sexta-feira, 19 de outubro de 2012


AOS DIAS CURTOS E CINZENTOS SUCEDEM-SE OUTROS PLENOS DE SOL E CALOR…
Fleming de OLiveira

Um amigo, pintor amador, diz-me que quando o tempo de Outono começa a arrefecer e o dia a escurecer mais cedo, apetece-lhe ficar em casa, numa espécie de preguiça que o convida a comer e dormir mais, acompanhada de uma letargia e fadiga sem precedentes e instabilidade do humor, que desaparecem com a chegada dos dias longos, quentes e solarengos do Verão. E explica-o com as noites mais longas, os dias mais curtos e cinzentos, com o correspondente menor número de horas de luz e a inferior luminosidade em todo os sentidos, o que se revela determinante para si. A luz influencia grandemente o seu relógio biológico e o seu hobby, os picos de humor, interferindo nos ciclos de vigília e sono, em suma, na sua vida. A fadiga parece persistir, mesmo quando dorme 8 ou mais horas, sendo que o sono não cumpre o seu papel retemperador.  
A perda de energia é, segundo o meu amigo, acompanhada de dificuldades de concentração e de motivação. Também o apetite sofre alterações, sendo frequentes os desejos vorazes a meio da manhã ou da tarde, o que acaba por o conduzir a ganhos incontrolados de peso, que o irritam de sobremaneira.
A ansiedade e a tristeza dominam, com progressiva perda de interesse pelas atividades que outrora lhe davam enorme prazer, como a tela e a paleta, o que torna difícil de gerir o quotidiano.
Calculo que a idade deste amigo, mais ou menos da minha, parece desempenhar um papel relevante nestas reações, numa situação não muito original.
Quando o humor sofre alterações súbitas, com estes altos e baixos, pode estar aberta a porta a conflitos nas relações sociais, com superiores hierárquicos, colegas, familiares ou amigos próximos, como eu.
Estes picos de humor de cerca de meio ano de duração, não são um exclusivo fruto da luminosidade do Inverno ou Verão, podendo acontecer também por outras e variadas razões, como decorre destes dias tristes e dificeis que se vivem em Portugal, que acarretam ansiedade, irritabilidade, agitação ou insónia.
Uma coisa que hoje em dia é impossível de ignorar é a famosa crise.
Está presente em todos os noticiários, na boca do povo, na mente dos nossos governantes e, muito especialmente, nas nossas.
Estou disponível para abrir os braços às mudanças, mas não a mão dos meus valores. Olhemos para o lado: estamos a viver numa era em que pessoas matam numa briga de trânsito, matam por dez reis de mel coado, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura-o. Quem não o tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. As pessoas correm, são escravos do relógio, não conseguem mais ficar a ler um livro, ouvir música. Há tanta coisa para fazer que resta pouco tempo para sentir.
Se tudo correr bem, pelo menos o Poder assim nos assegura, os benefícios irão surgir ao fim de algum tempo, a sensação de fadiga crónica vai desaparecer e dar lugar à energia e alegria habituais, a ansiedade vai-se desvanecer-se e a tristeza também, aumentando o bem-estar.
Nunca devemos rir dos sonhos de outras pessoas, nomeadamente sendo Poder, mas neste caso encará-los com alguma reserva.
Até que, finalmente, os pensamentos e os dias já não serão tão cinzentos, e o bom tempo regressará em todos os sentidos.
A grande alegria no mundo é começar. Em certo sentido, espero ter ainda tempo para o fazer, pois é bom viver e viver é começar sempre, a cada instante.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Fleming de Oliveira - Apresentação de Livro


Fleming de Oliveira - Convite


Convido V.ª Ex.ª e Família para a sessão de apresentação do meu livro “ No Tempo de Mata-Frades, Visconde de Seabra e Outros. A Guerra Civil, o Furto dos Códices Alcobacences e o Mosteiro”, a realizar no dia 17 de Novembro de 2012, pelas 16horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Alcobaça. Do evento consta, além do mais, um momento musical (musica popular portuguesa) e uma sessão de autógrafos.
O evento será apresentado e conduzido por um profissional da Rádio.
Ficarei muito grato e honrado com a sua presença.
Com os melhores cumprimentos

Fleming de Oliveira

segunda-feira, 15 de outubro de 2012



A grande ilusão
Fleming de Oliveira

Gostaria de me poder afirmar como europeísta, embora esteja  convicto de que uma Europa verdadeiramente unida é muito  improvável, senão contraproducente.
Já no século XIX, se ouviram várias vozes a clamar pelos Estados Unidos da Europa e, desde então até aos anos 30 do século XX,  houve diferentes propostas para delinear uma federação económica. É, salvo melhor opinião, uma ilusão que a União Europeia é o resultado de um destino histórico ou que a Europa foi construída por puros idealistas. Já em meados dos anos 50, era raro encontrar na Europa políticos ou intelectuais especialmente preocupados com uma Europa unida, outrossim mais concentrados nos problemas e na política do respetivo país. O discurso político não se identificava com a prática. Os egoísmos nacionais, de que tanto se queixam hoje os idealistas, não nasceram ontem, estiveram sempre presentes. Não houve, pois, consciência europeia no nascimento da Europa, houve, isso sim, uma europeização de problemas internos, sendo a França a grande incentivadora e beneficiária desse processo.
A França, precisava de carvão para a sua indústria de aço e só a Alemanha lho podia fornecer. Depois de várias tentativas falhadas para obter esta valiosa matéria-prima, que passaram nomeadamente por negociações com os soviéticos que ocupavam/controlavam uma parte da Alemanha, viram-se obrigados a fazer um acordo com a Alemanha, o Benelux e a Itália, para criar a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço). Os americanos e os ingleses estavam desejosos por se verem livres da responsabilidade de alimentar milhões de bocas que regressaram das antigas comunidades alemãs na Checoslováquia, Polónia, ou Roménia, e interessava-lhes que a Alemanha se desenvolvesse. Por seu lado, o chanceler Adenauer viu no Plano Schuman a oportunidade da Alemanha recuperar a soberania e regressar ao concerto da comunidade internacional.
Entretanto, com o início da guerra fria em 1947, a Europa pôde contar com o plano Marshall, que, independentemente das muitas interpretações sobre as suas motivações e efeitos, acelerou sem dúvida o processo europu de recuperação económica. Duas guerras devastadoras, separadas por uma grande depressão, criaram um enorme potencial de crescimento, uma espécie de efeito do tempo perdido.
Os europeus criaram tiveram a ilusão de que ter encontrado uma fórmula mágica para o crescimento económico, sendo a Europa, supostamente o fermento decisivo. Isto permitiu criar o Estado Social e tornar a Europa esse fermento cujo sucesso exigia uma integração cada vez mais reforçada.
A queda do muro de Berlim foi o princípio do rápido fim de muitas ilusões. Com a adesão dos países de leste, a centralidade económica da Alemanha foi reforçada com a centralidade geográfica. A França começou lentamente a cair na realidade, vendo-se reduzida à sua verdadeira dimensão, a de uma potência regional. Ficava agora à vista de todos que a grandeza da França era uma ilusão, sustentada, em grande parte, pelo poder, até então, discreto da Alemanha.
O abrandamento do crescimento económico e, em especial, a crise que atravessamos trouxeram à superfície as velhas divisões, egoísmos, como alguns dizem, e abalaram as perspectivas optimistas em que assentava o projecto europeu.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012



A “nossa” FAMÍLIA ESTÁ EM MUDANÇA

Fleming de Oliveira

Mundialização ou globalização são expressões que os portugueses se tem habituado a ouvir. Procuram descrever o processo, aparentemente inelutável, de uniformização planetária (isto é para além da própria EU), enfim, da economia, da política, da cultura, do direito, da moda, dos costumes, etc.
Se a mundialização ou glabalização dos mercados encerra ainda grandes incógnitas, mesmo para “doutos” professores, pois alimentam muitas e variadas dúvidas e expectativas que não sabem responder, a generalizada globalização da vida fomenta concretos efeitos lesivos para o homem e sociedade.
Nesta viragem do milénio, as incertezas assaltam, justamente, muitos portugueses, não necessariamente conservadores. Está em voga a ambígua expressão “crise de valores”, para exprimir a perturbação que sofrem a sociedade e a família nuclear (dois pais e filhos), secularmente o suporte da nossa sociedade e do ser, dito, português.
Tivemos governantes e políticos que tomaram e alegadamente propuseram (por descargo de consciência?) medidas para proteger a família nuclear. Embora positivas e interessantes, não passaram todavia de débeis paliativos, pois não atacarem as causas que minam esta célula, base da sociedade. E a verdade é que depressa deram lugar a contra-medidas, em que a família desagregada foi objeto de benefícios fiscais e das preferências fraturantes e gratuitas do socialismo do Senhor Engenheiro, enquanto a família nuclear sofreu, cocomitantemente, os efeitos de um inexorável processo de ataque e demolição.
A família monoparental em Portugal tem vindo a assumir grande relevância, famílias com apenas um dos progenitores, a coabitar sós com os filhos. Esta situação de monoparentalidade pode decorrer de vários motivos, seja porque um dos progenitores abandonou o lar e o outro não voltou a casar, a mãe solteira ficou com o filho nos braços ou adotou uma criança (monoparentalidade por rutura conjugal). Por sua vez, a monoparentalidade tradicional explica-se normalmente por três causas, como o falecimento de um dos cônjuges, o celibato associado à procriação de filhos fora do  matrimónio e a/ou ausência (por exemplo, emigração ) do cônjuge.
Creio que a monoparentalidade é em Portugal, uma situação ainda essencialmente vivida no feminino, podendo ser  concetualizada como uma dimensão da atual fragilidade social das famílias tradicionais/nucleares.  
Percebi por experiência profissional e social que em Portugal o perfil da família monoparental, com o decorrer do tempo cada vez menos estigmatizada, encontra-se próximo do dos países da Europa (latina), onde muitos pais e mães se encontram sós a viver com os filhos, e colhem necessariamente o apoio da familia tradicional para que possam ser inseridas, nomeadamente, no mercado de trabalho.
Existe hoje em dia uma nova consciência da vida familiar, fruto de uma maior fragilidade nas relações, por sua vez decorrente da “separação” familiar. A monoparentalidade deixou de ser sentida/ entendida como um fracasso, que acarretava um processo de marginalização com reflexos num sentimento de inferioridade e de desvalorização pessoal e, por acréscimo, social. Esta fragilidade emocional não é de forma alguma sentida apenas pela mulher, como muitas vezes se calcula erradamente. A figura paterna encontra-se com frequência ausente nestas famílias, porque abdicou das suas funções devido ao afastamento voluntário ou imposto (como castigo!!!!) pela mãe ou respetiva família materna. 
No entanto, parece-me importante salientar aqui, que a família monoparental não é necessariamente de risco, nem tão pouco os seus membros estão sujeitos a fatores a ele inerentes. Tudo depende do modo como a rutura é gerida pelos cônjuges (e respetivas famiiias nucleares) e ainda de outras problemáticas sociais que aumentam o seu grau de vulnerabilidade, como a precariedade económica.

A “nossa” FAMÍLIA ESTÁ EM MUDANÇA

Fleming de Oliveira

Mundialização ou globalização são expressões que os portugueses se tem habituado a ouvir. Procuram descrever o processo, aparentemente inelutável, de uniformização planetária (isto é para além da própria EU), enfim, da economia, da política, da cultura, do direito, da moda, dos costumes, etc.
Se a mundialização ou glabalização dos mercados encerra ainda grandes incógnitas, mesmo para “doutos” professores, pois alimentam muitas e variadas dúvidas e expectativas que não sabem responder, a generalizada globalização da vida fomenta concretos efeitos lesivos para o homem e sociedade.
Nesta viragem do milénio, as incertezas assaltam, justamente, muitos portugueses, não necessariamente conservadores. Está em voga a ambígua expressão “crise de valores”, para exprimir a perturbação que sofrem a sociedade e a família nuclear (dois pais e filhos), secularmente o suporte da nossa sociedade e do ser, dito, português.
Tivemos governantes e políticos que tomaram e alegadamente propuseram (por descargo de consciência?) medidas para proteger a família nuclear. Embora positivas e interessantes, não passaram todavia de débeis paliativos, pois não atacarem as causas que minam esta célula, base da sociedade. E a verdade é que depressa deram lugar a contra-medidas, em que a família desagregada foi objeto de benefícios fiscais e das preferências fraturantes e gratuitas do socialismo do Senhor Engenheiro, enquanto a família nuclear sofreu, cocomitantemente, os efeitos de um inexorável processo de ataque e demolição.
A família monoparental em Portugal tem vindo a assumir grande relevância, famílias com apenas um dos progenitores, a coabitar sós com os filhos. Esta situação de monoparentalidade pode decorrer de vários motivos, seja porque um dos progenitores abandonou o lar e o outro não voltou a casar, a mãe solteira ficou com o filho nos braços ou adotou uma criança (monoparentalidade por rutura conjugal). Por sua vez, a monoparentalidade tradicional explica-se normalmente por três causas, como o falecimento de um dos cônjuges, o celibato associado à procriação de filhos fora do  matrimónio e a/ou ausência (por exemplo, emigração ) do cônjuge.
Creio que a monoparentalidade é em Portugal, uma situação ainda essencialmente vivida no feminino, podendo ser  concetualizada como uma dimensão da atual fragilidade social das famílias tradicionais/nucleares.  
Percebi por experiência profissional e social que em Portugal o perfil da família monoparental, com o decorrer do tempo cada vez menos estigmatizada, encontra-se próximo do dos países da Europa (latina), onde muitos pais e mães se encontram sós a viver com os filhos, e colhem necessariamente o apoio da familia tradicional para que possam ser inseridas, nomeadamente, no mercado de trabalho.
Existe hoje em dia uma nova consciência da vida familiar, fruto de uma maior fragilidade nas relações, por sua vez decorrente da “separação” familiar. A monoparentalidade deixou de ser sentida/ entendida como um fracasso, que acarretava um processo de marginalização com reflexos num sentimento de inferioridade e de desvalorização pessoal e, por acréscimo, social. Esta fragilidade emocional não é de forma alguma sentida apenas pela mulher, como muitas vezes se calcula erradamente. A figura paterna encontra-se com frequência ausente nestas famílias, porque abdicou das suas funções devido ao afastamento voluntário ou imposto (como castigo!!!!) pela mãe ou respetiva família materna. 
No entanto, parece-me importante salientar aqui, que a família monoparental não é necessariamente de risco, nem tão pouco os seus membros estão sujeitos a fatores a ele inerentes. Tudo depende do modo como a rutura é gerida pelos cônjuges (e respetivas famiiias nucleares) e ainda de outras problemáticas sociais que aumentam o seu grau de vulnerabilidade, como a precariedade económica.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012


QUESTÕES DE FAMÍLIA e OUTRAS,
ENFIM,
 SOLIDARIEDADE SOCIAL

Fleming de Oliveira
Longe vão os tempos em que os cuidados de saúde e higiene com os idosos eram prestados no calor da familia. Foi, ainda assim, com os nossos Avós que faziam parte integrante da família tradicional, a quem eram dispensados, naturalmente, o aconchego e o zelo possíveis. A família estava estruturada e preparada para isso, sendo a situação aceite no campo ou na cidade, num contexto de maior ou menor escassez de recursos. Antes de disparar o surto de urbanismo, a família tradicional era principalmente rural e agrupava, não raramente, três gerações. Na cidade, encontrava-se no seio de uma classe média burguesa, mais ou menos alta ou confortável. Com uma cidade de habitações exíguas, a família viu-se reduzida ao núcleo mais elementar, desde logo, com a diminuição do número de filhos.
O conceito de família, na sociedade portuguesa, deixou há muito de caber, apenas, no rótulo de tradicional, para se espalhar por outras formas de organização, desde os homossexuais, à mãe e pai solteiros, casais que conjugam filhos de anteriores relações com outros nascidos da nova relação. A sociedade portuguesa olha para as mais recentes formas de organização familiar, com um misto de abertura e desconfiança, principalmente no que toca às mães solteiras e aos casais de homossexuais, cujo debate não encerrou, apesar de referendos.
Com o passar dos tempos a estrutura foi-se alterando, com exigências e compromissos sócio-laborais a exigirem maior ocupação e dispersão dos braços, o que implicou que o idoso fosse sendo remetido para o isolamento do lar. O aumento do tempo médio de esperança de vida, acarretou para esta faixa etária a necessidade duma estrutura social mais sólida, com suporte administrativo e financeiro integrado no Estado-Social. Contudo este, pelo menos em Portugal, está longe de ter capacidade de resposta para todo o espaço nacional, além de que nem os Hospitais ou as Instituições de Solidariedade Social têm condições ou vocação para lidar com a situação.
Perante este estado de coisas e com a população a envelhecer, os Lares de Idosos começaram a proliferar de Norte a Sul numa lógica de exploração ou de negócio como outro qualquer, sabe-se lá com que qualidade.
O programa do governo socialista do Senhor Engenheiro, fez o reconhecimento da diversidade das situações familiares, o que implica o estudo e acompanhamento das mudanças em curso na família e a definição de tipologias de intervenção adequadas. Além disso, defendeu a consagração de políticas públicas determinadas por critérios de justiça social nomeadamente no que se refere à progressiva eliminação dos fatores que afetam todas as famílias em situações de grande vulnerabilidade social - as pessoas/mulheres sós, sobretudo idosos, as famílias numerosas pobres, as famílias em situação de monoparentalidade, as famílias com pessoas desempregadas, as crianças em situação de risco, as famílias imigrantes e famílias com pessoas portadoras de deficiência.
Fez o reconhecimento, fraturou, insistiu e nada adiantou…


Os pais do antigamente,

Fleming de OLiveira

Achavam que os filhos tinham que crescer, desde logo, para poder entrar na vida dura e plena de desafios. Muitos pais de hoje, ao invés, gostariam que os filhos não crescessem.
Paradoxo? Afinal, crescer para quê? Para morarem sozinhos, trabalharem, passarem a pagar as contas, fazerem compras no supermercado! Mas casados terão filhos... para os avós cuidarem (que o diga a minha Mulher…).  Porque casar se podem namorar no carro, em casa ou até no quarto? Podem chegar à hora que quiserem da madrugada! Em casa dos pais, se o filho tem cama, mesa e roupa lavada, para quê ir à luta? Em casa dos pais não é necessário arrumar o quarto, fazer limpezas, recolocar as coisas no lugar, ajudá-los a descarregar as compras ou a mãe na cozinha. Então, por que ser adulto? Para ser responsável e ter que encarar a vida tão perigosa e incerta lá fora? Que maçada.
Os pais do antigamente exerciam forte autoridade sobre os filhos. Eram autoritários e reprimiam os desejos. Os pais de hoje recuam perante o poder crescente dos filhos, justificam-se com o argumento que doutro modo o filho sai de casa, temem a sua explosão emocional e serem mal interpretados pelos especialistas e vizinhos.
Resta-lhes a esperança de que a escola os eduque. Os pais que, com esforço, assumem a função de pai e mãe, tendem a sentir culpa, pois ao dizer um não, dão a impressão de serem prepotentes.
Conversas sobre a sexualidade era tabú. Hoje, muitos pais ainda resistem conversar sobre sexo, nomeadamente com as meninas. Parecem mais preocupados com a droga e as doenças transmissíveis do que em prevenir o crescimento do número de gravidezes precoces.
Antigamente os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, económicos, religiosos, estéticos e comportamentais (brigavam pelo direito de deixar crescer o cabelo e vestir uma calça de ganga  rota e desbotada). Nós, que aspirávamos a revolução, éramos embalados pelo sonho de uma sociedade alternativa, ecológica, justa, igualitária, com um fundo musical de rock ou new age. As crianças e os jovens do início deste terceiro milénio, não vivem um sonho coletivo de mudança social. Outrossim um sonho subjetivo, tribal e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do quotidiano como os games, amigos, namoro, adereços, do que os importantes temas, das décadas de 1960/70. Os pais mesmo esquerdistas ainda não conseguem conversar com os filhos os assuntos que eles, na sua época, consideravam importantes.
Antigamente os pais, de uma boa burguesia, criavam diretamente os filhos, para lhes dar uma boa educação. Com escola de massas, pareceu vingar a tese que esta era quem devia educar, para os pais poderem dedicar-se ao trabalho e/ou à carreira profissional. Neste entendimento, seria mais adequado e moderno deixar aos professores a educação da nova geração.
O resultado daquele discurso educacional levou a que os pais se desobrigassem de educar os filhos e a desorientada Escola haja perdido o seu principal munus, ser eminentemente agente ensinante.
Antigamente, as crianças acompanhavam os adultos nas suas atividades. Os pais comandavam diretamente ou por percetores a sua educação e exerciam ao máximo a autoridade, reprimindo muitos dos desejos dos filhos. 
Era comum ver crianças aprendendo cedo para seguir as pisadas dos pais, pois estudar não era considerado como o mais importante,  (especialmente as meninas). 
Atualmente as crianças precisam sair de casa para aprenderem coisas tão variadas como línguas estrangeiras, informática, artes, ou desporto. A criança para ter acesso a todo tipo de informação tem que frequentar uma escola, pelo que não se admite mais, que as haja as fora da escola. 
Como eu vou saber da Terra, viver a vida até o fundo,
se nunca me sujar? Quero ter barro nos pés.
Como eu vou lidar com pessoas, quero aprender o mundo!





Antigamente é que era bom…

Fleming de Oliveira
Esta é uma expressão que ouvimos com frequência, a propósito dos mais variados temas, sendo a educação, seguramente, um deles.
Há quem defenda que, nos tempos que correm, o ensino e a educação não têm o valor do antigamente, seja antes ou depois do 25 de Abril. Reina a suposição fácil (quem não quer ser lobo não lhe veste a pele…) que se caiu num facilitismo irremediável e sem solução, salvo suspender as reformas implementadas impulsivamente nos últimos 20 ou 30 anos. Cada Governo altera a anterior e tenta impor a sua.
Formar opiniões muito radicais, implica o risco de serem limitadas a perspectivas incompletas. De facto, hoje em dia a vida escolar (segundo ouço em casa, pois a minha Mulher, como se sabe, é há muitos anos Professora em Alcobaça, aliás desencantada…), está mais facilitada do que no meu longínquo tempo de estudante. O grau de exigência do professor para com o aluno desceu bastante, ao que se diz que para satisfazer as estatísticas impostas pela U.E. e como se tal não fosse bastante, a política dessa lastimável ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues. É vulgar ouvir-se dizer aos mais velhos que um aluno com o 9º ano, tem muito menos conhecimentos do que um aluno antigo com a quarta classe. O facto é que essas pessoas, talvez com mais de 50 anos, tiveram mesmo de memorizar e aprender muitos mais factos (uteis?) do que os meninos das nossas escolas de Ensino Básico.
Existe um mundo novo que se interpõe entre a Escola do antigamente e a Escola de hoje, uma sociedade que se defronta com inúmeros desafios, que inundam a casa e a família e aos quais a mesma Escola não tem sabido (querido?) contrariar. Os meninos nascem inseridos na era tecnológica, com tudo o que isso traz de bom e de menos bom. A dificuldade em raciocinar matematicamente pode ser, por exemplo, uma consequência da possibilidade de se utilizar, por sistema, a calculadora. Por outro lado, são estes mesmos os meninos que, como os meus netos, se aproximam de um qualquer aparelho eletrónico e o dominam, para meu enorme espanto (e com alguma inveja!) de forma rápida e eficiente.
Dizem os professores que o número de meninos com défice de atenção disparou nos últimos anos. A dificuldade de concentração advém, ao que creio, da velocidade a que somos bombardeados com notícias, das corridas diárias para cumprir as ainda que simples tarefas rotineiras.
Os nossos jovens têm dificuldade em concentrar-se, porque estão conjuntamente expostos a demasiados estímulos, desde o primeiro momento de vida.
Então, em lugar de se criticar o estado da educação (sendo dúvida  mau), louvando as vantagens do sistema antigo, talvez seja benéfico recuperar (seria possível ou é mais um dos meus lirismos?) alguns valores e rotinas antigos, como o respeitar os professores, tomar as refeições em família, a definição e cumprimento de regras para ver, utilizar a TV, Internet, ou o telemóvel.
Não, não vale a pena criticar, se nada se fizer para mudar. E o exemplo tem de vir de cima.



TRABALHO MAS COM DIREITOS

Fleming de Oliveira

É indiscutível que o trabalho desempenha um papel de essencial relevância no homem social.
O trabalhador é visto como pessoa responsável, honesta, íntegra e comprometida com a sociedade e quem não trabalha (isto não é uma generalização, muito especialmente nestes dificeis dias que vivemos), acaba por ser reputado pelo amigo louro e de olhos azuis como o oposto. No entanto, e algo paradoxalmente, algumas pessoas que subiram  na vida a pulso, como se costuma dizer, são vistas com certa reserva pelos demais cidadãos que questionam impetuosamente como, quando, onde e a quem a pessoa ganhou, roubou, subornou ou sonegou para aí chegar tão alto ou tão depressa.
A sociedade portugues aceita o sucesso com limites, que ultrapassados neste momento de desconforto generalizado, leva a questionar a integridade, honestidade e o comprometimento do cidadão, com ela mesmo. 
Porém, ainda que o trabalho ajude uma pessoa a tornar-se  responsável e independente, a imagem de homem trabalhador ainda tem e terá grande impacto aos olhos da sociedade deste Portugal que somos.
A coberto do acordo com a Troika, o Governo (muito especialmente o anterior deu início a essa política) parece admitir, não rejeitar pelo menos, a desvalorização do trabalho (em Direito penal isto seria rotulado como dolo eventual), seja através da diminuição real dos salários, seja através do aumento do horário de trabalho, seja através da redução das indemnizações, em suma, um empobrecimento que irá ganhar uma dimensão mais significativa com os cortes nos Subsídios de Natal e de Férias.
Empobrecimento para quem trabalhou toda a vida, estabelecendo confiadamente um contrato com o Estado, e que vê agora esse contrato não ser cumprido, com argumentos que não compreende. Triste sorte!!!
Não, não me reputo ser um incansável e empedernido esquerdista, mas não repudio entender esta a ideia que tem justificado e possibilitado, através de um conjunto de medidas de austeridade, uma brutal desvalorização do trabalho em prol dos interesses do capital financeiro e do aumento de facto da exploração.
E, entretanto, vamos continuar a ouvir doutoralmente que é preciso trabalhar mais como a formiga que não a cigarra (o camarada Vasco não faria um discuirso melhor, obviamente ainda que de âmbito oposto), que vivemos acima das possibilidades e que é necessário ajustar (diminuir!!!) salários.
Mas o plano de desvalorização do trabalho não está a ser executado apenas de forma direta no salário, como resulta por exemplo do ataque à Segurança Social, o deteriorar de diversos apoios sociais, como o apoio aos desempregados (subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego) e os abonos de família. A degradação duma parte do salário e de direitos elementares pressionam o conjunto dos salários para baixo, por via da chantagem social, a expressão é dura mas rigorosa, e da pressão do desemprego.
Com as desculpas da crise, o discurso da inevitabilidade assume especial relevância, e esta desvalorização do trabalho representa uma perigosa regressão social.
Pelo caminho, o Poder envia algumas docinhos envenenados aos precários, como o subsídio de desemprego para os prestadores a recibos verdes.
Em vez de resolver o problema de centenas de milhares de portugueses a falsos recibos verdes, dá-se uma prendinha para as manter caladas sem se acabar com essas contratações. É certo que este dinheiro lhes faz falta, mas a nossa contestação não se resume ao subsídio de desemprego, outrossim a um trabalho sem direitos.