terça-feira, 26 de maio de 2020

VIVA UMA BOA SOPINHA


VIVA UMA BOA SOPINHA

FLeming de OLiveira



1)-Dizia-me ele que as melhores “misturadas” são as dos Montes, feitas com feijão de sopa, semeado em Março nas serradas, chão de hortas ou terrenos de sequeiro, colhido no início do verão e que exalavam um aroma divinal, que vinha da cozinha e chegava até à rua. Em casa do Avô da Ana Maria, de acordo com uma prática ancestral que chegou até hoje e por vezes é seguida em minha casa, colocam-se os feijões dentro de um alguidar com água fria, durante cerca de duas horas, para amolecer a casca, a fim de facilitar a cozedura. Depois de demolhados levam-se a uma caçarola, para cozer lentamente em água temperada com sal e azeite. Estando o feijão cozido, o puré fica reduzido a cerca de metade, pelo que há que lhe juntar água se necessário, tendo em atenção que deve ficar grosso. Levantada fervura, misturam-se as couves, previamente cortadas aos bocadinhos e retifica-se o sal e o azeite. Devem deixar-se cozer bem as couves e pronto, siga para a mesa que já é tarde e estamos ansiosos.
Inácio Catarino, contava que as mulheres dos Montes disputavam entre si os méritos na arte das misturadas e nos casos em que se deitava pouco azeite (por uma questão de economia esclarecia), os que passavam na rua diziam jocosa e depreciativamente que “cheirava a raposas”.
Porquê? Não me soube explicar.
As misturadas era bom “combustível” para aguentar o trabalho do dia-a-dia do campo. Com as misturadas, no dia seguinte ou dois depois, faziam-se as papas, um prato suculento e forte com farinha de milho, cozendo-se as couves, a batata e o feijão que, depois, se acompanhavam com sardinha ou bacalhau.
T´Inácio costumava dizer quepobre come arroz, batata, vegetais, bacalhau, carne de porco e doce uma vez por outra. Resultado, se não morrer empanzinado cresce com saúde de fera. Já o rico come um monte de coisinhas delicadas. O filho de rico, o citadino de Alcobaça, é criado longe do pó da terra, longe dos mosquitos e da lama. É criado a comer apenas papinha fina. Ser pobre, portanto, é melhor para a saúde. Um rico se passasse a comer por sistema essas “delicadezas”, ficaria doente, pois tornou-se alérgico às comidas “normais”. Repare Dr. Fleming não é raro encontrar um montense que jamais foi ao médico. Já os ricos como o senhor, não saem dos consultórios”.
2)-Dª. Deolinda que vai fazer serviços a minha casa, conta que em garota cortava o pão caseiro, retirado de um saco de pano. As metades eram colocadas junto do lume para torrar devagarinho e à medida que as postas de bacalhau iam a assar. O cheiro a bacalhau espalhava-se pela cozinha. O irmão António, oferecia-se para ir buscar azeite, “do bom, do caseiro, muito melhor que este do supermercado”. Meia hora depois, e após ser virado várias vezes, o bacalhau estava no ponto. O pão era regado com azeite, quanto baste. Dª. Deolinda lembra o tempo em que este prato era comida de pobre. “Como o pão untado em azeite enche muito, dava para o pessoal aguentar muitas horas sem comer. Hoje é caro e não se pode comprar”.
3)-Dª. Lurdes, que sempre viveu na aldeia, tem uma tese sobre os méritos da sopa e a comida tradicional portuguesa, de que é indefectível adepta.
Sopa, é comida de pobre Dª. Lurdes?
“Não, se o é, que nunca, nunca, deixe de o ser”, diz Dª. Lurdes,
que acrescenta, “mal de quem sendo pobre ou remediado renega
a sopa a pensar que passa por rico”.
4)-Enfim digo eu caros leitores, mal dos que deixaram a sopa para tentar apagar as marcas de um passado modesto ou de privações. Dª. Lurdes reconhece quanto é valiosa, tal como os filhos que vivem no Luxemburgo.
A sopa deve ser comida de rico, de remediado, de rural, de trabalhador braçal e ou mesmo de ocioso. É boa para meninos, adultos e idosos.
A sopa pertence à tradição portuguesa porque sempre foi, e não deixa de ser, boa para a saúde. Por isso, se desenvolveu o gosto pela sopa, o prazer em a saborear, cheirar, olhar. É honrada por mitos, estórias e contos. Há séculos e séculos que a sopa é um dos monumentos alimentares da cultura mediterrânica e portuguesa.


terça-feira, 5 de maio de 2020

NO TEMPO DOS BÓERES EM PORTUGAL


No Tempo dos Boéres em Portugal


Em 2019 publiquei a obra NO TEMPO DOS BÓERES EM PORTUGAL. Caldas da Rainha, Alcobaça, Peniche, Tomar, Abrantes e São Julião da Barra.
Aí, publiquei a grande e emblemática fotografia da sua passagem por Alcobaça, o seu alojamento na antiga Livraria do Mosteiro.
Recentemente pelas mãos de um Amigo, chegaram-me 3 fotos que desconhecia, mas que constaram da Exposição Fotográfica realizada no Refeitório do Mosteiro de Alcobaça, organizada pelo Grupo de Fotografia da ADEPA, de 29 de Março a 13 de abril de 1980, e que quero compartilhar com o grande público.
Esclareço que não consegui apurar quem era o detentor destas fotografias, até serem apresentadas na referida exposição. Não há o porém dúvidas que são autênticas, pois chegaram às minhas mãos no suporte em papel original.





José Eduardo Reis de Oliveira


José Eduardo Reis de Oliveira, JERO,
segundo o próprio, desde que me batizaram nos idos de 1940, o meu nome é José Eduardo Reis de Oliveira. Consta ainda da certidão de nascimento que nasci em Alcobaça, em 4 de abril de 1940.
JERO são as iniciais do meu nome, com que comecei a assinar os meus artigos como jornalista, por volta de 1958, na Página Desportiva do jornal O Alcoa.
Passados tantos anos, um e outro subsistem, embora nos tempos que correm quase toda a gente me trata por JERO.
Por onde andei ao longo destes anos todos? Não sei se isso tem algum interesse. Mas na dúvida posso esclarecer que andei quase sempre por Alcobaça, terra da minha paixão.
Profissionalmente estive ligado ao Ministério da Justiça (de 1958 a 1962 nos Tribunais da Covilhã e Alcobaça), ao Banco Pinto Sotto Maior (de 1966 a 1968 em Leiria e Lisboa) e à SPAL/Porcelanas de Alcobaça, SA, mais de 32 anos.
O tempo de maior afastamento de Alcobaça deveu-se ao cumprimento do serviço militar. Estive 4 anos fora de casa (de 1962 a 1966). Orgulho-me desses tempos. Fiz parte da C. Caç. 675, que esteve no Norte da Guiné de julho de 1964 até fins de abril de 1966. Fui Furriel Enfermeiro, louvado e condecorado, o cronista da C.Caç. 675, escrevendo um Diário de 280 páginas que, em passado recente, um especialista na matéria, o Professor Universitário Beja Santos, pôs a hipótese de ter sido o primeiro livro impresso sobre a Guerra do Ultramar (1965).
Depois fartei-me de trabalhar na SPAL, tendo tido a responsabilidade da direção comercial do mercado local. Gostei muito do que fiz. Não vesti só a camisola. A Empresa estava-me no sangue. Reformei-me em 2002.
Na “Universidade da Vida” cursei cidadania e passei a participar ativamente nas coisas da minha terra. Já estive na Direção de variadas instituições.
Escrevi e editei em Maio de 2009 o Livro Golpes de Mão’s. Foram quase 2 anos de trabalho, amplamente recompensados pelas palavras e gestos de muitos amigos. As tais coisas boas da vida que não há dinheiro que pague.
Em outubro de 2011 escrevi Alcobaça é Comigo, Um século e tal em histórias e historietas de gentes da minha terra. Foi, felizmente, outra experiência enriquecedora.
Em 9 de abril de 2014 recebi uma dedicatória, de que muito me orgulho num livro dos historiadores e ex-militares que cumpriram serviço militar na Guiné entre 1968 e 1970, Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos.
Num estudo sobre a História da Guiné portuguesa e da Guiné-Bissau (Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro) incluíram 8 páginas do meu livro Diário da CCAÇ 675, que consideram um documento histórico de referência na história recente da literatura portuguesa sobre a guerra colonial.
Em 8 de Novembro de 2014 apresentei o livro sobre a Família Coelho, no Armazém das Artes/Alcobaça.
Tenho um blog http//jeroalcoa.blogspot.com e sou ferrenho utilizador facebook, com 2 páginas que alimento diariamente desde 2009 e 2014, respetivamente, José Eduardo Oliveira-Praça da Amizade e Bom dia Alcobaça.
Também comprei uma máquina fotográfica e quase que já me sinto fotógrafo. Faço diariamente “montes ” de fotografias.
Mandei fazer cartões-de-visita, onde refiro, além do meu nome, o que mais gosto de fazer na vida: Alcobacense Profissional.
 

Tem carteira profissional de jornalista (C.P. 7124). Colaborou com O Alcoa, durante cerca de 40 anos. Pediu a demissão em Maio de 2013, sendo então Diretor-Adjunto. Nos últimos anos tem colaborado com os semanários Jornal de Famalicão e Região de Cister, neste onde é Grande-Repórter.
Com regularidade colabora em blogues essencialmente dirigidos a ex-combatentes da Guerra do Ultramar (Tabanca Grande e Tabanca do Centro).
Foi durante 3 anos Juiz Social no Tribunal de Alcobaça.
Participou na direção da Liga dos Combatentes/Alcobaça, dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, da ADEPA, da APVG (Veteranos de Guerra), do CEERIA e da AMA-Associação de Amigos do Mosteiro de Alcobaça.
Foi professor de Jornalismo na USALCOA, Presidente da Assembleia Freguesia de Alcobaça e da Assembleia Geral do Clube de Natação de Alcobaça.