SER VELHO, É “BOM”?
FLeming de OLiveira
As pessoas de idade são,
frequentemente, consideradas como um fardo, uma fonte de despesas médicas e um
premente problema politico.
Raramente
se refere que são calmas, interessantes, por vezes divertidas, uma companhia
agradável e repousante.
Por
vezes, de manhã ou de tarde, em vez do automóvel, tomo o autocarro para ir para
o escritório nas Amoreiras. Se for a meio da manhã ou ao princípio da tarde, encontro
muitas pessoas de idade. Há gentiliza e preocupação para que estes passageiros
arranjem lugar e não caiam. “Sente-se aqui,
minha senhora”, diz um homem a uma velhota ligeiramente confusa.
Ninguém
tem pressa e há sempre o estribilho “a
gente não tem pressa de chegar, pois não?” quando se fica preso e parado no
trânsito do Saldanha, durante uns bons 10 minutos. Os passageiros estão atentos
aos problemas dos outros e seus achaques.
No
Natal passado, uma senhora de cabelos brancos, entrou no autocarro lá para os
lados do Campo Pequeno e foi agradecer ao motorista ter esperado e disse: “É só recuperar o folego, que logo encontro o
bilhete.” Nessa altura um indivíduo
alto, com os seus 70 e tal anos levantou-se, pegou-lhe no bilhete, picou-o,
devolveu-o e cumprimentou-a com um ligeiro salamaleque.
Na
semana passada, encontrei no elevador do meu prédio uma senhora (que aliás nem
conhecia) e me pediu para lhe carregar o botão, pois não via bem. Era baixinha,
pesava uns 45 quilos, apoiava-se numa bengala, descia com dificuldade os
degraus, e, não obstante, pensei para mim que tinha estado em contacto com
alguém tão digno, sólido, sei lá quanto um rochedo.
Um
amigo dos tempos de Coimbra, na casa dos 70 e picos, escreveu-me desculpando-se
da letra, dizendo que sofrera duas operações na mão, tinha marcado outra na coluna,
e terminava: “Isto é uma maçada, não
poderei guiar por uns tempos”.
O
meu Pai, quando deu uma queda aos 90 anos e o traziam de volta da sala do RX,
comentou: “Bom, só tenho duas costelas partidas”. Ele tinha uma explicação, tal
como a mãe, minha Avó para trambolhões, que argumentava, quase em jeito de
desculpa: “É a máquina a chegar ao fim”.
Lembro-me da minha Avó, senhora alta, elegante, que usava chapéu e cheirava bem, que vivia no andar de cima da nossa casa, no Porto, com os seus perfumes, lembranças e uma fotografia emoldurada do marido/avô em fato escuro, polainas, gravata e chapéu de bancário. Tinha olhos escuros, vivos e, o rosto, era uma suave e agradável combinação de rugas. O seu quarto era repousante e estava sempre arrumado e limpo, como se a idade trouxesse tendência para preservar o espaço, as coisas e a energia.
Caros
Leitores: deveríamos tomar consciência que uma sociedade sem idosos, careceria
de profundidade, cor, forma, textura e de algum do seu humor.
Sei
que os velhos são, por vezes mal-humorados, mas na maioria naturalmente
sociáveis e põem-nos em contacto com valores perdidos, como a honestidade e
modéstia. Até me atrevo a dizer aos meus leitores mais novos, que são eles os guardiães
de uma linguagem polida e baluarte contra crescentes correntes de vulgaridade.
Constituem o agradável/necessário elo com o passado na simpatia por coisas
afinal tão simples, como tomar chá, o gosto por bules em prata, bengalas de
castão floreado, flores e… bebés.
Uma
tarde, no metro apinhado de fim da tarde, reparei numa senhora idosa, de pé, junto
de uma mãe e seu bebé. Só a “velhota”
parecia prestar atenção ao bebé. Observava-o com a atenção especial e enlevada
com que as avós olham as crianças, como se, sentindo-se feliz, ficasse ali todo
o tempo. Impressionou-me por ser uma pessoa com ar de sentido de prioridades,
uma das qualidades preciosas que deveríamos apreciar nos mais velhos.
Enfim,
não digo que é bom ser velho, mas é muito respeitável. Que acham?
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