O meu conceito de “trabalho digno” inclui reais aspirações no
domínio profissional e implica, desde logo, a oportunidade para realizar um
trabalho produtivo, mediante uma remuneração justa, segurança no local e
proteção social para o próprio e respectiva família. E sem olvidar, claro está,
as perspetivas de desenvolvimento pessoal, integração e reconhecimento sociais,
liberdade para expressar preocupações, a organização e participação nas
decisões que afetam a vida de cada um, a igualdade de oportunidades e de
tratamento. Socialismo?
O direito ao trabalho é exclusivamente humano (não encarado retoricamente),
e como tal fundamental para que se possa ter vida digna (fornecedor do
sustento). Ao contribuir para o desenvolvimento individual fortalece,
concomitantemente, a comunidade e a sociedade em geral.
Todavia, nem todo o trabalho contribui positivamente para manter a vida com
dignidade. Muitos portugueses neste século XXI vivem em situação de pobreza ou
em riscos de isso poder ocorrer um dia destes, sendo que ter emprego digno não
garante a salvaguarda. Conheço pessoas que, em consequência da limitação de
oportunidades, aceitam salários baixos, empregos temporários com condições
inseguras e insalubres. São por isso especialmente vulneráveis a maus-tratos e
a assédio, presas a um trabalho perigoso se não ilegal e a práticas análogas à
escravatura, que supostamente não existe mais.
O crescimento económico sustentado, isto é respeitando os limites do
planeta (Portugal neste mês de Maio de 2023 já ultrapassou o que competiria
gastar até ao fim do ano), é importante para todos, mas o progresso deve criar
empregos, sem prejudicar as pessoas e o ambiente.
“Trabalho digno” impõe condições para comprar comida, uma casa para
viver, cuidados de saúde, pelo que o salário deve ser justo e adequado ao
trabalho feito. Quem faz o mesmo trabalho deve receber o mesmo dinheiro. Socialismo?
Trabalho fundamental nem sempre é valorizado em termos sociais ou de
retribuição. A escravatura era o exemplo mais perfeito desta asserção,
contraditória nos termos. O escravo fazia um trabalho muito importante para o
dono, por vezes imprescindível para a própria economia em geral, sem remuneração,
direitos ou reconhecimento sociais.
Hoje em dia continua a haver em Portugal profissões ou tarefas sem
reconhecimento, pese embora essenciais, que a sociedade não valoriza nem
retribui relativamente. Recordo, por exemplo, o grave problema que uma greve do
pessoal da recolha de lixo, acarreta na vida de uma comunidade.
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