Se
alguns insistem em a gesta portuguesa haver iluminado o mundo, outros, “iluminados”, contrapõem com a flagelação
do passado de vários séculos.
Isto
leva-me a questões ligadas à incapacidade de ver o passado no seu contexto ou à
insistência nesse mal do nosso tempo que corre, que é o “presentismo”. Tenho defendido
que é necessário olhar para o contexto, pois só ele permite explicar a coisa.
Isto é tão válido para os conceitos, como para os símbolos, para as mais várias
situações. A História nunca se repete, contrariamente ao que é vulgar ouvir debitar
em políticos que a desconhecem. As situações têm de ser analisadas em função da
mentalidade da época, do respetivo momento histórico. É tão errado olhar hoje,
como se não tivesse havido ontem, como errado é olhar o passado com os olhos de
hoje. Evidentemente não há outros olhos a não ser os de hoje, mas olhar para os
homens e mulheres do passado em função dos valores de hoje, conduz a manifesto erro,
porque não são intemporais. Se no séc. XVI, XVII e XVIII os valores eram uns, hoje
vamos tendo outros.
Quando falo
em “presentismo” não esqueço a
importância, nomeadamente, na avaliação dos conflitos. Isso ocorre com a interpretação
da Guerra na Ucrânia. Na Europa, em África, na América Latina, tudo tem a ver
com o contexto que remete para a História, pois esses conflitos dispõem de uma “genealogia” que cumpre conhecer, sob
pena de se olhar para o que está a acontecer como se não houvesse passado.
Que
fique claro, não tenho dúvidas quanto ao meu alinhamento ocidental. Gosto de comparar
a História com a Genealogia (matéria a que tenho dedicado tempo). Quando se
olha para um território, se a geografia permite ver o que está á superfície, a
geologia permite conhecer o que está no subsolo. Olhando para um conflito vemos,
redutora e imediatamente, como está a decorrer, como ou quem o originou. Mas
tem um historial, por vezes, secular. E se não o compreendermos, se não
fizermos o diagnóstico, não há terapêutica ajustada. O problema é ver os
sintomas e não a doença a tratar.
Sei que
é difícil, mas há que fazer um esforço de objetividade. Não pretendo entrar no
debate infindo, sobre o que é a Verdade. A História baseia-se em fontes e o
historiador (pelo menos o de nível local, como me reputo), tem de as
interrogar, estudar e interpretar, embora muitas vezes elas o enganem. No caso de
escassez de fontes, quando há apenas um elemento ou outro, um indício ou outro,
é-me difícil tirar conclusões. Mas tenho que fazer um esforço. Um livro para
promover ou registar um assunto é um livro de História.
Volto ao
assunto da gesta colonial (como quase um milhão de rapazes passei por África
como militar), para dizer que entendo que há muito ativismo, que se traduz em
atitudes tão básicas como devolver artefactos ou reclamar reparações por causa
da escravatura, exploração do território ou defesa de um conceito de Portugal.
Se o passado não pode ser alterado, há que assumi-lo, dele não me envergonho e
estudá-lo. Não posso elogiar coisas, mesmo as que quando feitas, não eram
consideradas crime ou violência. Não assumo o passado de forma tão crítica que
permita pensar que pode ser alterado retroativamente, eliminando vestígios como
a queima de livros de História.
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