quinta-feira, 11 de maio de 2023

FLEMING DE OLIVEIRA APRESENTA EM TURQUEL (13 de maio de 2023) JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÒRIA

 Nesta  minha missão que assumi de registar e divulgar a história recente de Alcobaça (muito especialmente a partir do século XIX), vou evocando episódios esquecidos, insólitos, controversos, inverosímeis ou lendários, mas e que integram a memória coletiva, popular e identitária da nossa região onde Alcobaça se insere.

 

A minha vida profissional sempre esteve ligada à escrita. Como advogado, nunca escrevi para a Eternidade, passe o exagero da expressão. Ao contrário do que ora faço, escrevia para e sobre o tempo que passa.

Estou em Turquel a lançar o livro JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÒRIA. Ali não inventei factos, muito menos ajustei contas, mas admito que a forma como os tratei pode ser controversa.

 

Como se sabe não sou alcobacense nato, mas aqui vivo, trabalho, socializo e tenho interesses, há perto de 50 anos, precisamente desde 20 de abril de 1974. Gosto, nos meus textos de referir pessoas de quem ouvi falar, com quem privei me encontrei, com virtudes e defeitos bem personalizados.

 

Conhecer e dar a conhecer a História, ajuda ou deveria ajudar as pessoas a posicionarem-se no seu mundo. Neste tempo de intolerância, a História por vezes é utilizada de forma perniciosa, alimentada por nacionalismos radicais e populistas. Acredito que o meu papel, passa por demonstrar como cada um de nós é fruto de inúmeras e nem sempre identificáveis contradições. Cada um, portugueses e alcobacenses, tem no ADN, judeus, mouros, cristãos, católicos, protestantes, africanos, pessoas que não morreram descalças, que lutaram pela sobrevivência. Cumpre-me demonstrar, na medida do possível essa mescla, afinal do que somos feitos. A História em lugar de fomentar nacionalismos, deve ajudar a relevar e a demonstrar que somos a súmula de muitos, muitos contributos, a relativizar, rejeitando a exclusividade.

 

Desde que o mundo é mundo, compartilhamos histórias que perpassam as pessoas, fazendo delas o que são. A par dos provérbios, lengas-lengas, ditos e dizeres populares, as lendas são importantes testemunhos normalmente orais, que podem caracterizar um povo e uma Terra.
As lendas são verossímeis? Sim, porque o povo quer que sejam. No meu livro conto algumas. Conto o que, se não aconteceu, poderia muito bem ter acontecido.
 

Porque estamos hoje aqui em Turquel?

Desde que vivo em Alcobaça sempre tive forte relação com Turquel que, graças aos Amigos, frequentei assiduamente, mais que hoje. Com prejuízo de esquecer muitos turquelenses ilustres e eventos relevantes, tenho de começar por recordar, por exemplo o Corpo de Ordenanças de fins do século XVIII (e seus componentes que laboriosamente identifiquei e que aqui ainda tem descendentes), o Alferes de Artilharia Manuel dos Santos Pimenta com papel importante na defesa da República e no combate à Monarquia do Norte e depois assumido oposicionista do Estado Novo que o deportou para Timor de onde retornou doente e para morrer ao fim de pouco tempo (pai de Carlos Pimenta o primeiro presidente da Câmara de Leiria depois do 25 de abril com quem privei e me forneceu dados interessantes), o celebrado pintor Adriano Sousa Lopes, que registou na tela a abnegada e sangrenta participação do CEP na Flandres, o Prof. José Diogo Ribeiro (não percebo a razão porque os seus trabalhos memorialistas não foram  reeditados pela Câmara ou pela Junta), o Dr. Joaquim Guerra (saudoso altruísta e bairrista), a Lurdes Costa Ribeiro, primeira mulher autarca em Alcobaça, senão das primeiras do país e o espólio da ADEPART que cumpre tratar e salvaguardar. Estas e outras pessoas, bem como eventos, registei e divulguei em escritos, mas que por falta de tempo não posso aqui invocar com mais detalhe, pelo que peço desculpa por isso. No livro que aqui trago a público com a prestimosa e indispensável colaboração de Afonso Luís, perpassam personalidades tão interessantes como o esquecido mas controverso Padre José Pereira dos Santos, pároco de Turquel nos primeiros anos da República e monárquico assumido.

 

É com muito gosto que me associo à afamada e benemérita Sociedade Filarmónica Turquelense nesta iniciativa memorialista, relevando a pronta einteira disponibilidade.

25 de abril, República e Democracia são conceitos ou práticas indissociáveis que não é ocioso realçar. Entramos no ano do seu cinquentenário. Há a salientar a importância de Turquel, no passado e no presente, no quadro da terra de Alcobaça e o relevo que no contexto do livro lhe é conferido merecidamente.

 

Estamos aqui num acto que gostaria que fosse de cultura. Assim, não resisto a invocar a luta dos professores, esses agentes formadores de cultura hoje em dia pouco respeitados, desde logo, pelo poder político. Entendo urgente e fundamental reabilitar a classe, para que a escola possa cumprir a sua finalidade, sermos cada vez mais Portugal.

 

Há dias celebramos (9 de maio) o Dia da Europa, o que nos leva a recordar e valorizar o papel que esta tem desempenhado na nossa vida, na defesa dos valores que nos são caros e inalienáveis. Os Portugueses em geral não têm divergências quanto ao seu posicionamento, bem como o do País enquanto tal e nesse aspeto identificam-se com a política externa do governo.





TRABALHO DIGNO E REMUNERAÇÂO

 

O meu conceito de “trabalho digno” inclui reais aspirações no domínio profissional e implica, desde logo, a oportunidade para realizar um trabalho produtivo, mediante uma remuneração justa, segurança no local e proteção social para o próprio e respectiva família. E sem olvidar, claro está, as perspetivas de desenvolvimento pessoal, integração e reconhecimento sociais, liberdade para expressar preocupações, a organização e participação nas decisões que afetam a vida de cada um, a igualdade de oportunidades e de tratamento. Socialismo?

O direito ao trabalho é exclusivamente humano (não encarado retoricamente), e como tal fundamental para que se possa ter vida digna (fornecedor do sustento). Ao contribuir para o desenvolvimento individual fortalece, concomitantemente, a comunidade e a sociedade em geral.

Todavia, nem todo o trabalho contribui positivamente para manter a vida com dignidade. Muitos portugueses neste século XXI vivem em situação de pobreza ou em riscos de isso poder ocorrer um dia destes, sendo que ter emprego digno não garante a salvaguarda. Conheço pessoas que, em consequência da limitação de oportunidades, aceitam salários baixos, empregos temporários com condições inseguras e insalubres. São por isso especialmente vulneráveis a maus-tratos e a assédio, presas a um trabalho perigoso se não ilegal e a práticas análogas à escravatura, que supostamente não existe mais.

O crescimento económico sustentado, isto é respeitando os limites do planeta (Portugal neste mês de Maio de 2023 já ultrapassou o que competiria gastar até ao fim do ano), é importante para todos, mas o progresso deve criar empregos, sem prejudicar as pessoas e o ambiente.

“Trabalho digno” impõe condições para comprar comida, uma casa para viver, cuidados de saúde, pelo que o salário deve ser justo e adequado ao trabalho feito. Quem faz o mesmo trabalho deve receber o mesmo dinheiro. Socialismo?

Trabalho fundamental nem sempre é valorizado em termos sociais ou de retribuição. A escravatura era o exemplo mais perfeito desta asserção, contraditória nos termos. O escravo fazia um trabalho muito importante para o dono, por vezes imprescindível para a própria economia em geral, sem remuneração, direitos ou reconhecimento sociais.

Hoje em dia continua a haver em Portugal profissões ou tarefas sem reconhecimento, pese embora essenciais, que a sociedade não valoriza nem retribui relativamente. Recordo, por exemplo, o grave problema que uma greve do pessoal da recolha de lixo, acarreta na vida de uma comunidade.

FLEMING DE OLIVEIRA APRESENTA A 13 DE MAIO DE 2023 (Turquel) JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÓRIA -CONVITE-

 

Fleming de Oliveira e a Sociedade Filarmónica Turquelense, têm muito gosto em convidar V.Exª. e Família para o evento a realizar no dia 13 de maio  de 2023, pelas 16h,30 na sede desta, o qual integra, entre o mais,  a apresentação do livro UMA JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÓRIA e um documentário vídeo sobre Alcobaça.

Ficamos gratos se oportunamente puder confirmar a sua presença.




FLEMING DE OLIVEIRA APRESENTOU EM ALFEIZERÃO (29 de abril de 2023) “JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÓRIA”

 

Na Junta de Freguesia de Alfeizerão realizou-se, no dia 29 de Abril de 2023, o lançamento do livro Janela com vista para a Rua da Memória, de Fleming de Oliveira. Na mesa estiveram Filomena Fadigas, que orientou a sessão, o autor, a secretária Inês Cardoso, a vice-Presidente da Câmara de Alcobaça Inês Silva, e dois elementos do executivo da Junta.

Na circunstância, foi apresentado publicamente o busto da República, agora reconstituído com a mísula original de mármore datada de 1929 que antes o sustentava e que passou a figurar no salão onde decorrem as assembleias de freguesia e outras reuniões sociais e políticas.

A Vice-presidente da CMA Inês Silva fez a apresentação do livro, lendo alguns extratos e relevando o intuito do autor de registar e divulgar, (particularmente) a história recente de Alcobaça, evocando episódios esquecidos, insólitos, controversos, inverosímeis ou lendários, mas que integram a memória coletiva, popular e identitária da região.

Intervieram ainda Rui Rasquilho, sublinhando a importância destes registos, e a esposa de Fleming de Oliveira, Ana Maria Magalhães, que numa intervenção singular e interessante, reconheceu o relevante contributo do marido na divulgação da história da região, talvez porque, sendo portuense de origem, tem uma visão mais distanciada do quotidiano da nossa Terra.

Na sessão foi exibido o documentário vídeo da RTP REGRESSO A ALCOBAÇA, da autoria de José Hermano Saraiva.





DIREITO E HISTÓRIA

 

Como tenho defendido, entendo a História como um esforço de reconstrução do passado, o que me leva a uma análise e dedução, suportados por documentos e outros vestígios.

Sem esquecer que, como humano sou inexoravelmente subjetivo, por mais que tente combater essa fatalidade, jamais o farei integralmente. Afinal pessoa não é autómato, por mais que reconheça o valor da inteligência artificial.

Quando há muitos, muitos anos mesmo, ao terminar o ensino secundário, tive que decidir o rumo da vida e concretamente os estudos universitários, oscilei entre a Faculdade de Letras (Ramo História) e a Faculdade de Direito. Perante a Faculdade de Letras tinha como handicap a circunstância de o meu Pai ser licenciado em Direito e exercer a advocacia no Porto. Vim a seguir Direito e a partir de certa altura advogado da Câmara de Bissau e o facto de o meu Sogro ser Advogado e minha Mulher licenciada em Direito, acabou por se impor determinante para vir exercer a Advocacia em Alcobaça a partir de 1974 até me reformar há uns anos.

A opção entre o Direito e a História não foi de todo fácil, dado terem muitas coisas em comum. Enquanto jurista (advogado ou magistrado do MP) quando queria perceber a trama que me era apresentada, tinha de recriar um historial do interveniente, compreender o jogo de fatores e indicadores que explicavam comportamentos que viabilizam o diagnóstico e depois a terapêutica correta. Quando hoje estudo, registo e divulgo a História, especialmente a de Alcobaça (não mais exerço advocacia) estou a trabalhar da mesma forma num mundo complexo, mas que não posso observar diretamente. Tenho de o reconstituir com seriedade por meio de indícios disponíveis, por exemplo inquéritos que não dispenso.

Fala-se no branqueamento do passado, de um reescrever a História, o que pode acarretar situações de rutura que viabilizam a ascensão de populismos fáceis. Esta é seguramente uma das minhas mais presentes preocupações, desde logo em política tout court. Não contem comigo na instrumentalização da História em prol de causas, pois considero isso perverso e por demais negativo.

Ao abordar o Estado Novo, o que tenho feito com acuidade e regularidade, a linguagem que utilizo pretende ser compatível com a ontem e hoje, pois os conceitos não são os mesmos.

Eliminar símbolos nacionais como monumentos ou restituir bens que advieram supostamente de forma ilegítima aquando com a gesta ultramarina, assemelham-se a um branqueamento, nada meritório ou positivo seja para a História enquanto tal,ou para a Sociedade. O importante é perceber que a História corresponde a motivações e necessidades, mas que um dia podem ou devem ser esclarecidas, desmistificadas se necessário.

Com tenho defendido, ler à luz dos contextos, é ferramenta e postura que reputo absolutamente essencial.