FLeming de OLiveira
Ando a fazer umas obras na minha casa nos Montes que, parece, não mais terminarem.
Um dia destes, a minha neta mais velha, perguntou quando estavam prontas, tendo a Avó (minha Mulher) respondido que não sabia e que lhe pareciam as obras de Santa Engrácia.
-O que são as obras de Santa Engrácia?
-Pergunta ao Avô que sabe tudo e te explica melhor.
Na verdade, os avós sabem um pouco de tudo e também explicar bem e com paciência.
Todos ouvimos dizer que, algo que demora muito tempo, é como “as obras de Santa Engrácia”. Mas qual é, afinal, a razão desta expressão?
A Igreja de Santa Engrácia é uma das mais importantes de Lisboa, senão mesmo do país. Mas se falarmos do Panteão Nacional, certamente que é mais fácil identificar o monumento a que me estou a referir
Ambos se referem à mesma construção, uma das últimas do barroco português. Contudo, o que ficou para a história foi o tempo que durou a construção e que deu origem à expressão que entrou na gíria popular.
As obras começaram em 1568, no local onde havia um templo antigo. Foi a Infanta Dª. Maria, filha de D. Manuel I e da sua terceira esposa Dª. Leonor, quem ordenou a construção, para guardar o relicário de Santa Engrácia. Provém daí o nome do edifício. O relicário em prata de Santa Engrácia, segundo autores, exibe um retrato parecido com os que se conhecem da Infanta, e tem sido exposto ao público.
Dª Maria chegou a ser no seu tempo considerada a mulher mais rica de Portugal. A sua instrução e virtudes ganharam fama, teve muitos pretendentes, mas morreu solteira, sem filhos. Dedicou a vida à Igreja, fundou conventos.
Porém, a igreja demorou cerca de 400 anos a concluir. Só na década de 1960 ficou pronta, tendo Salazar decidido convertê-la no Panteão Nacional, onde jazem portugueses ilustres.
A demora na construção deu azo a histórias e lendas.
Contava o povo de Lisboa que o edifício não ficava pronto por causa de um amor impossível e de uma maldição. Violante, filha de um fidalgo, ter-se-ia apaixonado por Simão, um cristão-novo. O fidalgo não aprovou o relacionamento e decidiu internar a filha no Convento de Santa Clara e fazê-la noviça, convento este que fica perto da Igreja de Santa Engrácia, na altura ainda em construção.
Uma noite a Violante e namorado decidiram fugir. Mas, por azar, nessa mesma noite, o relicário de Santa Engrácia foi roubado. Pelo facto de Simão muitas vezes rondar à noite aquela zona, acabou acusado de roubo, de profanação da igreja, preso e condenado à morte numa fogueira da Inquisição.
Antes de ser executado, terá lançado a maldição: “É tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem!”.
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