sexta-feira, 20 de abril de 2018

Centenário da Batalha de La Lys - Entrevista na Rádio Cister/Alcobaça





Centenário da Batalha de La Lys - Alcobaça




A água " fonte da vida "


















A água símbolo de pureza e fonte de vida, assume um lugar central em várias religiões, muito concretamente no “nosso” Cristianismo. A limpeza com água é comum com o islamismo, budismo ou hinduísmo, embora em cada destas religiões haja particularidades, no que respeita à utilização e sentido. Como fonte de vida, a água representa, para nós, o (re)nascimento. A água lava o corpo, purifica-o, o que lhe confere um profundo simbolismo, senão um estatuto sagrado. A água é, por isso, um elemento-chave em cerimónias e rituais religiosos. Mas também condição de vida, ainda que em sentido meramente físico. No que respeita ao Cristianismo, religião em que me atrevo a emitir uma pequena opinião, está intrinsecamente ligada ao batismo, declaração de fé, de boas-vindas à Igreja após a purificação, a rejeição do pecado original, “não uma prática social ou de bom tom, politicamente correto”. Quando batizada, a pessoa é parcial ou totalmente imersa em água vertida ou aspergida sobre a cabeça. Este sacramento tem destaque na Bíblia, que regista que Jesus foi batizado por João Baptista, e assim se tem mantido al longo dos séculos. Recentemente, Portugal foi confrontado, durante meses, com (inusitados) acontecimentos relacionados com a gestão dos recursos hídricos, o que suscitou enorme preocupação, mal-estar e sofrimento. Em todos esses acontecimentos, a população sentiu a incapacidade de previsão, de fiscalização, e de monitorização adequada, bem como a ausência de uma política institucional de gestão de riscos, na vertente utilização dos recursos hídricos. Um breve parêntesis, onde se refere “RECURSOS HÍDRICOS”, também se poderia/deveria acrescentar “RECURSOS FLORESTAIS”. Nesta perspectiva, entendemos algo irrelevante e estéril (saber em primeiro lugar de quem é a culpa? preliminar à boa moda portuguesa) a discussão sobre as alterações climáticas quando, se vai sabendo não existir adequada monitorização, em termos de caudais e precipitações, na maior parte das bacias hidrográficas. Esta triste realidade esteve, por exemplo, implicada nas inundações catastróficas de Coimbra em 2016, na cidade de Viseu em novembro de 2017 (de certo modo ao contrário), mas onde perante a ausência de um plano de segurança, não foi possível recorrer a reservas de água para consumo humano, como aliás tivemos oportunidade de constatar numa estadia em casa de familiares. Os Serviços Municipalizados de Alcobaça solicitaram à população (Pataias, Martingança, Burinhosa, Paredes da Vitória, Légua, Falca, Água de Madeiros, Pedra do Ouro e Vale Furado) para não beber água da rede pública devido às cinzas resultantes dos incêndios que deflagraram no domingo 15 de outubro de 2017 e foram arrastadas na sequência da chuva que caiu nos dois dias seguintes. “Solicita-se a colaboração das pessoas no sentido de não beberem água da torneira sem ser fervida, podendo ser utilizada para banhos e cozeduras”. No intuito de garantir a qualidade da água, os SMA informaram já ter “a análise e respetiva desinfeção” e estarem a desenvolver esforços “no sentido de repor a normalidade no abastecimento de água”. Tudo, aparentemente, correto. Os fogos que deflagraram em outubro na freguesia de Pataias, como bem se recorda, apesar de combatidos por 149 operacionais, com 38 viaturas e três meios aéreos, consumiram pelo menos 2.700 hectares de floresta e destruíram uma dezena de casas de segunda habitação entre a Praia da Légua, Vale Furado e Paredes da Vitória. Face a estes desafios, a sociedade (Alcobaça incluída) deveria mobilizarse, adquirindo e aplicando (depois de facultado) o conhecimento e tecnologias atualizadas, sobretudo em situações de incerteza e imponderabilidade, características de alguns fenómenos naturais. Parar além disso, será de crucial importância rever a estrutura organizativa da gestão da água e da floresta e dotá-las de competências humanas e tecnológicas. As enormes potencialidades dos resultados da investigação e desenvolvimento em áreas tecnoló- gicas emergentes, devem ser cada vez mais acarinhadas e incorporadas numa política integrada e moderna de gestão destes recursos. Que esta ideia, não seja apenas um voto “piedoso”, de conteúdo místico, mas também algo muito materialista que diz respeito a todos.

Motorista Alcobacense na I Guerra por JERO






































Por intermédio da Delegação da Liga dos Combatentes de Alcobaça tivemos conhecimento de mais uma história do Corpo Expedicionário Português (CEP) que envolve um alcobacense, que esteve em França nesse período tão marcante do século passado. Damos, desta forma, continuidade a um tema ainda pouco explorado e que permite descobertas constantes na história de Portugal. Este caso concreto tem a ver com a unidade das motos do Corpo Expedicionário Português. A maior parte das cerca de 100 máquinas de duas rodas que integraram o CEP eram “Harleys” e “Indians”, que foram usadas em serviço de estafetas do Comando General Português. Há poucas informações sobre os ditos serviços, mas existe uma foto da época que “apanhou” um dos mecânicos do contingente na localidade de Wittermesse, perto de La Lys, onde teve lugar a tristemente célebre batalha do mesmo nome e que tem sido amplamente discutida nas últimas semanas. O mecânico em causa era o alcobacense José Bárbara. Embora seja sabido que alguns integrantes do CEP ficaram em França depois do primeiro grande conflito à escala mundial, o caso deste alcobacense é possivelmente único. Senão, vejamos. José Bárbara montou uma oficina de reparação de motos e bicicletas no leste de França, que ganhou fama. Arranjou uma namorada numa aldeia próxima da sua oficina e casou com ela. O casal ainda veio viver para Portugal, mas não de adaptou e voltou para França. Na pesquisa que fizemos posteriormente fomos surpreendidos com um texto da RTP Notícias, que entrevistou um seu filho. Roger Barbara é cidadão francês mas referiu as suas origens portuguesas. “O meu pai era português. Ele veio para a guerra de 1917, casou com a minha mãe e depois vim eu. Desembarcou em Cherbourg e chegou a Blessy. Mas era mecânico. O meu pai dizia sempre: ‘Eu nem sequer sei o que é uma espingarda’. Ele nunca tinha tocado numa espingarda! Ele estava numa oficina em Blessy, estavam lá dois mecânicos, e eles ainda lá ficaram cerca de dois anos”, recorda o filho deste self made man por terras... gaulesas. E prossegue o testemunho sobre o pai da seguinte forma: “Li numa revista que os mecânicos do exército português eram os ‘queridos’ do exército. Ele contou-me que em Portugal, já era aprendiz numa oficina, com 14, 15 anos. Nasceu em 1895, teria portanto 22 anos. Constava do seu bilhete de identidade que era de Alcobaça. Ele tinha amigos portugueses aqui, que se naturalizaram. E ele nunca quis naturalizar-se, sempre disse que era o que lhe restava do seu país, e isso fez com que fosse todos os anos obrigado a ir a Bolonha para tratar do seu contrato de trabalho. Mas certo é que os meus pais se conheceram quando o meu pai era soldado em Witternesse, e depois casaram-se em 1920, quando ele foi desmobilizado”. Roger Bárbara não esconde o orgulho pelo facto de ser filho de um sobrevivente da 1.ª Guerra Mundial e, no fundo, de um homem que conseguiu conquistar também os franceses, para além da francesa com que viria a casar... “O meu pai era encantador, sempre sorridente, sempre com uma palavra amável. Ainda me lembro de pessoas dizerem ‘nós gostávamos muito do senhor Bárbara’. E depois também gostavam muito do sotaque dele”, recorda Roger. Para variar o registo de uma boa recordação da 1.ª Grande Guerra, neste caso de um alcobacense que se transformou num mecânico que serviu o Corpo Expedicionário Português com a bravura que se lhe exigia para as funções que lhe foram acometidas. E que é mais um exemplo das ligações de Alcobaça ao conflito que durou entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918 e que tantas mortes causou. Ficam, porém, estas histórias de vida para que se perceba que também destas guerras resultaram histórias de amor.

JERO