terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Camões sempre!

 

Camões sempre!

 


 

 

Nos dias que correm, os estudiosos da obra e vida de Camões, podem fixar com relativa segurança o ano de 1524, como o do seu nascimento (23 de Janeiro, data que 500 anos depois passou muito discretamente), supõe-se que em Lisboa.

A morte foi, seguramente, em 10 de Junho de 1580, dia que se fez feriado, em homenagem ao poeta e à língua que ele soube usar como ninguém, tornando-se imortal no poema “Os Lusíadas” e demais poética.

 

Pela primeira vez há informações que permitem dizer e saudar à nossa boa maneira: “Parabéns Camões”.

 

Uma investigação levada a cabo em Coimbra, a partir de um soneto, concluiu que o poeta terá nascido a 23 de janeiro de 1524.

Como? A data foi determinada graças a um eclipse solar visível em Portugal. Investigadores relacionaram o soneto “O dia em que eu nasci, morra e pereça” com estudos de astronomia e da ocorrência de eclipses para concluir que Luís de Camões nasceu a 23 de janeiro de 1524, dia de eclipse solar.

Na sequência do estudo, os investigadores concluíram ser muito provável que o terceiro verso do poema “O dia em que eu nasci, morra e pereça” seja alusão a certo eclipse visível em Portugal nesse dia.

 

 Manuel de Faria e Sousa (biógrafo de Camões), tinha determinado o ano de nascimento de Camões “vago período de dois anos, por volta de 1524 ou 1525”, baseado num documento sobre o seu embarque para a Índia, em 1550, quando teria cerca de 25 anos de idade.

 

Qual a melhor forma de assinalar os 500 anos de nascimento de Luís Vaz de Camões?

Defendendo a Língua, de todas as formas possíveis, o que no meu caso tento fazer, e continuando a divulgar a sua obra.

Apelando aos nossos governantes e aos nossos professores que honrem Luís Vaz de Camões e a Língua Portuguesa.

Nós não somos brasileiros. Nada contra os brasileiros, mas não quero trocar a nossa língua por um outro português, ainda que agradável de ouvir.

A língua é do Povo Português, que a espalhou pelo mundo, nomeadamente no Brasil.

Viva a nossa língua e os egrégios cultivadores

 

 

  

domingo, 21 de janeiro de 2024

Um balanço dos 50 anos do regime nascido em 25 de Abril de 1974

 

Um balanço dos 50 anos do regime nascido em

25 de Abril de 1974

 

Jorge  Araújo

Médico

 

A natureza humana tem horror à monotonia, ao imobilismo, e constância: encarrega-se de alterar tudo, mesmo o que está bem e funciona com regularidade. Assim tem acontecido também com o regime iniciado em 1974. Houve progressos e dificuldades como em todos os regimes.

Todos regimes têm virtudes e defeitos. Também este é assim. Talvez a discussão política se devesse fazer mais entre agentes honestos e com amor ao próximo com provas dadas, do que entre políticas de “esquerda” e de “direita”, ou da escolha de líder dum partido, em alternativa a outro.

É paranoica a escolha de um “rótulo” ou duma pessoa, onde cabe tudo, como mentiras e o oposto do que anunciam nos seus programas. Mas a escolha acaba sempre por ser entre duas ou três pessoas, entre “esquerda e direita” e os antagonismos artificiais e exacerbados entre elas.

Ainda hoje há quem louve quem levou o país à bancarrota, e abomine quem o deixou mais próspero.

Mas o que se fez pelos objetivos principais do regime?


 

-Liberdade e democracia:

O impacto do regime nascido em 1974, começou por tornar possível discutir todas as ideias, (desejo generalizado), mas trocou a anterior censura que era muito evidente, por outro tipo de controlo social subtil: as dependências. Assim foram sendo geradas dependências, do Estado sobretudo. Escapar à sua vontade e tutela, parece quase impossível. Indivíduos, empresas, magistrados, autoridades, órgãos de comunicação e seus profissionais, representantes profissionais, e políticos, só à custa de muita coragem, e risco pessoal conseguem contrariar a corrente dominante. Podem falir, perder cargos, ser despedidos, humilhados publicamente, ridicularizados, ostracizados! Mas a verdade devia ser sempre valorizada, em ditadura ou em democracia, que sem ela não se progride. A falta de transparência é um trunfo que não devia ser utilizado, mas o que é mostrado é o que tranquiliza a população, deixando ocultado o inaceitável, tal como a corrupção que se esconde nas entrelinhas. A atenção vai sendo desviada para novos assuntos, fornecidos em larga dose, e o futebol, entre muitos outros, um poderoso instrumento de distração. São as novas modalidades de censura, discretas, laboriosas, imaginativas, mas eficazes. Há liberdade de pensamento, desde que alguns assuntos não cheguem ao conhecimento generalizado, desde que não dominem as agendas mediáticas.

A hegemónica luta entre esquerda e direita, acabou por ser mais importante e omnipresente, que a luta entre mentira e verdade, honestidade e corrupção, pobreza e riqueza. E acabou por proteger indivíduos (mesmo capitalistas dominantes) e empresas “amigas” da esquerda, em detrimento de todos os outros que não o são. Também políticas de direita podem passar com complacência se forem produzidas por partidos de esquerda, e políticas de esquerda, têm de ser feitas por partidos e políticos de direita, pois de outro modo é difícil resistirem. Capital e esquerda por vezes se associam, desde que os interesses de alguns setores não sejam afetados. Nos momentos decisivos mete-se medo com a possibilidade do campo oposto ganhar, e em nome dessas vitórias, tudo parece ser desculpável (a incompetência, o retrocesso económico, a criminalidade, desonestidade etc.).

 

-Descolonização:

O colonialismo condenado por todos os países, foi trocado por novos imperialismos em que super-potências procuram dominar os frágeis Estados saídos de antigos impérios. A estratégia de muitos séculos da nossa história, com heroicos investimentos individuais e coletivos foi destruída, e trocada por interesses alheios. Graças a esse redireccionamento, hoje Portugal é “respeitado”  por quase todos os países. De Império com debilidades, passou a país que sobrevive com ajudas comunitárias, e nalguns aspetos é “colónia” dissimulada de outros países. O serviço militar obrigatório e a guerra terminaram (o que foi muito bom), mas o desinvestimento na defesa vai criar grandes vulnerabilidades já num futuro próximo. Venderam-se quartéis, não temos militares em número suficiente, porque as guerras foram coisas do passado, mas as atuais guerras entre países democráticos e ditaduras, vieram lembrar que essa ideia muito desejável, é uma utopia. E os países utópicos vão ser presa fácil dos realistas. Uma nova Ordem Mundial passou quase toda África e América latina para a órbita de Rússia e China, da qual dificilmente escapam.

 

-Desenvolvimento:

Hoje quase não há analfabetismo, ao contrário do que existia antes de 1974, há mais acesso a cuidados de saúde, mais consumo, mais bens disponíveis, mais acesso ao crédito, mais bem-estar material, do que existia no antigo regime.

Mas o regime atual, com a instabilidade com que começou, teve de ser pago por todos, e com a venda de toneladas de ouro amealhado pacientemente ao longo de décadas pelos antigos senhores do poder. Depois o progresso continuou com endividamento do país, das pessoas e das empresas, seguido dos apoios da Comunidade Europeia, dos investimentos nacionais e estrangeiros, da energia barata, do desenvolvimento técnico, científico, e da globalização que transporta bens produzidos a baixo custo por escravizados noutros países. Excetuando as tão necessárias infraestruturas mais que as políticas internas, a meu ver, globalização e inovações técnicas e científicas foram os fatores que mais potenciaram o crescimento e acesso a bens de consumo.

O consumismo também garante mais receitas ao Estado, e é estimulado por todos. Aparentemente o aumento do bem-estar material derivou da política, mas para todo o Mundo entre outros, foi sobretudo a exploração de um sector da população chinesa pelo partido comunista, que permitiu produzir a baixo custo, quase tudo o que hoje se consome. Os países “progressistas” como o nosso sobretudo, mas de qualquer modo todo o mundo ocidental, em breve será dominado pela estratégia de Deng Xiao Ping, que tem arrecadado grande parte da liquidez monetária mundial. Mas Portugal teima em se manter na “luta de classes” diabolizando as empresas e empresários, quando a tónica noutros países não é tão acintosa. E vamos alegremente consumindo freneticamente enquanto os países mais sábios, se preocupam em produzir e vender, mais produtos a outros.

 

-Educação:

O acesso à educação tornou-se mais abrangente no número de indivíduos, embora se tenham apagado dos currículos básicos e secundários algumas matérias indispensáveis, ou fornecidas com alguma carga ideológica.

A aprovação menos exigente dos alunos, torna-os menos aptos a progressão, e mais débeis no mundo competitivo em que estamos inseridos. Ainda assim há alguns alunos, cursos, Faculdades, e instituições que apesar disso progridem com altos níveis de exigência, que contrastam com a generalidade. Continuam altos níveis de ignorância, apesar de grande melhoria da escolaridade.

Em todo o caso também há mais licenciados, que quase na totalidade só têm acesso a um vencimento mínimo, ou em alternativa, a emigração será o seu ascensor social.

A educação que no anterior regime era “ascensor “, agora passou a ser gradualmente um “estagnador”, nivelando todos por baixo (os mais produtivos com os menos produtivos). E o desemprego e os baixos vencimentos atingem sobretudo a juventude, que hoje não tem qualquer esperança de ver alterado este estado de coisas. O excesso de impostos, outros exuberantes custos de produção , e ambiente nefasto para o empreendedorismo, têm eliminado muitos empregos, e tornado o País menos competitivo!

 

-Políticas sociais:

Camuflando as estatísticas, distribuem-se todos os anos mais alguns euros, que remuneram o voto de eleitores cada vez mais numerosos, (e assim deixam de ser incluídos na pobreza, mas conseguem comprar cada vez menos produtos). Mas essas verbas são retiradas a uma classe que já foi “média”, nivelando a quase totalidade dos Portugueses, com salários que quase só dão para a subsistência. O rendimento médio está encostado ao rendimento mínimo, reduzindo todos os anos a pequena diferença. Não aumentando a riqueza dos cidadãos, que com a inflação tornam insuficientes os ilusórios aumentos, pelo contrário tem diminuído os rendimentos. Iludem-se estatísticas, e iludem-se os eleitores que esperam ansiosamente pelos “aumentos”.

 

-Saúde:

A assistência na doença e prevenção de Saúde que foram dos grandes sucessos do regime democrático, tem se preocupado sobretudo com os números (mortalidade, saúde infantil, cobertura de grávidas, planeamento familiar, diabéticos, hipertensão, de prevenção vacinal) mas tendencialmente tem desinvestido no acesso atempado, de urgências e consultas. Tudo o que não for quantificável tem menos importância, e se alguma coisa correr mal, a culpa é dos profissionais.

Neste item, os profissionais se debatem com sobrecargas, burocratização, redução de efetivos, remuneração insuficientemente, e más condições de trabalho. Vai sendo exigido mais e mais, a cada vez menos profissionais, que por isso mesmo menos tempo dispõem para os seus doentes.

 

Justiça:

Na qual os principais partidos dizem estar confiantes, baseada em leis por eles promulgadas, deixa sem punição a grande criminalidade económica, e política. As dificuldades de investigação somadas aos intermináveis recursos processuais, e prescrições, têm sido as ferramentas principais dessa impunidade. Têm tido estas poderosas ferramentas para que as Máfias políticas escapem.

A segurança pública, apesar do esforços das mal pagas Autoridades, vai ficando mais fragilizada, facto que não é alheio, à impunidade que sentem os que a ela atentam, e a falta de meios disponíveis.

 

Depois destas considerações genéricas, para ilustrar o setor que melhor conheço, descrevo algum impacto que teve o regime democrático na minha vida estudantil e profissional.

 

 

 

Seguindo-se a uma infância e adolescência em que tudo foi estável e quase imutável, ano após ano, o 25 de Abril apanhou-me no 2º ano da Faculdade de Medicina de Lisboa. Aí assisti como espetador às lutas estudantis, com curiosidade pela novidade que traziam. Mas cedo nelas desacreditei.

Não tinha sido mobilizado para o Serviço Militar enquanto estudante, e depois também não porque entretanto acabou a Guerra Colonial. Esse foi um grande benefício direto do regime democrático para a minha vida e de muitos.

A efervescência política tinha começado e era potenciada nas universidades, pela hegemonia dos partidos da extrema-esquerda, que lá se tinham instalado já no antigo regime.

Era tudo novidade, que se alimentou da ignorância, inexperiência, falta de ponderação, e ingenuidade da maioria. A política passou a ser hegemónica, e tornar tudo o resto secundário.

O primeiro choque que tive com essa nova realidade política, foi-me revelado pelos saneamentos políticos, inversão das hierarquias. Sucedeu a quase ausência de publicidade dos órgãos de comunicação nos primeiros tempos pós 25 de Abril, porque as empresas, os empregadores, foram fortemente diabolizados, pelos ventos que sopravam da União Soviética, Cuba, China, RDA.

Mais tarde seriam as independências da ex – colónias, com o regresso de muitos colonos. Também o aumento de antagonismos e conflitualidade com risco de guerra Civil. Felizmente esse perigo se esbateu, mas ainda hoje se sente alguma conflitualidade social como entre patrões e empregados.

Um começo de alguma racionalidade económica começou com ministros como Hernâni Lopes e Cavaco Silva. Mas problemas económicos surgiram em várias épocas, com as “bancarrotas “ de forma rápida, mas as soluções foram lentas. A inflação fazia retroceder as “conquistas” salariais.

Depois terminado o curso de Medicina participei no Serviço Médico à Periferia, que foi o embrião do Serviço Nacional de Saúde, que veio mudar o panorama sanitário do País. A minha geração e a sua dedicação, fez um esforço heroico, que julgo difícil de  replicar na futura medicina pública,  com tão poucas contrapartidas como as que dispusemos.

O Serviço Nacional de Saúde sucedeu nos Centros de Saúde, às antigas consultas das Caixas de Previdência do antigo regime, que tinham sido uma abordagem barata e muito mal remunerada de consultas Médicas. Apenas permitiam a obtenção de uma prescrição comparticipada, ou uma solução de um problema de saúde que não devia demorar mais de 5 minutos a resolver. Ainda assim havia muita afluência, que se transferiu, e aumentou com o novo serviço.

O grande Ex-libris do novo regime, o SNS veio substituir a anterior situação, colocando a saúde dos portugueses, nos primeiros lugares em termos estatísticos, a nível Mundial, mas foi um trabalho muito intenso, mal remunerado, de muitos jovens Médicos, instalados em todo o território. As exigências sempre crescentes do poder político, que aplicou à sua atividade, associadas à boa vontade dos profissionais, deu bons resultados, mas também alimentou excessivo consumismo por parte de todos.

Concluída a Licenciatura em 1978 seguiu-se o internato Policlínico em 1979 e 1980 que incluiu trabalho no Hospital de Stª Maria e 6 meses em Alcobaça.  Depois em Alcobaça o Serviço Médico à Periferia em 1981 e 1982 e a carreira de Clínica Geral / Medicina Familiar de 1983 a 2011 no SNS.

Permitiu o SNS acesso a toda a população a consultas diárias no Centro de Saúde, e urgências imediatas no Hospital gratuitas ou quase, colocou os Médicos da Carreira de Clínica Geral na situação de concorrentes muito baratos, dos seus próprios interesses na Medicina privada, durante alguns anos. Ainda assim e progressivamente as Clínicas Privadas vieram a crescer, e ocupar um lugar cada vez mais importante, graças às burocracias do setor público, e aos constrangimentos exigidos aos seus profissionais. Progressivamente foram criadas as condições para a Medicina estatal diminuir de importância, o que sobretudo foi conseguido paradoxalmente pela “esquerda”, enquanto publicitada sobretudo a intenção oposta. Em todo o caso a pressão política para alargamento de lista de utentes, e redução de tempo de consulta sempre se fez sentir, o que também contribuiu para sobrecarga, e diminuição da qualidade, funcionando como “castigo” não assumido mas implícito, que se exerceu sobre os profissionais e utentes, levando a que uns e outros fossem optando pela Medicina Privada.

Enquanto as demoras da Justiça se foram medindo em muito anos, décadas, ou ausências de eficácia, na Saúde, a exigência foi sempre de uma solução imediata tanto quanto possível, o que foi ilustrado pelo uso excessivo das urgências hospitalares. Mas estas em tempos recentes surpreendentemente encerram alguns dias por falta de profissionais, em muitos dos nossos Hospitais.

As urgências do Hospital de Alcobaça desde o inicio do SMP e de seguida do SNS, sem Médicos efetivos, mas “emprestados” pelo Centro de Saúde, como foi o meu caso, e outros colegas colocados nesta localidade, asseguraram o atendimento a uma população de mais de 50.000 habitantes, nalguns dias com uma afluência comparável ao dum Hospital Central, onde um ou dois médicos escalados (mais tarde, mas já recentemente, seriam reforçados com um Internista), tinha de assegurar essa cadência avassaladora.  O atendimento tinha de ser extremamente rápido devido à imensa procura, e se alguma situação demorava, tinha de ser mantida em vigilância pela enfermagem, enquanto se passava a outros atendimentos. A eficácia e profissionalismo que a população exigia, e se faltasse ninguém perdoaria, foram garantia de bons resultados. É difícil a quem não trabalha na saúde em Alcobaça, imaginar o esforço hercúleo durante tantos anos, com milhares de atendimentos, tanta responsabilidades exigida, e tantos problemas resolvidos localmente.

Com o excessivo consumismo que alimentou o Serviço nacional de Saúde cresceram de forma exponencial os negócios paralelos da saúde como os farmacêuticos, analíticos, outros exames complementares, e atividade seguradora.

Mais tarde, a nível nacional, houve a ideia de reduzir os profissionais efetivos nos quadros Hospitalares, passando a recorrer-se a sub-contratação de empresas privadas, sobretudo para complementar esses serviços. Estes Hospitais agora por vezes sem profissionais suficientes, menos motivados, e com menores ligação à comunidade, claudicam. Nos Centros de Saúde foi progressivamente exigido maior número de utentes, e mais burocracias, e no fim da minha carreira pública, deviam ser observados em 11 minutos cada, independentemente da gravidade ou da complexidade do caso, e nesses escassos minutos a maior parte era consumida com as ditas burocracias informáticas ou outras. Um “sufoco” de que a maior parte dos utentes nem se apercebia.

Com estes pressupostos, e a perda de poder de compra generalizada, mas sobretudo dos profissionais de Saúde, passou a fazer-se sentir cada vez mais, a necessidade destes integrarem cada vez mais Clínicas privadas, saídos ou não do Estado, ou em alternativa, a sua emigração.

Hoje chegamos à situação de encerrarem Serviços de Urgência com alguma frequência, dos utentes serem atendidos por profissionais em “burnout “, entre imensas macas acumuladas nos corredores hospitalares, esperando horas intermináveis para serem atendidos. Nos Centros de Saúde, quando durante muitos anos quase todas as consultas eram marcadas e atendidas no próprio dia, hoje não é tão fácil o acesso no próprio dia.

Com alguns constrangimentos descritos, em todo o caso há maior acesso a cuidados de saúde, comparativamente aos existentes antes de 1974, seja na medicina pública, seja na privada que também se desenvolveu imenso.

Depois da minha aposentação da Função Pública, regressei ao exercício da Medicina em clínicas privadas, até à presente data, testemunhando o crescimento da atividade destas.

Noutra atividade Médica que também exerci, a de Perito Médico-legal, posso dizer houve uma evolução positiva das perícias médicas, sobretudo na Tanatologia, desde 1988 praticada em condições indignas, na casa mortuária do Hospital de Alcobaça, onde nem água corrente, nem câmaras frigoríficas existiam, ficando os cadáveres muitas vezes depositados em adiantado estado de decomposição, com larvas e o respetivo cheiro nauseabundo, e riscos para a saúde pública.

Acertadamente transitou esse meu exercício, logo que criados os Gabinetes Médico Legais, passando as autópsias da Comarca de Alcobaça a ser efetuadas no Gabinete Médico Legal de Leiria, já com as exigências sanitárias e técnicas que se impõem no Mundo desenvolvido, onde exerci desde o seu início, até à minha aposentação de funções públicas em 2011.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

25 de Abril, a esperança.

 

25 de Abril, a esperança.

 

Óscar Santos

Gestor de projetos

 

Estamos a poucos meses de celebrar os cinquenta anos do 25 de Abril de 1974. Para as gerações, como a minha, que viveram esse dia histórico, parece que o tempo voou.

Passaram cinquenta anos desde o golpe de estado que derrubou o regime ditatorial, autoritário e corporativo, o Estado Novo, que vigorou durante quarenta e dois anos, com Salazar nos primeiros trinta e seis anos de 1932 a 1968 e depois com Marcelo Caetano de 1968 a 1974 como Presidente do Conselho de Ministros.

Neste ano de 2024 é tempo de fazer uma breve análise das implicações que o 25 de Abril teve no nosso País e dos cinquenta anos de regime democrático.

É inegável que desde 1974 até agora, em termos relativos, Portugal teve um considerável desenvolvimento na economia, nas infraestruturas, na qualidade de vida, na educação, saúde, entre outros. A rotura com o anterior regime, abriu-nos as portas à Europa e ao Mundo tornando a nossa economia também mais aberta e mais competitiva, principalmente a partir da década de oitenta até ao final do século XX, em que o nosso país conseguiu crescer acima da média europeia e portanto convergir comparativamente aos restantes países. Este crescimento, já se verificava desde o início da década de sessenta até 1974.

No antigo regime, corporativo e bafiento, apenas alguns grupos, “famílias” e empresas que gravitavam na esfera do poder e do regime tinham acesso ao “bolo” do Orçamento do Estado e aos privilégios. Na minha opinião, o regime estava decadente e mais ano menos ano acabaria por ruir por dentro. Não teria sido possível arrastar por muito mais tempo uma ditadura em plena Europa, quanto mais não fosse pela influência da queda da ditadura em Espanha em 1976. 

Felizmente o 25 de Abril, rompeu com essa realidade e devolveu às pessoas a esperança e os sonhos de um futuro melhor.

 

Então e hoje, passados cinquenta anos, como está o nosso país? Que balanço podemos fazer?

Na minha opinião, e apesar do relativo desenvolvimento referido anteriormente, e apesar das muitas dezenas de milhares de milhões de euros recebidos desde 1985, o nosso país está novamente numa situação de impasse. Parece que a história de repete. Ao fim de cinquenta anos, temos um estado bafiento, dominado e controlado pelo partido do regime, um Estado cada vez mais omnipresente, quase totalitário, onde “gravitam” as pessoas, empresas e os chamados “interesses” como carraças. O Governo confunde-se com o Estado.

O Governo centraliza cada vez mais os recursos económicos apenas numa lógica redistributiva, criando as “clientelas” que levam ao aumento da corrupção. Asfixia a economia, as empresas e as pessoas com uma crescente carga de impostos e burocracia, sem se preocupar com o crescimento e competitividade da economia e com o controlo dos custos da “máquina do Estado”, onde a despesa aumentou mais de 65% nos últimos 8 anos.  Um Estado mais fraco, onde os pilares da democracia, como o Poder Judicial, as entidades reguladoras e fiscalizadoras vão sendo “ocupadas” pela rapaziada da “família”.

Apesar do aumento brutal da despesa, o estado da saúde, da justiça, da educação, tem-se vindo a degradar de ano para ano. Como no passado, a emigração está a aumentar, só que agora é bastante mais preocupante, porque são os jovens qualificados que estão a sair. Estamos a perder competitividade. No futuro vamos ficar mais pobres.

Desde o inicio do seculo XXI o crescimento económico tem sido muito pequeno e Portugal está, em termos comparativos, a ser ultrapassado pelos restantes países do EU.

Tudo isto é a consequência de más politicas ou a ausência delas.

O objetivo dos fundos de coesão seria desenvolver a nossa economia, tornando-a mais competitiva, mas na sua maioria foram mal aplicados ou direcionados. O principal foco de grande parte dos projetos financiados foi em função de “que projeto temos de fazer para podemos captar fundos”, em vez de “que projeto necessitamos para desenvolver e crescer”.

Esta análise, só por si, torna a nossa situação atual preocupante e, pelo menos a mim, deixa-me desiludido, frustrado e, principalmente com falta de esperança. No que diz respeito à esperança para o futuro, creio que estamos pior que antes, pelo que passo a explicar o meu ponto de vista apenas com uma palavra que penso ser a chave de tudo – mudança.

O mundo está em permanente mudança mas, quer nas organizações, nas empresas ou na sociedade, existe SEMPRE uma grande resistência à mudança. É comum dizer-se em alguns países mais do norte, que por lá “se faz evolução” enquanto nos países mais do sul “se faz revolução”. A mudança, seja ela qual for, ocorre de duas formas: por vontade própria das pessoas/sociedade ou por imposição.

Sociologicamente, em 2024 temos um grande problema em Portugal que não existia em 1974. Uma população envelhecida, onde os reformados e as pessoas de meia-idade representam mais de 60% dapopulação, depois temos quase um milhão de pessoas que trabalham e dependem do Estado, para além das pessoas que, de uma forma ou de outra, estão também dependentes do Estado. Como é obvio a maioria destas pessoa estão “acomodadas”, ou seja, sentem-se seguras e não estão dispostas a arriscar na mudança. Mudar implica risco, trocar uma situação estável pelo desconhecido, implica esforço, ainda que isso possa trazer melhorias. Mas preferem ir empobrecendo alegremente.

Quem pode e seguramente deseja fazer a mudança, são os mais jovens e todos aqueles que não se resignam, que não têm nada a perder, que arriscam e vão à luta.

Mas esses são cada vez menos e, mesmo que queiram mudar, já só o podem fazer individualmente, porque coletivamente através do seu voto nada conseguem contra a maioria “opressora”. 

Estamos num impasse, de regime. Enquanto a maioria da população dos “acomodados” não deixar de ser egoísta e pensar mais no coletivo e no Pais, não é possível fazer a mudança. A culpa não é nem foi dos anteriores governos, que não foram capazes de fazer a mudança. Foi e é das pessoas que recusam a mudança.

 

 

25 de Abril

 

 

Como eu vejo o 25 de Abril!


 

 

Inês Santos

(aluna do 12º. ano da ESDICA)

 

A Revolução do 25 de Abril tornou-se um marco fundamental na História portuguesa.

Este acontecimento, também conhecido como Revolução dos Cravos, ocorreu a 25 de abril de 1974 através de um golpe militar que originou a queda do regime ditatorial do Estado Novo, resultando na restauração da democracia e em diversas mudanças não só em termos políticos como também sociais e culturais.

Primeiramente, é importante referir as principais causas que levaram a esta Revolução e os resultados obtidos após a mesma. Começando pela falta de liberdade, de expressão por exemplo, que levava ao descontentamento de muitas pessoas, causando-lhes também uma revolta pela ditadura por não lhes dar os devidos direitos. Os conflitos coloniais que causavam o isolamento e uma grande instabilidade social e económica foram outra causa deste acontecimento, tal como o medo da tortura cometida na altura. Tal como foi referido anteriormente, os portugueses estavam revoltados com tudo isto e queriam mudanças, que depois do 25 de abril começaram a ser notadas com o fim da ditadura e o início da democracia, registando-se uma maior liberdade na sociedade, a descolonização de Portugal promovendo a independência às antigas colónias africanas, um desenvolvimento na modernização e no âmbito social, entre outras.

Assim é notável perceber que a Revolução dos Cravos trouxe alterações para uma melhor qualidade de vida, visto que foi marcada por um período de paz pelo que o nome já o indica, pois é isso que simbolizam os cravos vermelhos.

Para concluir, apesar de todos conhecermos a história da Revolução em causa nem todos a experienciámos da mesma maneira, por isso, vou apresentar a minha perspetiva como alguém que não a viveu.

 

 

No meu ponto de vista, esta revolução que conta com quase 50 anos, teve um grande impacto nas gerações que viveram antes e pós 25 de abril, mas infelizmente nos dias de hoje e apesar de todo o conhecimento que nos vai sendo transmitido desta época, a mesma é apenas comemorada como um feriado nacional, uma vez que, não tivemos de a conquistar.

Torna se difícil de conceber a ideia de que em tempos não existia a liberdade de expressão que temos hoje e até mesmo o medo que se fazia sentir.