-O PRESÉPIO
-VAMOS CANTAR AS JANEIRAS
-O DIA DE REIS
Fleming de Oliveira
(I)
A palavra presépio significa, etimologicamente, um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo.
Contudo, esta é também a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus, acompanhado pela Virgem, S. José, a vaca e o jumento. Por vezes, acrescentam-se, decorativamente, pastores, ovelhas, anjos ou Reis Magos.
Os primeiros presépios surgiram com vista adois tipos de representações da Natividade, a plástica e a teatral. A representação plástica, surge no final do século IV, com Santa Helena, mãe do Imperador(Romano) Constantino. A teatral, com Francisco de Assis, como veremos, que fez uma mistura de personagens reais e imagens. Embora seja indubitável a importância destas representações da Natividade para o aparecimento dos presépios, elas não constituem ainda verdadeiros presépios.
O nascimento de Jesus começou a ser celebrado desde o século III, data das primeiras peregrinações a Belém, para visitar o local do nascimento.
No século IV, começaram a surgir representações do nascimento de Jesus em telas, relevos ou frescos.
Passados séculos, mais precisamente no ano de 1223, S. Francisco de Assis decidiu celebrar a Missa da Véspera de Natal, de forma diferente, quiçá mais apelativa. Assim, esta Missa, em vez de celebrada no interior de uma igreja, foi-o numa gruta situada na floresta de Greccio, perto da cidade. S. Francisco transportou para lá um boi, um burro e feno, e colocou imagens em argila do Menino Jesus, da Virgem e de S. José.
Este acontecimento faz com que posteriormente S. Francisco passasse a ser visto como o criador dos presépios. Todavia, os presépios tal como os conhecemos hoje, só surgiram muito mais tarde.
No século XV, surgiram algumas representações do nascimento de Cristo. Contudo, estas representações não eram modificáveis, outrossim estáticas.
É, nos finais do século XV, graças ao desejo crescente de fazer reconstruções plásticas da Natividade mais sofisticadas, que as figuras de Natal se libertam das paredes das igrejas ou das telas, surgindo em figuras nas próprias igrejas ou noutros espaços. Estas figuras, dada a plasticidade, podem ser observadas de todos os ângulos e sendo soltas, permite criar cenas diferentes e inovadoras. Surgem, assim, os presépios.
A característica mais importante de um presépio e a que mais facilmente permite distingui-lo das restantes representações da Natividade, é a sua mobilidade. O presépio é modificável pois com as mesmas peças pode-se recriar diferentes episódios, que marcam a época natalícia.
No século XVIII, a recriação da cena do nascimento de Jesus estava completamente inserida nas tradições de Nápoles e da Península Ibérica, incluindo Portugal.
De entre os presépios mais conhecidos, é de salientar os presépios napolitanos, surgidos no século XVIII. Nestes podem observar-se várias cenas do quotidiano, mas o mais importante é a qualidade das figuras. Por exemplo, os Reis Magos eram vestidos com sedas ricamente bordadas e usavam jóias muito trabalhadas.
No que se refere a Portugal, não é exagero dizer que aqui foram feitos alguns dos mais belos presépios do mundo, com destaque para os dos escultores e barristas Machado de Castro e António Ferreira, no século XVIII.
Atualmente, ainda é costume de armar o presépio, tanto em locais públicos como particulares. Contudo, com o surgimento da árvore de Natal, os presépios, cada vez mais, ocuparam um lugar secundário nas tradições natalícias.
(CONTINUA)
(II)
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-O DIA DE REIS
I
Fleming de Oliveira
Cantar as janeiras é uma tradição bem antiga, imemorial, nomeadamente no Norte de Portugal, que todavia está a perder-se, e consiste no cantar, de forma um pouco esganiçada (cana rachada), de músicas por grupos que à noite vão pela rua, pelas casas, anunciar o nascimento de Jesus, desejando um Feliz e Próspero Ano Novo. Esses grupos iam alegremente de porta em porta, pedindo aos residentes algumas sobras das festas natalícias, que se traduziam, preferencialmente, em dinheiro. Mas também em doces e até vinho…
Inicialmente, ocorreriam apenas em Janeiro, começando no dia 1 e estendendo-se até dia 6, Dia de Reis. Nos meus tempos de rapaz, muitos grupos de janeiras que iam a casa de meus Pais, começavam mesmo por alturas do Natal, estivesse frio, chuva ou vento.
A tradição geral, é a de grupos de amigos ou vizinhos (homens) que se organizavam, com instrumentos, pandeireta, bombo ou viola. Feito o grupo, distribuidas as letras e os instrumentos, iniciavam o cantar de porta em porta da vizinhança.
Terminada a canção numa casa, esperava-se naturalmente que os donos tragam as janeiras, de preferência alguns trocos, no nosso caso já preparados para o efeito.
No fim da função, o grupo reúne-se e divide o resultado, ou comem juntos o que receberam.
As músicas utilizadas são, por norma, muito populares, simples, habitualmente à volta de quadras que louvam o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José e, claro, os moradores que contribuíram. Também era usual algumas quadras pouco lisonjeiras, reservadas aos moradores que não davam as janeiras.
Hoje em dia as janeiras são cantadas de forma muito memorialista ou folclórica. Efeito dos tempos…
(CONTINUA)
(III)
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-O DIA DE REIS
Fleming de Oliveira
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Tornou-se costume em várias culturas montar um Presépio quando é chegada a época de Natal. Variam em tamanho, alguns em miniatura, outros em tamanho real.
Em Portugal, o presépio tem tradições muito antigas e enraizadas nos costumes populares. Em Casa de meus Pais, era montado no início do Advento, ainda sem a figura do Menino Jesus que só era colocada na noite de Natal, após todos irem à Missa do Galo. Quando regressávamos era perto do presépio que estavam colocados os presentes, embora só distribuídos depois de se colocar a imagem do Menino Jesus sobre uma manjedoura de palhinhas. O Presépio a seguir ao Dia de Reis era desmontado pelos filhos em benévola disputa, com a minha Mãe à cautela sempre por perto.
O nosso Presépio era formado por figuras tão diversas, que não correspondiam exactamente à época que deveriam representar. Mas isso para nós era irrelevante. À exceção das figuras de S. José, Virgem Maria e Menino Jesus, dos pastores e dos Três Reis Magos, todas as restantes figuras do nosso Presépio eram adicionadas com vista a dar uma representação mais nortenha à história da Natividade. Assim, podiamos encontrar figuras como um moleiro, uma lavadeira, ou uma mulher com um cântaro na cabeça. A origem destas peças era normalmente de Barcelos, onde os meus Pais tinham amigos e parentes. A Estrela de Belém nunca podia faltar. Foi ela que guiou os Reis Magos.
Durante o Estado Novo, os bonecos de Estremoz tiveram boa procura e após uma deslocação de meus Pais ao Alentejo, o nosso Presépio desse ano teve uma nova encenação, não necessariamente mais apreciada.
Belchior ( é, o que vai inspecionar), Baltasar (é, Deus manifesta o Rei) e Gaspar (é, o meu rei é luz), não seriam reis, nem necessariamente três, mas, talvez, sacerdotes da religião zoroástrica persa ou conselheiros. Como nenhum documento diz quantos eram, presume-se serem três, pelo número e tipo de presentes oferecidos.
Talvez fossem astrólogos ou astrónomos, pois, segundo consta a tradição, viram uma estrela e foram assim guiados, até ao local onde nascera Jesus. Os Magos sabendo que se tratava do nascimento real, foram previamente ao palácio de Herodes, a quem perguntaram sobre a criança. Herodes alarmou-se, sentiu-se ameaçado, pelo que pediu aos Magos que, se o encontrassem, o avisassem de pronto, pois iria adorá-lo. A sua intenção era, obviamente, a de o matar. Até os Magos chegarem ao local onde estava o Menino, já havia decorrido algum tempo, pelo que a tradição atribuiu à visita dos Magos, o dia 6 de Janeiro.
A Estrela que os precedia, segundo o Evangelho, parou por sobre onde se encontrava o Menino Jesus. E vendo a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo. Os Magos ofereceram três presentes ao Menino, ouro, incenso e mirra, cujo significado e simbolismo espiritual é, juntamente com a própria visita um resumo do Evangelho e da Fé Cristã, embora exista especulação a respeito do significado das dádivas. O ouro pode representar a Realeza (era presente real), o incenso a Fé ou a Divindade (o incenso usado nos templos, simboliza a oração que chega a Deus, assim como a fumaça sobe ao céu) enquanto que a mirra, resina usada em embalsamamentos desde o Egito (visava assegurar a imortalidade), remete-nos ao mesmo tempo para o género da morte de Jesus, o Martírio (a sua humanidade). Um composto de mirra e aloés foi, aliás, usado no embalsamamento de Jesus
Entrando na casa, viram o menino (Jesus), com Maria sua mãe. Prostando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.
Sendo por divina advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra .
Nada mais a Escritura nos diz sobre essa história cheia de poesia, não havendo outros documentos históricos sobre eles.
A mais pormenorizada descrição dos Reis Magos deve-se a S. Beda, o Venerável (673-735), no seu tratado Excerpta et Colletanea: Melquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz.
Assim se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, as três raças humanas conhecidas, em idades diferentes. Melquior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza, Gaspar, incenso em reconhecimento da divindade e Baltasar, mirra em reconhecimento da humanidade.
A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento a profecia contida no livro dos Salmos: Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo.
Durante a Idade Média começou a devoção dos Reis Magos, tendo as suas relíquias sido transladadas no séc. VI de Constantinopla para Milão. Em 1164, com os três já a serem venerados como santos, foram levadas para a Catedral de Colónia (Alemanha).
Há diferentes opiniões quanto à visita do Menino Jesus pelos Magos
A crença tradicional que Jesus foi visitado aquando do seu nascimento, não é consensual. Há pessoas que acreditam que Jesus já possuia uma certa idade, pois há vários indícios nesse sentodo, como traduções respeitáveis do texto de Mat. 2.11 que usa a expressão uma criancinha, um menino, e não um recem nascido. Mat. 2.11 também cita que quando Jesus foi encontrado estava em uma casa e não em uma manjedoura. O facto de Herodes mandar matar as crianças até dois anos e, por último, o facto de Maria ter dado apenas dois pássaros no templo como contribuição pelo nascimento do menino, o que a identificava como muito pobre, já que na visita ela, através de seu filho, recebeu ouro e outros bens valiosos.
Devemos aos Magos a tradição portuguesa de trocar presentes no Natal. Dos presentes dos Magos surgiu essa tradição em celebração do nascimento de Jesus. Em diversos países, como por exemplo os de língua espanhola, a principal troca de presentes é feita não no Natal, mas no dia 6 de Janeiro.
Em Casa de meus Pais, no Dia de Reis desmontava-se carinhosamente o Presépio e a Árvore de Natal e comia-se ao jantar ao última fatia de Bolo Rei, da Cunha (considerado o melhor do Porto) e a minha Mãe bebia excepcionalmente um golo de Vinho do Porto, de um conjunto de garrafas mais antigas que qualquer dos 8 filhos, que tinha vindo de S. João da Pesqueira.
Até ao Ano!
FLEMING DE OLIVEIRA
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