de 1974 muitos dos sonhos ainda estão por cumprir, muito falta fazer para Portugal seja melhor para os portugueses. Mas poder dizer isto que acabo de escrever sem correr o risco de ter a polícia política à porta e a ameaça da prisão como castigo, já é uma razão para o 25 de abril ter valido a pena.

Mas o 25 de abril foi mais do que isto. Foi um mudar de tempo, um abrir de página para uma realidade nova e o fecho de um ciclo histórico de séculos. A guerra de África, que marcou os últimos treze anos do Estado Novo, foi o culminar de um processo de redução de Portugal à sua dimensão europeia. Um processo que se tinha iniciado nos finais do século XVI, com a perda progressiva de terras e possessões no Oriente. A independência das colónias, consequência direta e um dos fatores que contribuíram para a eclosão da revolução de 25 de abril de 1974, representou um momento de rutura que teve consequências políticas e sociais que se prolongaram por décadas. A descolonização pôs fim às guerras que Portugal mantinha em África e obrigou Portugal a voltar-se para o espaço europeu que sempre lhe fora estranho. País de beira-mar, de costas voltadas para uma Espanha com quem as relações eram de desconfiança, Portugal viveu séculos para um espaço que tinha o Atlântico como suporte e o Índico como continuidade. Agora, era uma nova geografia a descobrir, novas rotas a percorrer, novas relações a estabelecer e a reforçar. Sem o 25 de abril, isto não teria acontecido; mas o processo histórico da descolonização, que os países europeus assumiram e aceitaram como uma inevitabilidade decorrente da II Guerra Mundial, não se estancaria nas fronteiras das colónias portuguesas. Era uma questão de tempo, como foi. Também por isto, por ter feito com que Portugal se reencontrasse com a contemporaneidade que a história trazia consigo, e a que o Estado Novo fechava as portas, o 25 de abril valeu a pena. Com ele chegou uma sopro nova de energia, que gerou convulsões, turbulência, desânimo e esperanças desmedidas, mas também oportunidades.

A acalmação que se seguiu aos tempos tumultuosos de agitação política e social foi, aos poucos, mudando o país; nas pequenas aldeias e nas grandes cidades. Com novas infraestruturas, água, saneamento, até eletricidade, nas terras aonde o progresso ainda não tinha chegado. E, por isso, tanta gente delas emigrou. Mas também onde aparentemente havia tudo, mas quase tudo faltava. Quase 50 anos depois, quem, como eu, viveu este período com entusiasmo, alegria, mas também com ansiedade, contenção e um saudável olhar crítico sobre as coisas que poderiam ter corrido melhor, os erros cometidos e as promessas por cumprir, pode, mesmo assim, dizer que valeu a pena.

O 25 de abril valeu a pena porque nos permitiu viver este quase meio século num regime político aberto onde a diversidade da sociedade que somos se exprime e se organiza numa separação de poderes que garante a liberdade, a democracia e a convivência social dos grupos e dos interesses diversos existentes. Ou seja, um governo resultante da expressão livre da vontade dos cidadãos, iguais no direito de exprimir as suas opiniões e convicções políticas e de, através do voto, dar-lhes um sentido prático de escolha das políticas que esse mesmo governo concretizar. Mas, sob o controlo e a fiscalização de um parlamento plural que a todos representa, da opinião pública que a comunicação social livremente expressa e dos tribunais que, com independência, garantem a legalidade dos atos praticados. 

 Poder-se-á dizer que isto é pouco. E é. A liberdade que tudo isso representa é essencial e imprescindível numa sociedade que se queira plural e diversa, mas socialmente coesa e solidária. Mas não chega. A isto há que acrescentar os direitos sociais, sem os quais os direitos cívicos perdem valor e substância. A habitação, a saúde, a educação, o emprego e o envelhecer com dignidade são também direitos fundamentais que o 25 de abril permitiu e impõe que se façam cumprir.

Lutar por estes direitos é continuar o legado do 25 de abril. Mais uma razão para ter valido a pena.

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 26 de novembro de 2023

AQUELE DIA 25

 

Afonso Delgado Luís

(bancário reformado)


Abril de 1974. Naquele dia 25, pela madrugada, bem cedinho, o telefone tocou. Apressei-me a atender, e do outro lado do fio o meu saudoso amigo António Santana dispara:

- Afonso, é hoje o grande dia de que nos falava o nosso amigo Xavier.

Balbuciei um…”Quê?” e o Santana conclui:

 - Ligue o Rádio Clube Português e já vai perceber…

O Xavier era um colega de trabalho que havia deixado o serviço militar, geralmente bem informado nesta matéria, e que nos garantia que fervilhava um movimento na tropa, tendente a pôr fim ao regime que nos oprimia. Não fomos trabalhar, já se vê, e passámos a manhã em conjunto: eu, o Santana, outro colega do Banco, o Pimenta, e o jornalista de O Século, Joaquim Benite (já falecido) grande entusiasta de Teatro, que viria a fundar uma importante Companhia desta arte em Almada. Fomos discorrendo sobre o que se estava a passar. Se a revolução tivesse êxito, teríamos a liberdade que existia por toda essa Europa não comunista, terminaria a guerra nas colónias, haveria eleições livres, enfim, seríamos finalmente cidadãos de corpo inteiro. Aonde tudo isto nos levava!... Mas era fundamental que o Movimento dos Capitães triunfasse, e por isso ouvíamos avidamente todos os comunicados do Movimento transmitidos pela rádio. Pela tarde, o Santana, que além de grande amigo era o meu diretor no Banco onde trabalhava, faz-me esta pergunta: “Ó Afonso, você já pensou em… (e nomeou um meu familiar muito querido, comprometido com o regime que se estava a esboroar). Só pude responder: “Claro que não deixo de pensar nele. Mas por agora, quero saborear esta alegria. Ainda é cedo, mais logo vou preocupar-me com isso… Depois telefono-lhe a dar notícias.”

O Movimento dos Capitães triunfou! Foi Portugal que triunfou! Virou-se uma página negra das nossas vidas. No dia seguinte, 26 de Abril, um soldado ofereceu-me um cravo vermelho. As pétalas desse cravo… tenho-as ainda guardadas numa caixinha, como recordação inestimável, como símbolo de Liberdade!

Reflexão sobre o 25 de abril

João Neto Miguel

(advogado reformado)


No dia 25 de abril de 1974, Portugal testemunhou um dos momentos mais marcantes da sua história: a Revolução dos Cravos. Esse acontecimento histórico pôs fim a quase cinco décadas de uma ditadura opressiva e teve um impacto profundo em todos os aspetos da sociedade portuguesa, nomeadamente nos jovens do sexo masculino, no fim da Guerra Colonial, na restauração da liberdade, no retorno dos refugiados e na restituição à liberdade dos presos políticos, no desenvolvimento socioeconómico e cultural e no reconhecimento e respeito dos direitos das mulheres.

Para a geração de jovens portugueses, do sexo masculino da época, traduziu-se no fim da obrigação de servir nas forças armadas e de participar numa Guerra Colonial injusta que ceifou muitas vidas humanas. Esta guerra absurda travada em várias colónias africanas, foi uma das consequências mais sombrias do regime ditatorial liderado por Salazar e, posteriormente, por Marcelo Caetano e estava completamente desenquadrada e ultrapassada pela autodeterminação e independência que as grandes potências colonizadoras tinham concedido às suas ex-colónias no início da década de 60. A revolução de 25 de Abril trouxe consigo a esperança de encerrar esse conflito sangrento. Com a mudança de regime, Portugal finalmente reconheceu a ilegitimidade da guerra, começou a negociar a independência das colónias. Esse processo, embora doloroso e complexo, eventualmente culminou na independência de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. O 25 de Abril marcou o fim dessa guerra impopular e abriu caminho para a reconciliação com as antigas colónias.

Após esta revolução, milhares de portugueses que haviam fugido do país devido à repressão política puderam retornar. Os presos políticos foram libertados, e aqueles que se encontravam exilados, puderam finalmente regressar ao seu país. Isso não representou apenas um ato de justiça, mas também contribuiu para a reconstrução de uma nação em busca de liberdade, unidade e reconciliação.

A falta de liberdade que prevaleceu durante o regime ditatorial também foi combatida pela Revolução dos Cravos. Os portugueses não podiam expressar livremente as suas opiniões, enfrentando a censura e a perseguição por parte do Estado através da intervenção da sua Polícia Política (PIDE). O 25 de Abril trouxe consigo a restauração da liberdade de expressão, de reunião e a garantia da salvaguarda dos direitos individuais e coletivos. Os cidadãos portugueses finalmente puderam participar ativamente na vida política do país, moldando-o de acordo com suas aspirações e valores expressando as diferentes sensibilidades e ideias político e ideológicas, concorrendo às eleições através da sua organização em Partidos Políticos, passando a poder escolher livremente os seus representantes nos vários órgãos de poder central e local.

O atraso sócio económico e cultural que caracterizou o período anterior ao 25 de Abril também foi desafiado. O regime ditatorial deixou o país atrasado em comparação com seus vizinhos europeus. A revolução permitiu um ponto de viragem para Portugal, impulsionando o progresso e a modernização. O país embarcou em reformas importantes e preenchendo os requisitos de país livre e democrático, mais tarde veio a constituir-se como membro da União Europeia, experimentando uma melhoria significativo na qualidade de vida de seus cidadãos.

Além disso, a Revolução dos Cravos teve implicações profundas para os direitos das mulheres em Portugal. Antes do 25 de Abril, as mulheres enfrentavam discriminação generalizada e tinham um papel social limitado. A revolução desencadeou uma mudança significativa nesse sentido, promovendo a igualdade de género e garantindo o acesso das mulheres a oportunidades de educação e trabalho.

Em resumo, o 25 de Abril de 1974 é uma data que merece ser celebrada como um marco na história de Portugal. A revolução proporcionou aos jovens a oportunidade de não se sujeitarem à Guerra Colonial, restaurou as liberdades individuais e coletivas expressas na Constituição da República Portuguesa, permitiu o regresso dos refugiados e a libertação dos presos políticos, impulsionou o desenvolvimento socioeconómico e cultural do país e promoveu os direitos das mulheres. Passados cerca de 50 anos, o legado desta revolução ainda ressoa e serve como um lembrete da capacidade do povo de unir-se para superar desafios em busca da justiça, igualdade e paz social. No entanto ainda há um longo caminho a percorrer para que os cidadãos vivam uma Democracia plena, justa e séria e sejam devidamente respeitados nos critérios de igualdade e justiça social pelos seus representantes nos vários órgãos do Poder Central e Local.

AS GRAVURAS NÃO SABEM NADAR

Fleming de Oliveira

1995 foi o ano em que a luta pela preservação das gravuras do Vale do Côa levou a melhor sobre a construção de uma barragem da EDP, pese embora há muito conhecidas pelas pessoas da região, sobretudo os pastores ou os moleiros que trabalhavam nas margens do rio.  As gravuras do Vale do Côa, foram identificadas pela primeira vez em 1991, pelo arqueólogo Nelson Rebanda, que acompanhava a construção da barragem do Côa. Tornada pública em 1994, a descoberta provocou forte discussão académica e popular pois, a construção da barragem, provocaria a submersão da área.

Foz Côa fez manchetes do “Expresso”, exemplares que fui reencontrar no meu arquivo, agora em profunda reestruturação. A primeira, ocorrida em fevereiro, assinalava que o “Último relatório da UNESCO admite afundar Foz Côa”.

Nas ruas e não só, crescia um movimento contra a barragem, a favor das gravuras. Gritava-se que “as gravuras não sabem nadar”, num slogan a partir do grupo português “Black Company”, criador do que é considerado o primeiro êxito do hip-hop português, o tema “Nadar”.

Em abril escreveu-se “Foz Côa adiada sine die”. E duas semanas depois, Mário Soares, Presidente da República, declarou ao “Expresso” que “As obras devem parar”. Tendo em conta a opinião dos especialistas sobre a importância artística e científica das gravuras, o governo português decidiu abandonar a construção da barragem em 1996.

O assunto voltou à primeira página do “Expresso”, em junho, quando noticiou que EDP secará o Côa para os técnicos do IPPAR poderem estudar as gravuras, em agosto, quando se soube da descoberta de utensílios paleolíticos na zona, e em novembro, quando o novo Governo, encabeçado por António Guterres, realizou um mini Conselho de Ministros em Foz Côa de modo a justificar a decisão de trocar a construção da barragem pela criação do parque arqueológico.

Os sítios do Vale do Côa, constituem uma bastante rara concentração de arte rupestre, datadas do Paleolítico Superior  (22.000 –10. 000 a.C.), situada ao longo das margens do rio Côa. O Vale do Côa apresenta mais de 1.200 rochas, distribuídas por 20.000ha. com manifestações, em que predominam as gravuras paleolíticas.

Entre 2010 e finais de 2017, cerca de 19.000 pessoas visitaram o Parque Arqueológico do Vale do Côa e tendo em conta que, desde 2018, a Arte do Côa (que inclui o Museu e Parque Arqueológico do Vale do Côa) passou a integrar o “Itinerário Cultural do Conselho da Europa”, onde estão representados sítios tão relevantes como Lascaux, Chauvet, Niaux (França), Altamira (Espanha) ou Valcamónica (Itália), foi determinante para eu lá fazer uma visita, aliás não muito cómoda, por razões óbvias. Eu, que tenho acompanhado, doravante apenas à distância mas com interesse alguns desenvolvimentos do Vale do Côa, sugiro aos leitores uma visita na primavera ou verão.

No ano passado, arqueólogos puseram a descoberto a gravura de uma cabra montesa numa placa de xisto com cerca de “apenas” 12.000 anos, A placa  encontra-se queimada e, segundo um amigo amante destes assuntos que já lá se deslocou estudou o assunto e consultei, apresenta a representação dos quartos dianteiros do que parece ser uma pequena cabra montesa, que segue um animal de maiores dimensões, cuja cauda, curta e encurvada, sugere tratar-se de um veado ou de uma cerva, mas ao qual falta a cabeça, graças à fratura do suporte. Estas figuras exibem corpos muito geometrizados, são gravadas por incisão, e o seu interior encontra-se preenchido por linhas igualmente incisas, a que os arqueólogos e especialistas como o meu amigo chamam “preenchimento estriado”.

O Vale do Côa é o único local no mundo a apresentar manifestações artísticas de diversos momentos da Pré-História, Proto-história e da História, sendo o mais importante conjunto de arte paleolítica ao ar livre até hoje conhecido.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Sobre Fleming de Oliveira

 

 


 




Fernando José Ferreira Fleming de Oliveira, que assina Fleming de Oliveira, nasceu no Porto, em 22fev1945.

Licenciado pela Faculdade de Direito de Coimbra, em 15nov 1969, foi Subdelegado do Procurador da República no Porto e Delegado do Procurador da República em várias comarcas

Prestou serviço militar na Guiné, como operacional  (Alf. Mil. Infª.) e posteriormente no Quartel-General do CTIG/Bissau/Serviço de Justiça o que lhe conferiu direito a medalha das campanhas da Guiné. Em Bissau, começou a exercer a Advocacia, como advogado da respetiva Câmara Municipal. Desde 20abr 1974, reside em Alcobaça, onde casou e trabalhou como Advogado, até se reformar.

Foi eleito, em listas do PPD/PSD Vice-Presidente da CMAlcobaça, Presidente da Assembleia Municipal , Deputado à Assembleia da República e Deputado Municipal (líder da bancada do PSD).

Foi-lhe atribuído diploma referente a 35 sanos de inscrição na Ordem dos Advogados.

Recebeu em 2020 o Alcoa de Cristal.

Colabora regularmente em jornais, revistas, realiza palestras, conferências e manteve durante anos um programa na rádio sobre temas do tempo que passa. Foi fundador e autor dos estatutos de algumas entidades do Concelho de Alcobaça e cofundador do PPD/PSD (Leiria e Alcobaça).

 

LIVROS DE QUE É AUTOR:

 

-LEVANTE-SE O REU -

 A difícil e honrosa arte de ser Advogado de barra na província

-DOM MAUR COCHERIL, W. BECKFORD E A COZINHA DE ALCOBAÇA-

 Tradução de La Cuisine d’Alcobaça, com comentários e notas

-RUMO À CIDADANIA (I) –

 Apontamentos de teoria política/Usalcoa

-RUMO À CIDADANIA (II) -

 Apontamentos de teoria política/Usalcoa

-NO TEMPO DE D. PEDRO, Dª. INÊS E OUTROS-

  Histórias e Lendas que o tempo não apagou

  Foram realizadas 4 edições

-OS MONGES AGRÓNOMOS DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA-

 Vieira Natividade. Fixação de texto, imagens e notas

-NO TEMPO DO MATA-FRADES, VISCONDE DE SEABRA E OUTROS -

 A Guerra Civil, o Mosteiro e o Furto dos Códices Alcobacenses

-NO TEMPO DE REIS, REPUBLICANOS & OUTROS-

 A I República em Alcobaça e Portugal

-NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS -

 Alcobaça e Portugal1

-NO TEMPO DE SOARES, CUNHAL E OUTROS -

 O PREC também passou por Alcobaça

-NO TEMPO DE PESSOAS IMPORTANTES COMO NÓS -

 50 Anos de história de Alcobaça contados através de pessoas

-NO TEMPO DOS SUBMARINOS NAZIS NA COSTA PORTUGUESA-

-NO TEMPO DOS BOERES EM PORTUGAL-

 Caldas da Rainha, Alcobaça, Peniche, Tomar, Abrantes e S. Julião da Barra

-A ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA E O SEU TEMPO -

 O agrupamento musical e as personalidades que lhe deram vida

-ELES NÃO MORRERAM DESCALÇOS -

-HERÁLDICA: DO LIBERALISMO AOS NOSSOS DIAS, PASSANDO POR ALCOBAÇA-

-TEMPOS MUITO CENSURADOS-

 A Inquisição e o Estado Novo

-JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÓRIA -    

-EÇA de QUEIRÓS, O TEMIDO Dr. GODINHO, O PADRE AMARO e LEIRIA-

 Foram realizadas duas edições.

 

ARTIGOS

 

-CEL/Cadernos de Estudos Leirienses-

-Contributos para a história da I República em Alcobaça /Parte I-

 (CEL-nº 6, Dezembro 2015).

-Contributos para a história da I República em Alcobaça/ Parte II-

 (CEL-nº 8, Maio 2016).

-No tempo em que muitos faziam dinheiro-

 (CEL-nº 12, Maio 2017).

-No tempo da outra senhora: Censura e Estado Novo -

 (CEL-nº 13, Setembro 2017).

-Vida, costumes e outra senhora, passando por Alcobaça -

 (CEL-nº 14, Dezembro 2017).

-Os capelães militares e outros valorosos alcobacenses -

 (CEL-nº 16, Maio 2018).

-A cidade e o poder autárquico, passando por Alcobaça -

 (CEL-nº 17, Setembro 2018).

-Foram editadas separatas destes artigos-

 

-Anais Leirienses – estudos & documentos-

 

-À volta da cidade e do poder autárquico -

 (Anais-nº 1, Março 2019).

-Um berço (submarino nazi) no canhão (da Nazaré) -

 (Anais-nº 2, Setembro 2019).

-Todos eram liberais: O Combate (?) de Chão da Feira, José do Telhado, outras personagens e factos-

 (Anais-nº 5, Março 2020).

-O Jardim Escola João de Deus, em Alcobaça: já lá vão mais de 100 anos a ensinar-

 (Anais-nº 6, Setembro 2020).

-Alcobaça: percorrendo 80 anos de costumes mais ou menos brandos

 (Anais-nº 8, Março 2021).

-Sob o manto protetor-

 (Anais-nº 10, Setembro 2021).

-Recordando a 1ª. Travessia Aérea do Atlântico Sul-

(Anais-nº 11, Abril 2022).

-A Rainha Isabel II em Alcobaça (1957) -

(Anais-nº 12, Dezembro 2022).

-O Papa Paulo VI em Fátima (1967)

(Anais-nº 15, outubro 2023)

-Foram editadas separatas destes artigos-

 

-Mosteiros Cistercienses História, Arte, Espiritualidade e Património

-O Visconde de Seabra, A Biblioteca do Mosteiro e o Furto dos Códices Alcobacenses da Biblioteca Nacional-

(actas do Congresso Internacional realizado em Alcobaça em junho de 2012-Tomo III)

-Foi editada separata deste artigo.

 

-Um Mosteiro Entre os Rios - Cister, Alcobaça -  

-No Centenário da atribuição da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito à Vila de Alcobaça

-Foi editada separata deste artigo-

 

 Estas obras estão disponíveis na Biblioteca Municipal de Alcobaça e nas principais bibliotecas do País e Brasil.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A “NOSSA” MISSE PORTUGAL 2023

 

A “NOSSA” MISSE PORTUGAL 2023

 

Marina Machete foi a primeira mulher transgénero a vencer o concurso Miss Portugal. A “menina” de 28 anos bem feitos, de Palmela, vai representar o nosso país no Miss Universo, que se realiza este mês em EL Salvador.

Não só foi a primeira mulher transgénero a participar em Portugal, como também a primeira a vencer. Marina Machete foi coroada Miss Portugal e será a representante no concurso Miss Universo 2023.

Mas de que estamos a falar? Uma mulher trans é alguém a quem, ao nascer,  foi atribuído o sexo ou género masculino, mas cuja identidade de género é feminina. Em razão da disforia (sentimentos de angústia significativa ou dificuldade de funcionamento relacionados com um sentimento persistente de que o sexo ao nascimento não corresponde ao sentimento interno de ser do sexo masculino, feminino, misto, neutro ou outra coisa), mulheres trans podem fazer a transição de género. Tal processo comumente inclui terapia de substituição hormonal e, às vezes, cirurgia de redesignação sexual. Mulheres trans podem ser heterossexuaisbissexuaishomossexuaisassexuais, entre outras categorias não heteronormativas. Onde se inclui Marina? Creio que não interessa para aqui .

Antes de vencer o concurso, num evento que decorreu em Borba, recorreu às redes sociais (tem mais de oito mil seguidores no Instagram), para expressar o orgulho em ser a primeira mulher portuguesa trans a competir por esse título. “Durante vários anos não me foi possível participar e hoje orgulho-me de fazer parte deste incrível grupo de finalistas”.

Marina Machete é hospedeira de bordo e descreve a profissão como uma experiência que a ajudou a expandir horizontes.

Num vídeo disponível no YouTube(que por acaso vi), revela ela que, como transgenéro, precisou de ultrapassar inúmeros e penosos obstáculos. “Felizmente e especialmente com a minha família, o amor provou ser mais forte do que a ignorância”. Com os pais a serem donos de oito gatos e um cão, enfatizou que os “direitos dos animais e a sua proteção são alguns tópicos que procuro defender”. Poderia ter falado da guerra na Ucrânia ou no conflito Israel-Hamas, mas isso não rende, e que  as mulheres trans enfrentam uma forma de violência conhecida como transfobia .

Na próxima edição do Miss Universo, a “nossa” Marina vai concorrer com outra transgénero, a neerlandesa Rikkie Valerie Kollé, que venceu o título no passado mês de julho. Antes destas, creio que há cinco anos, tinha existido uma candidata trans ao título Miss Universo, a espanhola Angela Ponce que não venceu. Mas os espanhóis (in)felizmente estão muito mais adiantados que nós…

A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, em 18 de outubro, uma saudação a Marina Machete, pela “conquista do título e oportunidade de representar o concelho e o país no concurso Miss Universo”. Num caso semelhante qual seria posição da nossa autarquia, Senhor Presidente Hermínio Rodrigues?   

 Caros leitores, sei bem que sou conservador, preconceituoso, que não tenho idade ou intenção de mudar e que o mundo é composto por mudança. Conforme as convenções (tradicionais) que assumo, existem dois tipos de géneros, o masculino e o feminino, e a identidade de género está ligada exclusivamente ao sexo biológico. Seja como for, não percebo como os homens que querem ser mulheres (o contrário é muito raro) demonstrem uma visão caricatural destas, aliás num estilo criticado pelo feminismo. Afinal adoram concursos de beleza e a objetificação do corpo feminino, quaisquer que sejam as circunstâncias...

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

O meu 25 de Abril - Rui Rasquilho

 

O MEU 25 de ABRIL

Rui Rasquilho

Prólogo

A oposição portuguesa, em ebulição desde o início da década de 70, ganhou a 16 de Março de 1974 uma lufada de esperança e uma alegria incontida. Embora a coluna que saiu nesse dia do quartel das Caldas da Rainha integrando o meu amigo e colega no colégio de Porto de Mós, Vítor Carvalho, não tenha cumprido o seu objetivo, a ocupação do aeroporto da Portela, bem se pode considerar um ensaio da movimentação das tropas no dia 25 de Abril. Contou-me o tenente Vítor Carvalho, conhecido nos meios castrenses por coronel Silva Carvalho, que retrocederam para o RI.5 a 4km da portagem junto ao RA.LIS por indicação dos então majores Monge e Casanova que os esperavam no terreno.

As saídas dos quartéis também ocorreram, sobretudo em Lamego, Viseu e Mafra, sem consequências, por prematuras. Os cabecilhas foram detidos na Trafaria sendo depois libertados e conduzidos para o Cristo-Rei.

Todos os oficiais participarão do 25 de Abril com funções definidas. Ao Vítor, o então tenente Silva Carvalho, caberá a coordenação de forças no quartel general de São Sebastião da Pedreira.

 

1º Capítulo

Às 6 da manhã de quinta-feira dia 25 de Abril de 1974, eu e minha mulher fomos acordados pela casa a estremecer e barulho intenso de motores diesel. Da janela contámos uma dúzia de tanques e outros transportes de tropas.

Estava na rua a materialização das canções código “E depois do adeus” e “Grândola vila morena”. Soubemos logo depois que a coluna que descia para o rio era da Escola Prática de Cavalaria de Santarém e o seu comandante era o jovem capitão Salgueiro Maia.

Só saímos para a rua, proibida via rádio, à tarde e logo fomos para o Largo do Carmo, onde no interior do quartel do comando geral da GNR estava Marcelo Caetano, que se rendera ao general Spínola. Um mar de gente enchia o largo, mal se arredando com a passagem da chaimite que conduzia o ex-presidente do Conselho de Ministros. O veículo atravessou o imenso clamor da multidão.

 

2º Capítulo

Um PIDE a correr na praça em frente à Santa Casa, agarrado e meio despido. Sempre o grito, o clamor do povo lisboeta. Das janelas do escritório da censura voavam papéis, pedaços de mobiliário. O autofalante de um rádio caiu sobre o nosso Mini. Fui mudá-lo de sítio, operação difícil por via de tanta gente. Muito olhavam para ver quem era o condutor. Eu já usava barba nesse tempo, era jovem e por isso, julgo eu, lá retirei o carro.

Há uns anos o Expresso trazia uma fotografia da Rua da República e lá estava o meu Mini branco à mercê dos objetos voadores. Guardei este jornal tão bem guardado que hoje lhe perdi o rasto.

 

3º Capítulo

Nós e vários amigos fomos a Caxias para ver e saudar a saída dos presos políticos. Lá estava a multidão que abanou, e não me lembro se virou, um Datsun conduzido por um PIDE que tentou fugir deixando no carro a mulher e uma criança perfeitamente aterradas. Valeram-lhe os militares.

De repente um megafone berrou sobre a multidão: “Sr. Rui Manuel Cordeiro de Vieira Rasquilho queira dirigir-se ao jeep junto à entrada do edifício prisional.” Um susto! Mas fui saber o que me queriam. Um alferes olhou para mim e comparou-me com a foto de um cartão que tinha na mão. Era o meu BI. que nem dera conta de haver perdido.

Em Peniche os presos também saíram, os políticos e os outros.

 

4º Capítulo

No dia 26 a PIDE é desfeita na Rua António Maria Cardoso, não sem que fiel aos princípios causasse quatro mortos e vários feridos. A liberdade tem sempre custos. O Estado Novo perdia Portugal.

Recordo-me que no dia 1 de Junho de 1973 há um contestado congresso dos combatentes no Porto. Vagamente lembro-me de ter encontrado no Rossio o meu antigo capitão do tempo da guerra no Uíge, que me mostrou um telegrama de oficiais de Moçambique descontentes com a política. Talvez tenha sido uma reação do Dec.Lei 373/73 de 13 de Julho. Li eu e minha mulher o livro de Spínola – Portugal e o Futuro. O problema colonial agravava-se.

Lisboa foi então um jardim de cravos vermelhos.

 

5º Capítulo

Na Faculdade de Letras fui eleito para a Comissão Diretiva Paritária, tempos notáveis. Conjuntamente com o Prof. Lindley Cintra segurámos o Curso de Português para Estrangeiros a funcionar todo o tempo.

Estive sempre fora de Alcobaça, a Lisboa só me chegavam ecos do processo local e das suas contradições.