quinta-feira, 27 de março de 2014

JOGOS FLORAIS DA E.N. 1946/ALCOBAÇA e ALBINO SERRANO, do PC.


 

JOGOS FLORAIS DA E.N. 1946/ALCOBAÇA e ALBINO SERRANO, do PC.

Fleming de Oliveira


Como iniciativa do regime/Estado Novo, os Jogos Florais da E.N. referentes a 1946, realizaram-se em Alcobaça, deles tendo feito parte um concorrido concerto com a Orquestra Sinfónica Popular, dirigida por Frederico de Freitas e a declamação das poesias premiadas. O primeiro prémio em Poesia Alusiva a Alcobaça foi atribuído a Emídio Velasco Martins.
A propósito destes Jogos Florais, o comunista alcobacense Albino Serrano, recordou em A Hora da Libertação (ed. do PCP), uma situação de perigo passada no dia quatro, ou antes, de quatro para cinco de Outubro de 1946, quando se realizaram os Jogos Florais, no Refeitório do Mosteiro, com a presença de António Ferro, alto dignitário do regime fascista. Eu não estava muito interessado em assistir ao espectáculo, mas, à última hora e já com a casa cheia alguém ofereceu a mim e ao meu irmão, que estava comigo, bilhetes de ingresso no recinto. Entrámos e acomodamo-nos como pudemos. O espectáculo ia prossseguindo normalmente quando, precisamente à meia noite, se ouviram vários estampidos, de tal modo fortes que até parecia que estavam e rebentar bombas ali na praça, mesmo ao lado. Logo a seguir notámos grande movimentação de alguns funcionários da Administração do Concelho, ligados à Secção Policial, e ainda os habituais bufos que se encontravam a assistir ao espectáculo e acto contínuo se dirigiram apressadamente para a saída (…). Não sabia exactamente o que se estava a passar lá fora (…) Entretanto os estampidos continuavam a ouvir-se e eu não sabia o que havia de fazer: se sair rapidamente, aproveitando a confusão, ou se ficar e aguardar os acontecimentos. A primeira hipótese parecia-me mais sensata, embora um pouco perigosa (note-se que, segundo o depoimento de Albino Serrano, nessa altura trazia os bolsos cheios de propaganda do PC) pois não imaginava o que poderia encontrar lá fora.
Mas afinal o que era que estava a acontecer na rua? Viemos a saber que os estampidos, que ouvíramos lá dentro, eram o resultado duma salva de morteiros deitados no Castelo, assinalando mais um aniversário do Cinco de Outubro, os quais, ao rebentarem provocavam dentro do Refeitório do Mosteiro, onde decorria a festa, um eco de tal modo intenso, que levou a maior parte das pessoas a pensar que estava a rebentar bombas na praça (…). O autor deste incidente foi Serafim Amaral que, munido de uma autorização do Governo Civil de Leiria, festejava apenas a implantação da República.



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