VEJO ISTO COM PREOCUPAÇÃO…
FLeming de OLiveira
Provenho
de uma família (aonde havia 8 filhos) da boa e decente burguesia nortenha, cujos
membros, na generalidade, aceitavam o regime,
mais não seja por omissão (que não tanto por ação) como muitos outros portugueses,
se preocupava com o bem comum e praticava solidariedade com alguns
desfavorecidos, preferencialmente vizinhos. A democracia em casa de meus Pais era
uma noção interessante, mas indefinida (cujo primeiro contacto fora o manual
universitário), para a qual pensávamos
que o País não estava preparado, argumentando-se nesse sentido com os tempos
atribulados da I República. Vivíamos com moderada satisfação, o Banco de
Portugal tinha lingotes de ouro (cuja origem não nos preocupava ou interessava),
o meu Pai ganhava bem, não havia droga até os brasileiros virem estudar para
Portugal na década de 1960, e o comunismo era um fantasma que vivia muito longe
(fora das nossa blindadas fronteiras)
e se agitava por cá de vez em quando. A Guerra do Ultramar, não era injusta (não
me ofereci para a Guiné, mas não fugi nem desertei, apesar de casado e pai de
duas meninas) pois estávamos a ser vítimas da cobiça corporizada em países amigos e outros nada amigos, e Portugal devia continuar como nação de Minho a Timor, tanto
mais que na missão civilizadora (onde se destacava o fomento material) estavam
ausentes práticas, tão pouco cristãs, como o racismo ou o apartheid.
Os
africanos ainda não estavam preparados para se auto-gerirem (tal como nós, na metrópole, relativamente à
democracia).
Mas
com isto ou apesar disto, assumo-me e posso dizer que sou Homem do Vinte e
Cinco de Abril, não só porque tenha vivido os tempos revolucionários, sem me
identificar com uma boa parte da mitologia de dita esquerda e do PREC, outrossim
com alguma da dita direita e porque não queria socialismos à soviética, à
cubana ou à albanesa, embora não conhecesse a realidades desses países. Posso,
pois, dizer sem complexos que a Democracia que ajudei a implantar na nossa
região (e mesmo na Assembleia da República), significou para mim uma modernização
tanto mais fácil, agradável e convicta, porque encontrou, num ainda recente universitário,
terreno favorável.
Afastado
da política militante, ao fim de 40 anos de Democracia vejo com enorme
preocupação, talvez com mais clareza, a ausência de princípios e valores
estruturais (que ao tempo supunha termos e serem imprescindíveis), o que viabiliza
um discurso despojado de alternativas credíveis, sérias e exequíveis. Se por um
lado, essas caraterísticas são passíveis de assegurar uma certa presença
mediática, por outro lado, nas circunstâncias difíceis com que os portugueses
estão confrontados, aceleram o desgaste (espero que sanável, mais cedo ou mais
tarde) e evidenciam o vazio das ideias. Quando um partido da oposição pensa, que o seu exercício se basta por
enveredar num discurso negativo e crítico (no pressuposto que quem tem de
definir rumos é o governo, à oposição cumpre fiscalizar…), esquece que a
dialética política, implica apresentar alternativas e propostas que não sendo
lugares-comum resistam ao mero confronto do debate.
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