Fleming de OLiveira
Pelos padrões europeus
e mesmo portugueses, a minha família e amigos estão a passar por sérias
dificuldades.
No
rescaldo da crise económica que vivemos, o meu marido perdeu o emprego e agora
temos menos de metade do que anteriormente.
Com
um filho na pré-primária e uma menina para criar, temos vivido sobre enorme
pressão.
Depois
de fazermos as contas à vida e à bolsa, decidimos pedir à minha mãe para ficar
em casa, sacrificando-se a si, para nos ajudar.
Ultimamente
passamos sem muitas coisas que tomávamos por certas ou garantidas, reduzindo as
despesas, sempre que possível e necessário.
Esta
manhã, enquanto me preparava para sair, estava a pensar autocomizeradamente, no
estado das nossas finanças familiares, até que me lembrei de uma amiga e colega
que anda a amamentar o seu bebé, e tembém tem o marido no desemprego.
Pensei
que quando ela, ou eu se estivesse no seu lugar, me sentasse com o filho nos
braços para descansar um pouco, não conseguiríamos ver mais a fotografia do
jornal de sábado passado com um bebé a morrer de fome ou sede em África.
Confesso
mesmo, sem vergonha, que as lágrimas quase me vieram aos olhos, pois nenhum dos
nossos rechonchudos bébés, seria menos acarinhado do que o bebé africano.
Tenho
a certeza que a sua mãe, se fosse atirada para a nossa vida portuguesa, não
saberia o que fazer com tanta sorte, não teria tempo para se lastimar.
Estaria
demasiadamente ocupada a cozinhar os feijões e o arroz que desdenhamos, plantando
legumes no quintal e alimentando o filho num peito ressequido.
Admito que não seja
um grande conforto mas, por vezes, é bom recordar que, mesmo no atual momento,
o modo de vida português está muito longe de ser um padrão mundial.
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