segunda-feira, 22 de maio de 2017

Portvs Graal

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1)  Que razões ou motivos justificariam, atualmente, uma montagem de uma epopeia, tipo OS LUSÍADAS? E a sua leitura?
Muito pouco.
Em primeiro lugar, e não obstante o valor e qualidade do texto, marco muitíssimo importante na história da literatura em língua portuguesa, e nenhum outro épico ter suplantado Camões, que tirou o português do atraso medieval e o elevou ao máximo possível no seu tempo. Todavia e desde então, os portugueses muito especialmente os mais jovens, vão-se alheando dos versos que não entendem, e que por isso não lhes despertam curiosidade, tendo em conta os interesses imediatos e o desinteresse decorrente da sua formação humanística (entendida quanto a estes últimos no sentido mais tradicional da expressão).
Em segundo lugar, porque a qualidade e a distância em que OS LUSÍADAS está da linguagem moderna, criou um condicionamento que leva muitos (nomeadamente jovens) a evitarem a obra. É verdade que têm sido feitas tentativas para a tornar popular, fazer com que através do teatro ou cinema as pessoas possam, ao menos, conhecer as belas histórias, verdadeiras ou não (questão não especialmente relevante), que ela nos conta: Inês de Castro, o Velho do Restelo, o Gigante Adamastor ou a Ilha dos Amores.
Em terceiro lugar, porque se o leitor, mesmo não especialista, tiver paciência para prestar de novo um pouco de atenção aos versos de Camões, verá em termos de conteúdo, que hoje não estão muito distantes do que ele nos apresentou.

2)  Se estas considerações me parecem minimamente adequadas a OS LUSÍADAS, não as poderei estender a PORTUS GRAAL, cujo autor, não obstante os seus bons propósitos (União entre os Povos na Defesa da Solidariedade, utopia tão apropriada ao Sec. XXI como a Teoria da Conciliação), não revela erudição, estilo (lírico?), ou desenvolve temas (da História de Portugal, mas não só) comparáveis aos camonianos, que alegadamente pretende desenvolver, defender e atingir, para Cumprir Portugal, devolver-lhe a glória e renovar a coragem de um Povo.

3)  Parecer-me-ia que os destinatários desta obra (o público alvo), PORTUS GRAAL, são os jovens, a quem alegada e especialmente competiria a Defesa dos Valores Pátrios e a Prossecução da Fraternidade.
A ser assim, esta obra nasceria do pressuposto de despertar o prazer/ou necessidade da leitura, o que não é tarefa fácil, visto que o envolvimento do jovem, exige desde logo dos professores empenho e persistência.
A ser assim, teria também por objetivo auxiliar o jovem no despertar do prazer pela leitura, por meio do Conto Maravilhoso, atraente, que envolve personagens que pertencem ao universo adolescente dos heróis e outros.
Pretenderia eu que os jovens fossem incentivados no gosto pela leitura, conhecendo os Contos Maravilhosos Clássicos e Maravilhosos Históricos, fazendo releituras, para desenvolver a capacidade de leitura literária.
A leitura, é uma das atividades com maior poder de mudar opiniões e valores. Por isso, para jovens em processo de formação, existem livros que podem ser importantes para o momento em que se inserem.
Quem não se lembra de uma bonita história contada/recontada pelos pais ou avós? Histórias que de boca em boca, vão passando através das gerações, e assim viajam pelo mundo, se entrelaçam, se modificam e seguem o seu caminho, eternizando-se. Em cada família, há um contador de histórias. Quem conta histórias na família? Que tipo de histórias se prefere? A leitura é um bom lugar para se contar histórias? O que se pode encontrar no mundo maravilhoso das histórias?
Desde há séculos, o Conto Maravilhoso tem encantado, permitindo um mergulho na fantasia, no mundo da imaginação. Esse mundo imaginário tem importância no desenvolvimento humano, ao propor de forma inteligível histórias que partam da realidade do dia-a-dia, passem por situações fantásticas e finalmente devolvem o leitor à realidade. Uma característica importante desses Contos é a presença do elemento mágico e a intenção de ensinar algo sobre o comportamento humano.

4)  A minha Mulher, que foi professora, entende que não são os filhos que lêem pouco, mas os pais que não lêem nada. Acho que tem razão, pois é a geração que tem agora os filhos a estudar, que (quase) deixou de ler. As razões apontadas são várias. Uma vida quotidiana centrada no trabalho e não na casa e na família, livros a preço relativamente elevado, campanhas publicitárias de promoção da leitura fácil e do livro que se lê bem, crescente influência da televisão e agora da Internet, falta de apoio às livrarias que vão encerrando regularmente, ausência de leitura partilhada em casa e  escola.
5)  O Plano Nacional de Leitura e a escolha de livros com a menção Ler+, bem como o apoio às bibliotecas escolares, pretenderam combater a situação. Foi feito um esforço meritório e alguns resultados obtidos. Posso admitir que muitas crianças e jovens começaram a ler a partir de uma sessão na escola ou de um encontro com o escritor, numa Feira do Livro. O resultado global, no entanto, é desolador: são muito poucos os que têm o hábito de ler um livro (se dizem o contrário, enganam-se ou enganam-nos) ou muitos os que não chegam a ler um livro por ano! O desconhecimento de autores clássicos da literatura portuguesa é quase total e, mesmo no caso das leituras obrigatórias, são apenas consultados meros resumos.  Considero que a literatura light, por exemplo, a obra de Margarida Rebelo Pinto, é eventualmente best-seller, se filma (ou não) e depois de um tempo passa de moda e se esquece. Não é que defenda que a literatura light seja má, não haja livros bem escritos e bons como entretenimento, porém a boa literatura, a outra, a perdurável, a universal, a que incita a ler mais, a aprender mais, a estudar mais, ou seja, a que transcende e não passa de moda, seja passível de  comparação.
 Por exemplo, confesso que gosto de Rebelo Pinto, porém estou seguro de que nunca lerei uma segunda vez, o mesmo romance. Pelo contrário, li meia dúzia de vezes, OS MAIAS, pelo simples gosto de me deleitar com frases imortais.

6)  Qual o resultado real, em termos da promoção da leitura, a partir de uma sessão na Escola? Atrevo-me a dizer que é modesto. Os alunos que aparecem nas sessões ou estão lá com satisfação (os que já gostam de ler), ou são mandados comparecer ou preferem ouvir falar alguém que os retire da seca que é ter de ir às aulas.

A grande questão, é saber o que significa ler hoje em dia. O paradigma mudou. Cada vez a gente nova vê menos televisão e passa mais horas no computador, por vezes dependente de vários ecrãs ao mesmo tempo.
Ler, para os mais novos, já não significa estar sentado num sofá com um livro em suporte de papel.
Ler, hoje em dia, é receber informação a toda a hora, ver notícias ao minuto, pesquisar num sítio da Internet, verificar os comentários nas redes sociais. Qual o adolescente que visita uma livraria à moda clássica para escolher um livro? Qual o jovem que discute temas literários, como se fazia há 50 anos?
Se o paradigma mudou, a promoção da leitura, crucial para o desenvolvimento do cérebro e essencial para a qualificação dos portugueses, tem de mudar também.
A continuar sem mudar nada, os filhos de hoje, quando chegarem a adultos, ainda lerão menos que seus pais.
A partir do que está colocado, torna-se necessário repensar as concepções instituídas sobre a leitura, o seu espaço na sociedade, e as suas finalidades. É importante rediscutir modos de entender o ato de ler para que não se restrinja a leitura a modelos idealizados. A ampliação do conceito de leitura, do que é ler, do como se lê ou do que se lê, justifica-se cada vez mais, porque entramos no século XXI convivendo com os meios de comunicação de massas, instrumentos resultantes do avanço tecnológico, que contribuem significativamente na formação das pessoas, bem como influenciam sobremaneira a escolha das leituras, especialmente dos jovens.

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7)  Eu leio (e todos os alunos são assim, segundo dizem), o que os professores pedem, na maioria das vezes porque vai sair no teste.
Eu leio, o que os professores pedem, porque é para fazer um trabalho, uma pesquisa, uma coisa assim.
Eu leio porque preciso de nota, um dia vou acabar o ensino, e alguma coisa desse livro vai me ajudar.

8)  A gente não lê, umas vezes, por falta de tempo.
Mas lê, quando a gente tem que ter uma nota, se não também não vai ler.
É preciso entender que os jovens, como qualquer outro grupo que compõe a sociedade, necessitam de ser compreendidos de forma ampla e considerados a partir de determinadas variáveis, especialmente, as que se ligam às experiências sociais, culturais e económicas. E, no contexto da escola, isso deveria ser particularmente situado e posto em relevo, inclusive, como condição básica para que o processo de ensino e aprendizagem se construa de forma sustentável. As características trazidas pelos jovens sejam elas aprovadas ou desaprovadas pelos professores, são matéria-prima a partir da qual se constrói a possibilidade concreta do trabalho educativo. Por isso, a atual condição juvenil, deve ser vista como ponto de partida, e não como obstáculo para a escola. Implica aceitar que o processo educativo precisa de considerar efetivamente o que as pessoas são, fazem e pensam, e não o deveriam ser, fazer ou pensar.

9)  Os jovens que apreciam a leitura, têm segundo creio mais facilidade em aprender, comunicar melhor e acabam por assegurar um desempenho superior noutras matérias da escola, além do português.
Muitos pais, sabendo disso, estimulam os filhos a ler, desde cedo. No entanto, nem sempre esse empenho apresenta resultados correspondentes. Uma criança que adora livros não continuará necessariamente  a ser um leitor interessado na adolescência.
As crianças adoram ouvir histórias, assim como se interessam pela leitura após a alfabetização. O descobrimento das letras e a capacidade de adquirir conhecimentos por meio dos textos é algo muito motivador. Porém, com o passar do tempo, não é incomum que as mesmas crianças, que devoraram livros do Harry Potter detestem ouvir falar das leituras recomendadas pela escola. Segundo os especialistas, isso acontece, na maioria das vezes, porque o estímulo para ler, dentro de casa, pode não ter sido suficientemente forte.
A escola também pode pecar por tratar a leitura como uma obrigação, o que serve para afastar os jovens desse bom hábito. O adolescente lê o que a escola manda, em vez de ler o que dialoga com seus interesses e com os desafios que enfrenta para conviver, estudar e se tornar, futuramente, um profissional. Por não se identificarem com muitos títulos com os quais têm contacto, os jovens podem perder a vontade de ler. A obrigatoriedade rouba aos alunos o interesse da descoberta. Escolher uma leitura faz parte de um processo de encantamento com a obra.


      10) Em suma e s.m.o.:
-Não consigo localizar minimamente o público-alvo de PORTUS GRAAL de acordo com o meu critério, mais ou menos usual: conjunto de pessoas que possuem as mesmas características ou interesses, apurados em função, p. e., da idade, sexo, nível económico, estrato social, residência, entre outros.
-PORTUS GRAAL, não serve a esmagadora generalidade dos jovens portugueses.
-PORTUS GRAAL não serve a grande maioria dos portugueses mesmo mais velhos, pela novidade, valor e qualidade/clareza do texto.

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