AFETIVIDADE, PROCURA-SE!
FLeming de OLiveira
Durante muitos séculos, o poder assentou a liderança mais pelo temor e pelo
medo que pela preocupação de corresponder às necessidades físicas/psicológicas,
bem-estar ou desenvolvimento dos grupos ou populações que lideravam. A
humanização do trabalho e a sucessiva democratização da sociedade, levou a que
alguns modelos de liderança mais “eficazes”, tenham passado a basear-se na
capacidade de gerir afetos e influenciar as pessoas a identificarem-se, com
afinco, em objetivos e interesses comuns.
A importância dos afetos nos estilos da liderança, constitui uma velha
questão, por vezes esquecida na prática, mas que deveria ser muito especialmente
(re) considerada neste Portugal de hoje.
Há 500 anos, Maquiavel afirmava que todos os líderes aspiram a ser,
simultaneamente, amados e temidos (talvez por estas e outras era maquiavélico…).
No entanto, e como as duas condições não são fáceis de compatibilizar, muitos
líderes, incapazes de gerir afetos, continuam a optar pela solução (mais fácil)
impor e basear a autoridade no receio
que inspiram e na autossuficiência de que se louvam.
Há muito (desde sempre…) que defendo que um líder capaz de manifestar calor
humano (sem populismos ou palavra fácil), constitui um estilo de liderança
muito mais eficaz do que o mero uso do poder como forma de exercer a
autoridade.
Neste sentido, os líderes que baseiam a autoridade apenas na “competência
técnica”, tem uma probabilidade menor de alcançarem resultados eficazes. Pelo
contrário, os lideres que estabelecem relações baseadas na confiança e
demonstram uma genuína capacidade de estabelecer contatos humanos tingidos pela
afetividade, estabelecem relações de reciprocidade altamente vantajosas em
termos de eficácia e dos resultados alcançados.
Até há uns anos, ainda se dizia que a sociedade portuguesa urbana padecia
de uma menor afetividade coletiva em comparação com a chamada “província”. Mas
a verdade, é que se constatamos alguns casos de real solidariedade (tão raros
que até são notícia) temos um País não apenas com velhos entregues a si ou
deixados em depósitos, mas de portugueses de meia idade sem perspetivas de
regressar ao trabalho, de jovens que tem de ir procurar fazer a vida longe dos
afetos da sua terra, da família ou amigos.
Quando vemos os nossos governantes (governo ou oposição…) prometer que os
sacrifícios (fiscais) são úteis para salvaguardar a sustentatibilidade/estabilidade
de um “certo” estilo de vida, de promover a natalidade sucessivamente em
queda, não vemos como pretendem, se é o
caso de pretenderem mesmo, recuperar os bons afetos portugueses que se
encontram em vias de extinção. Acho pois que é altura (não obviamente por
razões tático/eleitorais) de fazer algo por eles e, claro, por nós…
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