segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Voltamos sempre ao "Bom" clima


VOLTAMOS SEMPRE AO “BOM” CLIMA
Fleming de Oliveira



1)-É importante ter um bom clima para respirar, como tenho destacado nos meus últimos apontamentos.
É importante ter um bom clima para trabalhar.

2)-Desde sempre as sociedades evoluíram mais ou menos conforme a sua capacidade de invenção e aperfeiçoamento tecnológico.
A partir da Revolução Industrial a chegar tardia a Portugal envolvido numa invasão estrangeira e depois numa guerra civil, as transformações sociais que se seguiram, ao mesmo tempo que trouxeram progressos importantes que não eliminaram a pobreza, colocaram o trabalhador perante perplexidades, que não pararam até à atualidade. O cinema estrangeiro e mesmo a literatura nacional, deram-nos obras que espelham as inquietações que acompanharam o progresso tecnológico.
 A revolução tecnológica nunca foi vista como um bem inquestionável em si e para o ser humano, e o ponto de vista dos “inovadores” está longe de ser pacífico. Ela não se traduziu apenas na libertação e no bem-estar, pois arrastou efeitos destrutivos a que o ambiente climático não foi alheio e em renovadas formas de opressão e injustiça social, não obstante o consumo e a força do mercado terem ganho uma relevância crescente. Se o trabalho, mais do que o consumo, é onde os portugueses continuam a ser mais diretamente confrontados com a técnica, a maior exposição do segundo, tende a secundarizar o primeiro.
Que digam os Centros Comerciais em fins de semana ou em tempo de chuva.
Desafios e obstáculos ao desenvolvimento tecnológico em Portugal com efeitos alienantes da técnica sobre o trabalho, que o PCP denunciou e tentou obstaculizar “tout court” na mais pura ortodoxia depois do 25 de abril, não impediu que a produção se expandisse.

3)-Desde a segunda metade do século XX, a classe trabalhadora portuguesa manteve uma relação ambígua com a tecnologia. Se por um lado, viu-a como uma ameaça aos postos de trabalho (pessimismo que antevia cenários ameaçadores) por outro, a inovação tecnológica não só permitiu a eliminação de algumas tarefas laborais/braçais muito pesadas (visão “idílica” de um mundo feliz em que as tecnologias substituiriam o esforço físico), como favoreceu o reforço das organizações sindicais. Ambos os cenários foram idealizados no quadro de ideologias de sentidos opostos, mas que a realidade foi progressivamente recusando, visto que os efeitos da evolução tecnológica, por se inscreverem na lógica da dinâmica social, sempre foram contraditórios.
A tecnologia e as suas implicações no emprego e na vida social é tema recorrente nos estudos económico-sociais e em certa propaganda política. O manual tem atestado a necessidade de se evitar o “determinismo tecnológico”, pois a máquina “nunca é nem puro meio, nem puro fim da atividade social”. Para se compreender os impactos e implicações sociais da inovação tecnológica, é importante sublinhar que eles incidem simultaneamente em múltiplos domínios e níveis de análise. É necessário, antes de mais, pôr em evidência as condições socioeconómicas e culturais
que favorecem ou impedem o desenvolvimento tecnológico. As tecnologias, tal como o conjunto de artefactos materiais ainda que hoje tidos como elementares, uma vez apropriados ou marcados pelo homem, ganharam um novo alcance no plano simbólico e das subjetividades e revestem-se de múltiplos significados. Por isso, a problemática da tecnologia, da presença ou da ausência de novas tecnologias, repousa sempre em implicações sociais, antes, durante e depois da sua aplicação concreta.

4)-Não, não subscrevo a visão idílica, neutra e fictícia de uma globalização homogeneizante e harmoniosa, como tem sido construída e divulgada pelos ideólogos neoliberais e pelos “mass media” de serviço. O novo liberalismo global entrou numa dinâmica vertiginosa, e os seus impactos sobre as relações de trabalho fazem-se hoje sentir em todas as regiões do globo, diria nas mais desenvolvidas.
Uma reflexão sobre o caso português impõe que se tenha presente tratar-se de uma sociedade que só há cerca de 30 anos começou a pôr em prática políticas de modernização socioeconómica no quadro do processo de consolidação democrática.
O processo de transformação que o tecido produtivo sofreu, obedeceu a um vasto leque de incidências, de natureza económica, política, social, institucional, que se prendem simultaneamente com fatores internos e externos.
Entre outros, há que destacar os relacionados com a adesão à CEE, o conjunto de ações destinadas à inovação tecnológica no sector empresarial, os programas de apoio à investigação científica e tecnológica com os consequentes efeitos no crescimento de quadros qualificados, as políticas educativas, sua evolução e debilidades, e a articulação entre os investimentos estruturais e as práticas empresariais.
Não obstante as dificuldades que Portugal continua a enfrentar neste domínio, pelo menos desde meados dos anos oitenta, existem indicadores de que o processo de desenvolvimento tecnológico, no que se refere ao recurso a serviços técnicos especializados e à informatização, denota evolução. Segundo levantamentos efetuados há cerca de 30 anos e a que tive acesso, a grande maioria das empresas portuguesas já tinha informatizado os serviços de contabilidade, cerca de metade alterado os métodos de gestão do pessoal e 10% recorriam a serviços técnicos especializados, próprios ou contratados, além de terem a sua gestão e o processo de produção informatizados. Isto está longe de corresponder a um avanço significativo no domínio da inovação tecnológica, principalmente de base empresarial.

5)-Um ponto importante que importa ainda sublinhar, prende-se com a participação dos parceiros sociais e dos trabalhadores nos processos de mudança organizacional e tecnológica.
Creio ser de destacar que as estratégias de inovação estão associadas a modelos flexíveis e participativos de gestão e à influência da ação sindical.
Durante muito tempo, o sindicalismo português manteve-se amarrado a estratégias de resistência na alegada defesa das regalias conquistadas no pós-25 de Abril. Até aos anos de 1990, os principais sindicatos da indústria, os filiados na CGTP, persistiram na renitência face aos programas de reestruturação e centraram-se principalmente na defesa do emprego e dos “alegados” direitos adquiridos.













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