Nesta minha missão que assumi de
registar e divulgar a história recente de Alcobaça (muito especialmente a
partir do século XIX), vou evocando episódios esquecidos,
insólitos, controversos, inverosímeis ou lendários, mas e que
integram a memória coletiva, popular e identitária da nossa região onde Alcobaça
se insere.
A minha
vida profissional sempre esteve ligada à escrita. Como advogado, nunca escrevi
para a Eternidade, passe o exagero da expressão. Ao contrário do que ora faço,
escrevia para e sobre o tempo que passa.
Estou em
Turquel a lançar o livro JANELA COM VISTA PARA A RUA DA MEMÒRIA.
Ali não
inventei factos, muito
menos ajustei contas, mas admito que
a forma como os tratei pode
ser controversa.
Como se
sabe não sou alcobacense nato, mas aqui vivo, trabalho, socializo e tenho
interesses, há perto de 50 anos, precisamente desde 20 de abril de 1974. Gosto,
nos meus textos de referir pessoas de quem ouvi falar, com quem
privei me encontrei, com virtudes e defeitos
bem personalizados.
Conhecer
e dar a conhecer a História, ajuda ou deveria ajudar as pessoas a
posicionarem-se no seu mundo. Neste tempo de intolerância, a História por vezes
é utilizada de forma perniciosa, alimentada por nacionalismos radicais e
populistas. Acredito que o meu papel, passa por demonstrar como cada um de nós
é fruto de inúmeras e nem sempre identificáveis contradições. Cada um,
portugueses e alcobacenses, tem no ADN, judeus, mouros, cristãos, católicos,
protestantes, africanos, pessoas que não morreram descalças, que lutaram pela
sobrevivência. Cumpre-me demonstrar, na medida do possível essa mescla, afinal
do que somos feitos. A História em lugar de fomentar nacionalismos, deve ajudar
a relevar e a demonstrar que somos a súmula de muitos, muitos contributos, a
relativizar, rejeitando a exclusividade.
Desde
que o mundo é mundo, compartilhamos histórias que perpassam as pessoas, fazendo
delas o que são. A par dos provérbios, lengas-lengas, ditos e dizeres populares, as lendas
são importantes testemunhos normalmente orais, que podem caracterizar um povo e
uma Terra.
As lendas são verossímeis? Sim, porque o povo
quer que sejam. No meu livro conto algumas. Conto o que, se não aconteceu,
poderia muito bem ter acontecido.
Porque
estamos hoje aqui em Turquel?
Desde
que vivo em Alcobaça sempre tive forte relação com Turquel que, graças aos
Amigos, frequentei assiduamente, mais que hoje. Com prejuízo de esquecer muitos
turquelenses ilustres e eventos relevantes, tenho de começar por recordar, por
exemplo o Corpo de Ordenanças de fins do século XVIII (e seus componentes que
laboriosamente identifiquei e que aqui ainda tem descendentes), o Alferes de
Artilharia Manuel dos Santos Pimenta com papel importante na defesa da
República e no combate à Monarquia do Norte e depois assumido oposicionista do
Estado Novo que o deportou para Timor de onde retornou doente e para morrer ao
fim de pouco tempo (pai de Carlos Pimenta o primeiro presidente da Câmara de
Leiria depois do 25 de abril com quem privei e me forneceu dados interessantes),
o celebrado pintor Adriano Sousa Lopes, que registou na tela a abnegada e
sangrenta participação do CEP na Flandres, o Prof. José Diogo Ribeiro (não
percebo a razão porque os seus trabalhos memorialistas não foram reeditados pela Câmara ou pela Junta), o Dr.
Joaquim Guerra (saudoso altruísta e bairrista), a Lurdes Costa Ribeiro,
primeira mulher autarca em Alcobaça, senão das primeiras do país e o espólio da
ADEPART que cumpre tratar e salvaguardar. Estas e outras pessoas, bem como
eventos, registei e divulguei em escritos, mas que por falta de tempo não posso
aqui invocar com mais detalhe, pelo que peço desculpa por isso. No livro que
aqui trago a público com a prestimosa e indispensável colaboração de Afonso
Luís, perpassam personalidades tão interessantes como o esquecido mas
controverso Padre José Pereira dos Santos, pároco de Turquel nos primeiros anos
da República e monárquico assumido.
É com
muito gosto que me associo à afamada e benemérita Sociedade Filarmónica
Turquelense nesta iniciativa memorialista, relevando a pronta einteira
disponibilidade.
25 de
abril, República e Democracia são conceitos ou práticas indissociáveis que não
é ocioso realçar. Entramos no ano do seu cinquentenário. Há a salientar a
importância de Turquel, no passado e no presente, no quadro da terra de
Alcobaça e o relevo que no contexto do livro lhe é conferido merecidamente.
Estamos
aqui num acto que gostaria que fosse de cultura. Assim, não resisto a invocar a
luta dos professores, esses agentes formadores de cultura hoje em dia pouco
respeitados, desde logo, pelo poder político. Entendo urgente e fundamental
reabilitar a classe, para que a escola possa cumprir a sua finalidade, sermos
cada vez mais Portugal.
Há dias celebramos (9 de maio) o Dia da Europa, o que nos leva a recordar e valorizar o papel que esta tem desempenhado na nossa vida, na defesa dos valores que nos são caros e inalienáveis. Os Portugueses em geral não têm divergências quanto ao seu posicionamento, bem como o do País enquanto tal e nesse aspeto identificam-se com a política externa do governo.
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