quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


A “INSTITUIÇÃO DA FELICIDADE
FLeming de OLiveira

Nestes tempos que correm, o casal (para mim, continuo a considerar apenas o caso de um homem e uma mulher…) parece ser a prova do mérito da “instituição da felicidade”, que todavia corre o risco de ser o centro de frustradas importantes expectativas. O facto de em Portugal ocorrerem de facto cada vez mais divórcios (embora isso não seja refletido corretamente em termos jurídico-estatísticos, circunstância a que a crise não tem sido alheia), é, na minha opinião, a sua demostração.
O divórcio não quer dizer que haja desinteresse pelo casal, pelo contrário, prova que o casamento é tão importante, que não é possível viver num casal, quando o (casal) deixa de ser gratificante. Cada casal, deve por conseguinte, cumprir uma missão muito importante, assegurar a felicidade de cada um dos seus membros, traduzindo-se esta em termos de harmonia sentimental, dinheiro, sexo, tempos livres, educação dos filhos, o tratamento dos ascendentes, etc., e tudo, porventura, por muitos anos.
Esta “instituição da felicidade”, prevê que os conflitos possam ser geridos com recurso à negociação e compromissos, em longas e empenhadas conversações.
O que fazer dos conflitos que ficam por resolver? Será que um casal pode tolerar a existência destes conflitos e com que intensidade? Caso eles sejam considerados demasiado intensos, será que é possível considerar uma coabitação sem paixão?
Estes conflitos abrem brechas na “instituição da felicidade” e obrigam cada cônjuge a relativizar a imagem ideal que tinha sido construída.
Para além disto, e este facto parece-me novo, o compromisso do casamento parece estar a comportar uma nova e tácita cláusula: ”Nós viveremos enquanto nos pudermos entender e manter uma relação interessante”. O antigo e enunciado propósito “casar para o melhor e para o pior até que a morte nos separe”, pode vir a ser o moderno “casar e separar para evitarmos o pior”.
O facto de o casal se separar antes que a relação o faça sofrer intoleravelmente, pode vir a ser uma prova de sinceridade, de repeito que um nutre pelo outro, que talvez venha a permitir conservar uma relação satisfatória após a separação.
Lirismo, Utopia, dirão os leitores. Nunca me propus ser conselheiro matrimonial (no meu escritório ou na Paróquia), muito menos é o objetivo (discreto) destas notas sociológicas, que nas considerações que partilho com os leitores, pressupõem uma perspetiva conservadora (intemporal), sem prejuízo de não esquecerem que a nossa sociedade portuguesa está em mutação impossível de contrariar.
Os conflitos, as incompreensões, as divergências profundas, obrigam cada um a realizar um trabalho de transformação do mito do casal que, por vezes, necessita de uma “intervenção terapêutica” altamente complexa  e por isso de risco, e que, verdade seja dita, não me sento habilitado a efetuar.

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