quinta-feira, 30 de maio de 2013

OS DIAS DA MÚSICA 2013



Decorreu este ano (2013), e durante um fim-de-semana de Abril, no Centro Cultural de Belém, mais uma edição, a sétima, de “OS DIAS DA MÚSICA”, sob o égide de “O Impulso do Romantismo”.
Afinal o que é “O Romantismo”?
Vou tentar caracterizá-lo de uma forma simples e compreensível, muito especialmente por não nos estamos a dirigir a especialistas ou académicos. “O Romantismo”, foi um movimento de origem europeia, estético e artístico (que se expandiu pelas Belas Artes, Literatura e Música), político e filosófico, e que perdurou por grande parte do século XIX, embora se tenha iniciado no século anterior. Assumiu-se como uma sensibilidade, na visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os Estados nacionais.
Inicialmente, sendo apenas uma atitude, o “Espírito Romântico” passou a designar a visão de mundo centrada no indivíduo, tendência idealista ou poética de alguém que carece de sentido objetivo. Os autores românticos voltavam-se cada vez mais para si, retratando o drama humano, os amores trágicos, os ideais utópicos, o desejo de “fuga”. Se o século XVIII, foi marcado pela objetividade, pelo Iluminismo e pela Razão, “O Romantismo” do século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo “Eu”, rumo a uma cultura da libertação que, politicamente, encontra se radica na Revolução Francesa
A exaltação da pessoa, a redescoberta da “Cultura Medieval” em contraposição com a “Greco-Romana” (arte equilibrada e perfeccionista), a libertação dos sentimentos e a apologia das paixões, em oposição à “Ditadura da Razão”, são os valores explorados pelos românticos. A ironia e a melancolia caracterizam este estado de dúvida e de anseio, bem como a crítica distanciada da sociedade e o sonho de qualquer coisa nova.
O “Espírito Romântico”, como sonho e fantasia, baseia-se na inspiração fugaz dos momentos fortes da vida subjetiva, a fé, o sonho, a paixão, a intuição, a saudade, o sentimento da natureza e a força das lendas nacionais. Com o tempo e muito graças ao impacto do romantismo sobre a cultura do século XVIII, a expressão ganhou outra dimensão que chegou aos dias de hoje, embora restringindo-se, usualmente e vulgarmente, ao plano afetivo. O romântico é neste sentido o enamorado, o apaixonado, o sonhador ou o utópico. Perguntamo-nos, pois, o que é hoje “O Romantismo”, no sentido de se saber se alguém ainda pode ser considerado romântico neste século XXI.  
As primeiras manifestações de “O Romantismo” na música, que de certo modo é o que de momento me interessa considerar, apareceram segundo os especialistas com Beethoven, cujas Sinfonias, a partir da Terceira, revelam uma temática profundamente pessoal e interiorizada, tal como algumas de suas sonatas para piano.
Outros compositores como por exemplo, Chopin, Tchaikovsky, Mendelssohn, Liszt, Grieg, Brahms e Berlioz, levaram ainda mais longe o “Espírito Romântico” de Beethoven, abandonando o rigor formal do Classicismo para escreverem músicas mais de acordo com as emoções
Na ópera, os compositores mais notáveis foram o italiano L. Verdi e o alemão R. Wagner. O primeiro compôs óperas, plenas de conteúdo épico ou patriótico, como “Nabucco, “I Vespri Sicilianni”, “I Lombardi nella Prima Crociata, sem prejuízo de ter escrito também outras baseadas em histórias de amor, como “La Traviata”. Wagner foi à procura da mitologia germânica, como “O Anel do Nibelungo”, “Tristão e Isolda”, “O Holandês Voador”, ou sagas medievais como “Tannhäuser,Lohengrin” e “Parsifal. Mais tarde na Itália o romantismo na ópera assumirá mais expressão com Puccini.
Desde cedo, Hector Berlioz, nascido a 1803, identificou-se com o “O Romantismo” francês. Eram seus amigos, entre outros,  Alexandre Dumas, Victor Hugo e Balzac. Posteriormente, T. Gautier escreveria que “Hector Berlioz parece formar, juntamente com Victor Hugo e Delacroix, a Trindade da Arte Romântica”.
A morte de seu pai, levou-o a compor a ”Marcha Fúnebre para a última Ceia de Hamlet”(inserida na programação deste ano, que foi interpretada com sucesso pela Banda da GNR seguramente o expoente máximo deste tipo de agrupamentos musicais em Portugal ou mesmo na Europa e que continua a prosseguir o admirável objetivo de levar a cultura musical a todo o país) e a cujo concerto assisti e aqui destaco.
Sempre que ouço Berlioz, recordo-me (desculpem-me este aparte, eventualmente, deslocado) dos meus tempos no “Orfeon Académico de Coimbra”(com os maestros Raposo Marques e depois Joel Canhão) enquanto estudante universitário e, muito mais tarde já pai de filhos e Advogado em Alcobaça nos “Antigos Orfeonistas”, onde o “Amen”, da “Danação de Fausto”, era de certo modo o hino do nosso coro, que fazia a ponte entre as sucessivas gerações e encerrava com emoção, desde há muitas dezenas de anos, as atuações em público. Pergunto-me se teria Berlioz ofendido, escarnecendo, o sentimento religioso dos fiéis nessa passagem da Danação de Fausto?
Na verdade, não se pode dizer que seja um “amen” muito edificante, o cantado na peça pelos convivas duma taberna de Leipzig e por nós (coro masculino) com alegria, garra e certeza de sucesso.
Seja como for, é magistral o modo como, independentemente do enquadramento, esta área se vê impregnada de ironia, uma caricatura em “estilo fugado” onde, com minúcia, Berlioz exagera os contornos do contraponto tradicional, numa aparente cacofonia.
Caros leitores:

embora com menos meios “OS DIAS DA MÚSICA” são um marco importante no nosso meio cultural e recomendo vivamente que quem tiver oportunidade não perca a edição do próximo ano.

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