quinta-feira, 19 de julho de 2012

AINDA É BOM SER PORTUGUÊS


Fleming de OLiveira

Pelos padrões europeus e mesmo portugueses, a minha família e amigos estão a passar por sérias dificuldades.
No rescaldo da crise económica que vivemos, o meu marido perdeu o emprego e agora temos menos de metade do que anteriormente.
Com um filho na pré-primária e uma menina para criar, temos vivido sobre enorme pressão.
Depois de fazermos as contas à vida e à bolsa, decidimos pedir à minha mãe para ficar em casa, sacrificando-se a si, para nos ajudar.
Ultimamente passamos sem muitas coisas que tomávamos por certas ou garantidas, reduzindo as despesas, sempre que possível e necessário.
Esta manhã, enquanto me preparava para sair, estava a pensar autocomizeradamente, no estado das nossas finanças familiares, até que me lembrei de uma amiga e colega que anda a amamentar o seu bebé, e tembém tem o marido no desemprego.
Pensei que quando ela, ou eu se estivesse no seu lugar, me sentasse com o filho nos braços para descansar um pouco, não conseguiríamos ver mais a fotografia do jornal de sábado passado com um bebé a morrer de fome ou sede em África.
Confesso mesmo, sem vergonha, que as lágrimas quase me vieram aos olhos, pois nenhum dos nossos rechonchudos bébés, seria menos acarinhado do que o bebé africano.
Tenho a certeza que a sua mãe, se fosse atirada para a nossa vida portuguesa, não saberia o que fazer com tanta sorte, não teria tempo para se lastimar.
Estaria demasiadamente ocupada a cozinhar os feijões e o arroz que desdenhamos, plantando legumes no quintal e alimentando o filho num peito ressequido.
Admito que não seja um grande conforto mas, por vezes, é bom recordar que, mesmo no atual momento, o modo de vida português está muito longe de ser um padrão mundial.


UMA PROPOSTA UTÓPICA (bem sei)


Fleming de OLiveira

Cada vez que vou a França, reconheço que temos uma enorme divida de gratidão para com eles, os americanos, canadianos, britanicos, australianos, neozelandeses e mesmo russos, e mais homens e mulheres de muitas outras nações que estiveram unidos por uma causa nobre.
Serviram como soldados, marinheiros, pilotos e enfermeiros na II Guerra, milhares destes não mais voltaram aos países que deixaram para vir combater e libertar a Europa, onde ficaram enterrados no mar ou em grandes cemitérios, ainda hoje muito bem e respeitosamente respeitados nas suas cruzes brancas.
Há uma data que simboliza o ponto de viragem na guerra travada pelos Aliados, 6 de Junho de 1944. O Dia D, como ficou conhecido, foi uma resposta especial para responder à nuvem suástica que pairava sobre o nosso continente.
Passaram já variadas décadas.
Muito poucos dos que estiveram na Normandia, ainda se encontram vivos, mas quando na Páscoa passada estive em Omaha Beach (Omaha a sangrenta) senti, sem nunca ter vivido esses tempos, aliás ainda nem era nascido, uma pequena contração no estômago.
Para mim, a resposta pareceu linear.
Sabendo que cada dia perdemos os poucos que ainda restam desses heróis, quero ter a certeza que esses e a sua memória nunca mais serão esquecidos pelo que fizeram, mesmo por nós portugueses.
As historias sobre esse 6 de Junho de 1944 continuam a fascinar-me e o nosso tempo.
Olhar sobre o mar e o céu da Normandia, hoje tão calmos que nos permitem passear na areia e molhar os pés, e com tão poucos vestígios e ainda bem, do drama que ali se desenrolou, e pensar no que foi a jornada de dor, angústia, exaltação ou morte, vivida por aqueles que fizeram e protegeram o desembarque das tropas Aliadas, não deve esquecer o sacrifício dos que lutaram e morreram nas praias de Omaha e Utah, e que sirva para homenagear o sacrifício de todos os soldados que, independentemente da nacionalidade e do lugar onde combateram e tombaram numa guerra cruel.
A minha digressão pela Normandia, fez-me compreender o que nunca resultara da leitura de qualquer romance histórico ou visionamento de um filme, e como seguramente houve uma natureza própria naquele 6 de Junho de 1944.
Pode aquela ter sido, uma guerra global, mas o universo de um soldado termina a poucos metros de si próprio, talvez mesmo ao lado de um companheiro ou nas balas que assobiam sobre si ou nas explosões que rebentam a seus pés.
Passei por Africa, pela Guiné como quase um milhão de rapazes da minha geração, tal como o nosso subdiretor JERO, mas não tenho a pretenção de fazer comparações com a II Guerra aonde o bem e o mal, estiveram perfeitamente definidos.
Deixemos homenagear os rapazes que entre 1961 e 1974 passaram pelos 3 teatros de operações de Africa, lançando daqui uma ingénua e muito utópica proposta, para que nunca mais seja dada a oportunidade de pôr o mundo em perigo.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Muito Ruído e pouco "sumo"


O Manel S…aparece-me com alguma frequência, no meu escritório, para, como diz, pôr a conversa em dia.
Recentemente ele, que tem a mania que também é filósofo nas horas vagas, contou-me que com 6 ou 7 anos foi ao pinhal acompanhar o pai, que era resineiro.
Em determinado momento, o pai perguntou-lhe se ele ouvia algum barulho ao que o Manel S… respondeu que sim, que era uma carroça que se estava a aproximar.
O pai perguntou-lhe ainda se ele era capaz de dizer se a carroça vinha vazia ou carregada.
-Pai, como é que eu hei-de saber se ainda não a vi?
-Pois é muito simples eu também não a vi mas sei que vem vazia. Vamos já confirmar…
Minutos depois, passou por eles o T’i Joaquim que os cumprimentou afavelmente a conduzir um carro totalmente vazio puxado por uma de bois.
O pai do meu amigo sorriu e disse-lhe:
-Como vês, eu tinha razão.

O meu amigo acrescentou-me que tendo se tornado adulto, e embora os seus estudos não tivessem sido muitos, sempre que  ouve uma pessoa falar alto demais na tentativa até de intimidar os circunstantes, tratando o próximo com grosseria ou desdém, inoportuna ou prepotentemente, tem a impressão de ouvir a sábia voz de seu pai recordando-lhe que quanto mais vazia vai a carroça, mais barulho ela faz. 




quinta-feira, 5 de julho de 2012

NADA MELHOR QUE UM BOM BIFE


Antigamente era vulgar utilizar a expressão Diz-me o que comes e eu digo-te quem és.
Todavia, isto hoje lsuscita as maiores dúvidas, pois por vezes é muito difícil saber o que estamos realmente a comer,  ao invés do que acontecia nos bons velhos tempos em que nos alimentávamos apenas da horta da casa ou da avó.
Nos tempos que correm, grandes companhias multinacionais com linhas de produção  sofisticadas, alegadamente muito evoluídas, distribuem a comida que chega até nós, seja no restaurante ou através do supermercado.
Se é verdade que processos novos diminuem o custo da alimentação e até podem promover o  aumento da produção, também é certo que acarretam novos riscos.
O franguinho comido na canja ou no churrasco pode conter salmonela.
O bife mal passado que tanto apreciamos, apenas com uma pitadinha de sal, até pode estar infetado.
Mesmo os vegetarianos, não estão a salvo destas ameaças e alguns governos (escrupulosos?) já avisaram que os rebentos de vegetais, só devem ser ingeridos após cozidos.
Os produtores de carne, muitas vezes, dão sub-repticiamente, ou não, antibióticos aos seus animais, por vezes os mesmos que se usam nos humanos, tal como me informou um veterinário alcobacense (escrupuloso?) das minhas relações. Os animais ficam mais gordos, crescem mais depressa e mais depressa chegam aos consumidores. Mas será que resistimos a todos estes antibióticos que indiretamente assim consumimos?


Os engenheiros genéticos, fazem parte desta cadeia e novos métodos de tratar as colheitas suportam a esperança de se poder alimentar um  dia todo o Mundo….
Cada vez mais alimentos geneticamente modificados/manipulados, entram no mercado e na nossa alimentação, pelo se coloca a questão de se saber como ou se essa mudança, vai afetar o ambiente e se refletir na modificação dos seres humanos.
Mas até lá vamos comendo se possível um bom bifinho a saber mesmo a bife.


Fleming de Oliveira