AFINAL, O QUE
SOMOS?
FLeming de OLiveira
-I)-Costuma
segurar a porta para deixar uma senhora passar à frente ou para entrar ou sair
do carro?
-Tem por
hábito evitar que ela vá do lado de fora do passeio, para não ser afetada pelo
trânsito?
-Segue as regras do velho cavalheirismo
lusitano quando a serve com uma quantidade de vinho meticulosamente medida?
Um conhecido
teórico que se reclama de investigador psicossociólogo, defende que atitudes
amistosas e cavalheirescas como essas, podem apenas disfarçar chauvinismo e padronizar
específicos pontos de vista, porque os homens, ao agirem dessa maneira, partem
do princípio que as mulheres são mais fracas e desprotegidas.
Custe-me
admitir que tenha razão. Não, não creio.
Não entendo
que haja subserviência ou assédio, outrossim que essa afirmação teórica foi
dissecada como faria mesmo uma feminista em busca de traços sexistas, fazendo
renascer o conceito de um sexismo benevolente, parte integrante dos argumentos
feministas em que o sexismo é algo impregnado no comportamento masculino. E que
os homens assim considerados sexistas são também rotulados como mais
amistosos, calorosos e sorridentes. Um homem com atitudes “cavalheirescas” é, afinal, um lobo com pele de cordeiro, como
concluiria esse teórico, os gestos de boa vontade masculinos conduzem a que as
senhoras interiorizem o status
quo assumido.
-II)-O
meu anterior apontamento, “NÃO SÃO DOIS,
MAS TRÊS!” mereceu, de alguns leitores, comentários de mérito diverso, que
registei com interesse e agradeço. O tema é controverso e a abordagem tem
aspetos contraditórios, nada fáceis de sanar, em meia dúzia de linhas.
É
princípio que assumo por defeito (como hoje se diz na gíria) no meu sistema
conceptual, considerar os sexos uma polaridade e uma dicotomia natural. Detendo-me
um pouco para pensar melhor, admito que isso não está correto. Aprendi, finalmente,
que os reinos vegetal e animal não são universalmente divididos em dois sexos,
ou em dois sexos, mas com a possibilidade de caprichos indeterminados, que
há criaturas macho e fêmea por turnos e que alguns fungos e protozoários (para
fazer aqui esta afirmação tive de pesquisar) têm mais do que dois sexos e mais de
uma maneira de acasalar. Hoje sabe-se que o grau de diferenciação entre os sexos
pode variar tão tenuemente que cientistas por muito tempo
permaneceram ignorantes perante o fato de as espécies classificadas como
distintas serem macho e fêmea da mesma espécie! Muitas formas simples de
vida são mais nítida e sexualmente diferenciadas do que a dos seres humanos.
O
que “notamos”, é que as
diferenciações nos humanos são bem acentuadas, pelo que antes de o justificar, devemos
averiguar o porquê. A natureza não existe sempre sem ambiguidades. Uma
menina pode ter um clitóris tão desenvolvido que se julga ser menino. Do
mesmo modo, crianças do sexo masculino podem ser subdesenvolvidas, ou ter
sua genitália deformada ou escondida, pelo que se supõe serem meninas. As
vezes as pessoas aceitam o sexo como o descrito, e encaram-se como
membros deficientes do sexo errado, assumindo comportamentos e
atitudes daquele sexo, a despeito de conflitos graves.
Noutros
casos, uma espécie de consciência genética cria um problema que
conduz à investigação e ao verdadeiro sexo. Algumas dificuldades podem
ser resolvidas por cirurgia mas, segundo me explicaram, os cirurgiões só realizam
tais operações quando o exame da estrutura da célula corporal
revela que não ocorre anormalidade congénita.
-III)-Em
muitos casos, a homossexualidade resulta da inabilidade da pessoa se adaptar ao
papel (sexual) que lhe é dado, e a denominação “preconceituosa” de anormalidade não oferece ao homossexual uma maneira
de expressar a rejeição, de modo que ele se considera ou é considerado uma
“extravagância”. Os papéis sexuais ”normais” que aprendemos
a desempenhar desde a infância não são, assim, entendidos como mais naturais
do que os de um travesti.
-IV)-Os
franceses bem podem gritar “Vive la
différence”, pois ela é cultivada normal e incessantemente em todos os
aspetos da vida.
É
mais fácil tomar em consideração a deformidade induzida, tal como ela se
expressa no corpo e conceitos, pois, por mais que sejamos outra coisa ou
pretendamos ser, somos por certo os nossos corpos.
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