sexta-feira, 23 de novembro de 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

História local - No Tempo de Mata Frades, Visconde de Seabra e Outros - Apresentação de Livro


HISTÓRIAS DA NOSSA TERRA

(a propósito da apresentação em 17.11.2012 do meu livro
NO TEMPO DE MATA FRADES, VISCONDE DE SEBRA E OUTROS)

FLeming de OLiveira

Pesei o risco de publicar mais este trabalho que me deu enorme prazer e aqui o estou com a Drª Ana Margarida a apresentar ao público de Alcobaça que, como se sabe, é a minha terra de adoção.
Muitos professores de História das nossas escolas, e Alcobaça não é exceção, deparam-se com a realidade, triste digo eu, de grande parte dos alunos não conhecer a história de sua comunidade (paradoxalmente, ao que sei, nem alguns deles professores), prendendo-se apenas à História nacional, desvinculada da realidade e do seu contexto histórico local. Esta situação acarreta o desinteresse dos alunos pela História que não consideram importante, justamente pelo facto deles não se sentirem inseridos na História ou no processo onde essa História se escreve.
É nesta perspectiva que gostaria de ver a Escola como um centro recriador da memória e da cultura locais, como parte do desafio de a projetar como um espaço de preservação e socialização de marcas culturais e a prática educativa, enfim, como um espaço plural de memória e narração. Significaria isto dar consistência a uma prática educativa que, ao procurar articular saberes vividos e praticados com o conhecimento escolar, com a memória e com a história locais, buscaria reinventar a Escola como um espaço de sociabilidade e de práticas culturais diversas.
Admito que isto, numa perspectiva superior, seja menos viável, se não mesmo algo utópico ou estar a meter foice em seara alheia. De facto não sou um profissional da educação.
Resgatar memórias e narrativas no curriculum escolar, é desenvolver a possibilidade de recriar, através da prática educativa, a história local a partir do lugar onde se está. 
Resgatar a memória coletiva de uma comunidade local, é revelar o conjunto das redes de saberes e de vida que dão sentido às ações quotidianas, compartilhando-as coletivamente, através de um processo educativo que tem como ponto de partida e como ponto de chegada, a reinvenção da Escola local como um lugar apto a acolher o passado e a criar o futuro.
Resgatar acontecimentos e processos vividos, narrar experiências, compartilhar memórias e saberes, é resignificar a prática educativa como um espaço-tempo de autoconhecimento e a Escola como um espaço de conscientização política e cultural. 
A Natureza é, talvez, a componente mais original do ambiente. Neste sentido, faz parte integrante da cultura, expressa sob forma de paisagem. Ora, como se sabe, esta Natureza, estas paisagens são... cultivadas. E o futuro das paisagens que nos são familiares, está ligado à manutenção do espírito dos que as construiram ao longo dos anos, mesmo séculos, tão antigo que ultrapassa a memória de alguém. É demasiado limitado dizer que não nos preocupamos o suficiente, localmente, com a cultura que nos oferece a Natureza. A educação escolar poderá aí encontrar novos recursos pois aprendemos mais coisas nos bosques do que nos livros, como dizia S. Bernardo de Claraval. 
Esta minha intervenção, que dedico tal como este livro de História à minha Mulher, professora embora de outra área, mas interessada nesta problemática, onde não se tem exprimido por um certo dever de reserva, tem por objetivo produzir algumas descomprometidas considerações (eu não dependo de ninguém) sobre a importância de se trabalhar com a memória local no ensino de história pois, como referi, entendo que os alunos, que não constroiem relações com a História, nunca se consideram parte dela. 
A destruição dos mecanismos sociais que vinculam a nossa experiência à das gerações passadas, é um dos fenómenos que se tem vindo a gradualmente a acentuar. Muitos dos nossos jovens crescem sem uma relação orgânica com o passado da época que vivem. Por isso, os historiadores,ainda que locais cujo ofício é recordar o que os outros esquecem, tornam-se assim mais importantes.
Entendo não ser a História local um ramo menor, pelo que não, não posso falar de História nacional ou universal, sem História local. Entendo que é a partir da História Local que se chega à História Universal. De resto, e num outro contexto, já o havia salientado Miguel Torga: O local é o universal sem paredes; (...) quanto mais local, mais universal.
Num tempo veloz e fugaz, em que o isolamento e o silenciamento das experiências, nos levam a perder a memória coletiva (sem memória coletiva um povo é alienado), rememorar e compartilhar memórias é uma ação que adquire como que um caráter de resistência (passe o sentido mais forte desta expressão), a memória compartilhada é uma forma de não sucumbir ao esquecimento que o ritmo acelerado do tempo impõe. Nenhum país, nenhuma comunidade, ninguém, pode viver sem memória, pois esta é que confere coesão.
Nos seus trabalhos de investigação, os historiadores ditos locais, falam do passado, refletem o presente e perspetivam o futuro das suas freguesias, vilas ou cidades. E gostam, como eu, de documentar os livros com abundantes gravuras e registos fotográficos, demonstrando uma especial interesse para a  efeméride. Em livros, que muitas vezes trazem a chancela autárquica (felizmente ainda vai sendo esta uma preocupação do Poder Local), evocam eventos, as festas religiosas e profanas, os usos e os costumes mais ou mesmo ancestrais da sua terra. Falam, com fé e amor, do seu povo, cuja História analisam de forma, muitas vezes e, ainda bem, apaixonadamente.
Face à diversidade dos temas possíveis de abordar, em consonância com a trajectória da vida das comunidades, a investigação não é linear, exigindo que se percorram os locais onde a memória da presença humana se encontra preservada. Assim o fiz e, dentro do possível, vou continuar a fazer.
Não sou, nunca serei, nem pretendo ser um Historiador, ainda que local. Sou, quando muito, um simples contador de histórias e assim, sem presunção, entendo e enquadro os trabalhos que publiquei. Na minha vida profissional, creio ter-me orientado, em provas dignas de credibilidade, sem prejuizo do direito de escolher ou selecionar os fatos e examiná-los com o rigor necessário. Os alcobacenses comigo vão revivendo a história da terra, descobrindo pormenores (nada menores, por sinal l!!!) da vida de pessoas de quem se fala, que conhecem ou não pessoalmente ou ainda de factos que viveram ou não.
Uma história de acontecimentos, de datas e de pessoas ilustres de não nos serve por si só, se não obtivermos a explicação e o entendimento necessário para percebermos quais as consequências que tiveram, directa ou indirectamente, na vida política e social da comunidade. Não alinho na teoria que busca contar  a História, fundamentalmente, a partir da ação e do impacto dos chamados Grandes Homens, indivíduos muito influentes, graças ao carisma, inteligência ou impacto político-social. Pelo contrário,  defendo a teoria que propõe que os eventos acontecem numa dada circunstância de tempo, ou quando uma imensa quantidade de pequenos eventos causam certos desenrolamentos. Embora seja bastante popular a crença em que a história gira em torno de Grandes Homens, especialmente quando a sua grandeza é determinada primariamente por status político, essa é uma visão restritiva, que exclui a participação de grupos inteiros, entre os quais o operariado, as minorias étnicas ou culturais, e mesmo as mulheres, enquanto género.
Qualquer reconstrução do passado em que participei ou investiguei, sempre dependeu de um conjunto de escolhas que tive de fazer, envolvendo a própria natureza do trabalho a ser realizado, e a seleção das fontes que interessam para verificar uma prova alegadamente fidedigna.  Estou habituado, a trabalhar para o tempo que corre, e não para a eternidade. Por isso, também não tenho a pretensão de fixar verdades absolutas, interpretações eternas, pois  a História será sempre reescrita, em face do contexto do momento e, porque calculo que os Historiadores, aqueles que acreditam que fazem ciência, escrevem para o desenvolvimento do conhecimento coletivo e admitem que a História seja mal tratada (por si e por outrém).
Este último ano, serviu-me bem para aprofundar conhecimentos sobre alguns acontecimentos da história da nossa terra, da nossa gente, descobrir personalidades e episódios. Devo algumas atenções ao Dr. Rasquilho. Foi um ano de troca de ideias e saberes, no qual conheci pessoas, com as quais debati temas da História e do Património de Alcobaça.
Um dos momentos que mais me marcaram, foi quando me disseram (seguramente muito benévola e exageradamente) que a minha escrita dava vontade de ler, para explorar depois a nossa História. É bom sabermos (repito mesmo descontando o exagero) que inculcamos o bichinho da curiosidade e gosto históricos. Só por isso, este ano valeu a pena.
Num momento de viragem, é tempo de olharmos para a nossa Cultura, Arte, Património e História com olhos de ver, apreciar e defender o que é nosso, dinamizando valores. Uma terra, como Alcobaça, tão rica em História e em momentos decisivos do percurso do País, não pode deixar desaparecer os vestígios do passado. Não o digo para vivermos no passado, claro que não, outrossim que temos de preservar a História e trilhar um futuro, assumidamente com convicção.
É o momento de apostarmos nas nossas riquezas e divulgá-las, com o ensino da História Local na Escola (será mesmo uma utopia neste tempo de crise económico-financeira?), aproximando os jovens do que é seu. Além disso, os nossos governantes, nomeadamente autárquicos, têm o dever de defender o que é nosso, não deixando ao abandono o Património.
Como se sabe o património é ao mesmo tempo material e imaterial. Material, pensa-se imediatamente no património construído. Imaterial, associa-se às tradições orais, aos saberes e ao saber fazer. Se a generalidade concorda em considerar que o património deve ser preservado como primeira condição da acção cultural, a questão da valorização comercial do património e da sua relação com o desenvolvimento económico, suscita reações diversas, se não opostas. O restauro de uma peça de arte, de uma pequena igreja, a renovação de uma praça, só farão real sentido se provocarem um afluxo turístico, ou podem ser realizados para o simples prazer, para a cultura e fruição dos residentes? Uma das componentes principais da cultura é o quotidiano, que é para muitos é fundamentalmente o ambiente arquitetónico. Todavia, a qualidade estética deste ambiente, eleva o nível cultural dos residentes. 
A política cultural dos poderes públicos, autárquicos incluidos, justifica-se, frequentemente, pela ajuda que confere ao desenvolvimento. Daqui surge uma manifesta ambiguidade pois não é tanto a elevação do nível cultural que se procura com o estímulo da actividade económica para se concluir rapidamente que o desenvolvimento cultural não é um luxo sem o qual se pode passar, mas um motor do desenvolvimento económico e social. Todavia, a responsabilidade dos decisores no estabelecimento dos programas conduz, ou deveria conduzí-los, a uma reflexão quanto ao equilíbrio a obter entre a satisfação das necessidades culturais e das económicas. É verdade que a simbiose entre cultura e economia passa muitas vezes pelo turismo, mas nada impede aos promotores de acções culturais conciliar a necessidade de atrair um público exterior e a vontade de satisfazer as aspirações do público local. 
Continuarei no meu combate pela divulgação da nossa História, porventura quixotescamente ou sem resultados palpáveis, mas com a certeza maior de ser importante não esquecer, nem apagar o passado, pois ele faz parte da memória do nosso povo, da nossa terra e das nossas raízes pessoais.

Crianças com problemas




CRIANÇAS COM PROBLEMAS

FLeming de OLiveira

Acrianças vulgarmente chamadas de problemáticas que apresentam problemas através de comportamentos inadequados, não nasceram, obviamente, com problemas.
Muitas vezes, eles são fruto de uma postura paternal, conotada com vidas complicadas, inseridas num mundo difícil. As regras da educação familiar são e serão sempre fundamentais, porque a criança vive num mundo ainda não estruturado, onde a responsabilidade educativa dos pais (primeiro que a Escola, que os não pode substituir, ficando esta responsável por acrescentar outros valores) é inalienável. A firmeza, a coerência, o amor, a consistência nas ações têm de ser pontuais e dão sustentação ao encaminhamento de limites. Sei bem que ninguém é educado de uma hora para outra, pelo que a formação é um processo contínuo e alguns requisitos como a paciência, a troca, o carinho, a atenção terão de estar sempre presentes.
Muitos dos problemas das crianças problemáticas estão, pois, relacionados com os pais.
O importante na relação com a criança (ou adolescente) é respeitá-la e fazer-se respeitar, ouvir e ensiná-la a ouvir os outros. Mas, claro, não só.
Partilhar experiências, criar cumplicidades, trocar conhecimentos, dar parâmetros para que se sintam seguros. Permitir, sem ser permissivo!!!
A rejeição paternal é um dos grandes e graves problemas, especialmente em casais em que ambos trabalham e se encontram absorvidos com a carreira ou estão separados. É uma situação que se agrava quando não existem avós por perto para cuidar das crianças que anseiam pelo amor de pais incapazes de darem amor e afeto suficientes.
Por outro lado, a super proteção em que os pais tentam dar aos filhos, impede-os de se adaptarem e prepararem para o meio envolvente. Crianças super protegidas procuram sempre a ajuda dos pais e a sua mente está programada para que acreditem que estes irão para sempre delas cuidar, bem como dos seus problemas.
Desde sempre, entendi imprópria a pressão dos pais quando pretendem, necessitam, inconfessadamente que os filhos atinjam um objetivo que eles não conseguiram no seu tempo ou que iguais aos seus, que alegadamente reputam como os melhores. Quando os pais decidem que o filho seja o melhor da escola, um industrial de sucesso ou mesmo um doutor, poderão estar a arruinar a capacidade de o ser e a incutir-lhe um sentimento de culpa.
No meio disto tudo, a disciplina não pode ser inexistente, nem demasiado severa, mas simpática ao invés de agressiva. Pouca disciplina acarreta uma criança agressiva e pouco social, muita rigor resulta em medo, com crianças eventualmente a rejeitarem os pais, e formarem-se com um caráter pouco social.
Creio ser pacífico, afirmar que os pais, hoje como sempre, são os primeiros referenciais de qualquer criança. Se os pais tiverem mérito, boas qualidades, será natural que as crianças os sigam nesses predicados. Mas, se pelo contrário, os pais forem disfuncionais nos seus problemas emocionais, podem afetar uma criança muito facilmente, nomeadamente nela gerar um modelo negativo. Os filhos preferem não ser como os pais, seguir as suas pegadas, o que por si não é necessariamente mau, mas ao mesmo tempo os pais também falharam com os filhos como bom modelo de pais.
Crianças com comportamentos problemáticos como refilar, violentos como morder, exigir, ataques de raiva, etc., podem tornar-se incómodas, porém, os pais devem ser pacientes o suficiente para lhes ensinar contra este tipo de comportamento.
Se a criança é desobediente, será preciso entender o contexto e não a reação pontual, fragmentada.
Se fosse esta a minha profissão, talvez pudesse referir e aconselhar
que este é um trabalho árduo, que leva anos e acarreta muito envolvimento. Todavia, arrisco e deixo o meu depoimento. Só as deixando falar, dando vez e voz, eu poderia  entender e atuar em parceria com as famílias, buscando formas mais assertivas de resgatar aquelas crianças.

Em casa dos meus Pais (onde ainda havia oito filhos), as Regras da Casa/ Família eram expressas, definidas e respeitadas por todos os elementos, os papéis estavam definidos. A Família ao longo dos anos organizou-se em função desses papéis, onde cada um de nós sabia distinguir o permitido do proibido, esperando pelas recompensas e acatando os castigos de uma forma consistente, adaptados à idade. Quando me refiro a recompensas, não estou a pensar propriamente nas puramente materiais, mas a estímulos benévolos e positivos. Nem quanto a castigos, o quarto escuro.
Há uns anos, apenas para consumo familiar, escrevi um livrinho sobre AS REGRAS DA (nossa) CASA.
Pois claro, bem recordo, tínhamos problemas. Todas as famílias têm problemas, e a nossa não era exceção, mas havia uma maneira muito própria de lidar com eles, preferencialmente discutidos à mesa, sentimentos expressos sem os tabús que envenenam as relações. A minha Família era muito tradicional, inserida numa boa burguesia urbana portuense, onde os meus Pais concebiam uma educação que se poderia qualificar de negociável, o que me permite concluir (desculpem se exagero!!!) que ali não havia vitórias, nem derrotas, o que não sei bem com isso acontecia.
Mas para nós filhos, uma coisa era absolutamente inquestionável, o poder estava do lado dos pais, embora pudesse ser pontualmente negociado, mas a última palavra era destes, sem dúvida.
Posso-me gabar (desculpem se exagero de novo) que em casa de meus Pais, a resposta às exigências internas e externas da mudança do tempo (educar oito filhos!!!, implica devoção e demora muito tempo), não seguiu um padrão standart, rígido, sem possibilidade de alternativa, o que a assim ser implicaria um bloqueio no processo de comunicação familiar.
As disfunções de relacionamento e de papéis dentro das famílias podem afetar os seus membros, seja a título individual, como familiar, constatação que não sendo original nem por isso é fácil de ultrapassar.
As famílias doentes, por vezes elegem um dos membros para representar a doença da família. É o caso que muitas vezes ocorre em famílias psicotizantes onde os pais, possuem o poder de psicotizar (preverter digo eu, talvez no quadro de uma patologia maníaco-depressiva) um filho. Este, por sua vez, torna-se o membro inconscientemente doente da família, aceitando a carga de dificuldades para si, encarnando um bode expiatório, que assume e representa a doença da casa, permitindo aos demais verem-se livres dos seus próprios conflitos e dificuldades. A família sente-se, aliviada, saudável, enquanto possui um membro doente.
A minha experiência profissional e de vida em sociedade (já com alguns anos, que as cãs não escondem), permite-me revelar que tanto nas famílias funcionais como disfuncionais, existem cumulativamente filhos não sadios e empreendedores. Nas famílias disfuncionais, os pais negam os problemas, fazem os filhos guardar segredos, como o alcoolismo, violência ou resultados menos conseguidos. E afastam os filhos das relações fora do círculo familiar.
Hoje em dia suponho saber identificar, com pequena margem de erro, casos de família disfuncional. Às vezes, saltam das páginas de jornal ou dos telejornais que relatam crimes tão hediondos como pais que matam filhos. Não que o distúrbio justifique o crime, mas a cada acontecimento novo, interrogo-me se algumas desses dramas poderiam ter sido evitados caso as pessoas tivessem recebido ajuda psicológica.
Bem sei que o desenvolvimento humano não tem fórmulas exatas ou lineares. Filhos de famílias disfuncionais podem desenvolver-se de forma ajustada e estabelecer relacionamentos saudáveis. Assim como filhos de famílias sem grandes conflitos podem desenvolver transtornos de conduta. Vários fatores concorrem para a origem dos transtornos psicológicos, como as características individuais, incluindo as genéticas, e influências ambientais


Saudades da Política


SE NÓS NÃO OS RESOLVERMOS, QUEM O FARÁ POR NÓS?
                                                                              Fleming de Oliveira

Há anos fiz alguma política que, aliás, não me deixou especiais saudades. Nunca tive também ilusões, que também nunca escondi, acerca do mérito dessa intervenção. Apesar disso tudo, continuo a gostar da política “pura e dura”, mas olho com alguma pouca paciência e menos disponibilidade, o modo como alguns dos políticos portugueses pretendem, por regra, justificar o seu comportamento, as suas decisões, os seus erros, encontrando sempre uma primeira resposta no tempo que os antecedeu, bem como, nos que também os antecederam.
Entendo que esta postura (deste ou outro qualquer poder), além de censurável em si nada nos interessa, e pressupõe o objetivo de escamotear a realidade, servindo-se de factos e situações, ainda que descontextualizadas, para “justificar a justificação”. A explicação de tudo isto parece-me óbvia, o poder por inépcia e teimosia, falhou nas opções assumidas e não encontra melhor argumento do que lançar poeira sobre o própria falhanço. Não vale a pena matar o mensageiro, embarcar em histerias, sejam elas positivas ou negativas, nem imputar nestes tempos revoltos à Senhora Merkel a origem dos males que nos atingem ou argumentar que ela é um deus prepotente, egoísta e infalível que nos leva para o abismo.
Que ela é poderosa e importante não há dúvida e apesar disso ou por via disso a teremos de aceitar, não valendo a pena atirar pedras ou vociferar palavras em manifestações que, porventura nos aquecendo momentaneamente a alma, não têm resultados úteis, nem positivos.
Espero que fique demonstrado que o principal da política governamental não terá sido tanto corrigir as contas públicas ou a trajetória do défice, mas eliminar “refundar”, rápida e a contento (?) alguns supostos, mas instáveis e falsos, equilíbrios em que assentava a democracia portuguesa e acarretaram o deflagrar da crise em que nos encontramos. 
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Várias Faces da Mesma Moeda - A Corrupção


VARIAS FACES DA MESMA MOEDA

FLeming de OLiveira


Os estudos e a percepção pública portugueses, apontam no sentido de a corrupção ser um fenómeno em crescimento em Portugal. Todavia a Procuradora Cândida Almeida (DCIAP), há tempos na última Universidade do Verão do PSD, afirmou que o nosso país não é corrupto, os nossos políticos não são corruptos, os nossos dirigentes não são corruptos.
Porém, uma grande maioria dos portugueses, considera outrossim que os níveis de corrupção não param de aumentar, são muito elevados e que os partidos políticos são afetados, se não os mais responsáveis por este fenómeno. Afinal, só quatro países da Zona Euro estão atrás de Portugal no ranking geral, a saber, Malta, Eslováquia, Itália e Grécia.
Segundo o que foi divulgado pelo último relatório do Sistema Nacional de Integridade (SNI), que aprecia esta temática, a Administração Pública, o Ministério Público, os organismos de investigação criminal e os especializados no combate ao fenómeno, são as áreas mais vulneráveis à corrupção. As condições propícias à corrupção têm aumentado significativamente nos últimos anos, devido ao crescimento do Estado e da sua função reguladora na Economia. Acrescento eu, a crise será sem dúvida um fator motivador.
Parece seguro continuar a validar o argumento que as trdicionais lentidão e complexidade no nosso sistema judicial, são considerados obstáculo ao eficaz combate ao fenómeno, para além da falta de formação de juízes e a inexistência de tribunais especializados. Assim, parece-me possivel inferir com segurança que os resultados têm sido bastante limitados. O combate ao fenómeno apresenta pois resultados mais baixos do que seria de esperar, no âmbito de um país desenvolvido.
Há imenso fumo de corrupção no aparelho do Estado. O que não há é uma investigação do Ministério Público. É mais fácil vir dizer que não há corrupção do que investigá-la e punir os corruptos, retorquiu o Bastonário Marinho e Pinto, numa alusão às referidas declarações de Cândida Almeida, o qual indo mais longe garante que a corrupção existe, é o cancro da democracia em Portugal e está entranhada nas estruturas do Estado de Direito. Esta cultura de favorecimentos vários é algo que mancha a democracia e uma sociedade que se quer justa.
A corrupção não se resume ao crime previsto no Código Penal, pois também está conotada com uma série de comportamentos que embora não sendo éticos, tambem não são ilegais, não são correctos, pelo que seria preciso atacar comportamentos, os bem conhecidos compadrios e cunhas, que continuam a ser tolerados e que implicam resultados deploráveis.
Quem vive e trabalha em Portugal, apercebe-se do intricado sistema de cunhas e compadrios (esse tráfico de influências, velha forma de obter benefícios ilegítimos na nossa sociedade) que pulula em quase todos os sectores de actividade. No sector público ou nas parcerias público-privadas ele torna-se mais evidente, porque ao habitual compadrio, junta-se o cartão partidário da cor certa.
Não pretendo contribuir para uma imagem (ainda mais) negativa da vida pública nacional. Mas, confesso, já me vai faltando a paciência. Neste último trimestre de 2012, faço a intenção de questionar tabús, desocultando o diáfano manto que encobre o politicamente correto.
E, assim, nos vamos transformando num país sem recursos naturais soberanos, sem poder de compra, sem mercado interno, sem investimento privado digno do nome e uma imensidão de desempregados e de emigrantes! 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um conceito de Família


UM CONCEITO DE FAMÍLIA
E CRIANÇAS COM PROBLEMAS

FLeming de OLiveira
Em casa dos meus Pais (onde ainda havia oito filhos!!!), as Regras da Casa/ Família eram expressas, definidas e respeitadas por todos os elementos, os papéis estavam definidos. A Família ao longo dos anos (mais de cinquenta já passaram) organizou-se em função desses papéis, onde cada um sabia distinguir o permitido do proibido, esperando pelas recompensas e acatando os castigos de uma forma consistente, adaptados à idade. Quando me refiro a recompensas, não estou a pensar propriamente nas puramente materiais, mas a estímulos benévolos e positivos. Nem quanto a castigos, ao quarto escuro.
Há uns anos, apenas para consumo familiar, escrevi um livrinho sobre AS REGRAS DA (nossa) CASA.
Pois claro, bem recordo, tínhamos problemas. Todas as famílias têm problemas, e a nossa não era exceção, mas havia uma maneira muito própria de lidar com eles, preferencialmente discutidos à mesa, sentimentos expressos sem os tabús que envenenam as relações. A minha Família era muito tradicional, inserida numa boa burguesia urbana portuense, onde os meus Pais concebiam uma educação que por vezes se poderia qualificar de negociável, o que me permite concluir (desculpem se exagero !!!) que ali não havia vitórias, nem derrotas, o que não sei bem com isso acontecia.
Mas para nós filhos, havia uma coisa absolutamente inquestionável, o poder estava do lado dos Pais, embora pudesse ser pontualmente negociado, mas a última palavra era destes, sem dúvida.
Posso-me gabar (desculpem se exagero outra vez…) que em Casa, a resposta às exigências internas e externas da mudança do tempo (educar oito filhos!!!, implica devoção e demora muito tempo), não seguiu um padrão standart, rígido, sem possibilidade de alternativa, o que a assim ser implicaria um bloqueio no processo de comunicação familiar.
As disfunções de relacionamento e de papéis dentro das famílias podem afetar os seus membros, seja a título individual, como familiar, constatação que não sendo original nem por isso é fácil de ultrapassar.
As famílias doentes, por vezes elegem um dos membros para representar a doença da família. É o caso que muitas vezes ocorre em famílias psicotizantes onde os pais, possuem o poder de preverter um filho no quadro de uma patologia maníaco-depressiva. Este, por sua vez, torna-se o membro inconscientemente doente da família, aceitando a carga de dificuldades para si, encarnando um bode expiatório, que assume e representa a doença da casa, permitindo aos demais verem-se livres dos seus próprios conflitos e dificuldades. A família sente-se, aliviada, saudável, enquanto possui um membro doente.
A minha experiência profissional e de vida em sociedade (já com alguns anos, que as cãs não escondem), permite-me revelar que tanto nas famílias funcionais como disfuncionais, existem cumulativamente filhos não sadios e empreendedores. Nas famílias disfuncionais, os pais negam os problemas, fazem os filhos guardar segredos, como o alcoolismo, violência ou resultados menos conseguidos. E afastam os filhos das relações fora do círculo familiar.
Hoje em dia suponho saber identificar, sem grande margem de erro, casos de família disfuncional. Às vezes, saltam das páginas de jornal ou dos telejornais que relatam crimes tão hediondos como pais que matam filhos. Não que o distúrbio justifique o crime, mas a cada acontecimento novo, interrogo-me se alguns desses dramas poderiam ter sido evitados caso as pessoas tivessem recebido adequada ajuda psicológica.
Bem sei que o desenvolvimento humano não tem fórmulas exatas ou lineares. Filhos de famílias disfuncionais podem desenvolver-se de forma ajustada e estabelecer relacionamentos saudáveis. Assim como filhos de famílias sem grandes conflitos podem desenvolver transtornos de conduta. Vários fatores concorrem para a origem dos transtornos psicológicos, como as características individuais, incluindo as genéticas, e influências ambientais
Acrianças vulgarmente chamadas de problemáticas, que apresentam problemas através de comportamentos inadequados, não nasceram, obviamente, com problemas. Muitas vezes, eles são fruto de uma postura paternal, conotada com vidas complicadas, inseridas num mundo difícil. As regras da educação familiar são e serão sempre fundamentais, porque a criança vive num mundo ainda não estruturado, pelo que a responsabilidade educativa dos pais (primeiro que a Escola, que os não pode substituir, ficando esta responsável por acrescentar outros valores) é inalienável. A firmeza, a coerência, o amor, a consistência nas ações têm de ser pontuais e dão sustentação ao encaminhamento de limites. Sei bem que ninguém é educado de uma hora para outra, pelo que a formação é um processo contínuo e alguns requisitos como a paciência, a troca, o carinho, a atenção terão de estar sempre presentes.
Muitos dos problemas das crianças problemáticas estão, pois, relacionados com os pais.
O importante na relação com a criança (ou adolescente) é respeitá-la e fazer-se respeitar, ouvir e ensiná-la a ouvir os outros. Mas, claro, não só.
Partilhar experiências, criar cumplicidades, trocar conhecimentos, dar parâmetros para que se sintam seguros. Permitir, embora sem ser permissivo!!!
A rejeição paternal é um dos grandes e graves problemas, especialmente em casais em que ambos trabalham e se encontram absorvidos com a carreira ou estão separados. É uma situação que se agrava quando não existem avós por perto para cuidar das crianças que anseiam pelo amor de pais, incapazes de darem amor e afeto em dose suficiente.
Por outro lado, a super proteção que os pais tentam dar aos filhos, impede-os de se adaptarem e prepararem para a vida, o meio envolvente. Crianças super protegidas procuram sempre a ajuda dos pais e a sua mente está programada para que acreditem que irão cuidar delas para sempre, bem como dos seus problemas.
Desde sempre, entendi imprópria a pressão dos pais quando pretendem, necessitam, inconfessadamente que os filhos atinjam um objetivo que eles não conseguiram no seu tempo ou iguais aos seus, que alegadamente reputam como os melhores. Quando os pais decidem que o filho seja o melhor da escola, um industrial de sucesso ou mesmo um doutor, poderão estar a arruinar a capacidade de o ser e a incutir-lhe um sentimento de culpa.
No meio disto tudo, a disciplina não pode ser inexistente, nem demasiado severa, mas simpática ao invés de agressiva. Pouca disciplina acarreta uma criança agressiva e pouco social, muita rigor resulta em medo, com crianças eventualmente a rejeitarem os pais, e formarem-se com um caráter pouco social.
Creio ser pacífico, afirmar que os pais, hoje como sempre, são os primeiros referenciais de qualquer criança. Se os pais tiverem mérito, boas qualidades, será natural que as crianças os sigam nesses predicados. Mas, se pelo contrário, os pais forem disfuncionais nos seus problemas emocionais, podem afetar uma criança muito facilmente, nomeadamente nela gerar um modelo negativo. Os filhos preferem não ser como os pais, seguir as suas pegadas, o que por si não é necessariamente mau, mas ao mesmo tempo os pais também falharam com os filhos como bom modelo de pais.
Crianças com comportamentos problemáticos como refilar, violentos como morder, exigir, ataques de raiva, etc., podem tornar-se incómodas, porém, os pais devem ser pacientes o suficiente para lhes ensinar contra este tipo de comportamento.
Se a criança é desobediente, será preciso entender o contexto e não a reação pontual, fragmentada.
Se pedagogo fosse a minha profissão, talvez pudesse referir e aconselhar que este é um trabalho árduo, que leva anos e acarreta muito envolvimento. Todavia, arrisco e deixo o meu depoimento. Só as deixando falar, dando vez e voz, eu poderia  entender e atuar em parceria com as famílias, buscando formas mais assertivas de resgatar aquelas crianças.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Apresentação de livro com Universidade Sénior de Espinho


 








Informo que no próximo dia 17 de Novembro, pelas 16h, no Auditório da Biblioteca Municipal, vou fazer a apresentação do meu livro “NO TEMPO DE MATA FRADES, VISCONDE DE SEABRA E OUTROS. A Guerra Civil, o furto dos códices alcobacenses e o Mosteiro”.

Do evento (com condução a cargo de Piedade Neto) consta ainda uma intervenção da Dra. Ana Margarida Martinho (IGESPAR)e um momento musical com o interessante e afamado grupo de cavaquinhos da Universidade Sénior de Espinho.

Gostaria muito de contar com a sua presença e familiares, que muito aprecio, o que para mim é muito importante e estimulante.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Confraria de Enófilos e Gastrónomos de Alcobaça

No dia 27 de Outubro de 2012, no Challet da Fonte Nova, Alcobaça, reuniu a Confraria de Enófilos e Gastrónomos para realizar o seu jantar de Outono e fazer uma prova de vinhos. 
Eis aqui algumas fotos do evento.