quinta-feira, 12 de junho de 2014

VEJO ISTO COM PREOCUPAÇÃO…




VEJO ISTO COM PREOCUPAÇÃO…

FLeming de OLiveira

Provenho de uma família (aonde havia 8 filhos) da boa e decente burguesia nortenha, cujos membros, na generalidade, aceitavam o regime, mais não seja por omissão (que não tanto por ação) como muitos outros portugueses, se preocupava com o bem comum e praticava solidariedade com alguns desfavorecidos, preferencialmente vizinhos. A democracia em casa de meus Pais era uma noção interessante, mas indefinida (cujo primeiro contacto fora o manual universitário), para a qual pensávamos que o País não estava preparado, argumentando-se nesse sentido com os tempos atribulados da I República. Vivíamos com moderada satisfação, o Banco de Portugal tinha lingotes de ouro (cuja origem não nos preocupava ou interessava), o meu Pai ganhava bem, não havia droga até os brasileiros virem estudar para Portugal na década de 1960, e o comunismo era um fantasma que vivia muito longe (fora das nossa blindadas fronteiras) e se agitava por cá de vez em quando. A Guerra do Ultramar, não era injusta (não me ofereci para a Guiné, mas não fugi nem desertei, apesar de casado e pai de duas meninas) pois estávamos a ser vítimas da cobiça corporizada em países amigos e outros nada amigos, e Portugal devia continuar como nação de Minho a Timor, tanto mais que na missão civilizadora (onde se destacava o fomento material) estavam ausentes práticas, tão pouco cristãs, como o racismo ou o apartheid.
Os africanos ainda não estavam preparados para se auto-gerirem (tal como nós, na metrópole, relativamente à democracia).
Mas com isto ou apesar disto, assumo-me e posso dizer que sou Homem do Vinte e Cinco de Abril, não só porque tenha vivido os tempos revolucionários, sem me identificar com uma boa parte da mitologia de dita esquerda e do PREC, outrossim com alguma da dita direita e porque não queria socialismos à soviética, à cubana ou à albanesa, embora não conhecesse a realidades desses países. Posso, pois, dizer sem complexos que a Democracia que ajudei a implantar na nossa região (e mesmo na Assembleia da República), significou para mim uma modernização tanto mais fácil, agradável e convicta, porque encontrou, num ainda recente universitário, terreno favorável.

Afastado da política militante, ao fim de 40 anos de Democracia vejo com enorme preocupação, talvez com mais clareza, a ausência de princípios e valores estruturais (que ao tempo supunha termos e serem imprescindíveis), o que viabiliza um discurso despojado de alternativas credíveis, sérias e exequíveis. Se por um lado, essas caraterísticas são passíveis de assegurar uma certa presença mediática, por outro lado, nas circunstâncias difíceis com que os portugueses estão confrontados, aceleram o desgaste (espero que sanável, mais cedo ou mais tarde) e evidenciam o vazio das ideias. Quando um partido da oposição pensa, que o seu exercício se basta por enveredar num discurso negativo e crítico (no pressuposto que quem tem de definir rumos é o governo, à oposição cumpre fiscalizar…), esquece que a dialética política, implica apresentar alternativas e propostas que não sendo lugares-comum resistam ao mero confronto do debate.

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