quinta-feira, 26 de abril de 2012

ENTRE POLÍTICOS E TECNOCRATAS, O CERTO E O ERRADO…

Fleming de OLiveira Não que a História se repita, mas os interesses dos que declararam o Fim das Ideologias, permanecem os mesmos. Em 1959, o norte americano de Harvard, Daniel Bell escreveu The end of ideology, onde aponta o esgotamento das ideologias, face ao sucesso do capitalismo liberal e o fracasso do comunismo, muito especialmente perante a recuperação da Europa (capitalista) após a II Guerra. No entanto, o otimismo desses intelectuais e seus seguidores, foram abalados na década seguinte, com o sucesso da adesão de Cuba ao tipo soviético, as revoluções em África e Ásia (decorrentes do processo de descolonização) e os movimentos sociais, em particular dos estudantes, destacando-se obviamente o Maio de 68. Direta ou indiretamente esses movimentos questionavam o modelo capitalista e muitos deles ocorreram nas grandes praças do capital. Na década de 70, os Estados Unidos deixaram o Vietaneme sem a glória de uma vitória e a expansão do modelo soviético, forçaram um discurso não redutor, reconhecendo a existência de mais uma força, além das duas tradicionais. Mais tarde, voltamos a confrontarmo-nos com aq defesa da mesma tese, o Fim das Ideologias, na visão precipitada pela queda do Muro de Berlim, a desagregação da URSS e o seu bloco. Ao mesmo tempo, aquela associou-se à expressão o Fim da História, que aparece num artigo do norte-americano Francis Fukuyama, que posteriormente veio a desenvolver em O Fim da História e o Último Homem. Segundo Fukuyama, o capitalismo e a democracia (burguesa/formal), constituem o coroamento da História da Humanidade, que teria atingido o topo evolutivo, salientando que o liberalismo superou, com sucesso, as dificuldades e obstáculos, nomeadamente o fascismo e o socialismo. Entre parentesis, refiro que entendo ser um equívoco, colocar fascismo e socialismo em campos opostos, pois o fascismo foi uma forma de governo que se desenvolveu no interior de estruturas capitalistas, serviu os interesses de grandes corporações e por isso, as suas expressões e métodos, anti liberais. Por outro lado, o socialismo (científico) não é apenas uma forma de governo, mas um sistema acabado, com concepções políticas, económicas e sociais. Mais do que defender a democracia e o liberalismo, faz-se com o Fim das Ideologias, a defesa do capitalismo. No entanto, como defender a excelência do liberalismo, do ponto de vista político e económico, se dele estão excluídos mais de dois terços da população mundial, enquanto se não desenvolver um pensamento que não se contente com a aparência dos fenómenos históricos e se preocupe mais em questionar a essência contraditória da realidade social, aberta à possibilidade da emancipação e transformação do mundo? Foi nos anos trinta do século XX que surgiu, nos Estados Unidos, a ideia de tecnocracia, como forma acabada e perfeita de organização da sociedade, ao admitir-se que a economia poderia passar a ser dirigida por técnicos e organizadores, independentes dos proprietários ou políticos, mas que não teve seguidores no Portugal corporativo. O fenómeno, a que não foi imune o próprio estalinismo, transformou-se, pelo menos no Ocidente (aqule que conhecemos por experiência), numa ideologia que se radica no reservar um lugar central ao fenómeno económico, à sua construção e articulação em função da vida económica, com justificação na eficácia, na descoberta de soluções ótimas no campo do bem-estar social, mediante o emprego dos métodos das ciências físicas. Ao mesmo tempo, assegura confiança na técnica da planificação, para regulamentar e desenvolver a economia. Marcelo Caetano, com o seu Estado Social, terá ensaiado alguns pequenos passos. Segundo alguns pensadores, a relação entre o saber, a ciência e o político pode ser encarada de forma decisionista, tecnocrática ou pragmática. No modelo decisionista, os políticos conservam fora dos âmbitos da praxis coactivamente racionalizados uma reserva em que as questões práticas devem continuar a decidir-se por meio de actos de vontade. O modelo pragmático considera que há uma comunicação recíproca, onde os peritos aconselham os políticos que, por sua vez, os encarregam, segundo as necessidades. No modelo tecnocrático, os peritos são os verdadeiros soberanos e os políticos apenas tomam decisões formais. As máquinas apresentam-se com belas roupagens, aparecem como instrumentos de libertação do suor do trabalho, facilitando múltiplos afazeres. É como se houvesse, finalmente, lugar à redenção da conhecida e inequívoca maldiçao divina: Com o suor do teu rosto comerás teu pão. Com este o avanço, não é mais preciso suor, nem esforço por parte dos homens, a máquina faz tudo. Soma-se a isto, outra benção da tecno–ciência, com as suas descobertas que prolongam a vida. A morte é sucessivamente postergada, já que, mesmo nos países subdesenvolvidos, aumenta substancialmente a expectativa de vida. É claro que não temos nenhuma intenção de negar o valor e a dignidade de todas as descobertas técnicas e científicas que, desde a gênese da modernidade, tem auxiliado o desenvolvimento da sociedade ocidental. Por mais que queiramos fechar os olhos perante os grandes fatos da história contemporânea, é impossível não enxergar tantos fatos que mostram o paradoxo existente da cultura tecno-ocidental como as múltiplas bênçãos advindas do avanço tecno-científico que não levaram, necessariamente, e o ocidental a realizar-se como pessoa. Pelo contrário, a corrida pelo progresso devastou culturas, tradições, chacinou uma multiplicidade de ecossistemas e reduziu o homem a uma peça na engrenagem das indústrias, fábricas, órgãos do governo, etc. Tudo isso em nome do projeto sócio-cultural tecno-científico. Alguns paises europeus estão a seguir este caminho, uma vez que lhes venderam a ideia que a Democracia pode ser prejudicial (sobretudo para as intenções de outros países!), pelo que o melhor é jogar pelo seguro e deixar os técnicos tratarem do assunto, visto que afinal eles é que sabem dessas coisas da Economia e de governar, sem dinheiro. Efeitos da crise? Contudo, tenho a confessar que não percebo o alarido à volta dos tecnocratas, quando nós já aderimos a esta estratégia há algum tempo, pelo menos em pastas tão pouco importantes como a Economia e Finanças. O facto de termos Académicos, Professores-Doutores e aspirantes a passar pelo governo, a proferir conferências e dar palpites sobre o controlo do défice, cortes no Orçamento, talvez facilite a vida aos estudantes e jornalistas, que podem tirar apontamentos à vontade, mas dificulta imenso a vida aos meros Contribuintes, que são os destinatários deste interminável caso prático. Mas uma coisa é certa, quando já não houver políticos dispostos a avançar, estes senhores iluminaos chegam-se à frente, com tudo a perder, incluindo o vencimento... No mundo (moderno ou antigo, Portugal ou Estrangeiro), sempre se discutiu a questão do certo e do errado, tendo em vista que os termos tem vários sentidos. Políticos, filósofos e religiosos têm se debruçado ao longo dos tempos e textos, meditando sobre o que os/nos cerca, para tentar conseguir algum vislumbre sobre o que verdadeiramente significa certo e/ou errado. Todos definimos, a partir da educação formal, da aprendizagem em família e em grupo, o que é certo e o que é errado. Assim, chegamos a alguns conceitos básicos, como roubar (é errado) ou mentir (é errado). E isso é tanto aplicável às pequenas, quanto às coisas grandes. Sou radical? Talvez. Mas, se temos uma ética, o que é certo o é para todas as ações e, do mesmo jeito, é o errado. Seja como for, pode dizer-se que os políticos que temos (ou tivemos) dão cabo deste nosso Portugal com as opções que tomam (alegadamente certas), mas os tecnocratas, certamente, não vivem nele.

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