Assistindo desde há muitos anos a uma desumanização da sociedade, para a qual muitas vezes a medicina é arrastada, não me admira a introdução deste tema como debate.
Não quero dizer que este como outros temas não devam ser abordados, não deve ser tabu, mas coloca uma veste de modernidade, à dúvida de um assunto fundamental para todas sociedades e há muitos séculos sedimentado: a manutenção da vida. E coloca essa questão como objectivo político, ao pôr em causa um mandamento.Se a rigidez de pensamento pode ter inconvenientes, ambiguidade na lei em relação à vida ainda poderá ser pior. Será mais um factor de instabilidade numa sociedade muito fragilizada pela fobia de regras. A medicina tem sido levada à obtenção de estatísticas e aparências, os números mais importantes que a satisfação dos indivíduos. Embora muitos e eficazes tratamentos sejam feitos, é cada vez mais importante parecer que o Estado protege a saúde dos indivíduos, cada vez menos podendo ou pretendendo. Mas a hipocrisia das políticas não o assume!Vejamos o que tem acontecido com o Serviço Nacional de Saúde: tanto o poder como todos os outros intervenientes, conscientemente ou inconscientemente vão contribuindo para o seu fim .Misturar o apoio à morte como objectivo do Estado, com o seu oposto que é a preservação da saúde evida, é incongruente. Pedir ao SNS ou a um membro deste que mate, é um contrassenso.Os homens são saudáveis e doentes, iguais e desiguais, felizes e infelizes, livres e o seu oposto. O Estado e sua política é necessário, mas não deve pretender contrariar toda a diversidade e bipolaridade que nos sujeita. Pode minorar, mas é utópico excluir o sofrimento e a morte. E muito menos deve, fazer apologia da morte, como alternativa ao sofrimento.Muitas da misérias que as sociedades carregam, são consequência dos erros dos seus componentes actuais ou dos antepassados. Ignorar que haja consequências, parece libertar-nos, mas pelo contrário aprisiona-nos ao erro, e transporta para todos a desgraça de opções individuais!Portugal é um exemplo paradigmático de degradação, revestido de uma aparência insustentável de bem-estar que não produzimos, que antepassados nos deixaram, e que futuras gerações escravizadas vão ter de pagar!A eutanásia acaba por ser mais uma cereja no imenso "bolo", que todos vamos construindo (destruição da mulher, da família, dos países, da sexualidade, da saúde física, mental e espiritual, do bem estar económico, e da natureza) arrastando-nos para o pecado e erro que tanto pesa nos ombros de todos. Parecem os pecados coisas do passado, e agora tudo permitido. Mas tudo tem o seu preço e compensação!
Mais importante que eliminar uma vida, é ter compaixão pelo seu sofrimento, e proporcionar todo o suporte e bem-estar que for possível. É nisso que devemos investir. O sofrimento de um indivíduo deve fazer pensar não só a ele, como aos que lhe estão próximos e toda a sociedade. É um sofrimento de todos.Colocar nos profissionais de saúde a responsabilidade de trair a sua consciência, e as suas regras deontológicas, para cumprir decisões que possam ou não ser suas, é degradá-los e com eles toda a sociedade.Mais do que eutanásia as pessoas necessitam de compaixão e entreajuda.Despenalizar a eutanásia com o argumento de eliminar o sofrimento, é abrir uma porta que a breve trecho vai conduzir a muitos homicídios. Esses depois virão a acontecer, com ou sem motivos considerados legítimos (como ausência de suporte social ou económico - pessoal, familiar ou do Estado-, ou desequilíbrio psicológico) , passando tal como o aborto, a um expediente de rotina, fundamentado ou não.
Sem comentários:
Enviar um comentário