O “ERRO” DE
LAVOISIER
FLeming de Oliveira
1)-O meu Avô paterno, respeitável bancário,
apreciava a bricolage e alguns ensaios, ditos científicos, que fazia na cave da
casa, com algum incómodo da minha Avó. Por isso, na família, dizia-se carinhosa ou
jocosamente que era um bancário frustrado, não obstante ser homem de confiança
de A. Cupertino de Miranda, com quem trabalhou durante mais de 30 anos, mesmo ainda
antes de este constituir o Banco Português do Atlântico, no Porto.
Um belo dia, ainda não frequentava eu a escola primária, cobriu uma vela acesa com um pote de vidro e anunciou-me que iria provar que, após pouco tempo, o fogo apagava por si. A experiência, obviamente, não o deixou mal colocado. Explicou-me que a combustão consumia o oxigénio do ar pois que, por outras palavras, sem oxigénio, não há fogo. Já tinha uma vaga ideia disto e por isso não fiquei de boca aberta.
-Queres saber quem descobriu a função desse gás
na combustão? Foi um génio francês, que morreu há muitos anos, chamado Antoine
Lavoisier.
-Está bem!
2)-Lavoisier nasceu em 26 de agosto de 1743
em Paris, e filho de um advogado, esperava-se que seguisse as pisadas do pai.
Contudo, o rapaz interessava-se menos pelas humanidades e mais pelas ciências
e, ao fim de algum tempo, tomou especial gosto pela química, uma área ainda
pouco explorada.
Lavoisier que ficou
conhecido por derrubar teorias científicas, demonstrou que a combustão e outros
processos relativos (como a calcinação de metais) eram o resultado do oxigénio
se combinar com outros elementos, que a massa dos produtos da reação era igual
aos que deram origem a ela. Era o princípio da conservação de massas, conhecido
pela celebérrima expressão: "Na natureza nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma".
A relação entre Lavoisier e o
oxigénio não se quedou por aqui, pois ainda descobriu a sua função na
respiração, na oxidação, nas químicas. Identificando-o como um dos componentes
do ar, renomeou em 1777 o “ar
essencial” como “oxigénio” , com base no grego ὀξύς
(oxys) (ácido,
literalmente "amargo")
e γενής (genēs) (produtor, literalmente "que gera"), porque pensava,
erroneamente, que o oxigénio era um constituinte de todos os ácidos. Os
cientistas comprovaram, depois, que Lavoisier estava errado, o hidrogénio constitui
a base química dos ácidos. Entretanto o nome “oxigénio” já se popularizara o suficiente para assim permanecer. Afinal, tal como Descartes estava
errado…
Lavoisier colaborou na
construção do sistema
métrico, na reforma da nomenclatura
química,
escreveu a primeira relação de elementos químicos,
previu a existência do silício e
estabeleceu o enxofre como
um elemento, ao
invés de um composto. E
demonstrou que, ao
contrário do que se pensava, a água é
uma substância
composta, formada por dois átomos de hidrogénio e
um de oxigénio/OH2.
Essa descoberta foi muito importante, pois, segundo a “Teoria de Tales de Mileto”, então ainda aceite, a água era um dos quatro elementos terrestres
primordiais, a partir da qual outros materiais eram formados. Por esta e por outras, foi chamado de
pai da química moderna.
3)-Lavoisier comprou ações da “Ferme Générale”, que sendo rendáveis
ganhou bastante dinheiro e animosidade. Tratando-se de uma sociedade que o povo
em geral odiava, impopular por causa dos abusos que praticava na
cobrança de impostos, esse sentimento
tornou-se extensível aos sócios e agentes. Com a Revolução Francesa, elementos da “Ferme Générale” foram presos,
levados a julgamento e Lavoisier condenado à guilhotina.
Cientistas de toda a Europa, ainda enviaram uma petição para que Lavoisier
fosse poupado, e o presidente do tribunal, Jean-Baptiste Coffinhal, em resposta ao último e desesperado apelo da esposa para que
pudesse prosseguir a pesquisa científica, recusou e proferiu uma frase que ficou
marcada nos livros de história: "A França não precisa de cientistas."
Em 8 de maio de 1794,
aos 50 anos, Lavoisier foi guilhotinado. O matemático Joseph-Louis Lagrange, no
dia seguinte, resumiu o dramático episódio numa frase: "Não bastará um século para
produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo."
4)- A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, esteve ou ainda está a
arder. O mundo protestou contra esses incêndios e a partir deste espaço
alcobacense fiz uma mais que “irrelevante”
denúncia, seguida de apelo. Na Amazónia, vive a maior biodiversidade registada
numa só área do planeta. Que consequências têm os fogos para o resto do mundo?
E será mesmo a Amazónia, como se diz o “pulmão
do planeta”?
Esta expressão não é completamente correta (é uma forma
apelativa de referir), uma vez que a floresta também consome oxigénio e há
outros organismos que podem ser maiores contribuintes, como as algas. No
entanto, o papel de sequestro de carbono confere-lhe um papel inquestionável
nesse equilíbrio. Logo,
essa de pulmão do planeta não confere, rigorosamente falando. São as algas
marinhas que fazem a maior parte desse trabalho, pois lançam na atmosfera quase
55% de todo o oxigénio produzido. Florestas como a Amazónia, segundo os
cientistas, são ambientes em clímax ecológico, o que quer dizer que consomem
todo, ou quase todo, o oxigénio que produzem. As estimativas variam, mas todas
indicam que a parcela de oxigénio excedente fornecida pela Amazónia para o
mundo é relativamente pequena.
Correndo risco de ser acusado de meter foice em seara alheia,
mas por que o assunto me perturba deveras e deveria ser extensível, tenho
procurado obter mais alguns dados, que nada me tranquilizam. Com os incêndios e a desflorestação, há uma
perda relevante de carbono associado à biomassa florestal e aos solos (solos e
plantas da Amazónia, em conjunto representam cerca de 25% do carbono armazenado
nos sistemas terrestres) o que tem profundas implicações.
A regeneração da
floresta tropical é quase impossível. A remoção da vegetação significa a
remoção de quase 90% dos nutrientes que estão nas plantas, não no solo. A
desertificação dos solos é um processo muito rápido e é um dos problemas
ecológicos mais graves e complexos que resulta destes incêndios de grande
escala.
4)-Lavoisier ainda diria hoje que “Na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”?
Sem comentários:
Enviar um comentário