sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Alcobaça em fins do século XIX

 

 

Alcobaça em fins do século XIX

 

O vereador Augusto Rodolfo Jorge, na sessão da Câmara Municipal de 22 de janeiro de 1890, no contexto do ultimato britânico que já referimos apresentou a proposta que foi aprovada por unanimidade: A Câmara Municipal de Alcobaça repetindo o eco de toda a Nação Portuguesa ofendida vilmente no seu brio e sentimento de nacionalidade pela maior das afrontas, protesta contra o acto de violência e deslealdade com que a Inglaterra acabou de proceder contra Portugal.

Pelo mesmo vereador, na sessão de 9 de Abril seguinte, foi declarado e proposto que estando prevista a próxima chegada a Portugal de Serpa Pinto, brioso militar que nos territórios de África expôs valentemente a sua vida para defender o País das prepotências da Inglaterra e sustentar a honra da Bandeira, seria justo que o município alcobacense se associasse às demonstrações de júbilo e patriotismo que em Lisboa vão ser feitas à sua chegada fazendo assinalar na vila esse dia como verdadeira gala e festa nacional. Atendendo, porém, que o município não pode despender uma quantia que pudesse fazer face às despesas com os festejos que condignamente assinalassem a chegada desse verdadeiro patriota e arrojado militar, propõe que nesse dia seja arvorada em frente dos Paços do Concelho, a bandeira nacional, que se dê feriado aos empregados e lhe seja enviado um telegrama de felicitações pelo regresso à Pátria e pelo denodo com que soube sustentar o brio e a honra de povo português, pequeno em território, mas grande em feitos heróicos e acções magnânimas .

Nesse mês, a população de Alcobaça que lia jornais, regozijou quando soube que Rafael Bordalo Pinheiro ofereceu ao Cap. Serpa Pinto, um escarrador em louça das Caldas, representando o John Bull, sobraçando dois sacos a transbordar de libras de ouro. Admitiu-se adquirir uma cópia dessa peça abrindo para o efeito uma subscrição, para a expor no edifício da Câmara Municipal, mas Bordalo Pinheiro não acedeu à delegação municipal de Alcobaça que a Caldas da Rainha foi falar com ele, no seu atelier. O autor pretendia que fosse peça única e assim foi.

Mas havia outros interesses e preocupações. A Câmara Municipal recordava ser proibido deitar lixo para a rua ou fazer despejos, propondo-se tomar medidas enérgicas para contrariar estes procedimentos pouco respeitosos, bem como a proceder à eliminação, através de bolas envenenadas, dos cães vadios existentes no concelho, para o que foram expedidas as necessárias instruções aos regedores das freguesias. A progressão dos casos de raiva no país e sua deteção em Alcobaça em particular, justificava estas medidas urgentes, embora desagradáveis. Ao mesmo tempo, haveria que recordar à população que os cães, depois de mortos, terão sido cerca de 70, não deveriam ficar expostos ao tempo.

O Semana Alcobacense, por sua vez, tomava a iniciativa de renovar o pedido para se por cobro ao abuso de se estender inestética e pouco salutarmente roupa nas janelas e ruas da vila, tal como já acontecia em Lisboa e em muitas localidades evoluídas da Europa.

 

 

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