sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

EVOCANDO ARTUR JORGE E ALGUNS FACTOS DA “BRIOSA”

 

 

EVOCANDO ARTUR JORGE

E

ALGUNS FACTOS DA “BRIOSA”

 

FLeming de OLiveira

 

 

 

 

Embora não seja um grande aficionado do futebol, fiquei incomodado com o falecimento (embora não imprevisto), aos 78 anos de Artur Jorge (Braga de Melo Teixeira). Tal como eu nascido no Porto, e quase da mesma idade, brincamos jogando bola de trapos, saltando ao eixo ou lançando o peão.

Como jogador de futebol a sério, foi avançado e começou a carreira no FC Porto, antes de rumar à Académica de Coimbra, onde estudou na década de 1960 e com quem privei regularmente, embora ele fosse aluno na Faculdade Letras. Ao tempo os jogadores da AAC eram estudantes, na maioria universitários. Encontrávamo-nos no Café Mandarim (na Praça da República) e por vezes nos copos, no que era comedido por natureza e razões desportivas, muitas vezes com a companhia do Toni.

Foi na Académica que começou a afirmar-se como um dos melhores avançados do campeonato (creio que aí o seu estatuto era semi profissional), o que confirmou como profissional no Benfica, onde jogava o Eusébio, somando  golos e troféus. Quando o Benfica jogava em Coimbra, Artur Jorge era recebido com carinho, sem azedume e, raramente, com assobios.

Quando arrumou as chuteiras, iniciou a carreira de treinador no Belenenses, depois no Portimonense, antes de assumir, com Pinto da Costa na presidência, o comando técnico do FC Porto. Em 1986/1987 viveu o momento alto da carreira, ao conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus em Viena de Áustria, com um memorável triunfo por 2-1 sobre o Bayern, de Munique e o golo de calcanhar do Madjer.

Rumou depois a França, para orientar um Paris Saint-Germain, menos conhecido do que atualmente. E guiou os parisienses à conquista da Taça de França e, depois, ao que ao tempo foi o segundo título de sempre como campeões francês. Por essa altura, em virtude do sucesso, já muitos lhe tinham dado o cognome de Rei Artur.

A partir daqui só nos encontramos uma ou duas vezes, sendo a última em 2004 em Gelsenirchen, por acaso e à entrada do estádio.

O falecimento de Artur Jorge leva-me a trazer algumas evocações.

No dia 25 de Junho, de 1939 a Académica conseguiu a maior conquista desportiva da sua História (até então), ao ganhar a primeira Taça de Portugal, competição que substituiu o denominado Campeonato de Portugal. Depois de eliminar o Covilhã, o Académico do Porto e o Sporting, a Académica teve pela frente, no jogo decisivo, o Benfica. Perante cerca de 30 mil espectadores, no Campo das Salésias, a Académica venceu os lisboetas por 4-3. Os festejos duraram dias e Coimbra recebeu em êxtase os seus heróis. Foi nesta altura que se tornou famoso o grito de vitória dos adeptos da Académica: “São horas de emalar a trouxa/ Boa noite, Tia Maria./ Que a Briosa ganhava a Taça,/ Obrigado! Já cá se sabia!”.[

No verão de 1961 um jogador da Académica protagonizou a primeira grande transferência de um futebolista português para o estrangeiro. Jorge Humberto, estudante de Medicina, transferiu-se para o poderoso e famoso Inter de Milão.

No campeonato de 1966 /1967 a Briosa terminou na segunda posição atrás do Benfica, naquele que foi um intenso duelo e que durou até final e acompanhei de perto. Três pontos separaram as duas equipas no final do campeonato, que coroou Artur Jorge como segundo melhor marcador da competição, apenas ultrapassado por Eusébio.

Em 1969, a Académica atingiu a final da Taça de Portugal. O jogo decorria com superioridade da Académica que chegou a estar em vantagem, mas o Benfica deu a volta ao resultado no prolongamento. O encontro entre a Académica e o Benfica foi muito mais que um jogo de futebol. A final da Taça de 1969 foi seguramente a mais politizada de todas que se disputaram. A crise estudantil de 1969 estava ao rubro, a Académica estava solidária com os estudantes e a Direção Geral da AAC aproveitou o jogo para dar visibilidade às suas reivindicações. Foi a primeira vez que a final da Taça não teve transmissão televisiva e nem o Presidente da República, nem o Ministro da Educação marcaram presença.

A 25 de maio de 2012, após um jejum de 73 anos, a Académica conquistou a sua segunda Taça de Portugal com vitória frente ao Sporting.

A Associação Académica de Coimbra, que atualmente joga na terceira divisão do futebol português, é herdeira da Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra, o que lhe vale o epíteto de "equipa dos estudantes", já que até à década de 1970 a grande maioria dos jogadores eram universitários, como referi.

É hoje, na prática, um clube independente em relação à casa-mãe, que de resto mantém uma secção amadora de futebol que disputa as distritais, bem como modalidades, como basquetebol, rugby, canoagem, natação, voleibol, ténis, ou andebol.

Como as equipas da casa-mãe, é designada normalmente apenas como "Académica", e carinhosamente de "Briosa", alcunha que advém da entrega com que normalmente se batiam as suas equipas de estudantes.

Um dos acontecimentos mais importantes na década de 1920 foi o nascimento do símbolo que a Associação Académica de Coimbra/AAC adotaria de forma definitiva. Após tentativas que não foram do agrado, a Académica decidiu utilizar um novo símbolo, que contemplava as iniciais “AAC”, numa partida com o Sporting e cujo objetivo era “vingar” a derrota na final do Campeonato de Portugal. Contudo, a Académica seria derrotada e as “culpas” foram atribuídas ao novo emblema que, por isso, foi ostracizado. Na época 1927-1928, o estudante de Medicina, Fernando Ferreira Pimentel, a pedido do dirigente Armando Sampaio, desenhou o atual símbolo, que passou a ser usado e se mantém.

 

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