terça-feira, 23 de setembro de 2014

POLÍTICA MESMO - Fleming de Oliveira

POLÍTICA MESMO
Fleming de Oliveira


Estou totalmente arredado da vida política, mas mantenho-me moderadamente atento.
Cada vez me convenço mais que os portugueses têm a perceção de que os governos (Passos Coelho, passando por Sócrates, Santana Lopes, Barroso ou Guterres e assim sucessivamente) são pouco ou nada autónomos e capitulam perante interesses estranhos e erráticos, por mais que lhes sejam apontados.
Os portugueses sentem-se frequentemente, mais arrebatados/representados por movimentos sociais de protesto, do que pelos partidos tradicionais ou mesmo sindicatos (nesse aspeto ambos em pé de igualdade…), o que me permite argumentar que a participação em movimentos sociais decorre de um sentimento anti partido e que as manifestações sindicais também não se excluem desse sentimento de desconfiança, ou seja, quanto mais a iniciativa é independente dos partidos/sindicatos, mais adesão tem ou pode vir a ter.

Criou-se a ideia que o Presidente da República seria uma referência para os portugueses e a expectativa de que atue como supremo magistrado da nação.
Sendo isto típico de um sistema semipresidencialista, faz com que a nossa sociedade (não de todo iletrada), ainda tenha expectativas superiores em relação ao Presidente da República, aos poderes que detém, em suma, um Presidente sector de esperança.
Todavia, este indicador pode estar em perda, porque o nosso Presidente tendo tomado posições sobre certas situações e depois feito uma intervenção nem sempre consistente (não obstante alertar para erros), depois remete-se para um “assine-se e aprove-se”. Posto isto, não me admira que muitos portugueses apontem o Presidente como o principal agente de responsabilização horizontal dos abusos dos governos.

Recentemente comemorei “por fora” (chamaram-me em Alcobaca  Militante  Histórico) os 40 anos do PSD, idade semelhante ao PS à luz do dia.
                     A descredibilização dos políticos, é um dos maiores “defeitos” da democracia em Portugal, o que me leva a dizer grosso modo que 25% dos que têm opinião, não têm confiança nos políticos/governo, 20% na sua eficácia e 20% na idoneidade/corrupção.
Assim, permito-me concluir que estes três problemas nos 40 anos de democracia em Portugal, mostram como há uma degradação do ponto de vista ético das lideranças que se torna mais vincada com as medidas de austeridade. Acrescento que não me admira a denominada "capitulação do Governo" e que na aferição das perceções sobre autonomia dos políticos portugueses, muitos de nós entendam que eles têm pouca ou nenhuma margem de manobra para tomar (boas) decisões, independentemente da situação económica (internacional).
Talvez um número maior ache que os governos em Portugal não são capazes de se defender das pressões de interesses corporativos provenientes do poder económico. Ima maioria significativa afirma que os compromissos com a UE fazem com que os governantes não tenham (acrescida) autonomia para defender os interesses dos cidadãos ou seja, a noção que as pessoas têm de capitulação do Governo perante os outros países e os poderes erráticos que de vem de lá.
Por outro lado, o próprio Governo considera que está condicionado o que em conjunturas destas, lhe dá vantagem para tentar legislar, recorrendo à fundamentação de que não tem autonomia ou depende de uma força de bloqueio.
Caros leitores, o perigo de uma crise de confiança dos cidadãos, na capacidade dos líderes políticos sem esquecer os europeus, pode transformar-se numa crise do projeto europeu, pôr em causa décadas de trabalho na construção da União Europeia.
                     Sendo algo consensual que a UE deixou de ter o tempo pelo seu lado, é na eficácia dos governos nacionais que reside em grande medida a adesão dos povos à democracia representativa.
                  
                   Com a recente mudança de liderança da Europa, gostaria de assistir a uma resposta à crescente impaciência das restantes economias mundiais e à volatilidade dos mercados financeiros. Parafraseando uma ideia antiga, a UE precisa que os fortes continuem fortes, mas igualmente que os mais fracos passem também a ser fortes.
                     O reforço da união política europeia deve passar (em suma) pelo reforço da democracia e da participação dos cidadãos pois que, sem a integração europeia, Portugal será “demasiado fraco”.
                    
                     Discordo do “mito” de que o euro está por um fio e de quem defende um regresso à moeda antiga. Isso seria como condenar o país ao atraso, ao isolamento e um retrocesso inacreditável.

Não estou na política (repito). Faça os meus sacrifícios frequentemente a contragosto, defendo o rigor orçamental para que os empreendimentos pagos pela geração seguinte deixem por si de ser uma opção política viável.

http://s.publico.pt/NOTICIA/1565110 http://s.publico.pt/uniao-europeia/1565110 

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