sexta-feira, 30 de junho de 2023

A PROPÓSITO DE UMA BONECA

 

FLeming de OLiveira

 

A minha neta mais nova é muito menineira, o que a família regista e aprecia, sem condescender com modernismos, no respeitante a género.

Quando este ano fez sete anos, disse à Avó que gostava muito de ter uma boneca, do género daquela com que gosta de brincar quando vem a Alcobaça. Trata-se de uma idosa boneca de porcelana, que existe em minha casa estimada com desvelo, e já vem dos tempos da minha Sogra.

Mas onde adquirir uma boneca destas, hoje em dia?

-Temos de fazer o gosto à nossa menina.

-Mas como?

-Ir ao estrangeiro, encomendar pela internet?

Foi então que nos lembramos da Feira da Ladra. Boa ideia da minha Mulher, a Ana Maria, que tem um fraquinho pelos netos.

Há muitos anos, provavelmente desde o tempo em que fiz a tropa e a Messe de Oficiais era em Santa Clara, nunca mais tinha passado por lá. Está muito diferente, não faltam chinesices e outras coisas sem gracinha alguma. Mas o certo é que sem dificuldade especial encontramos uma boneca mais ou menos conforme o pretendido, com um fantástico vestido cor-de-rosa e tranças. A boneca não seria propriamente de porcelana, mas de resina. Seja como for, a minha Neta quando a viu, não mais a largou, dando gritinhos de satisfação, perante o gáudio de alguns turistas, entre os quais um casal de espanhóis que acabou por fazer também uma compra. O preço foi além do que tínhamos pensado (já não existem pechinchas…), mas gostos são gostos e a uma neta menineira há coisas irrecusáveis, que nãio de discutem, pelo que saímos reconfortados, pese embora mais aliviados da carteira.

Cumpre dizer que a Sofia (a Neta em questão) gostou tanto de lá ir, que nos obrigou a voltar mal entre em férias, para comprar umas sandálias para a boneca, que fique bem entendida esta ressalva, pois não é pirosa.

Os meus leitores sabem onde é, e o que é a Feira da Ladra e apesar de descaracterizada, não desaconselho de todo uma vista para adquirir velharias, colecionismo, antiguidades e artesanato, algo original, kitsch ou vintage ou só mesmo passear.

Embora não exista consenso sobre a origem do nome, a tese mais reconhecida/usual é que  Ladra decorre de aí se venderem objetos roubados. Alguns autores defendem que a feira em tempos remotos, terá tido lugar na Ribeira Velha junto ao Tejo, e que por isso Ladra poderia ter origem no português antigo, lada, que significa margem do rio.

Nos tempos que correm tem a particularidade de, a par dos feirantes habituais ou profissionais, ser local procurado por alguns jovens para venderem o que já não usam ou velharias da família e, assim, conseguirem alguns cobres.

Foi consultar um amigo que trabalha na Câmara de Lisboa e me forneceu alguns dados históricos, que compartilho.

Feira da Ladra teve início no Chão da Feira, ao Castelo, provavelmente nos finais do século XIII, tendo depois passado para o Rossio. Em meados do século XVI, surgiu a primeira notícia da sua realização no Rossio, e em 1610  a designação Feira da Ladra numa postura municipal. Depois do Terremoto  instalou-se na Cotovia de Baixo (atual Praça da Alegria), estendendo-se pela Rua Ocidental do Passeio Público. Em 1823 transferida para o Campo de Santana onde esteve cinco meses, voltou para a Praça da Alegria e em 1835  para o Campo de Santana, onde se conservou até 1882, antes de passar para o Campo de Santa Clara.

Feira da Ladra, cantada por Sérgio Godinho, acontece às terças feiras e aos Sábados das 9h às 18h no Campo de Santa Clara, atrás do Mosteiro de São Vicente de Fora.

 

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