EM DEFESA DO
“MEU RICO” BIFINHO!
FLeming de OLiveira
1)-Temos
ouvido, recorrentemente, que o consumo de carne de vaca terá de decrescer em cerca
de 90% (sera que está incluída a Índia, onde a vaca é sagrada e vivem muitos
milhões de pessoas?), de forma a evitar mudanças perigosas no ambiente.“Estamos a arriscar
a sustentabilidade de todo o sistema. Se estamos interessados em que as pessoas
consigam comer e produzir, teremos de reduzir o consumo de carne”, dizem os
precavidos sábios e estudiosos.
A maior parte da população mundial, não consome regularmente carne
de vaca ou produtos derivados de leite em grande quantidade. O seu consumo está
associado à melhoria das condições socioeconómicas e, por isso, as previsões
são de que duplique até 2050.
Há quatro consequências diretas da
produção de carne de vaca à escala global (Índia não incluída?), a superfície
ocupada pelas pastagens (para que uma vaca produza
um quilo de proteína, tem de consumir entre 10 a 16 quilos de cereais); a água
consumida pelos animais (para ter um quilo de carne, o consumo é de 15 mil
litros de água) e pelo processo de produção; os gases de efeito estufa gerados
pela flatulência do gado, segundo a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura/FAO equivale a 14,5% do que é lançado para a
atmosfera; e a energia necessária para alimentar a indústria. A estas acresce a
contaminação dos solos e das águas com os dejetos dos animais.
A solução
passará, pois, por diminuir drasticamente o consumo de carne e substituir a
proteína animal, por legumes e leguminosas. E acrescentam esses sábios e estudiosos
que cada cidadão deverá em média (a estatística serve para tudo!), reduzir em
75% o seu consumo de carne de vaca, 90% o de carne de porco (os muçulmanos estão
incluídos? E os judeus contam pouco…) e comer metade da quantidade de ovos. Já
o consumo de leguminosas deveria triplicar, enquanto o de frutos secos (nozes,
por exemplo) e sementes deveria quadruplicar. Enfim, uma mudança radical (em
países que não a Índia ou de maioria muçulmana, já que Israel para aqui pouco
conta) que não sendo para o meu tempo ou mesmo para o dos meus filhos,
abrangerá provavelmente o dos meus netos, ainda que europeus.
Nessa altura,
preparados para estas e outras andanças, pese embora a viver na Europa, só
recordarão o “meu” gostoso bifinho de
vaca, condimentado apenas com uma pitada de sal grosso, que comem quando vão a
minha casa. Para isso estarão a pagar as sábias orientações com vista a
contrariar a ação da indústria agropecuária dos países “evoluídos” que, alegadamente, causa especiais estragos a nível
ambiental, devido à emissão de gases de efeito estufa, à desflorestação, à
seca, à quantidade de água utilizada, ao aumento do nível dos oceanos e à
contaminação de aquíferos subterrâneos.
2)-O que
para mim é ainda a novidade que me deixa perplexo e com que tenho dificuldade
em lidar, para eles será o início ou o decurso de uma intervenção talvez
irreversível, inserida em globais e profiláticas políticas governamentais de
educação, de criação de taxas sobre alimentos, de concessão de subsídios para a
produção de alimentos, tipo legumes e leguminosas no espaço Europa. Então não
estranharão como eu, a razoabilidade das ementas das instituições escolares e
hospitalares de modo a contrariar o que de outro modo seria eventualmente muito
pior, visto a população em 2050, ser cerca de 10 mil milhões de habitantes.
Eles saberão que, à sua escala, podem contribuir para evitar maior degradação
se se conformarem com a alteração da alimentação típica dos ancestrais, e se consciencializarem
os políticos de que é preciso ter em qualquer caso melhores leis ambientais.
O crescimento
da população mundial se fosse harmónico (na Europa não cresce de momento),
estaria a implicar que a criação de animais para consumo de carne se tornasse
impossível, sendo que muitas das dietas têm como base produtos agropecuários.
Alimentar
uma população de dez mil milhões será possível, se para além da produção de
gado, houver cuidado com os produtos de origem agrícola dizem os estudiosos. A diminuição
do uso de fertilizantes, a estimulação da agricultura em regiões do mundo tidas
como mais pobres e o aumento das reservas de água, são medidas fundamentais
para que a agricultura seja amiga do ambiente.
4)-Creio
que a esmagadora maioria dos portugueses acredita que as alterações climáticas são
o resultado de comportamentos incorretos (embora não propriamente em Portugal),
mas concomitantemente não creem por isso que deixar de consumir carne tenham
impacto nelas.
Os meus netos que se situam na faixa etária entre os 16 e
os 25, admitem reduzir a quantidade de carne de vaca. Moda? Um deles que
anuncia desejar seguir agronomia defende que, além do consumo, será sempre necessário
que também Portugal tome medidas no que diz respeito à produção dos alimentos que
passem por evitar fertilizantes químicos, excessos de água e aumentar as suas
reservas5)-A Universidade de Coimbra
abriu a polémica ao proibir carne de vaca nas suas 14 cantinas. Os produtores portugueses
acusaram a instituição de demagógica e precipitada e o Governo dividiu-se, o ministro
da Agricultura classificou-a de “populista”,
enquanto o ministro do Ambiente como “relevante”.
O Presidente Marcelo disse que, por enquanto, não irá alterar hábitos
alimentares. Antes de Coimbra avançar com a
decisão de eliminar a carne de vaca das cantinas, a Universidade de Londres
havia tomado “idêntica” decisão, mas
mais abrangente. No caso inglês, foi acompanhada pela eliminação gradual de
plásticos descartáveis ou de utilização única e pela instalação de mais painéis
solares nos edifícios, e assumida a meta de transformar a escola numa
instituição neutra em termos de emissões carbónicas em 2025.
6)-Caros
Leitores, deixem-me comer um “rico
bifinho”, que dá muito bem-estar e profunda satisfação.
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