quarta-feira, 5 de abril de 2017

-OS GRANDES/PEQUENOS PROTAGONISTAS DA HISTÓRIA- PORTUGAL E ALCOBAÇA-


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O homem comum, o soldado, o prisioneiro e o deslocado raramente são protagonistas nos livros de História.
Como escreveu o poeta brasileiro, a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas; nas ruas de subúrbio, nas casas de jogo, nos prostíbulos, nos colégios, nas ruínas, nos namoros de esquina. Disso quis eu fazer a minha poesia, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não têm voz.
O século XX português e alcobacense teve grandes protagonistas que o marcaram e moldaram. Já perpassamos por D. Carlos (rei numa monarquia sem monárquicos) e Afonso Costa (outro Mata Frades), mas não podemos esquecer, Salazar (governava o País como uma dona de casa), Duarte Pacheco (uma curta vida para quem queria andar tão depressa), Egas Moniz (a lobotomia como técnica da operação ao cérebro), Óscar Carmona (sempre presente da Ditadura Militar, à Ditadura Nacional ao Estado Corporativo, mas em segundo plano), Vasco Santana (um Zé Povinho, do palco e da tela), Amália Rodrigues (Rainha do Fado), Humberto Delgado (abalou sem medo o regime), Mário Soares (republicano de percurso sinuoso, possuidor de um enorme ego, na maior parte das vezes socialista), Álvaro Cunhal (inabalável nas convicções, ainda que contra as evidências), Sá Carneiro (um meteoro político, de visão e de palavra), José Saramago (um mal amado, incompreendido por alguns, mas que sabia sobre o que escreveu), Paula Rego (artista de muitos contos e de histórias de colorida intensidade, aparentemente ingénuas) ou Eusébio (o senhor golo).
E em Alcobaça? Afonso Lopes Vieira, Manuel Vieira Natividade e outros.

Houve muitos vencedores no século XX, países que se reputaram vencedores saíram, porém, devastados, o sofrimento, a dor, a memória dos tempos conturbados e das lições amargas, vinham amiúde à tona.
As disputas que surgiram depois de qualquer uma das guerras, foram alegadamente destinadas a evitar uma outra, a criar um mecanismo e um estado de espírito conducentes à revolução pacífica dos diferendos. Essas disputas, fossem elas o confronto entre formas extremas de nacionalismo, entre o mundo comunista e o não comunista, entre as potências coloniais e os que estavam sobre o seu domínio, resvalaram frequentemente para a violência. Os ódios étnicos, pulsavam apesar de artificialmente recalcados e numa primeira oportunidade vinham à superfície, sem olvidar  limpezas étnicas.
A energia nuclear, a mais poderosa ameaça de destruição jamais pensada ou concebida, que se iria revelar também o mais poderoso instrumento de dissuasão, gerou um debate que, nas democracias, fez prevalecer os argumentos morais e médicos sobre as estratégias militares.
A partir da última metade do século XX, a televisão chegou às casas de centenas de milhões de pessoas e levou os elementos da luta global, como a fome e a guerra, a pessoas que estavam a milhares de quilómetros de distância e se supunham a ela imunes. Recorde-se, por exemplo, o seu impacto na Guerra do Vietname e os movimentos que despoletou. Mas, com o tempo, também funcionou como analgésico.
O verdadeiro progresso não é, afinal, uma lei da natureza, pois todos dias e nos mais variados lugares, registam-se avanços e recuos nada subjetivos.

Aos poucos, o Homem viu melhorar as condições de vida, mesmo em países que estavam à margem da política ou da ideologia predominantemente corretas. Não obstante, a luta por uma vida melhor não ter chegado ao fim, aliás nunca o alcançará, apesar das características dessas lutas terem sofrido frequentes e muitas alterações, a procura da realização humana ainda que com dor, vai continuar a desafiar e inspirar o século XXI.   

-Bolo Rei vs. Bolo de Natal ou Bolo Presidente- NOVOS SÍMBOLOS DA I REPÚBLICA EM PORTUGAL E ALCOBAÇA-


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A gastronomia pode, também, ser uma vítima (inocente) da revolução. Em Portugal, após a implantação da República, o alvo foi o inofensivo Bolo-Rei.
A impudente sanha dos revolucionários do 5 de Outubro na sua ânsia de criar fraturas com o anterior regime, abateu-se também sobre esta muito portuguesa iguaria natalícia, que não podia mais continuar a usar a palavra rei . Se tinham acabado para sempre os reis em Portugal, também tinham de acabar na doçaria. Os fabricantes, que queriam continuar a cozinhar, vender ou defender o velho Bolo-Rei, tiveram de lhe encontrar nomes alternativos e politicamente aceitáveis ou corretos.
Uns optaram por o rebatizar de Bolo de Natal, Bolo das Festas ou Bolo de Ano Novo, enquanto outros optaram por ex-Bolo-Rei. Houve ainda quem adiantasse que a melhor e mais consensual designação seria a de Bolo Nacional. Mas isto não satisfez alguns republicanos, que começaram a chamar-lhe Bolo-Presidente ou mesmo Bolo-Arriaga, em honra de Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República, que terá achado ridículo o empenho e não o aprovou.
Em Alcobaça, terá havido um ou outro caso, de repúdio pelo nome tradicional, o que acarretou que, por via de dúvidas, o doce que era importado de Lisboa e chegava pela carreira do Valado, fosse vendido ao público (em muitas famílias era feito em casa) com a designação, mais aceitável, de Bolo de Natal.

A intenção da República prosseguir um programa político e cultural da modernidade, exigiu a visibilidade e o reconhecimento de um novo poder simbólico, político e cultural, que usou vários instrumentos simbólicos, entre os quais estava o Busto da República.
A imagem da República Portuguesa foi representada de várias formas, seguindo o modelo francês da Liberdade, da autoria de Delacroix, caraterizando-se, apenas, pelas cores vermelha e verde das roupagens. A partir de 1912, o Busto da República, da autoria de Simões de Almeida, tornou-se um padrão oficial da imagem da República Portuguesa e a ser considerado um dos símbolos nacionais, tal como o retrato do Chefe de Estado, o Brasão de Armas, a Bandeira e o Hino. Chegou a ser obrigatório a existência de uma reprodução do Busto da República, em local bem visível, nos edifícios públicos. Mas ao invés do que aconteceu com os demais símbolos, este foi caindo em desuso, sendo hoje, raro encontrá-lo. Em junho de 1910, o fotógrafo alcobacense Carlos Gomes reproduziu fotograficamente o Busto da República, que se encontrava no Quartel, vendendo cada reprodução ao preço de 500 reis. Na montra da Farmácia Campeão, veio a ser exposto um Busto da República, em imitação de bronze que, segundo os (devotos) republicanos, constituía um elegante adorno de sala, tão perfeita era a modelação, tão bem lançada e artística é a cabeça altiva e insinuante. Encarregava-se do seu fornecimento a Casa Catalá, de Lisboa, que tinha como proprietário o alcobacense António Lopes de Oliveira, custando cada exemplar a módica quantia de 12$500 Reis. Na Sessão de 2 de fevereiro de 1914, foi autorizada a Comissão Executiva da Câmara Municipal a adquirir um Busto da República para a Sala das Sessões, sendo o mesmo, ao que se admite como muito provável, o que ainda lá se encontra. O Centro Republicano por sua vez adquiriu um exemplar.

Também foi dada muita importância à Bandeira verde e vermelha (que foi hasteada pela primeira vez em Lisboa na Festa da Bandeira, a 1 de dezembro de 1910), ao Escudo (5 quinas e 7 castelos), à Esfera Armilar (manuelina), ao Hino Nacional (A Portuguesa), à Moeda (o escudo que substituiu os reis), ao Calendário (novos feriados e festas nacionais), à Divisa (Saúde e Fraternidade), à Festa da Árvore, ao Panteão Nacional (a Igreja de Santa Engrácia foi escolhida como monumento para o instalar), às condecorações (a Torre e Espada foi a única Ordem que se manteve), à Toponímia, à Numismática ou à Filatelia (Coleções Ceres em 1912, 1917/1920, 1921/1922, 1923/1926).
Para entender a evolução dos diferentes processos de legitimação simbólica, política e cultural, há que ter em conta a posição do Presidente da República António José de Almeida, longe do tempo dos primeiros governos e de Afonso Costa, manifestada em vários momentos, como no discurso que proferiu no Congresso, a 7 de abril de 1921, em honra dos transladados Soldados Desconhecidos, que teriam permanentemente no Mosteiro da Batalha uma Guarda de Honra, a Chama da Pátria e a proteção do Cristo das Trincheiras.
Mas se a escolha do átrio do Congresso, para exposição dos corpos dos heróis, foi acertada, a deliberação de os levar em definitivo para a Batalha traduz o melhor preito que à sua memória se podia prestar. O Mosteiro da Batalha é, conjuntamente, uma obra de poetas, de guerreiros e de crentes (…). O crente católico pode ajoelhar e rezar, porque como Casa de Deus, não a há mais pura e acarinhadora. Quem tiver outras crenças sentir-se-á comovido pelo aspeto imponente das naves, que proclamam grandeza, ou pela solidão enternecida dos claustros, que traduzem recolhimento, lenda, mistério, tudo envolvendo uma tradição que vem de longe (…). Toda a gente lá pode entrar, toda, a principiar pela própria República/Regime, pela própria República/Estado, que, sem adotar nenhuma confissão religiosa, mas respeitando todas as religiões, não pode deixar de sentir especiais deferências por aquela que, além de ser a da grande maioria dos portugueses, tem por suprema divindade o mesmo Cristo que (…), não é só o Deus dos católicos, mas também, na História de Portugal, o companheiro de armas de Nun’Álvares (…).
No dia 9 de abril de 1921, foram transladados para a Batalha, os restos mortais de dois Soldados Desconhecidos, vindos da Flandres e da África Portuguesa representando os mortos anónimos das expedições enviadas aos referidos teatros de operações e o sacrifício do Povo Português.
Os primeiros governos republicanos, conforme o ideário político-social de republicanização e nacionalização do Estado e da sociedade, com derivas radicais para o secularismo e o laicismo inseridos num alegado processo de secularização e de laicidade, investiram na politização das forças (GNR, missões civis e militares de propaganda, sociedades de instrução militar preparatória) e do capital simbólico (símbolos nacionais, memória e história nacional, tempo e calendário republicano, heróis e grandes homens, separação do Estado e das Igrejas, laicização do ensino, educação cívica).
O aprofundamento da secularização fez-se através do culto cívico da Pátria e da religiosidade profana do Estado, com a finalidade de retirar o controlo simbólico e social da intervenção eclesiástica, e até da religiosidade sagrada à Igreja. Valorizaram-se, idealmente, as expressões da liberdade e da consciência individual, para a construção do Estado de Direito, mas o mito revolucionário, que escorreu nos múltiplos pronunciamentos militares, acompanhará permanentemente o regime, inviabilizando a normalidade institucional de uma República que, na Constituição de 1911, consagrava um princípio inovador (embora amiúde postergado), a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, artº 3º/4.
A resistência aos governos republicanos multiplicou-se, ajudada pelas dificuldades decorrentes da I Guerra.
Tal como alguns tinham previsto, a Lei da Separação deu ao clero um sentido de vitimização e de solidariedade que reforçou a hierarquia e a relação com Roma, tornando a Igreja portuguesa mais integrada e combativa. Apesar da forte carga anticlerical que a propaganda republicana sempre manifestara, com a implantação da República não se ocorreram logo grandes atos de violência contra membros do Clero ou a Igreja, salvo alguns episódios em Lisboa e a sul do Tejo.
A legislação anticlerical iniciou-se com a reposição das leis pombalinas que expulsaram os Jesuítas (quando partiram para o exílio, sob a vigilância da tropa republicana, no tentativa de humilhação foram obrigados a usar chapéu e fato escuros) e extinguiu as ordens religiosas.
Depressa, o governo acabou com os feriados religiosos, as enfermeiras substituíram as irmãs de caridade, o ensino da doutrina cristã foi retirado dos programas escolares e extinta a Faculdade de Teologia de Coimbra. No início de novembro foi publicada a Lei do Divórcio e em fevereiro de 1911, o Código do Registo Civil (legislação que no conjunto foi sendo trabalhada e desenvolvida), que tornou obrigatório o registo civil dos nascimentos e casamentos. A medida mais polémica, foi a Lei da Separação do Estado das Igrejas (abril de 1911), que consagrava a separação entre a Igreja Católica e o poder político. As relações entre o Estado e a Igreja foram-se degradando sucessivamente, de maneira que a 10 de julho de 1913, foram cortadas as relações diplomáticas com a Santa Sé.
A perspetiva evolucionista de Sampaio Bruno manifestou-se ao insistir, que o fio da tradição tinha de ligar-se à trama da renovação, para que não se produzam hiatos nem se rasguem lacunas, e, assim, uma pátria nova quer simplesmente dizer a pátria antiga depurada, melhorada, aperfeiçoada, civilizada, progressiva, firmada nos conceitos da razão pura e nas admoestações da tradição histórica.
Após vinte anos de interregno, na cerimónia diplomática de imposição do barrete cardinalício ao Núncio Apostólico, Monsenhor Achilles Locatelli, ocorrida a 3 de janeiro de 1923 no Palácio da Ajuda, afinal nada mais que uma praxe ou ritual diplomáticos como descrevia a imprensa republicana, o Presidente António José de Almeida salientou a importância do catolicismo na sociedade portuguesa e na definição da identidade nacional, ressaltando o simbolismo da Cruz de Cristo, presente nalguns momentos identitários da construção de Portugal, em terra, nos descobrimentos e, agora, no ar.
(…) a quase totalidade da Nação segue o credo católico e o Estado republicano, sem desdouro para os princípios neutrais, ou menoscabo das suas leis, já declarou um dia, por meu intermédio, e com aplauso unânime, na soleníssima cerimónia patriótica em honra dos Soldados Desconhecidos, que tem especiais deferências para com essa mesma religião, que é tradicionalmente a da grande maioria dos portugueses (…). Os vossos votos para que este belo país conserve, conforme dizeis, a nobre característica cristã do seu caráter e do seu génio, terão fácil realização, porque, como sem esforço verificais, os intuitos cristãos da grande massa dos portugueses são evidentes e tão assinalados que a Cruz de Cristo aparece sempre com um prestígio a cada momento revigorado, através da sua história, ou nos épicos acontecimentos que determinaram a formação da nacionalidade, ou nos nossos famosos empreendimentos marítimos de há séculos, ou nos nossos magníficos feitos aéreos de há meses (…).
Nesse dia, e como reação contra essa cerimónia, os livre-pensadores de Lisboa realizaram uma romagem ao cemitério, onde se encontram sepultados Helidoro Salgado, Miguel Bombarda, Manuel Buiça e José Costa, cobrindo as respetivas campas com flores e cartões. Desta manifestação dissociaram-se os republicanos, embora não a tenham contestado.
O reatamento das relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé ocorreu a 10 de julho de 1918, embora apenas tivessem sido normalizadas com Salazar e a Concordata. Em 6 de julho de 1928, a Ditadura Militar decretou a reposição da paz entre Portugal e a Igreja Católica, após Sidónio Pais ter recebido dias antes o enviado de Bento XV, Monsenhor Ragonesi e, em abril de 1919, o Núncio Apostólico Monsenhor Locatelli ter entregue as credenciais ao Presidente da República Canto e Castro.
Na Mensagem do Cardeal Patriarca António Mendes Belo a Sidónio Pais, seis dias de ser assassinado, estava patente o reconhecimento da nova postura do Estado face à religião e em especial à Igreja Católica: As injustiças e violências, os atentados e perseguições, de que a Igreja Católica tem sido alvo em Portugal, desde que foi nele implantado o regime político em vigor (…); essa tão humilhante e dolorosa situação principiou de suavizar-se desde que V. Exª. Sr. Presidente, assumiu o governo do Estado, publicando desde logo, com geral aplauso, medidas importantes, e, entre elas, a que anulou os efeitos dos Decretos que impunham a alguns Bispos, Párocos e outros membros do Clero, o desterro para fora das suas Dioceses, Paróquias e até do País (…), e mais recentemente, o reatamento das relações de Portugal e a Santa Sé, que haviam sido bruscamente interrompidas (…).
Os Bispos portugueses haviam feito questão de revelar disponibilidade para aceitar uma separação da Igreja do Estado, desde que fosse salvaguarda a liberdade de exercício de culto e o seu múnus em geral, bem como a posse e domínio dos haveres.
Foram confrontados, não com uma separação, mas com um Estado hostil e violento.
Os republicanos argumentavam, porventura retoricamente, que o Vaticano estava preocupado com a atitude de uma parte do clero português, pelo que o Pontífice, na sua última conferência com o Núncio em Lisboa, Monsenhor Locatelli, o teria incumbido de proceder a um inquérito sobre o assunto e de fazer ver ao clero que a verdadeira missão não é interessar-se pela política, muito menos pelo combate político.
O Semana Alcobacense que não perdia uma oportunidade de se manifestar anticlerical, ainda que com picardias por vezes de qualidade muito discutível, escrevia que (…) se o Senhor Locatelli de tal missão vem incumbido, deverá não se esquecer nas suas investigações de certo padre que paroquia ali para os lados das Alcobertas que num sermão recente ali na Benedita – pois onde havia de ser? – importou-se mais com a monarquia do que com a religião que o tem por ministro, e de tal maneira de Paiva Couceiro levou a falar, que dir-se-ia ser este, e não o infeliz Nazareno, aquele cuja trágica odisseia no momento se comemorava…(…).


-A NOVA BANDEIRA EM PORTUGAL E ALCOBAÇA COM A I REPÚBLICA-


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O debate sobre as cores da Bandeira Nacional será um bom momento para Sampaio Bruno refletir sobre a compatibilidade da tradição com a revolução. Dez dias após o 5 de Outubro, defendeu que a bandeira vermelha e verde era a bandeira da Revolução rompendo com a tradição nacional, correspondente ao período revolucionário e à memória republicana, e a bandeira da Nação renovando a tradição nacional, tinha que continuar a ter as cores azul e branco, substituindo a coroa monárquica, por uma estrela de ouro republicana: (…) a bandeira azul-e-branca, com o seu escudo e disposição, é a única que o preto de África conhece como representativa da soberania de Portugal. (…) é o símbolo de Portugal para o indígena das nossas colónias. É a única que ele conhece. Fazê-la desaparecer implica comprometer a nossa soberania colonial (…).
Após a implantação da República, foi nomeada uma Comissão para apresentar um projeto de bandeira que representasse a ligação entre o Regime Republicano e a História, que resumisse a vontade nacional.
Vários projetos foram analisados, mas com a primeira apresentação pública da bandeira a dia 1 de dezembro de 1910, foi este dia declarado o da Festa da Bandeira. A cor vermelha que já estava presente no estandarte português desde D. João II, era uma cor viril, a cor da conquista e do risco e o verde a cor da revolução e do futuro. O escudo das quinas, com a esfera armilar, interpretava o génio aventureiro português. 
Em 7 de dezembro de 1910, a Câmara Municipal de Alcobaça deliberou encarregar um vereador de adquirir em Lisboa uma Bandeira Nacional, para ser hasteada em dias solenes nos Paços do Concelho. Todavia, foi Alberto Vila Nova quem fez essa aquisição, aquando de uma deslocação à capital.
A Junta da Paróquia de Maiorga, só em setembro de 1911, teve condições materiais para adquirir na Cordoaria Nacional, uma bandeira nacional, a qual foi hasteada na sua sede depois de uma missa solene, numa cerimónia onde se deram, Vivas à Pátria, à República e ao Governo Provisório, se lançaram foguetes, abrilhantada pela Banda de Música local que interpretou A Portuguesa, e ainda pelo discurso do Pároco Pe. António Duarte Patoleia, que enalteceu a ideia da República associada à de Pátria.
Realizada a parte principal da festa, música e povo percorreram algumas ruas da localidade em boa ordem, dirigiram-se à habitação do Pe. Patoleia, onde foi servido um lanche a alguns convidados.
Outras Juntas de Paróquia também adquiriram a Bandeira Nacional.
Nalguns casos mediante subscrição popular.


-O HINO E A MOEDA COM A I REPÚBLICA-

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A Portuguesa foi composta sob os efeitos da comoção nacional decorrente do Ultimato, cantada pelos revolucionários de 31 de janeiro de 189.
Aquando da implantação da República irrompeu de novo e espontaneamente entoada pelo povo que acorreu às ruas de Lisboa pelo que naturalmente a Assembleia Constituinte a proclamou como Hino Nacional.

Em junho de 1911, o Real deu lugar ao Escudo/ouro, unidade monetária com o valor nominal de 1000 réis que se encontrava dividida em 100 centavos o qual passou a ser base do sistema monetário nos territórios portugueses, salvo no Estado da Índia.
A nova moeda continuava, ao fim de algum tempo, a causar confusão/perturbação popular, o que dava azo a que alguns oportunistas procedessem a emissão e passagem de notas falsas, ainda que de qualidade inferior, como aconteceu em outubro de 1914, em Alcobaça.
Segundo as declarações prestadas pelos próprios aquando detidos pela polícia em Alcobaça, apurou-se que se haviam deslocado de Lisboa, um tal rapaz que se chamava Palaz de Lencastre, carpinteiro de 20 anos e um outro Manuel dos Santos, vendedor ambulante, de 72. Desembarcando na estação de Valado de Frades de manhã, começaram logo a sua faina fraudulenta.
Porquê em Alcobaça?
O Manuel dos Santos, tinha saído há muitos anos da Vestiaria, de onde era natural, quando foi prestar serviço militar. O Palaz era seu conhecido de há pouco tempo e reputado pela habilidade manual que desenvolveu na Casa Pia, aonde o Manuel dos Santos o encontrou.

Em Alcobaça, havia pessoas aflitas, por causa da troca de antigas notas de 5$000 e 20$000 reis. Segundo responsáveis do Centro Republicano, que sugeriam aos mais velhos uma deslocação à sua sede para lhes serem prestados esclarecimentos, não havia razões para receio, pois os possuidores de notas de qualquer daqueles valores, podiam estar descansados, já que não lhes iria faltar tempo para as permutarem por novas, tanto mais que o prazo das notas de 20$000 reis foi prorrogado até 5 de Outubro de 1911, sem prejuízo de sempre se poderem trocar numa agência ou correspondência do Banco de Portugal. A mais próxima era em Leiria, pelo que o estabelecimento do Zé Militar facilitava a troca a quem lá fizesse aquisições de géneros alimentares. O mesmo acontecia com as notas de 5$000 reis, para cuja troca não havia dificuldade no mesmo estabelecimento, pelo menos enquanto o Governo reconhecer que há razão para continuar a prolongar o prazo.

A escrituração do Estado principiou a ser feita de acordo com o escudo, no dia 1 de julho de 1913. Não seria apenas na contabilidade pública que, doravante, se iriam usar escudos e centavos, pois que os documentos particulares só valeriam em Juízo ou nas repartições públicas, se escriturados de harmonia com a nova moeda. A moeda de 5 reis ou meio centavo, iria subsistir durante algum tempo nas transações particulares. Nas contas do Estado, iria efetuar-se arredondamento em centavos, para mais, sempre que se trate de receita ou, na despesa, a fração de 5 ou menos.

Em janeiro de 1915, deixaram de ter curso legal no continente, ilhas não incluídas, as moedas de 500 reis/D. Pedro V, pelo que os seus possuidores com dificuldade em as trocar nas repartições oficiais, podiam faze-lo no Zé Militar, ainda que da mesma forma referida.


-OS FERIADOS NO PAÍS E EM ALCOBAÇA COM A I REPÚBLICA-

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A 12 de outubro de 1910, o Governo Provisório aprovou cinco novos feriados, Fraternidade Universal/1 de janeiro, Precursores e Mártires da República/31 de janeiro, Heróis da República/5 de Outubro, Autonomia da Pátria Portuguesa/1 de dezembro e Família /25 de dezembro, acrescentando-se em 1 de maio de 1912, o do Descobrimento do Brasil/3 de maio, dada a convicção de ter sido este o dia da chegada de Álvares Cabral.
Este calendário perdurou até 29 de julho de 1929, momento em que o Governo de Ivens Ferraz, embora mantendo-o decidiu que o 1º. de dezembro passasse a evocar a Restauração da Independência, e criou o Dia de Portugal/10 de Junho, que passaria a ser  o mais importante. Desde a Lei nº 1783, de 25 de maio de 1925, este era já considerado o Dia de Portugal (honrando Luís de Camões), até então evocado a partir de 1911, pela Câmara Municipal de Lisboa, numa concorrência laica com as Festas de Stº. António.
Ao longo da I República foram decretados, em diversas ocasiões, feriados excecionais, inscritos na sua vivência laica e patriótico-liberal. Entre eles, o 20 de abril de 1913/2º. aniversário da Lei da Separação do Estado e das Igrejas, o 18 de outubro de 1917/1º. centenário da execução de Gomes Freire de Andrade e seus camaradas, 9 de abril de 1921/trasladação para o Mosteiro da Batalha dos restos mortais dos Soldados Desconhecidos/aniversário da Batalha de La Lys ou o 5 de fevereiro de 1924/homenagem a Camões.
Uma resolução do Papa Pio X, em 2 de julho de 1911, estabeleceu oito dias santos, Circuncisão/1 de janeiro, Epifania ou Reis/6 de janeiro, Ascensão do Senhor/dia móvel, Apóstolos S. Pedro e S. Paulo/29 de junho, Assunção de Nossa Senhora/15 de agosto, Todos os Santos/1 de novembro, Imaculada Conceição/8 de dezembro e Natal/25 de dezembro. Em meados da década de 1920, juntou-se o dia de S. José/19 de março e o do Corpo de Deus/dia móvel, perfazendo um total de dez dias santos. 
Coincidiam com os feriados laicos da I República Portuguesa, o 1 de janeiro e o 25 de dezembro, apesar das respetivas evocações.
O Dia da Imaculada Conceição/8 de dezembro, padroeira de Portugal, será também feriado nacional com o Estado Novo, a partir de junho de 1948. Em 4 de janeiro de 1952, após acordo entre Portugal e a Santa Sé, estabeleceu-se o novo calendário dos feriados civis e religiosos, 1 de janeiro, Corpo de Deus/Quinta-feira, móvel, 10 de Junho, 15 de agosto, 5 de Outubro, 1 de novembro, 1 de dezembro, 8 de dezembro e 25 de dezembro.

A resistência de Salazar em estabelecer os novos feriados levou o Cardeal Patriarca Gonçalves Cerejeira ao seguinte comentário: (…) a demora na solução do caso está causando reparos (…). E por outro lado, urge resolvê-la, para se não acabar de todo com o que resta de costumes cristãos no povo. O trabalho aos domingos  e aos dias santos afasta o povo da Igreja (…).
O primeiro feriado republicano a ser comemorado foi o 1 de dezembro, deliberando o Governo Provisório, em 23 de novembro de 1910, com a aprovação do projeto definitivo da Bandeira Nacional, que esse fosse o dia da Festa da Bandeira, considerada na linguagem oficial do diploma a representação objetiva da Pátria e o precioso símbolo que resume as suas aspirações, sentimentos nobres e energias.
A Festa do Patriotismo/Festa de Nuno Álvares Pereira, foi instituída em 13 de agosto de 1920, para ser celebrada a 14 de agosto, dia da Batalha de Aljubarrota, também conhecida como Festa da Pátria dinamizada pela Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira em articulação com o Governo, Igreja e Exército. A outra festa nacional foi a referida Dia/Festa de Portugal/Luís de Camões, consagrada desde 25 de maio de 1925, para ocorrer no dia 10 de Junho, dia da morte do vate que já era comemorado como feriado municipal pela Câmara Municipal de Lisboa, desde 20 de junho de 1911.

Tendo o Governo Provisório da República, aprovado os feriados nacionais, facultou às Câmaras Municipais o poderem escolher o ferido local.
Qual deveria ser, em Alcobaça, o dia do Feriado Municipal? Entre a nova classe política local, as opiniões divergiram, como começava a ser usual. A Junta de Paróquia de Prazeres de Aljubarrota, propôs o dia de S. João/24 de junho, alegadamente por ser um dia consagrado às festas populares, enquanto que a de Alfeizerão o dia 15 de agosto e as de S. Martinho do Porto e Alcobaça o dia 1 de maio. As Juntas de Paróquia de Alpedriz, Pataias (embora esta de certo modo preferisse o dia 1 de maio), e Maiorga, comunicaram concordar com qualquer solução que a Câmara tomasse sobre o dia do Feriado Municipal, desde que não estivesse dependente da religião….
Perante esta divisão de opiniões, nos termos do art. 2º. da Lei de 12 de outubro de 1910, a Câmara deliberou escolher o dia 1 de maio para Feriado Municipal de Alcobaça.
Porém, em 10 de abril de 1912, a Câmara atendendo à opinião manifestada por várias instituições do Concelho, nomeadamente o influente Centro Republicano, deliberou revogar a deliberação resolvendo que, em vez do dia 1 de maio (dia de folga, quase universal), escolher o dia 15 de agosto, aniversário da inauguração do Hospital da Misericórdia, esse magnífico padrão do altruísmo alcobacense.
Esta data, veio a ser mudada, para 20 de agosto, dia de S. Bernardo, o que se mantém. Em Alcobaça/Bahia/Brasil, este é também o dia do feriado local.

LEIS FRATURANTES DA I REPÚBLICA O REGISTO CIVIL OBRIGATÓRIO PORTUGAL E ALCOBAÇA

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O registo civil e paroquial foi um tema bastante discutido ao longo do século XIX português, ainda que o seu debate tenha sido mais intenso a partir da sua segunda metade.
Era um assunto que não poderia ser considerado de per si, pois estava intimamente relacionado com a participação da Igreja nos momentos cruciais da vida do homem, desde logo na educação e formação moral. Em Portugal oitocentista, a sociedade encontrava-se altamente imbuída dos princípios e valores cristãos, presa a uma instituição que assegurava a salvação da alma. O registo civil e paroquial, era a garantia de que o cristão/católico, no decorrer da vida cumpria os sacramentos do nascimento, casamento ou morte, que lhe permitiam alcançar a vida eterna. 
Contudo, para os não católicos, que aliás não eram percentualmente muitos, pelo menos assumidamente, o registo paroquial colocava-os numa situação de desfavor, pois que o registo do nascimento, casamento ou morte só se podia processar e reconhecer através da Igreja. Esta foi uma das razões que levou à instituição do Registo Civil, por Mouzinho da Silveira (Decreto de 1832). Segundo o artº. 69º., numa linguagem nova o registo civil é a matrícula geral de todos os cidadãos pela qual a autoridade pública atesta e legitima as épocas principais da vida civil dos indivíduos, a saber: os nascimentos, casamentos e óbitos.
Deste modo, passava-se a reconhecer igualdade de direitos entre católicos e não católicos, podendo estes doravante ver reconhecidas/legalizadas as suas  situações de facto, sem ter de recorrer a uma instituição que não a sua. Este registo ficou, a partir de 1835, a cargo do Administrador do Concelho, que passou a deter a redação e a guarda dos livros do registo civil para os não católicos.
Dado este primeiro e fundamental passo, surgiram novos diplomas, que regulamentaram o registo civil e paroquial, transferindo aos poucos para o Estado, novas responsabilidades nesse domínio.
Em 1867, ocorreu a regulamentação do registo do casamento civil para os não católicos, marco importante no caminho até ao registo civil para todos, pois dá-se a rutura com a exclusiva conotação religiosa e sacramental do casamento. No registo civil, o casamento passou a configurar um contrato entre duas pessoas de sexo diferente, sem origem ou intervenção de Deus. Vozes surgiram, antes e depois, a defender contra a corrente que o casamento civil contrariava a Carta Constitucional e punha em causa a instituição familiar, por rebaixar a condição da mulher e abrir as portas ao divórcio.
Mas sem sucesso. A medida acabou por se impor.
A polémica sobre a laicização do casamento ganhou acuidade aquando da promulgação do Código Civil. O casamento sempre fora considerado um contrato, embora revestido de caráter sacramental. Agora reivindicava-se uma natureza puramente civil, o que provocou fortes movimentações e pressões por parte do Vaticano através do Núncio em Portugal. O casamento civil foi previsto no Código Civil, mas ficou sem aplicação prática dada a resistência do poder político, que acolhia uma corrente popular e eclesial de peso.
Ramalho Ortigão, insurgia-se (1872) por só ser permitido em Portugal o casamento religioso. Portugal era no seu dizer um país em que ninguém pode entrar nem mesmo na família à qual parece que todos deveriam ter direito quaisquer que fossem as suas crenças sem provar com atestados autênticos o seu bom procedimento religioso.
O Governo Provisório da República, elaborou rapidamente diplomas legislativos, de modo a impor as ideias, que já vinham enunciadas no Programa do PRP, aquando do combate à Monarquia.
Uma delas, consistia na necessidade de estancar a, alegadamente, excessiva intervenção da Igreja na vida nacional que, segundo os republicanos, era o grande motivo pelo qual a sociedade e o país se encontravam no estado de decadência e atraso. Afonso Costa entendia que está admiravelmente preparado o povo para receber essa lei; e a ação da medida será tão salutar que em duas gerações Portugal terá eliminado completamente o catolicismo, que foi a maior causa da desgraçada situação em que caiu.

O liberalismo reforçou, no campo do direito português, a família tradicional, ao atribuir ao chefe de família prerrogativas como a autoridade marital e o poder paternal, que a República, não obstante a sua matriz democrática, manteve em certa medida.
A primeira (autoridade marital), implicava a subordinação da mulher ao marido (como preceituava o Código Civil), ao definir como dever, prestar obediência ao marido, enquanto a este incumbia (…) proteger e defender a pessoa e os bens da mulher, considerada física e intelectualmente como a componente conjugal mais fraca. A mulher, encontrava-se nesta relação, numa situação subalterna, algo semelhante a um menor, com a obrigação de acompanhar o marido, de necessitar da sua autorização para exercer o comércio, adquirir, alienar bens, contrair obrigações, estar em juízo, podendo, ainda, aquele abrir as suas cartas e papéis.
O direito reconhecia-lhe a possibilidade de separação de pessoas sem bens, apenas em caso de sevícias, injúrias graves ou adultério do marido com escândalo público, completo desamparo ou com concubina teúda e manteúda no domicílio conjugal. De acordo com o Código Penal, o marido adúltero era sujeito a uma pena de prisão de três meses a três anos, enquanto que, em caso de adultério feminino, podiam ser-lhe retirados os bens e arbitrada uma mensalidade pelo Conselho de Família.
O Código de Processo Civil (1878), previa em caso de separação, o depósito da mulher casada, como preparatório ou consequência do ato, isto é, se esta pretendesse abandonar o domicílio familiar/conjugal, teria de requerer ao poder judicial, o depósito em casa de uma família honesta, escolhida pelo juiz. A expressão depósito, de conteúdo muito humilhante, foi revogada pela República, mas reposta com o Estado Novo, no que já foi qualificado como uma reconstrução jurídica do patriarcado, com a agravante de, em caso de abandono de marido ou de recusa em o acompanhar, este pode requerer que a mulher lhe seja entregue judicialmente.
A autoridade marital completava-se com as disposições sobre o casamento que, embora reconhecessem à mulher, direitos sobre bens próprios, atribuía ao marido a respetiva administração, salvo no caso de falta ou impedimento dele. A mulher podia por convenção antenupcial, reservar para si para despesas próprias, uma parte dos rendimentos dos seus bens, a qual não podia exceder um terço dos rendimentos líquidos.
Alegadamente na defesa da mulher e da família, o Código Civil estabelecia uma relação de desigualdade que submetia a mulher ao poder marital. A denúncia destas e outras descriminações mobilizou os movimentos feministas portugueses, na transição do século XIX para o século XX, os quais obtiveram de parte da República, a eliminação de algumas disposições, consideradas ofensivas da dignidade feminina.
Contudo está, apesar de admitir que a sociedade conjugal se baseava na liberdade e na igualdade, não tocou seriamente na supremacia masculina, apesar de conferir à mulher, o governo doméstico e uma assistência moral tendente a fortalecer e a aperfeiçoar a unidade familiar.
Os princípios democráticos não tinham tradução na arquitetura politico-constitucional do novo regime, que recusava o direito de voto ao sexo feminino, o qual só foi concedido, depois de 28 de maio, com algumas limitações.       
A segunda (poder paternal), traduzia-se no poder atribuído ao pai, reservando-se à mãe o direito de ser ouvida em tudo o que diz respeito aos interesses dos filhos. Remontando à tradição jurídica romana, que atribuía ao pater famílias um poder quase ilimitado sobre os filhos, o Código Civil estabeleceu a autoridade paterna, a quem conferiu severa capacidade de correção, com a possibilidade de no caso de filho desobediente e incorrigível, recorrer ao poder judicial e o colocar numa casa de correção.
À luz do direito e da vida em concreto, a família devia ser dirigida com mão firme, tendo os filhos a obrigação de honrar e respeitar os seus pais, e estes de lhes prestar alimentos e ocupação, conforme as suas posses e estado. Honrar pai e mãe era, por conseguinte, uma exigência reiteradamente repetida nos manuais de civilidade (não apenas decorrente dos valores morais ou cristãos da tradição e cultura nacionais), devendo o amor filial manifestar-se sob a forma de respeito e de deferência, expresso na forma de tratamento Senhor/Senhora ou Vossemecê, comum no meio rural, sendo raro o tutear. Senhora - mãe ou Senhor - pai era o modo como os filhos se dirigiam aos pais, pelo menos nalgumas famílias da zona norte do concelho de Alcobaça. Alguns republicanos, rurais ou urbanos, sem questionarem a supremacia masculina, aceitavam o menor papel conjugal da mulher, a quem competia ensinar, desde o colo, as virtudes domésticas, o respeito pelas instituições, o gosto pelo trabalho, o amor à pátria, a integridade moral, as boas maneiras enfim a disciplina. Este modelo assentava na diferença de funções desempenhadas, a mulher como dona de casa, o homem, como chefe da família e seu sustento.
A casa, âncora familiar, é o fundamento da moral e da ordem social subordinada, porém, à chefia masculina.
O desinteresse pelos afazeres domésticos era apenas um dos sintomas de um mal mais profundo que alguns, não apenas os ligados à Igreja, vinham a denunciar desde meados do século XIX.







-TOPONÍMIA (PRÉ- REPUBLICANA) EM ALCOBAÇA-

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A Comissão Iniciadora do Centenário do Nascimento de Alexandre Herculano, de pendor republicano, oficiou à Câmara Municipal no sentido de fosse crismada no dia do Centenário com o nome do glorioso historiador uma das ruas desta vila.
No seguimento desta proposta, a Câmara (em sessão de 5 de abril de 1910), deliberou dar o nome de Alexandre Herculano à Rua de Santo António.
Todavia, pelo Secretário da Direção do Centro Republicano de Alcobaça foi pouco depois entregue na Câmara o seguinte requerimento:
Il.mos e Ex.mos Srs. Presidente e vereadores da Câmara Municipal de Alcobaça:
Diz a direção do Centro Republicano Democrático de Alcobaça que, tendo a Ex.ma Câmara Municipal de Alcobaça deliberado em sua sessão de 5 de abril do corrente ano substituir o nome da rua de Santo António, desta vila, pelo nome de Alexandre Herculano, e não tendo essa deliberação sido ainda executada, certamente por deficiência de verba orçamental ou por quaisquer outros motivos estranhos à vontade de V. Ex.ª, visto como a deliberação citada foi tomada por unanimidade e ela absolutamente correspondente aos sentimentos cívicos de todos os munícipes e ao seu íntimo culto pelas grandes individualidades da nossa história, deseja tomar a seu cargo a execução da referida deliberação e por isso vem à Ex.ma Câmara a necessária autorização para mandar fazer e colocar as placas com o nome do egrégio historiador da pátria portuguesa, acompanhado de uma legenda explicativa.
Mais pede a direção, caso V. Ex.as se dignem conceder-lhe a autorização que deseja, licença para dar ao ato inaugural das placas a devida solenidade esperando que V. Ex.as se dignem a honrar com a sua presença o referido ato.
Atendendo à justiça da sua posição, a direção espera se dignem deferir-lhe.
E.R.M.
Alcobaça, 11 de julho de 1910.
A Câmara, após analisar esta petição, deliberou por unanimidade indeferi-la com o fundamento de que sabia bem cumprir os seus deveres e as deliberações, as quais, no que concretamente disser respeito a este assunto, serão executadas por forma igual e oportunamente.


-A NOVA TOPONÍMIA (REPUBLICANA) EM ALCOBAÇA

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Na sessão da Câmara Municipal, realizada a 8 de outubro de 1910, José Magalhães propôs o nome de Praça da República para a Praça Príncipe D. Carlos, tendo o mesmo em 19 de outubro, proposto que se passassem a denominar a Rua da Rainha/Rua Miguel Bombarda, Rua Nova de S. Bernardo/Rua Cândido Reis, Rua Francisco Ferrer/Rua do Castelo e Largo do Progresso/Largo Cinco de outubro.
A Câmara Municipal em 20 de outubro seguinte, deliberou alterar a denominação de Travessa da Botica e da Rainha, para Travessa Miguel Bombarda.
Na sessão de 3 de julho de 1912, foi deliberado que à Rua Grande, fosse dado o nome da Rua Costa Veiga e à da Olaria (não se trata da Olaria de Alcobaça que ainda não existia, mas sim de uma cerâmica que ali terá existido já no século XVIII), o nome de Silvério Raposo, perpetuando-se assim a memória daqueles cidadãos a quem o Município e o povo do Concelho são devedores deste preito de homenagem como bons alcobacenses, tendo o primeiro pela sua filantropia contribuído com avultadas quantias para o novo Hospital e com pensões permanentes a favor dos pobres e o segundo pelos serviços prestados na gerência do Município.
Em 9 de janeiro de 1914, por iniciativa do vereador João Antunes Pedro, foi deliberado que a Avenida de Leiria, passasse a denominar-se Maria e Oliveira e a Rua Fernão de Magalhães/Rua de Leiria, sendo o nome de Fernão de Magalhães atribuído à Rua situada ao lado da cerca do Hospital da Misericórdia.
Na Sessão de 7 de junho de 1915, foi ainda decidido conferir o nome de 14 de maio à Travessa da Cadeia. A título de curiosidade refira-se que antes da cadeia ser instalada no Mosteiro, após a extinção das Ordens Religiosas, existiu naquela zona a cadeia civil. Hoje em dia, denomina-se Rua Dom Maur Cocheril.
Na sessão de 6 de dezembro desse ano, por proposta dos vereadores José Sanches Furtado e António Henriques Primo, foi resolvido alterar o nome de Rua França Borges para Rua da Conceição.  
Estas homenagens eram em geral póstumas, embora em Alcobaça, ainda em vida, tivessem tido os seus nomes a designar ruas, o Príncipe D. Carlos, João de Deus, Serpa Pinto, Conselheiro Ferreira da Cunha, Conselheiro João Franco, Mouzinho de Albuquerque, David Manuel da Fonseca e Francisco Zagallo.

-BERNARDINO MACHADO EM ALCOBAÇA E CAMPANHA EM FINAIS DA MONARQUIA-

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Alcobaça era, em geral, uma terra conservadora.
O Semana Alcobacense estava, porém, a radicalizar posições, com textos sobre o momento político, onde se fazia o apelo à revolução, não excluindo o regicídio. O jornal utilizava como armas um jornalismo militante que se encarregava, sistematicamente, de zurzir pela escrita mordaz, os adversários com afinco, especialmente não republicanos. (…) A situação portuguesa não é solúvel dentro das fórmulas legaes e normaes; ela tem que ser inevitavelmente resolvida por ato violento que córte radicalmente o nó górdio da situação, isto é, que destrua até os fundamentos da ordem político-jurídica subsistente e a substitua por outra que corresponda inteiramente às exigências da moral social e das aspirações e do sentimento cívico e patriótico dos portugueses. Assente isto, e estabelecido que a ordem política a instituir é a República, visto como causa originária do conflicto nacional reside na existência da Monarchia; reconhecida a urgência desta substituição - que já tarda -, ocorre perguntar:- Conta a democracia, isto é, o partido republicano, com os elementos necessários para proceder a este ato urgente? (…).
Também não repudiava alinhar numa campanha (primariamente) anticlerical, pois na Alemanha vae uma inferneira dos diabos, porque o Papa fez publicar uma encyclica aggravando os povos e princípios protestantes, estando até iminente um conflicto diplomático, por causa das palavras insultuosas de Pio X. Nenhuma razão achamos para tão grande celeuma. Motivo achamos sim, mas é para estranhar os despeitos e a attitude hostil dos allemães para com o Vaticano. O Papa falou contra aquelles que andam fora da obediência ao seu cajado de pastor da cristandade? Deixae-o lá! Está no seu papel – que é preciso ir reduzindo às legítimas proporções de uma simples religião… prehistórica.
Durante cerca de 30 anos este semanário foi quase o único jornal da Vila. Passou ao longo desses anos por inúmeras dificuldades, a que não foram estranhas a falta de assinantes e receitas de publicidade, bem como dissensões internas quanto à orientação editorial. Após vários anúncios de eventual encerramento, o jornal suspendeu a publicação em 3 de julho de 1921, reaparecendo com outros responsáveis em 7 de maio de 1922 até 29 de abril de 1923, em que encerrou definitivamente. Tinha poucos assinantes e publicidade, além de que os que compunham o corpo redatorial estavam zangados, de costas viradas uns com os outros.
O ardor republicano em Alcobaça que estava a desvanecer, ficara registado, por exemplo, numa fotografia de Carlos Gomes de 1908, a propósito da visita de Bernardino Machado (a vontade era mesmo convidar António José de Almeida), para a inauguração do Centro Republicano Democrático e ali usar da palavra, bem como realizar uma conferência no teatro.
Nessa altura os correligionários do ilustre e simpático democrata preparam-lhe uma fraternal receção, indo alguns esperá-lo à estação de caminho-de-ferro de Valado de Frades, enquanto outros, o aguardaram em Alcobaça, pelo que formado um cortejo, acompanharam-no até a casa de José Eduardo Raposo de Magalhães, onde ficou hospedado, na falta de instalações condignas e por razões de companheirismo político.
Depois de ter assistido à inauguração do Centro (onde foi servido um porto que a Casa Ferreira da Silva, tinha recebido de S. João da Pesqueira), Bernardino Machado dirigiu-se para o teatro no Mosteiro, a fim de realizar a sua conferência com sala lotada, tendo ficado pessoas à porta. Nos camarotes, viam-se senhoras, havendo na assistência indivíduos pertencentes a outros credos políticos como monárquicos, o que foi motivo de admiração e pretexto para se dizer que não faltavam pessoas que se preparavam para passar para o outro lado da barricada.
Quando Bernardino Machado, apareceu no palco, bem como no decurso da conferência, ouviram-se prolongadas e calorosas salvas de palmas e vivas.
Francisco Batista Zagallo em rápidas e breves palavras fez a apresentação do conferencista Terminada a conferência, o prestigioso democrata subiu para a caleche rumo ao palacete de José Raposo de Magalhães, onde ocorreu uma receção a republicanos e se trocaram brindes. Bernardino Machado retirou no dia seguinte para a Foz do Arelho, para cumprimentar Afonso Costa que ali se encontrava a passar uns dias, seguindo só depois para Lisboa.
Antes da partida de Alcobaça, Bernardino Machado ainda visitou o Hospital da Misericórdia, o Mosteiro, o museu de Vieira Natividade e diversos pontos da vila, tirando na Fotografia Rebelo, de Carlos Gomes, o supra referido retrato com a comissão municipal republicana e outros correligionários.
Apesar de ter sido um homem ligado ao sistema político monárquico, dele se foi afastando aos poucos, assumindo convicções republicanas. A sua intransigência, tal como Afonso Costa ou Alexandre Braga, relativamente à questão dos Adiantamentos à Casa Real, não colhia, a simpatia do Paço Real. É de referir que, não obstante o entusiasmo e empenhamento no sucesso da República, não criticava muito severamente D. Carlos, que reputava como vítima da irremediável decadência que tinha atingido a Monarquia, já que os seus principais responsáveis não tinham energia para enfrentar a situação e a defender. Em 1903, pronunciou no Ateneu Comercial de Lisboa, o discurso Da Monarquia para a República que lhe valeu o trampolim para ser eleito Presidente do Diretório do PRP/Partido Republicano Português. Bernardino Machado veio a lamentar o regicídio, por o entender desnecessário para o surgimento de uma República que conduzisse Portugal pelos novos tempos e rumos.

Em abril de 1906, em companhia de Américo d’Oliveira e de seu primo Rodrigo Lopes d’Oliveira Júnior, tinha estado em Alcobaça Artur Leitão, conhecida figura do Partido Republicano, e Miguel Machado, filho de Bernardino Machado. Aproveitando a sua estada em Alcobaça, fizeram duas conferências no Centro Republicano, apesar de funcionar em instalações pequenas e precárias, o que impedia afluência de público e muito especialmente dos não militantes, ao contrário do teatro.

O republicanismo local, imputável mais a um grupo restrito que à generalidade da população genericamente conservadora, não era fácil de manter, pelo que ia esmorecendo, perante os repetidos conflitos pessoais com cortes de relações e picardias, bem como as dificuldades de vida que o município de parcos recursos não conseguia minorar. A implantação da República acarretou alguma emoção nos primeiros tempos, apesar dos exageros relativamente a personalidades respeitáveis, à Igreja corporizada no clero, mas a guerra na Europa acarretou um pequeno (mas nada generalizado) refrear de ímpeto militante.
A alvorada do dia 5 de Outubro de 1914, foi anunciada em Alcobaça, do morro do castelo, com uma salva de 21 morteiros, para a qual foi realizada uma subscrição. Durante o dia a bandeira verde e rubra, conservou-se hasteada nos edifícios públicos, depois iluminados à noite, e em algumas casas particulares de indefetíveis republicanos. Como não tivesse havido possibilidades materiais para contratar uma filarmónica para atuar naquele dia, a Comissão Executiva da Câmara Municipal conseguiu, graças ao empenhamento de Eurico Araújo, com a autorização de Pereira Caldas, Comandante dos Grupos de Artilharia aquartelados no Mosteiro, que a respetiva charanga, desse uma audição na parte de tarde, no coreto da Praça. Aí apareceram algumas famílias que aproveitaram o momento de descanso para farnelar, tanto mais que esteve um belo dia de início de outono.