quarta-feira, 16 de abril de 2014

-NÃO VIA UMA NOTA DE MÚSICA, NEM DO TAMANHO DE UM CAMIÃO. ENQUANTO UM TOCAVA E CANTAVA , O OUTRO DANÇAVA OU NAMORISCAVA-


 

-NÃO VIA UMA NOTA DE MÚSICA, NEM DO TAMANHO DE UM CAMIÃO.
ENQUANTO UM TOCAVA E CANTAVA , O OUTRO DANÇAVA OU NAMORISCAVA-

Fleming de Oliveira



Nunca soube a ler uma pauta de música, não conhece um dó, mas na Fervença, toda a gente sabe a desenvoltura com que António da Costa sempre retirou do acordeão e da concertina, as melodias das músicas populares, que marcaram o seu tempo de rapaz.
Aprendi de ouvido.
Explica-me que começou ainda muito novo a observar os músicos nos bailes e, de regresso a casa, com a música no ouvido, não conseguia dormir enquanto não reproduzisse os números, tal e qual os tinha ouvido. Eu aprendia de ouvido e à primeira vez, porque, naquele tempo, os números não eram tão difíceis, como os de agora.
Era tal a facilidade com que aprendia as músicas  que o pai que tocava na Banda nunca o deixou ir estudar música.
Porque é que tu vais aprender, se consegues tocar só de ouvido?, perguntou-lhe uma vez sem perceber nada.
Ao longo de mais de sessenta anos, António da Costa integrou alguns grupos de música popular. Foi presença assídua em bailaricos e festarolas de cariz popular como os Santos.
António da Costa, não sabe dizer em que altura lhe nasceu o gosto pela música. Diz que esse gosto nasceu com ele e com o leite materno.
Lembra-se, que não perdia um único baile e acompanhava de perto a atuação de dois acordeonistas que habitualmente os animavam, tocando e cantando as modas do tempo.

Dado que pais não tinham posses para lhe comprar um instrumento, António foi trabalhar como resineiro para a zona de Pataias.
Andei lá andei a carregar madeira e a levá-la para uma serração.
Com o dinheiro que conseguiu juntar, comprou uma sanfona.
Apesar de se encontrar agora afastado das atuações públicas, António da Costa tem em casa uma meia dúzia de instrumentos que, de vez em quando, toca nas festas de família. Um deles é uma concertina com mais de cem anos, que custosamente adquiriu a um herdeiro de um antigo instrumentista.
Com quatorze anos eu já fazia bailes.
Na altura, poucas eram as pessoas que sabiam tocar instrumentos musicais, pelo que o acordeonista era muito requisitado para animar os bailaricos e festas populares.
Naquele tempo, a gente começava o baile às nove da noite e ia até ao sol nascer. Era a noite inteira. Às vezes vinha o padeiro fazia-se café, a gente comia e depois seguia para o trabalho.
Sendo o único animador dos bailaricos, tocava toda a noite sem que tivesse oportunidade para dançar. Por isso, a dada altura, quando passou a ter buço, decidiu fazer uma combinação com outro acordeonista. Iam juntos animar os bailes e alternavam-se nas atuações, enquanto um tocava e cantava, o outro dançava ou namoriscava.
Inicialmente eu não ganhava nada, nem dava para o conserto das concertinas. Por isso, a dada altura, eu tive de dizer que assim não dava e comecei a ganhar qualquer coisita para tabaco.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS



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