quinta-feira, 27 de outubro de 2011

-COMEMORAÇÕES INESIANAS EM ALCOBAÇA -650 ANOS DA TRANSLADAÇÃO DE INÊS DE CASTRO PARA ALCOBAÇA -UM JANTAR “MEDIEVAL”



Realizou-se no dia 21 de Outubro de 2011, inserido nas Comemorações Inesianas um jantar com uma ementa no estilo medieval.
As inscrições para o mesmo jantar foram limitadas a 30 pessoas.
Antes do jantar, Filomena Fadigas fez uma pequena intervenção, que a seguir se reproduz, de modo a fazer compreender o sentido desta iniciativa.
Também se juntam algumas fotografias de presentes no mesmo jantar.

Boa noite a todos

Em primeiro lugar, quero agradecer a todos a vossa presença. O principal objetivo deste convívio à volta da mesa e jantar com Inês de Castro é, além de recordar os 650 anos da transladação dos seus restos mortais para o nosso Mosteiro, recriar um pouco do ambiente e da gastronomia de uma refeição da época em que ela viveu. E mesmo sem ela fisicamente presente, se espiritualmente nos estiver a ver, decerto estará feliz por esta iniciativa e quiçá até um pouco saudosa por não poder relembrar os sabores de outros tempos.
Levantando um pouco o véu do que foi a gastronomia no século 14, época em que Inês viveu, vamos poder deliciar-nos com algumas das iguarias que então estariam presentes à mesa de uma família de classe média.
Já o francês François Rabelais, médico, escritor e monge quinhentista dizia e muito bem,…a gastronomia é uma arte complicada, da qual o estômago é o pai. É também um dos melhores reflexos dos hábitos e costumes de uma época… Cozinhar não é apenas confecionar alimentos, cozê-los, prepará-los e comê-los! Cozinhar, para quem gosta de o fazer, é uma arte e para que resulte na perfeição, como qualquer outro tipo de arte, como pintar, escrever, esculpir…tem que ser feita com paixão, com imaginação, com gosto e paciência. É um estado de alma! Pouco se sabe da etiqueta à mesa naquele tempo, principalmente na classe média e baixa. A nobreza exibia luxos, grandezas e exageros. Era uma época em que a fome era comum, o alimento era um importante indicador do estatuto social. Normas sociais impunham que o alimento da classe média fosse menos refinado, já que se acreditava que havia uma semelhança divina ou natural entre o trabalho e os alimentos das pessoas. Assim, o trabalho manual requeria alimentos mais vulgares e mais baratos. De uma maneira geral, a alimentação medieval era pobre comparando-a com os padrões atuais. A quantidade superava a qualidade.
A arte de cozinhar estava ainda numa fase rudimentar, bastante primária, uma vez que as conquistas da cozinha romana se tinham perdido com a queda do império romano.
Imaginemo-nos então no século 14, à volta de uma mesa, e vamos cear, já que nessa época o jantar teria sido por volta das 10 horas da manhã. A ceia era entre as 6 e as 7 horas da tarde, e já estamos um pouco atrasados na hora!
Temos a mesa posta com as malgas, os pucarinhos, os pratos. Estes não se usavam ainda. A carne e o peixe eram servidos em tábuas de madeira ou sobre fatias de pão duro. Temos facas, colheres e garfos, mas no século 14 estes ainda eram pouco conhecidos na Europa. Comia-se à mão, com os dedos, e hoje não o iremos fazer por questões óbvias. Além do mais, seria um incómodo muito grande para quem nos está a servir, ter que trazer à mesa as bacias com água de rosas para lavarmos as mãos com frequência!
Mas como ninguém aqui veio para me ouvir falar e muito menos tenho a pretensão de vos dar uma aula de gastronomia, jantemos, convivamos e disfrutemos da companhia dos amigos, partilhando a boa disposição e a alegria de momentos únicos.

Bom apetite e até um novo encontro…quem sabe!


Filomena Fadigas












Sem comentários: