Muito
pouco.
Em
primeiro lugar, e não obstante o valor e qualidade do texto, marco muitíssimo importante
na história da literatura em língua portuguesa, e nenhum outro épico ter
suplantado Camões, que tirou o português do atraso medieval e o elevou ao
máximo possível no seu tempo. Todavia e desde então, os portugueses muito
especialmente os mais jovens, vão-se alheando dos versos que não entendem, e
que por isso não lhes despertam curiosidade, tendo em conta os interesses
imediatos e o desinteresse decorrente da sua formação humanística (entendida quanto a estes últimos no sentido mais
tradicional da expressão).
Em
segundo lugar, porque a qualidade e a distância em que OS LUSÍADAS está da linguagem moderna, criou um condicionamento que
leva muitos (nomeadamente jovens) a
evitarem a obra. É verdade que têm sido feitas tentativas para a tornar popular,
fazer com que através do teatro ou cinema as pessoas possam, ao menos, conhecer
as belas histórias, verdadeiras ou não (questão
não especialmente relevante), que ela nos conta: Inês de Castro, o Velho do
Restelo, o Gigante Adamastor ou a
Ilha dos Amores.
Em
terceiro lugar, porque se o leitor, mesmo não especialista, tiver paciência
para prestar de novo um pouco de atenção aos versos de Camões, verá em termos
de conteúdo, que hoje não estão muito distantes do que ele nos apresentou.
2)
Se
estas considerações me parecem minimamente adequadas a OS LUSÍADAS, não as poderei estender a PORTUS GRAAL, cujo autor, não obstante os seus bons propósitos (União entre os Povos na Defesa da Solidariedade,
utopia tão apropriada ao Sec. XXI como a Teoria da Conciliação), não revela
erudição, estilo (lírico?), ou
desenvolve temas (da História de Portugal,
mas não só) comparáveis aos camonianos, que alegadamente pretende
desenvolver, defender e atingir, para Cumprir
Portugal, devolver-lhe a glória e renovar a coragem de um Povo.
3)
Parecer-me-ia
que os destinatários desta obra (o
público alvo), PORTUS GRAAL, são
os jovens, a quem alegada e especialmente competiria a Defesa dos Valores Pátrios e a Prossecução da Fraternidade.
A
ser assim, esta obra nasceria do pressuposto de despertar o prazer/ou
necessidade da leitura, o que não é tarefa fácil, visto que o envolvimento do
jovem, exige desde logo dos professores empenho e persistência.
A
ser assim, teria também por objetivo auxiliar o jovem no despertar do prazer
pela leitura, por meio do Conto Maravilhoso,
atraente, que envolve personagens que pertencem ao universo adolescente dos heróis
e outros.
Pretenderia
eu que os jovens fossem incentivados no gosto pela leitura, conhecendo os Contos Maravilhosos Clássicos e Maravilhosos Históricos, fazendo
releituras, para desenvolver a capacidade de leitura literária.
A leitura,
é uma das atividades com maior poder de mudar opiniões e valores. Por isso,
para jovens em processo de formação, existem livros que podem ser importantes
para o momento em que se inserem.
Quem
não se lembra de uma bonita história contada/recontada pelos pais ou avós? Histórias
que de boca em boca, vão passando através das gerações, e assim viajam pelo
mundo, se entrelaçam, se modificam e seguem o seu caminho, eternizando-se. Em
cada família, há um contador de
histórias. Quem conta histórias na família?
Que tipo de histórias se prefere? A leitura é um bom lugar para se contar
histórias? O que se pode encontrar no mundo maravilhoso das histórias?
Desde
há séculos, o Conto Maravilhoso tem encantado,
permitindo um mergulho na fantasia, no mundo da imaginação. Esse mundo imaginário
tem importância no desenvolvimento humano, ao propor de forma inteligível histórias que partam da
realidade do dia-a-dia, passem por situações fantásticas e finalmente devolvem
o leitor à realidade. Uma característica importante desses Contos é a presença do elemento mágico e a intenção de ensinar algo sobre o comportamento
humano.
4) A minha Mulher, que
foi professora, entende que não são os filhos que lêem pouco, mas os pais que
não lêem nada. Acho que tem razão, pois é a geração que tem agora os filhos a
estudar, que (quase) deixou de ler. As razões apontadas são várias. Uma vida
quotidiana centrada no trabalho e não na casa e na família, livros a preço relativamente
elevado, campanhas publicitárias de promoção da leitura fácil e do livro que
se lê bem, crescente influência da televisão e agora da Internet, falta de
apoio às livrarias que vão encerrando regularmente, ausência de leitura partilhada
em casa e escola.
5)
O Plano Nacional
de Leitura e a escolha de livros com a menção Ler+, bem como o apoio às bibliotecas escolares, pretenderam
combater a situação. Foi feito um esforço meritório e alguns resultados obtidos.
Posso admitir que muitas crianças e jovens começaram
a ler a partir de uma sessão na escola ou de um encontro com o escritor,
numa Feira do Livro. O resultado global, no entanto, é desolador: são muito
poucos os que têm o hábito de ler um livro (se
dizem o contrário, enganam-se ou enganam-nos) ou muitos os que não chegam a
ler um livro por ano! O desconhecimento de autores
clássicos da literatura portuguesa é quase total e, mesmo no caso das
leituras obrigatórias, são apenas consultados meros resumos. Considero que a literatura light, por exemplo, a obra de Margarida Rebelo Pinto, é
eventualmente best-seller, se filma (ou não) e depois de um tempo passa de moda
e se esquece. Não é que defenda que a literatura light seja má, não haja livros bem escritos e bons como
entretenimento, porém a boa literatura, a outra, a perdurável, a universal, a
que incita a ler mais, a aprender mais, a estudar mais, ou seja, a que
transcende e não passa de moda, seja passível de comparação.
Por exemplo, confesso que gosto de Rebelo Pinto, porém estou
seguro de que nunca lerei uma segunda vez, o mesmo romance. Pelo contrário, li
meia dúzia de vezes, OS MAIAS, pelo simples
gosto de me deleitar com frases imortais.
6)
Qual o resultado real, em termos da promoção
da leitura, a partir de uma sessão na Escola? Atrevo-me a dizer que é modesto.
Os alunos que aparecem nas sessões ou estão lá com satisfação (os que já gostam
de ler), ou são mandados comparecer ou preferem ouvir falar alguém que os
retire da seca que é ter de ir às
aulas.
A grande
questão, é saber o que significa ler
hoje em dia. O paradigma mudou. Cada vez a gente nova vê menos televisão e
passa mais horas no computador, por vezes dependente de vários ecrãs ao mesmo
tempo.
Ler, para os mais novos, já não
significa estar sentado num sofá com um livro em suporte de papel.
Ler, hoje em dia, é receber informação
a toda a hora, ver notícias ao minuto, pesquisar num sítio da Internet,
verificar os comentários nas redes sociais. Qual o adolescente que visita uma
livraria à moda clássica para escolher um livro? Qual o jovem que discute temas
literários, como se fazia há 50 anos?
Se o
paradigma mudou, a promoção da leitura, crucial para o desenvolvimento do
cérebro e essencial para a qualificação dos portugueses, tem de mudar também.
A
continuar sem mudar nada, os filhos de hoje, quando chegarem a adultos, ainda
lerão menos que seus pais.
A
partir do que está colocado, torna-se necessário repensar as concepções
instituídas sobre a leitura, o seu espaço na sociedade, e as suas finalidades.
É importante rediscutir modos de entender o ato de ler para que não se restrinja a leitura a modelos idealizados. A
ampliação do conceito de leitura, do que é ler,
do como se lê ou do que se lê, justifica-se cada vez mais, porque entramos no
século XXI convivendo com os meios de comunicação de massas, instrumentos
resultantes do avanço tecnológico, que contribuem significativamente na
formação das pessoas, bem como influenciam sobremaneira a escolha das leituras,
especialmente dos jovens.
7)
Eu
leio (e todos os alunos são assim,
segundo dizem), o que os professores pedem, na maioria das vezes porque vai
sair no teste.
Eu
leio, o que os professores pedem, porque é para fazer um trabalho, uma
pesquisa, uma coisa assim.
Eu
leio porque preciso de nota, um dia vou acabar o ensino, e alguma coisa desse
livro vai me ajudar.
8)
A
gente não lê, umas vezes, por falta
de tempo.
Mas
lê, quando a gente tem que ter uma
nota, se não também não vai ler.
É
preciso entender que os jovens, como qualquer outro grupo que compõe a
sociedade, necessitam de ser compreendidos de forma ampla e considerados a
partir de determinadas variáveis, especialmente, as que se ligam às experiências
sociais, culturais e económicas. E, no contexto da escola, isso deveria ser
particularmente situado e posto em relevo, inclusive, como condição básica para
que o processo de ensino e aprendizagem se construa de forma sustentável. As
características trazidas pelos jovens sejam elas aprovadas ou desaprovadas
pelos professores, são matéria-prima a partir da qual se constrói a
possibilidade concreta do trabalho educativo. Por isso, a atual condição
juvenil, deve ser vista como ponto de partida, e não como obstáculo para a
escola. Implica aceitar que o processo educativo precisa de considerar
efetivamente o que as pessoas são, fazem e pensam, e não o deveriam ser, fazer
ou pensar.
9)
Os jovens que apreciam a leitura, têm segundo creio mais facilidade
em aprender, comunicar melhor e acabam por assegurar um desempenho superior noutras
matérias da escola, além do português.
Muitos
pais, sabendo disso, estimulam os filhos a ler, desde cedo. No entanto, nem
sempre esse empenho apresenta resultados correspondentes. Uma criança que adora
livros não continuará necessariamente a
ser um leitor interessado na adolescência.
As crianças
adoram ouvir histórias, assim como se interessam pela leitura após a
alfabetização. O descobrimento das letras e a capacidade de adquirir
conhecimentos por meio dos textos é algo muito motivador. Porém, com o passar
do tempo, não é incomum que as mesmas crianças, que devoraram livros do Harry
Potter detestem ouvir falar das leituras recomendadas pela escola. Segundo os
especialistas, isso acontece, na maioria das vezes, porque o estímulo para ler,
dentro de casa, pode não ter sido suficientemente forte.
A
escola também pode pecar por tratar a leitura como uma obrigação, o que serve
para afastar os jovens desse bom
hábito. O adolescente lê o que a escola manda, em vez de ler o que dialoga com
seus interesses e com os desafios que enfrenta para conviver, estudar e se
tornar, futuramente, um profissional. Por não se identificarem com muitos
títulos com os quais têm contacto, os jovens podem perder a vontade de ler. A
obrigatoriedade rouba aos alunos o interesse da descoberta. Escolher uma
leitura faz parte de um processo de encantamento com a obra.
10) Em suma e s.m.o.:
-Não
consigo localizar minimamente o público-alvo de PORTUS GRAAL de acordo com o meu critério, mais ou menos usual: conjunto de pessoas que possuem as mesmas
características ou interesses, apurados em função, p. e., da idade, sexo, nível
económico, estrato social, residência, entre outros.
-PORTUS GRAAL, não serve a
esmagadora generalidade dos jovens portugueses.
-PORTUS GRAAL não serve a grande
maioria dos portugueses mesmo mais velhos, pela novidade, valor e
qualidade/clareza do texto.
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