segunda-feira, 31 de março de 2014

BREVE APONTAMENTO SOBRE O HOSPITAL DE ALCOBAÇA

 
BREVE APONTAMENTO SOBRE O HOSPITAL DE ALCOBAÇA

Fleming de Oliveira



Durante o Séc. XIX, os hospitais continuavam vocacionados para a sua função tradicional, de acolhimento dos doentes pobres. O liberalismo não trouxe grandes novidades em termos de organização e funcionamento hospitalar que, no caso português, continuará, em grande parte e até 1974, nas mãos das Misericórdias ou de confrarias menores, neste caso com acesso reservado aos seus membros.
A rede hospitalar portuguesa continuou, no essencial, sob a administração de instituições religiosas ou privadas, e em particular das Misericórdias, em ambos os casos fora da tutela do Estado, não obstante as leis de desamortização, entre as quais a de 1866. Em contrapartida, o triunfo do liberalismo modificou a composição das elites locais e, por conseguinte, a dos corpos sociais das Misericórdias.

Nas vilas e cidades do País, sob o impulso da Regeneração, houve alguma renovação dos equipamentos sanitários das Misericórdias, cuja extensão está, no entanto, por documentar e avaliar, na quase ausência de estudos monográficos. Foram construídos novos hospitais, já de acordo com novos padrões de higiene, respeitando todavia as exigências de uma arquitetura funcional e uma construção de baixo custo. De qualquer modo, as velhas Misericórdias, descapitalizadas e em decadência, não demonstraram capacidade de se abalançar a investimentos de vulto.
Tome-se como exemplo o Hospital de Alcobaça, Bernardino Lopes de Oliveira. A sua inauguração, em 15 de Agosto de 1890, foi pretexto para a edição de um número extraordinário do jornal Correio de Alcobaça, que inseriu uma detalhada informação sobre o novo hospital, assinado por um dos seus médicos mais distintos, Francisco Baptista Zagalo, ele próprio benemérito.
À data, o custo do edifício, que iria substituir o velho Hospital da Misericórdia, somava já 15 contos (15.000$000 réis), uma verba avultada. Dois terços do custo do novo hospital de Alcobaça, foram cobertos por donativos da Câmara Municipal e do Estado (cfr. Zagalo). O resto foi essencialmente complementado pela subscrição pública, popular, já que a Misericórdia alcobacense, só a muito custo poderia dispensar a verba de 1.800$000 réis. Em 1890, cidadãos de Alcobaça liderados por Bernardino Lopes de Oliveira edificaram o hospital. Até lá foram dias de trabalho voluntário, cortejos de oferendas, festas e entusiasmada dedicação que permitiram cumprir um sonho. Inaugurado o hospital, decorreram mais de 120 ininterruptos anos de atividade, muitos alcobacenses dedicaram-lhe uma vida de trabalho (voluntário ou remunerado), doentes, famílias e amigos, por lá passaram ou levaram para casa as angústias, dores e sofrimentos e, também, as indescritíveis alegrias, de após períodos, curtos ou longos, se terem recuperado. A dignidade das pessoas, que hoje e sempre têm de recorrer ao Hospital, deverá permanecer inalterável e o respeito pela sua natureza continua a impor a sua centralidade, na prática da rotina hospitalar, sem grandes pressupostos economicistas por parte do Estado. O Hospital de Alcobaça é administrado pelo Estado há 25 anos, funcionando num edifício pertença da Misericórdia de Alcobaça, que recebe uma renda.

José António Crespo, sobre quem já escrevi, foi durante mais de 40 anos Secretário da Mesa da Misericórdia de Alcobaça. Exerceu essas funções desde o tempo em que foi Provedor, o Pe. João de Sousa, do Bárrio, que sucedeu ao Prof. Bernardo Correia de Almeida, que aliás foi seu professor durante a Instrução Primária.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS




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