quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Gerir Afetos


AFETIVIDADE, PROCURA-SE! 
FLeming de OLiveira


Durante muitos séculos, o poder assentou a liderança mais pelo temor e pelo medo que pela preocupação de corresponder às necessidades físicas/psicológicas, bem-estar ou desenvolvimento dos grupos ou populações que lideravam. A humanização do trabalho e a sucessiva democratização da sociedade, levou a que alguns modelos de liderança mais “eficazes”, tenham passado a basear-se na capacidade de gerir afetos e influenciar as pessoas a identificarem-se, com afinco, em objetivos e interesses comuns.
A importância dos afetos nos estilos da liderança, constitui uma velha questão, por vezes esquecida na prática, mas que deveria ser muito especialmente (re) considerada neste Portugal de hoje.
Há 500 anos, Maquiavel afirmava que todos os líderes aspiram a ser, simultaneamente, amados e temidos (talvez por estas e outras era maquiavélico…). No entanto, e como as duas condições não são fáceis de compatibilizar, muitos líderes, incapazes de gerir afetos, continuam a optar pela solução (mais fácil)  impor e basear a autoridade no receio que inspiram e na autossuficiência de que se louvam.
Há muito (desde sempre…) que defendo que um líder capaz de manifestar calor humano (sem populismos ou palavra fácil), constitui um estilo de liderança muito mais eficaz do que o mero uso do poder como forma de exercer a autoridade.
Neste sentido, os líderes que baseiam a autoridade apenas na “competência técnica”, tem uma probabilidade menor de alcançarem resultados eficazes. Pelo contrário, os lideres que estabelecem relações baseadas na confiança e demonstram uma genuína capacidade de estabelecer contatos humanos tingidos pela afetividade, estabelecem relações de reciprocidade altamente vantajosas em termos de eficácia e dos resultados alcançados.
Até há uns anos, ainda se dizia que a sociedade portuguesa urbana padecia de uma menor afetividade coletiva em comparação com a chamada “província”. Mas a verdade, é que se constatamos alguns casos de real solidariedade (tão raros que até são notícia) temos um País não apenas com velhos entregues a si ou deixados em depósitos, mas de portugueses de meia idade sem perspetivas de regressar ao trabalho, de jovens que tem de ir procurar fazer a vida longe dos afetos da sua terra, da família ou amigos.

Quando vemos os nossos governantes (governo ou oposição…) prometer que os sacrifícios (fiscais) são úteis para salvaguardar a sustentatibilidade/estabilidade de um “certo” estilo de vida, de promover a natalidade sucessivamente em queda,  não vemos como pretendem, se é o caso de pretenderem mesmo, recuperar os bons afetos portugueses que se encontram em vias de extinção. Acho pois que é altura (não obviamente por razões tático/eleitorais) de fazer algo por eles e, claro, por nós…

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