quarta-feira, 16 de abril de 2014

-MARCELO CAETANO E VEIGA SIMÃO NA BENEDITA. VÂNDALOS E ICONOCLASTAS-


  
-MARCELO CAETANO E VEIGA SIMÃO NA
 BENEDITA.
 VÂNDALOS E ICONOCLASTAS-
Fleming de Oliveira


Em 8 de abril de 1973, Marcelo Caetano, deslocou-se a Benedita numa visita particular, mas que se revelou de grande projeção, pelo apoio que lhe deram a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia (em cuja sede descerrou uma lápide alusiva), Escolas, Filarmónica de Turquel, bem como a população em geral.
Deslocando-se à Rua Heróis do Ultramar, Caetano  descerrou uma placa toponímica, tendo em nome de antigos combatentes discursado o antigo furriel miliciano Manuel Ferreira Castelhano, Secretário da Junta de Freguesia. Caetano visitou empresas  (tanto da indústria, como da agricultura), o Centro Social e a Cooperativa de Ensino e Cultura, aonde foi cumprimentado pelo Diretor Pedagógico,  Gonçalves Sapinho, demais membros dos corpos diretivos, pessoal docente e alunos e assinou o Livro de Honra. A visita terminou no Salão Paroquial, aonde foi servido um lanche.
José Vinagre, sobre esta visita, recorda que em 1973 ocorreu a que seria a primeira e última visita de Marcelo Caetano à Benedita, onde este referiu que depois de ter visto a realidade a nossa terra, deveria ser tomada como exemplo do país, pelo dinamismo e vontade de progresso, na resolução e empenho para os seus problemas, quer ao nível das dificuldades financeiras, culturais e sociais.
A declaração foi destacada na imprensa nacional e principalmente na imprensa de Alcobaça e veio a ter importância no desenvolvimento, a curto prazo, da Benedita. Acrescentou Vinagre, num depoimento que me prestou que, nesse mesmo dia, Marcelo Caetano descerrou uma placa toponímica com o nome Rua Heróis do Ultramar e uma outra com o seu busto na praça principal de Benedita. Quatro meses depois, já em plena revolução do 25 de abril, ambas as placas foram destruídas por jovens entusiasmados pelo período revolucionário, o que originou uma autêntica revolta popular, criando um descontentamento generalizado na freguesia e que se veio a alastrar à cidade de Rio Maior e mais tarde com consequências em Alcobaça, tanto no cerco ao edifício da Câmara Municipal, bem como à sede do Partido Comunista Português.
Para J. Vinagre, a visita de Caetano, e os acontecimentos revolucionários pós 25 de abril, despertaram nele e outros jovens, um desejo de participação ativa na sociedade.

À visita esteve muito ligado Manuel Ferreira Castelhano.
Em 1971, fora eleito Presidente da Direção do Instituto da Nossa Senhora da Encarnação, Cooperativa de Ensino e Cultura, Externato da Benedita, cargo que exerceu durante vinte anos, quase ininterruptamente.
O Governador Civil de Leiria, José Damasceno de Campos, convidou-o para fazer parte da Junta de Freguesia. A esse convite, que o deixou admirado e honrado, respondeu inicialmente que por um lado era muito novo para essas andanças, já era Presidente da Direção do Externato, que o ocupava muito tempo, era dirigente do futebol (Beneditense) além de, ter outras atividades no âmbito da Paróquia. Damasceno de Campos respondeu, oh amigo Manel, pois é precisamente por isso, que eu o quero convidar e vc. vai aceitar.
E assim, Castelhano acabou por aceitar, assumindo as funções de Secretário, num executivo presidido por António da Silva Marques Santeiro (alcunha que vinha do tempo do avô, escultor artesanal que fazia santos, de que ainda resta um no museu da Igreja da Benedita).
Castelhano goste de salientar, que as suas atividades eram exercidas por puro gosto de participar e colaborar, que tinha uma profissão e modo de vida pois, quando regressou do Ultramar, foi trabalhar numa empresa de construção civil de natureza familiar, como sócio e gerente.
Sem pretender auto elogiar-se, como sublinha, reconhece que tinha um ascendente cultural sobre os colegas da Junta, que lhe adivinha de um maior conhecimento do mundo e contacto com governantes. Quando era necessário fazer intervenções políticas de maior responsabilidade, como discursos, o Presidente da Junta de Freguesia encarregava-o de o representar. Nesses momentos, Castelhano nunca se arrogou a louros que não lhe competiam, apresentando sempre o Presidente, como o primeiro e principal responsável pela gestão dos assuntos da Freguesia.
A visita do Ministro da Educação, Veiga Simão à Benedita, foi combinada entre si e Tarcísio Trindade. O Prof. Veiga Simão, fez uma visita ao Concelho de Alcobaça, tendo almoçado no Refeitório do Mosteiro, uma tradicional Lagosta Suada. Tão preocupado estava com o discurso que teria que fazer a Caetano, que Castelhano nem apreciou o pitéu. Veiga Simão, tomou contacto com a realidade sócio-económica da terra, a obra do Externato, e a pedido da Direção criou o Ciclo Preparatório da Benedita. Estes estudos já eram ministrados no Externato, mas pagos pelos alunos/cooperantes não pelo Estado, o que veio a acontecer a partir daí. Como o Externato tinha dificuldades económicas e uma dívida pendente de 300 contos, Veiga Simão assumiu o encargo.

Mas verdadeira, verdadeiramente importante, foi a visita de Marcelo Caetano. Voltemos ao tema. Certo dia, o Governador Civil de Leiria, numa das conversas e reuniões que tinham com frequência em Leira, perguntou a Castelhano, como quem não dá grande importância: Oh amigo Manel, vc. gostaria que o Senhor Presidente do Conselho (Marcelo Caetano) visitasse a Benedita?
Perante isto, Castelhano ficou como que meio atordoado e respondeu, que isso era a melhor coisa que nos poderia acontecer.
Assim, logo que Castelhano regressou à Benedita, a primeira coisa que fez, foi falar com os colegas da Junta, dando-lhes conhecimento da hipótese, tendo sido de imediato encarregado de, junto do Governo Civil, organizar os pormenores. Passado algum tempo, o Governador Civil convidou-o e à Junta a irem a Lisboa, fazer pessoalmente o convite a Caetano, o que aconteceu na sua casa, na zona de Alvalade, situada por trás da Igreja de S. João de Brito. Recebidos no alpendre da moradia, pois Caetano na altura ia a sair (obviamente de chapéu que nunca dispensava), Damasceno de Campos, apresentou-os: Senhor Presidente trago aqui a Junta de Freguesia mais dinâmica do meu Distrito, que o vem convidar para fazer uma visita à sua terra. Caetano, com um sorriso aparentemente tímido, disse que tenho muito gosto, tenho muito gosto. Temos então que começar a preparar os pormenores.
Entre o convite a Caetano e a sua deslocação à Benedita, decorreram cerca de dois meses. Castelhano reconhece hoje que na altura, houve uma certa inconsciência no convite, do que seria receber em visita o Presidente do Conselho, bem como não se apercebeu da importância que isso iria ter no futuro próximo da terra. Tendo em conta que, há algum tempo a Junta de Freguesia tinha decidido mandar fazer um medalhão em bronze com a efígie de Caetano, para colocar num espaço nobre, foi decidido acelerar o projeto, junto da escultora lisboeta Stela Albuquerque. A visita de Caetano foi apoteótica, afirmação sem exagero, conforme registos que sobreviveram e depoimentos que recolhemos. O discurso de boas vindas do Presidente da Junta de Freguesia a Caetano, foi preparado em conjunto por Manuel Castelhano e Gonçalves Sapinho, além do próprio Presidente da Junta, António Marques.
Foi nessa altura que Caetano proferiu aquela que ficou como a grande imagem de marca da deslocação e é recordada ainda hoje: depois de ver esta grande realidade, eu digo que a Benedita deve ser apontada como um exemplo ao País.
Entre as visitas de Veiga Simão e Marcelo Caetano, ali se deslocaram os Ministros Rui Sanches, Baltasar Rebelo de Sousa e Silva Cunha, bem como variados Secretários de Estado. A Benedita passou a estar no mapa. Castelhano diz que quando o Governador Civil de Leiria, daí em diante, queria exemplificar o progresso do Distrito, servia-se do exemplo da Benedita, fazendo convites a governantes para a visitar.

Depois do 25 de bril, um grupo minoritário, tentou apagar momentos da história da Benedita, eliminando referências, como retirando o padrão onde estava colocado o medalhão com a efígie de Caetano ou partindo a placa da Rua Heróis do Ultramar. Esta placa, depois de alguns mimos e cenas chocantes, voltou a ser posta no lugar que ainda ocupa, embora não mais o medalhão de Caetano, que se encontra à guarda da Junta de Freguesia.

Em 21 de outubro de 1973 foi inaugurada pelo Governador Civil de Leiria, um Padrão comemorativo da visita de Caetano à Benedita, aonde fora colocada a sua efígie, bem como um Parque Infantil, construído voluntariamente pelos rapazes da Casa Pia. Em janeiro de 1974, a Câmara Municipal de Alcobaça deliberou, por aclamação, agraciar Damasceno de Campos, com a Medalha de Ouro do Município, dado haver cessado funções, como Governador Civil. Pela mesma altura, foi decidido atribuir o nome de Damasceno de Campos, à praça na Benedita aonde se encontrava implantado o padrão alusivo à visita de Caetano.
A Medalha de Ouro, de autoria de José Aurélio, anteriormente apenas fora atribuída a Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, Rui Sanches, Ministro das Obras Públicas, e a Veiga Simão, Ministro da Educação. A cerimónia, realizou-se no Salão Nobre do Governo Civil, encontrando-se presentes os principais dignitários do regime no concelho de Alcobaça, com destaque para um grupo da Benedita.

Pela mesma altura, na sede da ANP, em Lisboa,, tomaram posse os novos dirigentes distritais de Leiria, sendo o nomeado Presidente, o Engº, Lemos Proença e vogal o Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, até então Presidente da Comissão Concelhia de Alcobaça. Foi o antigo Presidente da Câmara Municipal, Joaquim Augusto de Carvalho, acabado de ser eleito Provedor da Misericórdia, que assumiu as funções de Presidente da Comissão Concelhia da ANP Também, por esta altura, junho de 1973, o alcobacense Dr. António Sanches Branco tomou posse do cargo de Governador Civil da Horta, lugar que manteve até ao 25 de abril.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


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