Quando se fala em moral, muitos lembram-se das novelas ou histórias de
época em que os personagens mais conservadores falam em “preservar a moral e
os bons costumes”. Também quando se quer dizer que alguém tem um pensamento
ou comportamento conservador, é corrente dizer que “é um moralista”.
Contudo, a moral, nada tem a ver com conservadorismo
O que é, então, a moral, pergunta o meu benévolo leitor?
Muito resumidamente direi que é um conjunto de regras que funciona como guia
para atuar. A moral orienta as ações que seriam as corretas, ao invés das incorretas.
E o direito não é também assim ?
Podemos dizer que a moral é mais ampla. O direito será o mínimo de
preceitos necessários para o bem-estar da sociedade. Porquê referimos um
mínimo? Porque não vai regular tudo, apenas o que for considerado mais relevante.
Existem inúmeras questões morais que não tem correspondência no direito.
Por exemplo, admito totalmente correto e indiscutível ter uma religião. Mas no nosso país não existe,
hoje em dia, lei que obrigue as pessoas
seguirem uma religião, seja ele qual for. Logo, esta é uma questão moral.
Aqui é possível perceber uma relevante diferença entre direito e moral. O direito tem poder coercivo, ou seja,
pode impor, se necessário pela força que as pessoas tenham determinada atitude.
O direito tem força obrigatória, pelo que e se não for cumprido, pode acarretar
sanções, como prisão, multas ou restrição de direitos.
Já a moral não tem coercibilidade. Uma pessoa é livre de seguir ou não um
preceito moral, de acordo com a sua consciência e livre-arbítrio.
O direito só existe quando há no mínimo duas pessoas envolvidas. As normas
sempre regularam os direitos e deveres de um indivíduo em relação a outros.
O direito e a moral devem estar ligados ou podem existir normas jurídicas
que não tenham relação com a moral?
Os positivistas, assim era ensinado quando estudei em Coimbra, defendiam
que o direito nada tem a ver com a moral. Porque a moral é variável, muito
subjetiva, aquilo que é correto para uns, pode não o ser para outros. Então defendiam
que o direito era o que estava previsto na norma, e que não coincide necessariamente com a moral.
O problema é que este tipo de raciocínio pode levar a abusos ou atrocidades
como as que acontecem em ditaduras, em que os governos publicam leis imorais.
Hoje entende-se que, mesmo em política, o direito deve ter relação com a
moral.
Todas as normas afinal têm conteúdo moral? Ou existem normas neutras, que não são morais nem imorais?
Entendo que não existem leis neutras. Até mesmo as puramente técnicas, como
as que preveem prazos processuais, devem ter alguma relação com a moral.
A moral, advém da sociedade ou é individual, interrogava-me um antigo
cliente.
Cada um tem um papel ambíguo, porque herda a cultura do meio onde se
encontra inserido, mas também cria cultura dentro desse meio.
A moral é assim. Uma pessoa pode
seguir a moral "herdada" da família ou do grupo a que pertence,
mas também pode construir a sua moral, com base nas experiências de vida.
E para terminar este breve apontamento, cumpre referir a diferença entre
ética e moral.
A ética é a parte da filosofia que reflete sobre a moral, questionando o
que a sociedade acredita ser correto ou incorreto, assim como os princípios e
valores que orientam as ações.
Desta forma, a ética analisa as regras de conduta traçadas pela moral, para
debater se elas são importantes ou se seriam inadequadas ou ultrapassadas.
Hoje vivemos um tempo em que a ética está a ganhar destaque, nomeadamente
no panorama político nacional. Problemas relacionados com o egoísmo, a
exclusão, a corrupção e a indiferença pelo próximo tem origem na perda de
valores morais.
É urgente que haja uma reabilitação da ética na nossa vida política, para
que ela não seja vista como uma palavra oca, outrossim como o ramo que tem como
objetivo tornar os indivíduos menos individualistas e mais íntegros.
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