quinta-feira, 18 de abril de 2019


Não Gosto de “Partilhar
FLeming de OLiveira




Honestidade”, virou uma enorme virtude social e “autenticidade “, alegadamente, um grande objetivo neste Portugal XXI.
Resultado de imagem para turma do bemHá quem defenda que “partilhar” não tem limites e por isso escreve ou fala aberta e extensivamente sobre problemas que, até há pouco tempo, eram reservados. Esses entendem que “partilhar” permite que cada um se sinta mais apto a ser ele próprio, pelo que deste modo deve continuar a “partilhar”.
Na nossa sociedade, o jet-set entende que não deve conter o seu pudor, e que as redes sociais facilitam a partilha de informação, tornando-o mais próximo do comum mortal. As fronteiras da vergonha, da decência e do pudor estão a ser sucessivamente renovadas, a expensas de uma fama fugaz, inconsequente, e frequentemente corrosiva para os próprios.

Creio que muitos portugueses entendem ser mais aceitável e fácil hoje falar de sexo do que no tempo de seus pais e pais de seus pais.
Suponho, porém, que há muito menos pessoas que acham que falar em concreto sobre o seu salário e o estado das finanças é assunto que gostem de partilhar, ao invés de, à boa maneira portuguesa,  não haver reservas em partilhar especificidades dos problemas de saúde. E não é preciso estar numa sala de espera de consultório médico.
Há pessoas que entendem que podem ser recompensadas por exporem vidas pessoais, mas contraponho-lhes liminarmente existirem enormes desvantagens, ainda que não de todo visíveis.
As desvantagens são tantas que as não poderia aqui alinhavar, e se não tivermos passado por uma recente situação traumática, tomamos pouca ou nula atenção ao que “partilhamos”, quando e com quem.

Resultado de imagem para modello circolare della comunicazioneO facto de não estarmos bem conscientes dos (i)limites da “partilha”, faz com que não pensemos nos riscos e o impacto que tem ela nas nossas relações.
Partilha on-line não tem balizas nem limites se dermos valor à abertura, se desejarmos valorizar um bom julgamento, a confiança, e a capacidade de regulação. Partilhar em demasia pode levar a uma situação de enorme vulnerabilidade pois nunca é possível controlar o que os outros a partir daí vão fazer ou dizer.

Um amigo, cínico pela idade e por algumas maldades da vida, defendia recentemente que a honestidade é a base da intimidade.
Não sei se é por isso que nunca conseguiu encontrar uma relação consistente e estável. Argumentei-lhe que ao iniciar uma relação, contar as histórias vividas e passadas pode aumentar as probabilidades de sabotar a confiança, em vez de parecer estar folhear um livro.
 Honestidade” não é sinónimo de “Transparência”, uma intimidade saudável permite um bom grau de privacidade individual, sem olvidar que o desejo/libido é potenciado pelo desconhecido.
O excesso de informação pessoal pode ser avassalador e se for uma forma de criar uma relação social, muito provavelmente não será bem-sucedido. A honestidade, ainda que extrema, pode reforçar amizades, mas não as consegue criar.

Resultado de imagem para pop art quoteAlém da disponibilidade das redes sociais e das influências/modas culturais e sociais há outros fatores que levam a “partilhar em demasia”.
Considerando tudo isso, não é minimamente surpreendente como não conseguimos assim reter um único facto ao fim de algum tempo.  
Decidir guardar algo não é o mesmo que ser desonesto e pode-se ser autêntico, sem demasiada exposição. As coisas que revelamos nos momentos de “partilha” não correspondem necessariamente ao que somos, pois refletem normalmente o que no momento se encontra na mente. Quanto mais seletivas forem em relação ao que partilham, mais capazes são as pessoas de criarem de si uma imagem verdadeira.





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