OS DIAS DA MÚSICA
2013
Decorreu este ano (2013), e durante um fim-de-semana
de Abril, no Centro Cultural de Belém, mais uma edição, a sétima, de “OS DIAS
DA MÚSICA”, sob o égide de “O Impulso do Romantismo”.
Afinal o que é “O Romantismo”?
Vou tentar caracterizá-lo de uma forma simples e compreensível, muito
especialmente por não nos estamos a dirigir a especialistas ou académicos. “O Romantismo”, foi um movimento de
origem europeia, estético e artístico (que se expandiu pelas Belas Artes, Literatura e Música), político e filosófico, e que perdurou por
grande parte do século
XIX,
embora se tenha iniciado no século anterior. Assumiu-se como uma sensibilidade,
na visão
de mundo
contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a
consolidar os Estados nacionais.
Inicialmente, sendo apenas
uma atitude, o “Espírito Romântico”
passou a designar a visão de mundo centrada no indivíduo, tendência
idealista ou poética de alguém que carece de sentido objetivo. Os autores
românticos voltavam-se cada vez mais para si, retratando o drama humano, os amores
trágicos, os ideais utópicos, o desejo de “fuga”. Se o século XVIII, foi
marcado pela objetividade, pelo Iluminismo e pela Razão, “O Romantismo” do
século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo
“Eu”, rumo a uma cultura da
libertação que, politicamente, encontra se radica na Revolução Francesa
A exaltação da
pessoa, a redescoberta da “Cultura Medieval” em contraposição com a “Greco-Romana”
(arte equilibrada e perfeccionista), a libertação dos
sentimentos e a apologia das paixões, em oposição à “Ditadura da Razão”, são os
valores explorados pelos românticos. A ironia e a melancolia caracterizam este
estado de dúvida e de anseio, bem como a crítica distanciada da sociedade e o
sonho de qualquer coisa nova.
O
“Espírito Romântico”, como sonho e fantasia, baseia-se na inspiração fugaz dos
momentos fortes da vida subjetiva, a fé, o sonho, a paixão, a intuição, a
saudade, o sentimento da natureza e a força das lendas nacionais. Com o tempo e
muito graças ao impacto do romantismo sobre a cultura do século XVIII, a
expressão ganhou outra dimensão que chegou aos dias de hoje, embora
restringindo-se, usualmente e vulgarmente, ao plano afetivo. O romântico é neste
sentido o enamorado, o apaixonado, o sonhador ou o utópico. Perguntamo-nos,
pois, o que é hoje “O Romantismo”, no sentido de se saber se alguém ainda pode
ser considerado romântico neste século XXI.
As
primeiras manifestações de “O Romantismo” na música, que de certo modo é o que
de momento me interessa considerar, apareceram segundo os especialistas com Beethoven, cujas Sinfonias, a
partir da Terceira, revelam uma temática profundamente pessoal e interiorizada,
tal como algumas de suas sonatas para piano.
Outros compositores
como por exemplo, Chopin, Tchaikovsky, Mendelssohn, Liszt, Grieg, Brahms e Berlioz, levaram ainda
mais longe o “Espírito Romântico” de Beethoven, abandonando o rigor formal do Classicismo para escreverem
músicas mais de acordo com as emoções
Na
ópera, os compositores
mais notáveis foram o italiano L. Verdi e o alemão R. Wagner. O primeiro compôs
óperas, plenas de conteúdo épico ou patriótico, como “Nabucco”,
“I Vespri
Sicilianni”,
“I Lombardi nella Prima Crociata”,
sem prejuízo de ter escrito também outras baseadas em histórias de amor, como “La Traviata”. Wagner foi à procura
da mitologia germânica, como “O Anel do Nibelungo”, “Tristão e Isolda”, “O Holandês Voador”, ou sagas medievais
como “Tannhäuser”, “Lohengrin” e “Parsifal”. Mais tarde na Itália o romantismo na ópera assumirá mais expressão com Puccini.
Desde cedo, Hector
Berlioz, nascido a 1803, identificou-se com o “O Romantismo” francês. Eram seus
amigos, entre outros, Alexandre
Dumas, Victor Hugo e Balzac. Posteriormente, T.
Gautier escreveria que “Hector
Berlioz parece formar, juntamente com Victor Hugo e Delacroix, a Trindade da Arte
Romântica”.
A
morte de seu pai, levou-o a compor a ”Marcha Fúnebre para a última Ceia de
Hamlet”(inserida
na programação deste ano, que foi interpretada com sucesso pela Banda da GNR seguramente
o expoente máximo deste tipo de agrupamentos musicais em Portugal ou mesmo na
Europa e que continua a prosseguir o admirável objetivo de levar a cultura
musical a todo o país)
e a cujo concerto assisti e aqui destaco.
Sempre
que ouço Berlioz, recordo-me (desculpem-me este aparte, eventualmente, deslocado) dos meus tempos no
“Orfeon Académico de Coimbra”(com os maestros Raposo Marques e depois Joel Canhão) enquanto estudante
universitário e, muito mais tarde já pai de filhos e Advogado em Alcobaça nos “Antigos
Orfeonistas”, onde o “Amen”, da “Danação de Fausto”, era de certo modo o hino
do nosso coro, que fazia a ponte entre as sucessivas gerações e encerrava com
emoção, desde há muitas dezenas de anos, as atuações em público. Pergunto-me se
teria Berlioz ofendido, escarnecendo, o sentimento religioso dos fiéis
nessa passagem da “Danação de Fausto”?
Na verdade, não se pode dizer que seja um “amen” muito edificante, o
cantado na peça pelos convivas duma taberna de Leipzig e por nós (coro masculino) com alegria, garra e
certeza de sucesso.
Seja como for, é magistral o modo como,
independentemente do enquadramento, esta área se vê impregnada de ironia, uma
caricatura em “estilo fugado” onde, com minúcia, Berlioz exagera os contornos
do contraponto tradicional, numa aparente cacofonia.
Caros leitores:
embora com menos meios “OS DIAS DA MÚSICA”
são um marco importante no nosso meio cultural e recomendo vivamente que quem
tiver oportunidade não perca a edição do próximo ano.
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