VOLTAMOS
SEMPRE AO “BOM” CLIMA
Fleming de Oliveira
1)-É importante ter um
bom clima para respirar, como tenho destacado nos meus últimos apontamentos.
É importante ter um
bom clima para trabalhar.
2)-Desde
sempre as sociedades evoluíram mais ou menos conforme a sua capacidade de
invenção e aperfeiçoamento tecnológico.
A partir da Revolução
Industrial a chegar tardia a Portugal envolvido numa invasão estrangeira e
depois numa guerra civil, as transformações sociais que se seguiram, ao mesmo
tempo que trouxeram progressos importantes que não eliminaram a pobreza,
colocaram o trabalhador perante perplexidades, que não pararam até à
atualidade. O cinema estrangeiro e mesmo a literatura nacional, deram-nos obras
que espelham as inquietações que acompanharam o progresso tecnológico.
A revolução tecnológica nunca foi vista como
um bem inquestionável em si e para o ser humano, e o ponto de vista dos “inovadores” está longe de ser pacífico.
Ela não se traduziu apenas na libertação e no bem-estar, pois arrastou efeitos
destrutivos a que o ambiente climático não foi alheio e em renovadas formas de
opressão e injustiça social, não obstante o consumo e a força do mercado terem
ganho uma relevância crescente. Se o trabalho, mais do que o consumo, é onde os
portugueses continuam a ser mais diretamente confrontados com a técnica, a
maior exposição do segundo, tende a secundarizar o primeiro.
Que digam os Centros Comerciais
em fins de semana ou em tempo de chuva.
Desafios e obstáculos
ao desenvolvimento tecnológico em Portugal com efeitos alienantes da técnica
sobre o trabalho, que o PCP denunciou e tentou obstaculizar “tout court” na mais pura ortodoxia depois
do 25 de abril, não impediu que a produção se expandisse.
3)-Desde
a segunda metade do século XX, a classe trabalhadora portuguesa manteve uma
relação ambígua com a tecnologia. Se por um lado, viu-a como uma ameaça aos
postos de trabalho (pessimismo que antevia cenários ameaçadores) por outro, a
inovação tecnológica não só permitiu a eliminação de algumas tarefas
laborais/braçais muito pesadas (visão “idílica”
de um mundo feliz em que as tecnologias substituiriam o esforço físico), como
favoreceu o reforço das organizações sindicais. Ambos os cenários foram
idealizados no quadro de ideologias de sentidos opostos, mas que a realidade
foi progressivamente recusando, visto que os efeitos da evolução tecnológica,
por se inscreverem na lógica da dinâmica social, sempre foram contraditórios.
A tecnologia e as suas
implicações no emprego e na vida social é tema recorrente nos estudos
económico-sociais e em certa propaganda política. O manual tem atestado a
necessidade de se evitar o “determinismo
tecnológico”, pois a máquina “nunca é
nem puro meio, nem puro fim da atividade social”. Para se compreender os
impactos e implicações sociais da inovação tecnológica, é importante sublinhar
que eles incidem simultaneamente em múltiplos domínios e níveis de análise. É
necessário, antes de mais, pôr em evidência as condições socioeconómicas e
culturais
que
favorecem ou impedem o desenvolvimento tecnológico. As tecnologias, tal como o
conjunto de artefactos materiais ainda que hoje tidos como elementares, uma vez
apropriados ou marcados pelo homem, ganharam um novo alcance no plano simbólico
e das subjetividades e revestem-se de múltiplos significados. Por isso, a
problemática da tecnologia, da presença ou da ausência de novas tecnologias,
repousa sempre em implicações sociais, antes, durante e depois da sua aplicação
concreta.
4)-Não, não subscrevo
a visão idílica, neutra e fictícia de uma globalização homogeneizante e
harmoniosa, como tem sido construída e divulgada pelos ideólogos neoliberais e
pelos “mass media” de serviço. O novo
liberalismo global entrou numa dinâmica vertiginosa, e os seus impactos sobre
as relações de trabalho fazem-se hoje sentir em todas as regiões do globo,
diria nas mais desenvolvidas.
Uma reflexão
sobre o caso português impõe que se tenha presente tratar-se de uma sociedade
que só há cerca de 30 anos começou a pôr em prática políticas de modernização
socioeconómica no quadro do processo de consolidação democrática.
O processo de
transformação que o tecido produtivo sofreu, obedeceu a um vasto leque de
incidências, de natureza económica, política, social, institucional, que se
prendem simultaneamente com fatores internos e externos.
Entre outros, há que
destacar os relacionados com a adesão à CEE, o conjunto de ações destinadas à
inovação tecnológica no sector empresarial, os programas de apoio à investigação
científica e tecnológica com os consequentes efeitos no crescimento de quadros qualificados,
as políticas educativas, sua evolução e debilidades, e a articulação entre os
investimentos estruturais e as práticas empresariais.
Não obstante as dificuldades
que Portugal continua a enfrentar neste domínio, pelo menos desde meados dos
anos oitenta, existem indicadores de que o processo de desenvolvimento
tecnológico, no que se refere ao recurso a serviços técnicos especializados e à
informatização, denota evolução. Segundo levantamentos efetuados há cerca de 30
anos e a que tive acesso, a grande maioria das empresas portuguesas já tinha
informatizado os serviços de contabilidade, cerca de metade alterado os métodos
de gestão do pessoal e 10% recorriam a serviços técnicos especializados, próprios
ou contratados, além de terem a sua gestão e o processo de produção informatizados.
Isto está longe de corresponder a um avanço significativo no domínio da
inovação tecnológica, principalmente de base empresarial.
5)-Um ponto importante
que importa ainda sublinhar, prende-se com a participação dos parceiros sociais
e dos trabalhadores nos processos de mudança organizacional e tecnológica.
Creio ser de destacar
que as estratégias de inovação estão associadas a modelos flexíveis e
participativos de gestão e à influência da ação sindical.
Durante muito tempo, o
sindicalismo português manteve-se amarrado a estratégias de resistência na alegada
defesa das regalias conquistadas no pós-25 de Abril. Até aos anos de 1990, os
principais sindicatos da indústria, os filiados na CGTP, persistiram na
renitência face aos programas de reestruturação e centraram-se principalmente
na defesa do emprego e dos “alegados”
direitos adquiridos.
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