25 de Abril, a
esperança.
Óscar Santos
Gestor de projetos
Estamos
a poucos meses de celebrar os cinquenta anos do 25 de Abril de 1974. Para as
gerações, como a minha, que viveram esse dia histórico, parece que o tempo
voou.
Passaram
cinquenta anos desde o golpe de estado que derrubou o regime ditatorial,
autoritário e corporativo, o Estado Novo, que vigorou durante quarenta e dois
anos, com Salazar nos primeiros trinta e seis anos de 1932 a 1968 e depois com
Marcelo Caetano de 1968 a 1974 como Presidente do Conselho de Ministros.
Neste
ano de 2024 é tempo de fazer uma breve análise das implicações que o 25 de
Abril teve no nosso País e dos cinquenta anos de regime democrático.
É
inegável que desde 1974 até agora, em termos relativos, Portugal teve um
considerável desenvolvimento na economia, nas infraestruturas, na qualidade de
vida, na educação, saúde, entre outros. A rotura com o anterior regime,
abriu-nos as portas à Europa e ao Mundo tornando a nossa economia também mais
aberta e mais competitiva, principalmente a partir da década de oitenta até ao
final do século XX, em que o nosso país conseguiu crescer acima da média
europeia e portanto convergir comparativamente aos restantes países. Este
crescimento, já se verificava desde o início da década de sessenta até 1974.
No
antigo regime, corporativo e bafiento, apenas alguns grupos, “famílias” e
empresas que gravitavam na esfera do poder e do regime tinham acesso ao “bolo”
do Orçamento do Estado e aos privilégios. Na minha opinião, o regime estava decadente
e mais ano menos ano acabaria por ruir por dentro. Não teria sido possível
arrastar por muito mais tempo uma ditadura em plena Europa, quanto mais não
fosse pela influência da queda da ditadura em Espanha em 1976.
Felizmente
o 25 de Abril, rompeu com essa realidade e devolveu às pessoas a esperança e os
sonhos de um futuro melhor.
Então
e hoje, passados cinquenta anos, como está o nosso país? Que balanço podemos
fazer?
Na
minha opinião, e apesar do relativo desenvolvimento referido anteriormente, e
apesar das muitas dezenas de milhares de milhões de euros recebidos desde 1985,
o nosso país está novamente numa situação de impasse. Parece que a história de
repete. Ao fim de cinquenta anos, temos um estado bafiento, dominado e
controlado pelo partido do regime, um Estado cada vez mais omnipresente, quase
totalitário, onde “gravitam” as pessoas, empresas e os chamados “interesses”
como carraças. O Governo confunde-se com o Estado.
O
Governo centraliza cada vez mais os recursos económicos apenas numa lógica
redistributiva, criando as “clientelas” que levam ao aumento da corrupção.
Asfixia a economia, as empresas e as pessoas com uma crescente carga de
impostos e burocracia, sem se preocupar com o crescimento e competitividade da
economia e com o controlo dos custos da “máquina do Estado”, onde a despesa
aumentou mais de 65% nos últimos 8 anos.
Um Estado mais fraco, onde os pilares da democracia, como o Poder
Judicial, as entidades reguladoras e fiscalizadoras vão sendo “ocupadas” pela
rapaziada da “família”.
Apesar
do aumento brutal da despesa, o estado da saúde, da justiça, da educação,
tem-se vindo a degradar de ano para ano. Como no passado, a emigração está a
aumentar, só que agora é bastante mais preocupante, porque são os jovens
qualificados que estão a sair. Estamos a perder competitividade. No futuro
vamos ficar mais pobres.
Desde
o inicio do seculo XXI o crescimento económico tem sido muito pequeno e
Portugal está, em termos comparativos, a ser ultrapassado pelos restantes
países do EU.
Tudo
isto é a consequência de más politicas ou a ausência delas.
O
objetivo dos fundos de coesão seria desenvolver a nossa economia, tornando-a
mais competitiva, mas na sua maioria foram mal aplicados ou direcionados. O
principal foco de grande parte dos projetos financiados foi em função de “que
projeto temos de fazer para podemos captar fundos”, em vez de “que projeto
necessitamos para desenvolver e crescer”.
Esta
análise, só por si, torna a nossa situação atual preocupante e, pelo menos a
mim, deixa-me desiludido, frustrado e, principalmente com falta de esperança.
No que diz respeito à esperança para o futuro, creio que estamos pior que
antes, pelo que passo a explicar o meu ponto de vista apenas com uma palavra
que penso ser a chave de tudo – mudança.
O
mundo está em permanente mudança mas, quer nas organizações, nas empresas ou na
sociedade, existe SEMPRE uma grande resistência à mudança. É comum dizer-se em
alguns países mais do norte, que por lá “se faz evolução” enquanto nos países
mais do sul “se faz revolução”. A mudança, seja ela qual for, ocorre de duas
formas: por vontade própria das pessoas/sociedade ou por imposição.
Sociologicamente,
em 2024 temos um grande problema em Portugal que não existia em 1974. Uma
população envelhecida, onde os reformados e as pessoas de meia-idade
representam mais de 60% dapopulação, depois temos quase um milhão de pessoas
que trabalham e dependem do Estado, para além das pessoas que, de uma forma ou
de outra, estão também dependentes do Estado. Como é obvio a maioria destas
pessoa estão “acomodadas”, ou seja, sentem-se seguras e não estão dispostas a
arriscar na mudança. Mudar implica risco, trocar uma situação estável pelo
desconhecido, implica esforço, ainda que isso possa trazer melhorias. Mas
preferem ir empobrecendo alegremente.
Quem
pode e seguramente deseja fazer a mudança, são os mais jovens e todos aqueles
que não se resignam, que não têm nada a perder, que arriscam e vão à luta.
Mas
esses são cada vez menos e, mesmo que queiram mudar, já só o podem fazer
individualmente, porque coletivamente através do seu voto nada conseguem contra
a maioria “opressora”.
Estamos
num impasse, de regime. Enquanto a maioria da população dos “acomodados” não
deixar de ser egoísta e pensar mais no coletivo e no Pais, não é possível fazer
a mudança. A culpa não é nem foi dos anteriores governos, que não foram capazes
de fazer a mudança. Foi e é das pessoas que recusam a mudança.
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