A “INSTITUIÇÃO DA
FELICIDADE”
FLeming de OLiveira
Nestes tempos que
correm, o casal (para mim, continuo a considerar apenas o caso de um homem e
uma mulher…) parece ser a prova do mérito da “instituição da felicidade”, que
todavia corre o risco de ser o centro de frustradas importantes expectativas. O
facto de em Portugal ocorrerem de facto cada vez mais divórcios (embora isso
não seja refletido corretamente em termos jurídico-estatísticos, circunstância
a que a crise não tem sido alheia), é, na minha opinião, a sua demostração.
O
divórcio não quer dizer que haja desinteresse pelo casal, pelo contrário, prova
que o casamento é tão importante, que não é possível viver num casal, quando o
(casal) deixa de ser gratificante. Cada casal, deve por conseguinte, cumprir
uma missão muito importante, assegurar a felicidade de cada um dos seus membros,
traduzindo-se esta em termos de harmonia sentimental, dinheiro, sexo, tempos
livres, educação dos filhos, o tratamento dos ascendentes, etc., e tudo, porventura,
por muitos anos.
Esta
“instituição da felicidade”, prevê que os conflitos possam ser geridos com
recurso à negociação e compromissos, em longas e empenhadas conversações.
O
que fazer dos conflitos que ficam por resolver? Será que um casal pode tolerar
a existência destes conflitos e com que intensidade? Caso eles sejam
considerados demasiado intensos, será que é possível considerar uma coabitação
sem paixão?
Estes
conflitos abrem brechas na “instituição da felicidade” e obrigam cada cônjuge a
relativizar a imagem ideal que tinha sido construída.
Para
além disto, e este facto parece-me novo, o compromisso do casamento parece
estar a comportar uma nova e tácita cláusula: ”Nós viveremos enquanto nos
pudermos entender e manter uma relação interessante”. O antigo e enunciado propósito
“casar para o melhor e para o pior até que a morte nos separe”, pode vir a ser o
moderno “casar e separar para evitarmos o pior”.
O
facto de o casal se separar antes que a relação o faça sofrer intoleravelmente,
pode vir a ser uma prova de sinceridade, de repeito que um nutre pelo outro, que
talvez venha a permitir conservar uma relação satisfatória após a separação.
Lirismo,
Utopia, dirão os leitores. Nunca me propus ser conselheiro matrimonial (no meu
escritório ou na Paróquia), muito menos é o objetivo (discreto) destas notas
sociológicas, que nas considerações que partilho com os leitores, pressupõem
uma perspetiva conservadora (intemporal), sem prejuízo de não esquecerem que a
nossa sociedade portuguesa está em mutação impossível de contrariar.
Os
conflitos, as incompreensões, as divergências profundas, obrigam cada um a
realizar um trabalho de transformação do mito do casal que, por vezes,
necessita de uma “intervenção terapêutica” altamente complexa e por isso de risco, e que, verdade seja dita,
não me sento habilitado a efetuar.
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