Nos cinquenta anos do 25 de abri de 1974,
intentei uma visão de momentos que o contextualizaram, o precederam e o
seguiram.
O livro que se apresenta, uma síntese sobre
o período compreendido entre 25abr1974 e 25nov1975, contém a pretensão de ser
legível e inteligível, sem constituir aborrecimento para o leitor, e evocar
Alcobaça e a região (ainda que em prejuízo dos grandes centros populacionais)
como exemplo do movimento social e político que lhes esteve associado,
explorando as motivações dos autores a atores. Para tal desenvolvi um trabalho
de reconstituição de fatores que estiveram na sua origem, tanto a partir de
fontes escritas, como da memória oral, sem esquecer a minha. Foram rastreados
os processos de construção da militância, notando o seu carácter essencialmente
popular e rural, mas também o modo como a exigência do ideal se cruzou com a
moralidade e a intimidade. Para além das entrevistas efetuadas há anos e aqui
reutilizadas, recolhi novos depoimentos. Dar voz aos intervenientes, sem
descriminação consciente, foi um dos objetivos, contrastando com a bibliografia
e o discurso oficiais.
A parcialidade e subjetividade que rodeiam
este trabalho podem ser imputadas pela crítica. Nesta temática, não existe
imparcialidade, nem neutralidade ou escolhas objetivas, incolores ou asséticas,
pois cada autor é movido por questões existenciais, identitárias, pela
emotividade que rodeia o episódio vivido e contado e pela forma como se insere
no seu percurso de vida. A presente intervenção, em suma, não é inócua, nem
passiva, a seleção das questões, a condução para as diferentes temáticas, com
menor ou maior habilidade, empatia e competência determinam o resultado que se
apresenta e que, interpretado e vivido por outro, teria certamente resultados
diferentes dos meus. Trabalhar com pessoas falecidas não diminuiu a
responsabilidade, pelo contrário. A fonte oral, permite uma apreensão calorosa
do que significava, muto especialmente no Norte/Centro de Portugal do último
quartel do século XX, ser lavrador,
proprietário, profissional liberal e outras categorias ocupacionais, cuja
correspondência com as atuais, não se consegue estabelecer facilmente. A
História não pode ser apenas o que conta uma pessoa, é o resultado do confronto
de diferentes opiniões. A instrumentalização em prol de causas específicas, é
negativa para a ciência que é a História. Não é de esperar que o historiador
dos tempos do PREC ou o de hoje, ainda que seja o mesmo, utilize idêntica
linguagem ou assuma os mesmos conceitos.
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