quarta-feira, 22 de agosto de 2018

OS MEUS AMIGOS



OS MEUS AMIGOS

-Os Amigos são para as ocasiões?
Não, caros leitores os “Amigos” são para sempre.
A amizade é um prazer, uma satisfação, um gosto. Não deve depender de favores ou ajudas.  Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e, nesse caso, não se fala mais nisso.
Resultado de imagem para amigosO desvalor da amizade, tal como da solidariedade a que me referi há tempos neste espaço de jornal, deve-se a uma persistente instrumentalização que tem sofrido. É o perverso instrumento de cunhas, palavrinhas segredadas ao ouvido, cumplicidades e compadrios. Por isso as amizades se fazem e desfazem como se fossem circunstanciais tratos políticos ou comerciais. Se alguém “não corresponde”, se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como “o mau” amigo, o “o ingrato” e sumariamente afastado. Tenho necessidade de pensar e acreditar que os Amigos são com quem (não obstante a distância) estamos em contacto. Podemos até gostar mais deles do que eles de nós. Não me interessa, não encarei como questão de balança.
Os amigos são úteis? Não caros leitores, têm de ser “inúteis”. Bom tenho de explicar para não haver mal-entendidos, devem bastar só por si, existir. O porquê, o onde e o quando não me interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objetivo. É impossível lembrarmo-nos de como nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vai ter essa relação.
É por isso que dura para sempre, porque não contém expectativas nem planos, nem ansiedade.

-"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angustia, das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado.
Seja pelo destino ou por algum desentendimento, cada um segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
-Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
-Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

NOTA: cfr. Dedicatória aos Amigos
-Fernando Pessoa-

Sem comentários: