quinta-feira, 19 de julho de 2012

AINDA É BOM SER PORTUGUÊS


Fleming de OLiveira

Pelos padrões europeus e mesmo portugueses, a minha família e amigos estão a passar por sérias dificuldades.
No rescaldo da crise económica que vivemos, o meu marido perdeu o emprego e agora temos menos de metade do que anteriormente.
Com um filho na pré-primária e uma menina para criar, temos vivido sobre enorme pressão.
Depois de fazermos as contas à vida e à bolsa, decidimos pedir à minha mãe para ficar em casa, sacrificando-se a si, para nos ajudar.
Ultimamente passamos sem muitas coisas que tomávamos por certas ou garantidas, reduzindo as despesas, sempre que possível e necessário.
Esta manhã, enquanto me preparava para sair, estava a pensar autocomizeradamente, no estado das nossas finanças familiares, até que me lembrei de uma amiga e colega que anda a amamentar o seu bebé, e tembém tem o marido no desemprego.
Pensei que quando ela, ou eu se estivesse no seu lugar, me sentasse com o filho nos braços para descansar um pouco, não conseguiríamos ver mais a fotografia do jornal de sábado passado com um bebé a morrer de fome ou sede em África.
Confesso mesmo, sem vergonha, que as lágrimas quase me vieram aos olhos, pois nenhum dos nossos rechonchudos bébés, seria menos acarinhado do que o bebé africano.
Tenho a certeza que a sua mãe, se fosse atirada para a nossa vida portuguesa, não saberia o que fazer com tanta sorte, não teria tempo para se lastimar.
Estaria demasiadamente ocupada a cozinhar os feijões e o arroz que desdenhamos, plantando legumes no quintal e alimentando o filho num peito ressequido.
Admito que não seja um grande conforto mas, por vezes, é bom recordar que, mesmo no atual momento, o modo de vida português está muito longe de ser um padrão mundial.


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